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segunda-feira, 30 de agosto de 2010
MENTES PERIGOSAS
É de doer. São pessoas ou "pessoas". Ou, talvez, nem são pessoas ou "pessoas". Mas doentes mentais. Veem maldade em tudo. Em qualquer coisa. Coisas simples como, por exemplo, uma mera imagem sem maldade, um insignificante olá amigável, uma amizade. Ou, quem sabe, nem isso! Em alguns casos, as mentes perigosas (ou doentias) conseguem ver maldade até mesmo no nada. Numa pessoa e noutra pessoa. Basta as duas pessoas terem talento ou beleza. Lá está a desgraça da mente perigosa construindo maldade. E que maldade. Mentes doentias são perigosas, assassinas e, no mínimo, criadoras de conflitos. Pessoas assim, de mentes perigosas, são indiferentes. Diabólicas. Suas maneiras de ver as coisas são satânicas. Contaminam o ambiente humano com seu satanismo, com a sua hostilidade. E elas estão aí: no seu trabalho, na sua casa, ao seu lado, nas ruas. Estão em todos os lados. São maçãs podres em meio ao pomar. São verdadeiramente patológicas. E o que é pior: não há cura. Viverão eternamente assim: no inferno da indiferença, da presunção e da maldade. São personalidades tipicamente patológicas.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
MINHA VIDA, MINHA HISTÓRIA. NASCE A VISÃO GLOBAL EDITORA
CAPÍTULO III
1974
Segui com a minha mãe para sua casa no lugarejo Chapadinha. Meu pai voltou sozinho para sua casa do outro lado do lago. Chapadinha era um pequeno povoado. Daqueles cujas casas ficam localizadas cerca de 1 quilômetro uma da outra. Caminhamos, aproximadamente, 50 quilômetros a pé. Minha mãe conduzia uma sacola de objetos pessoais na cabeça e eu a seguia correndo atrás para que pudesse acompanhá-la. Minha mãe era rápida nas passadas.
-- Mãe, eu não vou mais sair de perto da senhora, não é? -- dizia eu para ela durante a caminhada.
-- Claro, filho. A mamãe nunca mais vai deixar você distante dela.
Mamãe explicava-me muita coisa da sua relação com o papai: brigas, momentos de alegrias, conquistas, perdas. Eu ouvia tudo atentamente. Confesso que tinha saudade de meu pai, claro. Mas a felicidade de poder estar novamente ao lado da minha genitora era tamanha que nem sentia cansaço em razão da caminhada.
Lembro-me de que, durante o percurso, tínhamos de passar por um lamaçal enorme -- a lama alcançava acima do joelho -- e por um matagal imenso onde tinha muitos animais silvestres, inclusive onça tigre. Porém a companhia da minha mãe me passava muita segurança. Eu tinha medo do perigo, claro. Afinal de contas, era comum achar, em meio aos matagais daquela região, bois, vacas e outros animais mortos pelos tigres. Isso poderia acontecer também com seres humanos. Mas mamãe me dizia:
-- Filho, fale baixo para não chamar atenção das feras.
Eu sabia que, em situação de ataque, jamais me separaria da minha mãe. Num outro tempo, por aqueles lugares, meu avó por parte de pai teve muitos confrontos com onças. Então, encontrar com esse tipo de animal não difícil por ali.
Depois de andarmos aproximadamente seis horas de viagem, finalmente chegamos à casa da mamãe.
sexta-feira, 30 de abril de 2010
JESUS NÃO DISSE O QUE DIZEM QUE ELE DISSE
Para começar, algumas perguntas meio chocantes fazem sentido. Mudaram a palavra de Deus ao longo da história do cristianismo? Por que a Bíblia que usamos contém tanto erro de tradução? Por que os copistas mudaram as Escrituras? Com que interesse? O que realmente Jesus falou e que não chegou até nós porque os homens deturparam tudo, com suas traduções erradas e carregadas de intenções?
Lendo o livro de Bart D. Ehrman (Misquoting Jesus: The Story Behind Who Changed The Bible and Why), tem-se a impressão de que os homens fabricaram uma outra Bíblia para satisfazer às particularidades da sua cultura religiosa de época. Ehrman é considerado a maior autoridade em Bíblia do mundo, devido aos mais de 30 anos de estudos e avançadas pesquisas sobre as traduções das Escrituras. Ele estudou as línguas originais, isto é, grego, hebraico, aramaico e outras para poder mergulhar de cabeça, com segurança, nas pesquisas. Agora, seu livro acaba de ser publicado no Brasil pela Prestígio Editora (SP), sob o título “O que Jesus disse? O que Jesus não disse?”, endossado por um subtítulo que aumenta ainda mais o intrigante tema: “Quem mudou a Bíblia e por quê”.
Bart D. Ehrman afirma que, ao estudar os textos da Bíblia nas suas línguas originais, ficou estarrecido ao descobrir a quantidade de erros e alterações intencionais feitas pelos tradutores antigos, fato que o levou a acreditar que a Bíblia contém a palavra de Deus, mas não em absoluto. Posto que parte do que nela está escrito são simplesmente palavras humanas.
As pesquisas de Ehrman fazem alusão ao fato de que, diante de tantas ideologias e filosofias pessoais da época, só o judaísmo insistia em leis, costumes e tradições ancestrais, defendendo que isso fosse registrado em livros sagrados com o status de “escritura” para o povo judeu. Isso resultou num diferencial descomunal entre os códigos éticos e morais antigos. Quem estava fora das leis judaicas era considerado pagão. Para Ehrman, tudo começa por aí.
Logo após a morte e a ressurreição de Jesus, muitas pessoas que ouviam pregações sobre os acontecimentos a respeito desse fato se converteram ao cristianismo e, então, estavam interessados em saber mais a respeito. Em virtude disso, numerosos evangelhos foram escritos para registrar as tradições associadas à vida de Jesus. Quatro desses evangelhos – Mateus, Marcos, Lucas e João – no Novo Testamento passaram a ser mais usados, todavia muitos outros foram escritos por seguidores de Jesus de Nazaré como, por exemplo, Filipe, Judas, Tomé, Maria Madalena e outros.
Outros escritos, dos mais primitivos, se perderam, conforme diz Lucas que afirma que, para escrever o seu relato, teve de consultar muitos escritos precedentes (lc 1.1). Esses escritos consultados por Lucas não sobreviveram ou, pelo menos, maioria deles desapareceu. Naturalmente, Lucas, como outros escritores, só tiveram o cuidado de escrever alguma coisa sobre o seu Mestre alguns anos depois de sua morte e ressurreição. Isso caracteriza o fato de a Bíblia ser, em seu todo, “cópias de cópias das cópias das cópias”. Além disso, essas cópias foram feitas com base em fragmentos dos manuscritos achados em épocas alternadas. Obviamente, foi um trabalho extremamente demorado e carregado de dificuldades.
Foi aí, então, que as traduções bem como as interpretações foram mal feitas. Para Bart Ehrman, um desses relatos primitivos pode ter sido a fonte que os pesquisadores designaram como “Q”, uma espécie de relato escrito principalmente dos ditos de Jesus, usado por escritores como Lucas e Maria Madalena. O “Q” não existe mais, todavia era um documento real que armazenava informações fidedignas sobre as palavras e atividades de Jesus como, por exemplo, a Oração do Senhor e as Bem-aventuranças. O nome “Q” é uma abreviatura da palavra alemã Quille, que quer dizer “fonte”, referindo-se à fonte para a maior parte do material dos ensinamentos de Jesus presente em Mateus e em Lucas.
Mais tarde, alguns anos depois da ressurreição e ascensão de Jesus, o apóstolo Paulo, convertido ao cristianismo depois de um advento espiritual a caminho de Damasco (ele perseguia os cristãos como aconteceu, por exemplo, com Estevão o qual foi morto apedrejado por comando do próprio Saulo de Tarso, na época um agente da força oficial romana), passou a interpretar a vida de Jesus e, a partir daí, começou a escrever copiosas cartas a cristãos de várias regiões do Mediterrâneo oriental – inclusive centros urbanos – e de Roma. Segundo Ehrman, o apóstolo fazia isto à luz das Escrituras judaicas. Ou seja, a presença da cultura judaica nos escritos e ensinamentos dos primeiros líderes cristãos era muito acentuada e carregada de bravura religiosa.
O problema das alterações nas traduções dos textos bíblicos começa já entre o fim do primeiro e início do segundo séculos com briga declarada entre facções da agora religião cristã. A questão principal na escala dos problemas dizia respeito à variedade de interpretações da “verdade” pregada por Jesus. Aí surgem, então, as primeiras heresias e, com elas, os tratados anti-heréticos. Paulo foi o mais obstinado líder que se levantou contra os que ele mesmo chamou de “falsos mestres”.
Cada grupo ou corrente cristã entendia os escritos bíblicos à sua forma e, então, tinha interpretações diferentes. Para conter esse problema, os líderes cristãos começaram a escrever tratados contrários aos “hereges”. Alguns escritos de Paulo são combatentes ao movimento herético no início da era cristã. Houve, então, um esforço conjunto de todos os cristãos para tentar estabelecer o “ensino verdadeiro”, começando, aí, uma literalidade ortodoxa no contexto histórico do desenvolvimento do cristianismo. Os tratados anti-heréticos tomaram parte fundamental na literatura cristã dos primeiros séculos d.C. e sucessivamente.
O mais curioso é que mesmo os considerados “falsos mestres” também escreveram tratados contra “falsos mestres”. Todos em defesa do cristianismo, como se fossem advogados da religião cristã. Aliás, esse era exatamente o seu papel. Bem aí acontece algo interessante: às vezes o grupo que estabelecia, contundentemente, aquilo em que os cristãos deveriam acreditar – como os responsáveis pelos credos que chegaram até nós – era desautorizado por cristãos que defendiam posições consideradas falsas.
Vejamos: isso é o que foi constatado em recentes descobertas na literatura herética em que os chamados hereges, ao escreverem, defendem que sua visão é a correta e acusam que a visão dos líderes eclesiásticos ortodoxos era falsa. Nesse ínterim, tem-se, por exemplo, os tratados conhecidos como Apocalipse de Pedro e o Segundo Tratado do Grande Seth, ambos descobertos em 1945 num escondirijo de documentos gnósticos próximo à aldeia de Nag Hammadi, no Egito. Entre tantos outros, o Apocalipse de Pedro e um segundo Apocalipse de S. João, o Apóstolo, foram considerados apócrifos.
Parte considerável do debate sobre a reta e a falsa crenças implica a interpretação dos textos cristãos, inclusive do Antigo Testamento. Os cristãos reivindicavam que esses textos fizessem parte de sua própria Bíblia. Nesse sentindo, os textos selecionados foram centralizados para a vida das primeiras comunidades cristãs. Tempos posteriores, os escritores cristãos começaram a escrever interpretações desses textos na intenção de estabelecer certa relevância para a prática da vida cristã.
Muitas vezes, essas interpretações objetivavam disciplinar a orientação da comunidade cristã no sentido de que houvesse um conservadorismo não do que Jesus dissera mas, sim, do que os líderes cristãos pensavam (em evidência a sua interpretação) a respeito do que Ele disse. Historicamente, outro fato curioso traz à tona a figura de Heraclião, um líder cristão gnóstico, considerado herético, que viveu no II século. Ironicamente, foi ele quem escreveu o primeiro comentário cristão sobre cada texto das Escrituras. Por conseguinte, cada autor cristão escrevia ou traduzia os textos sagrados segundo a sua própria visão cristã. Esses fatos ocorreram, principalmente, durante os séculos III e IV d.C. Isso explica por que a Bíblia tem partes que parecem contradizer outras.
Nesse caso, o que temos em mãos, hoje, são apenas sucessivas cópias de cópias de comentários de fragmentos dos textos sagrados de homens que tinham visões diferentes e consequentemente interpretações diferentes das escrituras. Não temos nada original tal qual Jesus e os apóstolos falaram. O gnosticismo, por exemplo, vem da palavra grega gnosis que quer dizer “conhecimento”. O termo se aplica a um grupo de religiões surgidas do século II em diante que enfatizavam a importância de receber o conhecimento secreto para salvar-se do mal, isto é, do mundo material.
O gnosticismo, portanto, vê o mundo material como “o mal”, o que é muito parecido com o nosso pensamento cristão hoje. E, consequentemente, muitos textos da Bíblia que temos em mãos dão margem a essa forma de pensamento. Talvez deve-se isso ao fato de cristãos gnósticos terem tido forte participação nos comentários e traduções dos textos bíblicos durante os séculos II, III e IV.
A verdade é que temos de ter maturidade suficiente para entender que a Palavra de Deus não é simplesmente o conteúdo integral da Bíblia que temos, mas, sim, aquilo que foi dito sobre a pessoa do Verbo encarnado, o testemunho e a ação do Espírito Santo a respeito do Cristo (Salvador Eterno) em todos os tempos. A bibliolatria e o fundamentalismo bíblico me parece desconcentrar a pessoa do Verbo como fundamento absoluto da vida eterna. Portanto, a Bíblia contém a Palavra de Deus, isto é, o testemunho do Verbo divino que orienta o homem para a vida eterna.
terça-feira, 13 de abril de 2010
MORRE VEREADOR AUGUSTO SERRA
Morre, vitima de acidente automobilístico, o militar aposentado e atualmente vereador Augusto Serra (PV), de 52 anos. O fato ocorreu por volta das 21h45m, na Avenida Lourenço Vieira da Silva, próximo ao retorno da Universidade Estadual do Mararanhão (Uema).
No momento, este jornalista e blogueiro passava pelo local. Segundo Rafael Serra, sobrinho do vereador, o Prisma dirigido por Algusto Serra foi trancado por um veículo desconhecido. Ao tentar evitar um choque com o outro carro que lhe trancou, jogou o veículo para fora da pista, e em seguida se esforçou para proteger a sua filha Mikaely, de 8 anos, que vinha no banco do passageiro, evitando bater na parede de um prédio ao lado.
Em frente ao prédio, havia dois postes à sua frente. Ao defender-se do primeiro, acabou batendo no segundo poste, atingindo em cheio a porta do lado do motorista. O seu carro ficou todo envergado. A pancada foi tão forte que o poste foi arrancado e o vereador teve morte imediata.
No porta-objetos da porta direita (lado do passageiro) foi encontrado um dente e massa encefálica. A filha caçula do vereador, Mikaely Serra, teve a perna quebrada, e passa bem.
Segundo Rafael, um filho do vereador vinha logo atrás dirigindo uma HILUX e presenciou o acidente.
O corpo está sendo velado na Câmara Municipal de São Luís. Ele morreu instantaneamente e ficou preso entre as ferragens. A garotinha Mikaeli foi encaminhada para um hospital de São Luís, mas já está em casa.
Augusto Serra é natural do município de São João Batista e morava na rua Antonio Dino, no bairro de Fátima. Este era seu terceiro mandato eletivo. Nas eleições de 2008, Augusto recebeu 4.851 votos, sendo a décima melhor votação entre os eleitos. Ele tinha como principal área de atuação o bairro da Cidade Operária. No dia 13 de junho, o vereador completaria mais um aniversário.
IRRESPONSABILIDADE DO PODER PÚBLICO
Todos os dias acontecem acidentes em São Luís. A principal causa são as ruas e avenidas esburacadas por toda a cidade. O serviço de infraestrutura feito pela Prefeitura municipal é precário. A engenharia faz os projetos corretamente, mas os chefes do poder público fazem certos “ajustes” fraudulentos para que tenham sobras milionárias, dividindo a dinheirama entre si.
Dessa forma, os asfalto fica de péssima qualidade. Com as primeiras chuvas, se partem facilmente e abrem-se crateras enormes no meio das pistas. Os motoristas, ao tentarem desviar dos buracos, acabam trancando, sem intenção, outros veículos, inclusive motos e bicicletas, causando acidentes e a maioria deles com vítimas fatais.
Há dois meses, por exemplo, todos os dias acontecem acidentes num buraco gigante na Estrada do Maiobão, logo depois da Forquilha. Os carros, após uma curva, caem no buraco porque os motoristas, com a pista muito movimentada, se vêem obrigados a cair no precipício na tentativa de evitar acidentes piores.
E o mesmo buraco continua lá. Ninguém da prefeitura municipal se sensibiliza com a situação. Enquanto isso, mortes como a do vereador Augusto Serra continuam acontecendo.
terça-feira, 6 de abril de 2010
MINHA VIDA. MINHA HISTÓRIA. NASCE A VISÃO GLOBAL EDITORA
Eu, minha tia Benedita (irmã de minha mãe) de 100 anos e meu sobrinho Nenenn
Depois de 17 anos de sonho, finalmente estamos conseguindo. Nasce a Visão Global Editora. Unidade de serviço da Visão Global de Desenvolvimento Humano Sustentável, a editora lançará obras de interesse geral no mercado nacional e primará pela qualidade de seus produtos de maneira decisiva. Era um sonho. E agora, somente agora, iniciei a realização desse sonho.
Primeiro, acho importante contar um pouco da minha história para o prezado leitor. Pois nunca fiz isso antes. Sempre fui muito reservado, modesto e silencioso no quesito "falar de mim mesmo". E isto por razões ora pessoais, ora no que tange ao que os outros poderiam pensar de mim.
Às vezes que ousei falar alguma coisa da minha vida para alguém, para um amigo ou até mesmo para uma namorada, as experiências não foram boas. Então, aprendi com o tempo que ser sigiloso não é ser pecador por omissão, mas sim um gesto de sabedoria que lhe trará muitos benefícios. Benefícios para a alma, para suas emoções, para seu espírito, para a mente e para o corpo. E principalmente para sua imagem. Mas agora, perante essa nova fase da minha vida, em que estou criando uma política de relacionamento com o público, é importante nos conhecermos. Você, cliente e leitor, precisa conhecer minha história. Como tudo aconteceu. Se você conhecer os caminhos pedragulhos por onde passei, pensará mil vezes antes de atirar pedras em mim. Este blog foi criado para nele eu contar minha história. E como aconteceu a Visão Global.
Primeiro, acho importante contar um pouco da minha história para o prezado leitor. Pois nunca fiz isso antes. Sempre fui muito reservado, modesto e silencioso no quesito "falar de mim mesmo". E isto por razões ora pessoais, ora no que tange ao que os outros poderiam pensar de mim.
Às vezes que ousei falar alguma coisa da minha vida para alguém, para um amigo ou até mesmo para uma namorada, as experiências não foram boas. Então, aprendi com o tempo que ser sigiloso não é ser pecador por omissão, mas sim um gesto de sabedoria que lhe trará muitos benefícios. Benefícios para a alma, para suas emoções, para seu espírito, para a mente e para o corpo. E principalmente para sua imagem. Mas agora, perante essa nova fase da minha vida, em que estou criando uma política de relacionamento com o público, é importante nos conhecermos. Você, cliente e leitor, precisa conhecer minha história. Como tudo aconteceu. Se você conhecer os caminhos pedragulhos por onde passei, pensará mil vezes antes de atirar pedras em mim. Este blog foi criado para nele eu contar minha história. E como aconteceu a Visão Global.
CAPÍTULO I
1967
Nasci numa pequena cidade do interior do Maranhão. Uma cidade quase inexpressiva, à época. Minha mãe, grávida de nove meses, teve dor de parto às 8:00hs da manhã. Mas só fui nascer às 10h:30m. Era uma sexta-feira, 23 de junho de 1967. Mesmo ano em que aconteceu a Guerra dos Seis Dias, em Israel. O Brasil vivia a ditadura militar. Mirinzal era, ainda, uma cidade pouco desenvolvida. Meu pai criava gado, plantava roça e era dono de engenho - uma herança familiar antiga. Meus avós paternos eram portugueses e africanos. De minha mãe, venho de uma mistura espanhola com indígenas.
1968
Corre o ano de 1968. Papai produzia cachaça - daquela que ficava azul no copo de vidro transparente - e negociava o produto com outras mercadorias. Era um viajante nato. Tinha muitas paixões. Uma delas eram as mulheres. Mas também gostava de caçar, pescar e, às horas vagas, passeava de cavalos bem tratados e galopantes. "Era chique para a época", dizia minha mãe, que falerceu sábado, 28 de novembro de 2009, um dia depois que eu redigi este artigo. Meu pai morreu em 2002, numa crise gripal por conta de uma terrível fraqueza causada por diabetes e derrames. Mais pela diabetes, já que estava recuperado do derrame. Em 1968, antes de completar um ano de idade, eu, segundo mamãe, comecei andar cedo. Então, fugi de casa por um pequeno descuido dos mais velhos. Todos ficaram me procurando desde as 9:00h da manhã. Quando já eram 12:00h, minha mãe, já desesperada, olhou para a rua e de repente olhou um senhor que vinha montado num cavalo com uma criança no cabeçote da cela. O moço vinha procurando de casa em casa de quem seria aquela criança. Minha mãe ficou extremamente agradecida. Pois já tinha chorado muito.
1969
Meu pai resolveu deixar Mirinzal e mudar, com a família, para um lugar chamado São Francisco dos Campos, onde ficava a fazenda da minha irmã mais velha, Netinha. Era um lago muito bonito. Talvez o maior da América Latina, ainda não descoberto pelo IBAMA e pelos predadores. Muitos pássaros, peixes, caças. Eu acordava de manhã, às seis horas, ouvindo os cantos de uma diversidade enorme de pássaros. Bentivis. Garças. Carões. Pucaçús. Papagaios. Curicas. E muitos, muitos outros. Todas as manhãs, o vento soprava fustigante e propagava um frio de arrepiar os pelos. O gado da fazenda amanhecia mugindo e, então, todos acordavam às 6:00hs. O meu cunhado, Alexandre, escolhia as vacas para tirar o leite. Era um café da manhã delicioso.
1970
Mudamos para um pequeno lugarejo denominado Chapadinha. Lá vivemos meu pai, minha mãe, eu e minha irmã Conceição. Minha mãe engravidou e teve meu irmão no dia 10 de novembro de 1970. Papai, todas as vezes que minha mãe estava grávida, era acomedido de uma inflamação dentária incrível. Sei lá o que era. Talvez um fenômeno que só a natureza pode explicar.
1971
Um dia meu pai, ao chegar de uma viagem de três meses, celou o cavalo, me colocou no lombo do animal e foi embora de casa. Andamos o dia inteiro até chegarmos em uma casa que, para mim, era muito desconfortável: sem minha mãe, sem minha irmã Conceição, sem meu irmão caçula. Doía muito. Eu nada entendia. Pois tinha apenas quatro aninhos de idade. Corria o ano de 1971, ano de muita dó emocional para minha vida infantil.
1972
Separado de minha mãe e dos outros filhos, meu pai me levou para morar com minha avó, por parte dele, Firmina Bandeira. Ela passava o dia inteiro fazendo rede de fio de algodão e de palha de tucum. A saudade de minha mãe me corroia por dentro, apesar de ter respondido a meu pai que queria morar com ele. Não era verdade. Nem sei por que disse aquilo. Talvez por medo. Era isto que eu sentia: medo. Muito medo. Não sabia explicar de que, mas sentia medo. Eu queria ficar mesmo era com minha mãe.
Poucos meses depois, ainda emn 1972, meu pai foi morar com uma mulher bem mais nova que ele. Aí fui muito maltratado. Aos seis anos de idade, pilava arroz com uma mão-de-pilão muito pesada. Ao executar a ação, aquele objeto resvalava de um lado para outro. Eu sentia cansaço e vontade de pedir para parar aquela atividade torturante. Mas tinha que fazer aquilo. Senão apanhava.
Poucos meses depois, ainda emn 1972, meu pai foi morar com uma mulher bem mais nova que ele. Aí fui muito maltratado. Aos seis anos de idade, pilava arroz com uma mão-de-pilão muito pesada. Ao executar a ação, aquele objeto resvalava de um lado para outro. Eu sentia cansaço e vontade de pedir para parar aquela atividade torturante. Mas tinha que fazer aquilo. Senão apanhava.
Meu pai criava muitas cabras e ovelhas. Todos os dias de manhã, eu tirava o leite das cabras com crias e preparava o café da manhã. Depois passava o dia inteiro vaquejando aqueles animais. Andava pelas campinas verdejantes organizando os rebanhos. Isto, para mim, era uma fuga da saudade da minha mãe e também dos maus tratos por parte daquela mulher.
1973
Um dia, entretanto, uma vizinha chamou meu pai em particular. Contou tudo o que via a ele.
- Sr. Felinto, não é da minha conta, mas quero lhe dar um conselho. Entregue essa criança para a mãe dele. Boi não cria bezerro. Quem cria bezerro é vaca.
- E por que, dona Maricota? - perguntou papai.
- Sua mulher o maltrata muito - ela respondeu.
- Não me diga uma coisa dessas.
- É verdade. Eu vejo tudo.
- Tá certo. Muito obrigado.
Meu pai saiu triste, pensativo. Ao chegar em casa, disse-me:
- Meu filho, te arruma. Nós vamos para a roça.
Então, caminhei a pé com meu pai cerca de 60km. Foi uma viagem cançativa. Durou o dia inteiro. Ao chegar ao local, na roça, o sol avermelhado acabava de esconder seus últimos raios. O cansaço, então, tomou conta de mim. Ali teve início mais um peçado da minha história.
CAPÍTULO II
- Sr. Felinto, não é da minha conta, mas quero lhe dar um conselho. Entregue essa criança para a mãe dele. Boi não cria bezerro. Quem cria bezerro é vaca.
- E por que, dona Maricota? - perguntou papai.
- Sua mulher o maltrata muito - ela respondeu.
- Não me diga uma coisa dessas.
- É verdade. Eu vejo tudo.
- Tá certo. Muito obrigado.
Meu pai saiu triste, pensativo. Ao chegar em casa, disse-me:
- Meu filho, te arruma. Nós vamos para a roça.
Então, caminhei a pé com meu pai cerca de 60km. Foi uma viagem cançativa. Durou o dia inteiro. Ao chegar ao local, na roça, o sol avermelhado acabava de esconder seus últimos raios. O cansaço, então, tomou conta de mim. Ali teve início mais um peçado da minha história.
CAPÍTULO II
Ainda 1973
Dona Cândida era uma pessoa formidável. Casada, 50 anos. Não tinha filhos. Assim que chegamos à roça, meu pai entregou-me a ela.
- Dona Cândida, este é meu filho. O que a senhora fizer por ele, estará fazendo por mim - disse papai.
- Pois não, seu Felinto. Cuidarei dele como se fosse meu próprio filho.
E assim aconteceu. Dona Cândida passou a lavar minha roupa, dar comida para mim na hora exata, me contar historinhas para criança. Amenizou, pelo menos por um pouco, a saudade, a dolorosa saudade da minha mãe. A escola ficou para trás. Teria que ficar um ano sem estudar.
Papai passava o dia inteiro na roça. Vinha em casa ao meio dia e ao final da tarde para dormir.
Quando a roça ficou pronta, podia, todos os dias, acordar de manhã cedo - o sol mal mostrava sua primeira claridade - e sentir o cheiro da terra, do arrozal, do milharal ainda esverdeado, dos pés de algodão. Podia ouvir o vento sibilar nas árvores frondosas, nas palmeiras do coco babaçú.
A casa onde morávamos era um rancho coberto de palha. Não fazia calor, apesar do sol. No inverno, mesmo com a chuva forte, não respingava e, à noite, quando todos dormíamos em redes de fio de algodão colhidos da própria roça, dava uma sensação muito agradável. Naturalmente, a comida era muito diversificada: caça, galinha caipira, peixe de igarapé. Era uma vida muito boa. Podia-se dizer que éramos felizes. Para mim, com apenas 6 anos de idade, a única falta de felicidade era a ausência de minha mãe. A época da colheita chegou e meu pai colheu alguns paneiros de arroz, milho e feijão. E então voltamos para o povoado denominado Pirapema.
- Dona Cândida, este é meu filho. O que a senhora fizer por ele, estará fazendo por mim - disse papai.
- Pois não, seu Felinto. Cuidarei dele como se fosse meu próprio filho.
E assim aconteceu. Dona Cândida passou a lavar minha roupa, dar comida para mim na hora exata, me contar historinhas para criança. Amenizou, pelo menos por um pouco, a saudade, a dolorosa saudade da minha mãe. A escola ficou para trás. Teria que ficar um ano sem estudar.
Papai passava o dia inteiro na roça. Vinha em casa ao meio dia e ao final da tarde para dormir.
Quando a roça ficou pronta, podia, todos os dias, acordar de manhã cedo - o sol mal mostrava sua primeira claridade - e sentir o cheiro da terra, do arrozal, do milharal ainda esverdeado, dos pés de algodão. Podia ouvir o vento sibilar nas árvores frondosas, nas palmeiras do coco babaçú.
A casa onde morávamos era um rancho coberto de palha. Não fazia calor, apesar do sol. No inverno, mesmo com a chuva forte, não respingava e, à noite, quando todos dormíamos em redes de fio de algodão colhidos da própria roça, dava uma sensação muito agradável. Naturalmente, a comida era muito diversificada: caça, galinha caipira, peixe de igarapé. Era uma vida muito boa. Podia-se dizer que éramos felizes. Para mim, com apenas 6 anos de idade, a única falta de felicidade era a ausência de minha mãe. A época da colheita chegou e meu pai colheu alguns paneiros de arroz, milho e feijão. E então voltamos para o povoado denominado Pirapema.
No dia da partida, dona Cândida chorou muito. Me despedi dela e partimos. No caminho, meu pai passou por um lago e jogou a tarrafa de pescar. Apanhou uma perapema (na água salgada, esse mesmo peixe é chamado de camurupim) e outros peixes. Anoiteceu. Fazia muito frio por causa da água dava debaixo do meu queixo. Eu era ainda muito pequeno. Ficou tarde da noite e, mesmo assim, tive caminhar com meu pai até o lugarejo Pirapema onde morávamos. Chegamos em casa já era quase meia noite. Extremamente cansado, fui direto para a rede e dormi muito.
Ao acordar de manhã, tinha manchas de sangue na minha perna e atrás da orelha. À noite, durante o sono, morcego havia me chupado em vários lugares.
1974.
Fomos morar na casa da minha madrinha Maria Soares, irmã caçula do meu pai.
- Comadre Maria! - disse papai.
- Diga, meu compadre - respondeu minha madrinha.
- A Ana anda maltratando meu filho. E eu não posso leva-lo para a roça porque ele tem que esdutar. Quero que meu filho seja alguém na vida. A vizinha, dona Maricota, me contou que a Ana bota meu filho para pilar arroz com uma mão de pilão muito pesada. Ele só tem 6 anos. Fez agora, recente. Ano passado eu o levei para a roça, mas lá não tem professor.
- E o que o meu compadre quer que eu faça? - perguntou minha madrina.
- Que a minha compadre fique com ele aqui até eu organizar minha vida.
- Pode deixar, meu compadre. Pelo menos é uma companhia para o Valbinho - prontificou-se ela, referindo a um sobrinho seu que criava.
E assim passei a morar na casa de Maria Soares a partir daquele dia. Dormia numa redinha de algodão, feita pela minha vó Firmina, desde quando meus pais se separaram. Já estava surrada. Mas servia. Ali a gente comia muito pato, galinha caipira, peixe - pois a casa de minha madinha, ainda hoje, fica cercada de lagos e peixes, muitos peixes - e caça. Inácio, seu marido, gostava de caçar e pescar.
Nos primeiros dias, era agradável. Minha madrinha me tratava bem. Mas depois de alguns dias os olhares e tratamentos já não eram mais os mesmos. No mês de junho, eu complei 7 anos de idade. Vivia pelos matos fazendo arapucas. Sempre que fazia algo errado, apanhava como cachorro. Longe de minha mãe, todo mundo achava-se no direito de me bater, gritar comigo e me tratar com humilhações.
Passei a estudar numa escola no povoado chamado Bandeira, onde antes meus bisavós parternos, por parte da minha avó Firmina Bandeira, tinham terras e muito gado. Com o tempo, e com a morte dos meus bisavós, a família foi perdendo tudo. Agora era povoado. Apenas o nome do lugar levava o nome da minha família.
No caminho da escola era muito maltratado pelos garotos maiores que também estudavam na escola. Eles batiam. Cuspiam em mim. Xingavam minha mãe. Enfim, ofendiam-me como queriam.
1975
Meu pai me levou de volta para morar com ele na mesma casa onde morava com a mulher dele, a Ana. Ela deminuíra um pouco os maus tratos, mas pouca coisa mudou. Certa ocasião, o dia amanheceu ensolarado. Meu pai me chamou.
- Dotinho!
- Senhor, pai.
- Meu filho, hoje o dia tá bom para pegar peixe. Vamos pescar.
Meu coração saltou de alegria. Sabia que o lago onde íamos pescar ficava na região onde minha irmã, Netinha, tinha uma fazendo.
- Vamos, pai - disse eu, cuidando logo de me arrumar.
Meu pai pegou a tarrafa, colocou-a dentro de um cofo e saimos. Fomos até à beira do lago. Pegamos uma canoa e atravessamos o lago São Francismo, em direção à casa de minha irmã.
Naquele dia o vento estava forte e agitava as águas, que fazia a canoa balançar. De repente, vi meu pai rezando ou fazendo uma oração para que as águas se acalmassem. E assim ocorreu durante toda a travessia. Chegamos bem do outro lado. Meu pai encostou a canoa à beira da terra seca. Era um areial fabuloso. Muitas árvores.
Levantei os olhos e vi, lá em cima do areial, a minha mãe. Sair correndo em disparada. Tropecei na volumosa areia e caí. Levantei e continuei correndo, mas novamente caí. E assim continuei caindo e levantando. Minha mãe veio ao meu encontri e nos abraçamos muito. Minha mãe chorou muito ao me ver.
Já era tarde, quase meio dia. Minha mãe tratou de colocar o almoço à mesa. E então almoçamos.
- Mãe, eu quero ficar com a senhora - disse eu.
Meu pai me olhou e disse:
- Filho, você não trouxe roupa - argumentou meu pai.
- Não precisa, pai. A mamãe compra roupa pra mim - disse eu.
- É, Felinto - disse mamãe - deixa ele ficar comigo. Depois ele vai.
- Rosa - ponderou papai - eu quero botar meu filho para Curupu ou Mirinzal, para que ele estude e aprenda uma profissão.
- É, mas ele não quer ir contigo. Deixa ele comigo.
E assim fiquei com a minha mãe. Passamos vários dias conversando. Contei todo o sofrimento que havia passado. Mas contei também que a dona Cândida me tratou muito bem.
( Não parou por aqui. Aguarde, Acompanhe. )
HOMOSSEXUALIDADE: DESAFIO PARA A IGREJA 2
Pois é. Ninguém deve duvidar da vida. E nem tentar ignorar os princípios (ou segredos) que a ela convêm. A homossexualidade é fato e, de igual modo, é fato a ignorância de todos.
Eu sou heterossexual e plenamente definido quanto a isto. Mas não molesto os que seguem outra tendência. Afinal de contas, entendo que os homossexuais também são pessoas igualzinho a qualquer outra. Sentem fome e sede igual a todo mundo. Têm sentimento e sensibilidade também. E isto é o que importa para que eu os amem e os inclua no meu programa de cuidado humanitário.
Ao longo da história, no que se lê, os homossexuais passaram por situações extremamente diversificadas. Em certos momentos da antiguidade chegaram a ser valorizados de formas muito díspares. Entre os gregos, por exemplo, a homossexualidade era tida com grande apreço. Era, inclusive, aceita como superior à relação inter-sexual, e era muito disseminada naquela cultura.
Entre muitos povos antigos, os homossexuais, por serem diferentes, eram considerados bruxos, xamãs ou videntes do clã ou da tribo. Em outras culturas, eram considerados sacerdotes do templo ou, em certa instância, tinham a seu cargo o cuidado do harém do rei ou das sacerdotisas. Nos dias de Jesus, bem como em outras épocas que antecederam a era cristã, eram denominados de “eunucos”.
Mesmo Jesus Cristo, quando questionado, se limitou a tratar deste assunto com cautela, apenas dizendo:
“Porque há eunuco que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos por causa do Reino dos céus. Quem pode receber isso, que o receba” (Mateus 19:12 RC).
Vale lembrar que Jesus, em sua eterna sabedoria, não se aprofundou, em nenhum momento, sobre a questão da homossexualidade, embora na sua época fosse evidente o problema em questão. A propósito: por que Cristo não tratou este problema com clareza? Mas apenas ordenou a seus discípulos dizendo “ide a todo mundo e pregai o evangelho do reino a toda criatura...”?
Talvez a melhor resposta esteja no fato de que o “evangelho do reino” veio exatamente para “toda criatura”. Será que o homossexual não é criatura? Para muitos “evangélicos” homofóbicos não. O homossexual não é criatura. Mas, para o Senhor Jesus, o homossexual tanto é criatura como também pode ser excelente cidadão do reino de Deus.
Aliás, Jesus sempre se preocupava, em suas falas, a mencionar o “evangelho do Reino”. Por que? Porque o evangelho do Reino é diferente do evangelho dos homens. Senão vejamos: para o evangelho do Reino, todo mundo é criatura, e todos são alcançados pela graça, simplesmente pela graça, ninguém merece nada; para o evangelho dos homens, porém, apenas alguns na prática (embora teoricamente seja o contrário) são criaturas e somente alguns alcançam a misericórdia, se assim merecerem.
segunda-feira, 5 de abril de 2010
HOMOSSEXUALIDADE: DESAFIO PARA A IGREJA 1
É de doer. O que hoje vemos na mídia diz algo sobre o qual precisamos refletir: algumas pessoas nascem homossexuais e são xingadas, discriminadas, molestadas e odiadas. A igreja, que deveria ter uma solução salvacional, se coloca como a mais irrefletida inimiga dessa classe de pecadores.
O que dizer, afinal? Qual o procedimento correto para se discutir o orgulho gay, de um lado, e a visão homofóbica dos grupos que não são homossexuais, de outro lado? E sobre a visão religiosa da igreja? O que se pode afirmar?
Para entrar nesta questão sem ferir nem a gregos e nem a troianos, vamos lembrar da mitologia grega. Muitos povos antigos falavam da primitiva androginia ou bissexualidade do ser humano primitivo. (Hoje não se fala mais em androginia como condição de bissexualidade humana; há outras razões discutíveis). Para aqueles povos, o deus supremo era andrógino e, portanto, tinha capacidade de se autogerar.
Nesse sentido, eles também admitiam a idéia de que – à semelhança do deus supremo, em uma infinidade de tradições – o primeiro antepassado humano, o homem primordial ou mítico, era andrógino. E isto passou a fazer parte da sua cultura e modo de pensar. Muitos comentários rabínicos, nas escrituras antigas, entendiam e ainda hoje entendem que Adão foi originalmente andrógino (pois, na verdade, a expressão hebraica para Homem se refere ao homem original, ser completo, reunindo em si os dois sexos), até que finalmente Deus separou a parte feminina e surgiu, então, a mulher Eva. Aliás, as palavras “Adão” e “Eva” aparecem somente depois de Deus ter feito a separação.
Isto significa que tudo do que Deus precisava para formar a mulher já estava no homem que, durante um bom tempo, caminhava sozinho pelo jardim do Éden. Platão e outros filósofos gregos tinham pensamentos semelhantes, bem como os australianos, os chineses, os indianos e outros.
Nessa constituição andrógina é que se concebia o ser humano original como esférico. A esfera, por sua vez, simbolizava a perfeição da totalidade. Em outras culturas, tratava-se de um grande ovo que depois originava o casal. Veja, ainda hoje, o famoso símbolo do Yang-Yin, uma esfera dividida harmonicamente por uma curva interna.
Outra situação simbólica desse conceito de androginismo são os rituais de muitos povos que em certas festas ordenam que os homens usem trajes femininos e as mulheres usem trajes masculinos, significando, assim, um retorno ao estado original perfeito do homem.
Por outro lado, a biologia dá a sua contribuição nesse sentido ensinando que o feto, em suas primeiras semanas, é de alguma forma andrógino, e pouco a pouco vai se definindo por um sexo ou outro.
A palavra androginia vem do grego “aner”, “andrós” – que significa “varão” – e “guiné”, “guinaica” – que quer dizer “varoa, mulher”. E assim se inicia a idéia da homossexualidade e, com ela, os problemas como o preconceito, a discriminação e o milenar sofrimento das pessoas que nascem com essa situação.
Antes de tudo, precisamos entender que:
Bissexualidade é o fato de o indivíduo sentir atração tanto por homens quanto por mulheres. É comum, na prática terapêutica, se ver casos de pessoas que são casadas, têm filhos, mas têm relações afetivas por pessoas do mesmo sexo. As pessoas bissexuais sofrem com essa situação, tanto emocionalmente (drama interior), quanto no contexto familiar.
Homossexualidade é a atração pela pessoa do mesmo sexo. Ela se identifica claramente com a prática do sexo inversa ao que é natural entre homem e mulher.
EVOLUÇÃO E HORMÔNIOS
O conhecido cientista italiano Umberto Veronesi está causando grande polêmica no país depois de ter apresentado uma teoria dizendo que a espécie humana está caminhando para o bissexualismo.
Durante uma conferência, em agosto do ano passado, na região da Toscana, Umberto Veronesi, que é médico e ex-ministro da Saúde, afirmou que a espécie humana deve caminhar para o bissexualismo "como resultado da evolução natural das espécies".
Em entrevista a jornais italianos, Veronesi reafirmou sua teoria, apontando o fator hormonal como indicador da evolução rumo ao bissexualismo.
"Desde o pós-guerra a vitalidade dos espermatozóides diminuiu 50% porque as mudanças das condições de vida estão fazendo com que a hipófise (glândula responsável pela produção dos hormônios) produza cada vez menos hormônios andrógenos (masculinos)", afirma o oncologista, pioneiro no tratamento de câncer de mama na Itália.
"O homem não precisa mais de uma intensa agressividade física para sobreviver", diz ele.
Com as mulheres, que têm papel cada vez mais ativo na sociedade, acontece o mesmo.
Segundo o médico, as mulheres vêm produzindo cada vez menos hormônios femininos ao longo dos anos.
"É o preço que se paga pela evolução natural da espécie, que é positivo porque nasce da busca pela igualdade entre os sexos", afirmou o cientista ao jornal Corriere della Sera.
A menor produção de hormônios acabaria atrofiando os órgãos reprodutivos e criando uma espécie de "preguiça reprodutiva", na avaliação de Veronesi. Para ele, o sexo deixou de ser a única forma para procriar desde que novas técnicas foram criadas, como fecundação artificial e a clonagem.
segunda-feira, 29 de março de 2010
CHAMPOLLION E OS HIERÓGLIFOS: O PAI DA ARQUEOLOGIA
A capacidade de leitura dos hieróglifos perdeu-se por mais de um milênio e foi Jean-François Champollion, nascido em 23 de dezembro de 1790, em Figeac, uma pequena aldeia do sul da França, quem conseguiu decifrá-los de novo e integralmente, o que lhe valeu o epíteto de Pai da Arqueologia. A chave principal da decifração foi a famosa Pedra de Roseta, descoberta em 1799 e que continha um decreto da época do faraó Ptolomeu V Epifânio (205 a 180 a.C.) grafado em hieróglifos, em demótico e em grego. Foi comparando esses escritos, usando seus excelentes conhecimentos da língua copta e estudando outras inscrições hieroglíficas, que ele conseguiu o feito notável de nos abrir o conhecimento dos meandros da civilização egípcia antiga e deu início à egiptologia científica. Provavelmente estimulado pela convivência com a biblioteca de seu pai, que era livreiro, Champollion demonstrou ser uma criança precoce. Com cinco anos de idade aprendeu a ler sozinho. Tinha apenas 10 anos quando seu irmão mais velho, um arqueólogo, lhe mostrou uma reprodução daquela pedra e, diga-se de passagem, apesar de ter trabalhado com seu texto durante 14 anos, ele nunca conseguiu ver a pedra em si. Foi provavelmente por influência do irmão que o garoto desenvolveu a paixão por línguas em geral e pelo Egito em particular. Ao examinar o texto, curioso, o menino encasquetou que um dia decifraria aquela estranha escrita: os hieróglifos. Esse desejo infantil tornou-se obsessão e ele se preparou para o feito: dedicou-se com afinco ao estudo das línguas antigas e orientais. Com 11 anos ganhou uma bolsa de estudos e ingressou no liceu de Grenoble, recém fundado. Aí o jovem estudante maravilha os mestres traduzindo e explicando com perfeição os versos, ainda que sutis, de Virgílio e de Horácio. Não se dá bem com a matemática, e futuramente seu pai irá ajudá-lo nos cálculos da cronologia dos reinos dos faraós, mas, em compensação, revela um talento fora do comum para o entendimento de línguas. Aprendeu, às vezes sozinho, árabe, hebreu, aramaico, siríaco, persa, etíope, caldeu, chinês, sânscrito, zende e copta. Com apenas 16 anos de idade apresentou à Academia de Grenoble um trabalho no qual defendeu que o copta talvez fosse uma "deturpação" da língua falada no antigo Egito. Em 1808 descobriu que 15 sinais da escrita demótica correspondiam a letras do alfabeto da língua copta e isso o convenceu de que o copta era a última etapa da língua faraônica. Dedicou-se, então, a ela com tal empenho que, em 2 de abril de 1809, encontrando-se em Paris para aperfeiçoar seus estudos de línguas, escreveu ao seu irmão: Sinto-me tão perfeitamente copta que, para me distrair, verso para esta língua tudo que me passa pela cabeça; falo copta sozinho já que ninguém poderia me entender.
A língua copta é uma mistura de dialetos, cheia de termos gregos e palavras orientais e escrita com o alfabeto grego e mais seis caracteres demóticos que indicam sons que o grego não possui. Era falada pelos cristãos na Grécia nos primeiros séculos da nossa era e nela foram conservadas várias traduções de textos sagrados. O copta tem estreita relação com a língua egípcia antiga e apresenta a vantagem de grafar as vogais, o que tornou possível a Champollion descobrir a pronúncia exata, ou pelo menos aproximada, de muitos nomes e vocábulos egípcios.
Com 18 anos de idade foi escolhido para ensinar história e política no Colégio Real de Grenoble, posição que manteve até 1816; em 1818 foi indicado para a cátedra de história e geografia do mesmo colégio, tendo lecionado tais matérias até 1821. Em 1812 casou-se com Rosine Blanc, de quem teve uma filha, Zoraide, em 1824. Durante esse tempo começou a escrever sua Introdução ao Egito sob os Faraós (1811), bem como a obra Egito dos Faraós, ou Pesquisas sobre a Geografia, Religião, Língua e História dos Egípcios antes da Invasão de Cambises (2 volumes - 1814).
Ao analisar a pedra de Roseta, ele foi o primeiro a definir com exatidão que seu texto intermediário estava grafado em demótico. Outro estudioso, o abade Barthélemy, já pressentira que os cartuchos encerravam nomes de reis, mas a ordem dos sinais permanecia incerta. Na estela de Roseta havia vários cartuchos e pelo texto grego se sabia que o faraó citado era Ptolomeu V. Um cientista inglês, Thomas Young (1773-1879), havia descoberto o significado correto de alguns sinais e atribuíra valores de sons, e não de idéias, a diversos símbolos. Champollion não se convencera muito disso. A pesquisa empacara aí. A grande tarefa para ele, naquele momento, era descobrir se os hieróglifos eram apenas símbolos ideográficos ou se podiam realmente funcionar como letras.
Em 1815 novas pistas surgiram. A primeira foi um pequeno obelisco descoberto em Philae. Também continha um texto grafado em hieróglifos, demótico e grego, no qual aparecia o nome de outro faraó, Ptolomeu Evergetes II, e o de sua esposa Cleópatra III. Sendo nomes estrangeiros, raciocinou Champollion, não poderiam ser grafados com ideogramas, mas deveriam estar escritos da maneira como eram pronunciados. Comparando os cartuchos de Ptolomeu e Cleópatra, notou que possuíam em comum os sinais que representavam as letras P, T, O e L. A conclusão lógica foi a de que alguns hieróglifos tinham mesmo o valor de letras. Embora a descoberta da grafia de nomes de reis tenha sido fundamental para decifrar os hieróglifos, isso não levaria ao entendimento da língua egípcia sem a ajuda do copta. O conhecimento profundo que Champollion tinha dessa língua permitiu-lhe descobrir, ao estudar a pedra de Roseta, os valores fonéticos de certos sinais hieroglíficos em particular, enquanto que seu entendimento do texto grego ajudou-o a identificar os caracteres ideográficos.
A outra pista foram dois cartuchos que pareciam significar os nomes de Tutmés (Tutmósis) e Ramsés. Neles o segundo elemento era idêntico e poderia corresponder ao som més. Eram os primeiros nomes totalmente egípcios que ele traduzia e isso convenceu-o de que suas descobertas eram válidas para os vários períodos da história egípcia e não apenas para a época greco-romana. Champollion concluiu, então, que ao lado dos sinais que correspondiam a um som simples, havia também sinais que agrupavam duas consoantes e sinais que representavam idéias. Ao chegar a tal conclusão ele se emocionou a tal ponto que desmaiou e permaneceu inconsciente por 60 horas. Quando voltou a si redigiu uma carta ao secretário perpétuo da Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, a célebre Lettre à Monsieur Dacier relative à l'alphabet des hiéroglyphes phonétiques. Nesse documento, do qual vemos a foto de uma das páginas ao lado, lido em sessão daquela academia em 27 de setembro de 1822, ele anuncia a descoberta do alfabeto fonético com o qual os egípcios grafavam os nomes dos reis gregos e dos imperadores romanos. Além de Ptolomeu e Cleópatra, ele foi capaz de reproduzir a grafia em hieróglifos e a tradução de 79 nomes de soberanos egípcios, desde Alexandre, o Grande, (332 a 323 a.C.) até Antonino, o Pio (138 a 161 d.C.), dos quais ele reconheceu e tabulou todas as letras, uma a uma. Estava posto abaixo o conceito vigente até então de que a escrita hieroglífica era apenas ideográfica, ou seja, que cada sinal representava uma idéia.
Estava dado o primeiro passo, mas esse era apenas o começo; tornava-se necessário estabelecer um vocabulário e uma gramática e, depois disso e acima de tudo, entender o que se estava lendo e descobrir os fatos narrados por uma língua morta há pelo menos 18 séculos. Champollion sai à cata de textos que não possuia. Obtém cópias de escritos de paredes do túmulo de Seti I e, embora republicano, consegue a simpatia dos reis Luis XVIII e Carlos X. Graças a isso, entre 1824 e 1826, lhe foi possível visitar várias coleções de museus fora da França, tendo sido enviado em missão financiada pelo rei para os museus de Turim, Liorne, Roma, Napoles e Florença, na Itália, onde, em magníficas coleções lá existentes, aprofunda suas pesquisas. Então escreve: Minha ciência hieroglífica acha-se suficientemente avançada para entrever o imenso espaço que ainda lhe falta percorrer antes de poder caminhar sem obstáculos no grande labirinto da escrita sagrada. Vejo o caminho a seguir mas ignoro se o zelo de um só homem e toda a sua existência podem ser suficientes para tão vasto empreendimento. Nessa época consegue que seja adquirida pelo governo francês grande parte de uma importante coleção egípcia, a coleção Salt, para o futuro museu Carlos X. Quando os objetos chegam a Paris é incumbido de catalogá-los, classificá-los e apresentá-los ao público, inaugurando o museu em dezembro de 1827 e publicado a obra Notice descriptive des monuments égyptiens du musée Charles X.
Até então Champollion não conhecia o Egito. Finalmente surge-lhe a oportunidade ao integrar uma expedição franco-toscana, constituída por 14 estudiosos. Entre eles encontra-se o futuro fundador da egiptologia na Itália, Ippolito Rosellini (1800-1843), um italiano de Pisa que havia sido aluno dileto de Champollion quando de sua viagem àquele país. A expedição, que chega à terra dos faraós em 18 de agosto de 1828, tem por finalidade fazer o primeiro apanhado sistemático da geografia e da história do Egito, de acordo com o que revelavam os monumentos e suas inscrições. Tais monumentos dialogam com Champollion e cada um deles lhe conta seu nome, idade e finalidade. Frenético, ele percorre o vale do Nilo e pesquisa tudo o que pode até dezembro de 1829; copia textos e verifica que seu método de decifração é exato. A população simples o considera um verdadeiro mágico, a única pessoa no mundo capaz de ler aquela estranha escrita. Numa pilastra do templo de Karnak ele grava o próprio nome num grito de júbilo. Podemos imaginar a emoção sentida por ele ao lermos suas cartas e seu diário. Numa delas afirma: Orgulho-me agora ao ter o direito de lhes comunicar que, tendo seguido o curso do Nilo desde a foz até a segunda catarata, nada existe que deva ser modificado em nossa Carta sobre o alfabeto dos hieróglifos. Nosso alfabeto é bom: pode ser aplicado com igual sucesso, primeiro aos monumentos do tempo dos romanos e dos lágidas e depois às inscrições de todos os templos, palácios e túmulos das épocas faraônicas! E também afirma: leio com maior fluência ainda do que me atrevia a imaginar. Enquanto o francês anota detalhadamente o que vê, o italiano desenha, também detalhadamente. Tal foi o esmero aplicado que esse trabalho conjunto ainda é considerado como um dos melhores feitos até hoje: ele preservou, sem dúvida, incontáveis informações que, caso contrário, teriam sido perdidas.
Percebendo que 14 templos antigos haviam desaparecido por incúria das autoridades, Champollion tentou convencer o sheik Meemet Ali da necessidade de impedir o processo de destruição. Escreveu-lhe enfatizando: Já soou a hora de por termo a essas bárbaras devastações. Para tão louvável objetivo, Sua Alteza poderia ordenar que não se retire, sob pretexto algum, nenhuma pedra ou tijolo dos monumentos antigos ainda existentes.
A viagem ao Egito fora extenuante. Durante muito tempo Champollion ficara dentro de túmulos de atmosfera rarefeita e escassa iluminação, copiando textos em posições incômodas. O reumatismo o atacou. Ao voltar à França, em pleno inverno, Champollion foi obrigado a ficar um mês de quarentena em um navio sem aquecimento. Sua saúde, já precária, se ressentiu do sacrifício. Em 1830 é eleito membro da Académie des Inscriptions et Belles-Lettres e em 12 de março de 1831 é criada especialmente para ele uma cadeira de gramática egípcia no Collège de France. O decreto real que institui a cátedra diz: M. Champollion exporá os princípios da gramática copta-egípcia e explicará todo o sistema dos escritos sagrados, dando a conhecer todas as formas gramaticais utilizadas nos textos hieroglíficos e hieráticos. Iniciou as aulas em 10 de maio daquele ano. Entretanto, proferiu poucas aulas. No final de 1831 foi atacado de apoplexia e paralisia parcial. A caneta caia-lhe das mãos, mas ele mesmo assim conseguiu terminar o manuscrito do seu dicionário e de sua gramática egípcia. Entretanto, enquanto ainda preparava para publicação os resultados da expedição ao Egito, veio a falecer, de enfarte, aos 41 anos de idade, doente e esgotado por excesso de trabalho, em 4 de março de 1832.
Entre suas obras destacam-se: Panthéon égyptien (1823-1831), publicado em partes, sendo que a obra integral deveria formar dois volumes, mas não foi completada; Prècis du système hyéroglyfique des anciens Egyptiens (1824), obra na qual ele dá a interpretação não apenas de uma longa lista de nomes reais, como também de palavras e frases e até mesmo de sentenças completas; Deux lettres a M. Ie duc de Blacas d'Aulps, relatives au musée royal égyptien de Turin (1824-1826); Catalogue des monuments égyptiens du musée du Vatican (1826). Postumamente foram publicados: Monuments de l' Egypte et de la Nubie d'apres les dessins exécutés sur les lieux (1835-1845); Grammaire égyptienne (1836-1841); Dictionnaire égyptien en écriture hieroglyphique (1841-1844); Monuments de l' Egypte et de la Nubie, notices descriptives (1844-1874) e suas cartas, reunidas em livro em 1833.
Em 1986 sua cidade natal lhe rendeu homenagem criando um museu de egiptologia na casa onde ele nasceu. O museu apresenta coleções diferenciadas: de um lado, documentos evocando a vida e a obra do pesquisador; de outro, antiguidades egípcias referentes a dois dos assuntos que fascinavam particularmente a Champollion, ou seja, a história da escrita e os deuses e os ritos funerários do Egito antigo.
A língua copta é uma mistura de dialetos, cheia de termos gregos e palavras orientais e escrita com o alfabeto grego e mais seis caracteres demóticos que indicam sons que o grego não possui. Era falada pelos cristãos na Grécia nos primeiros séculos da nossa era e nela foram conservadas várias traduções de textos sagrados. O copta tem estreita relação com a língua egípcia antiga e apresenta a vantagem de grafar as vogais, o que tornou possível a Champollion descobrir a pronúncia exata, ou pelo menos aproximada, de muitos nomes e vocábulos egípcios.
Com 18 anos de idade foi escolhido para ensinar história e política no Colégio Real de Grenoble, posição que manteve até 1816; em 1818 foi indicado para a cátedra de história e geografia do mesmo colégio, tendo lecionado tais matérias até 1821. Em 1812 casou-se com Rosine Blanc, de quem teve uma filha, Zoraide, em 1824. Durante esse tempo começou a escrever sua Introdução ao Egito sob os Faraós (1811), bem como a obra Egito dos Faraós, ou Pesquisas sobre a Geografia, Religião, Língua e História dos Egípcios antes da Invasão de Cambises (2 volumes - 1814).
Ao analisar a pedra de Roseta, ele foi o primeiro a definir com exatidão que seu texto intermediário estava grafado em demótico. Outro estudioso, o abade Barthélemy, já pressentira que os cartuchos encerravam nomes de reis, mas a ordem dos sinais permanecia incerta. Na estela de Roseta havia vários cartuchos e pelo texto grego se sabia que o faraó citado era Ptolomeu V. Um cientista inglês, Thomas Young (1773-1879), havia descoberto o significado correto de alguns sinais e atribuíra valores de sons, e não de idéias, a diversos símbolos. Champollion não se convencera muito disso. A pesquisa empacara aí. A grande tarefa para ele, naquele momento, era descobrir se os hieróglifos eram apenas símbolos ideográficos ou se podiam realmente funcionar como letras.
Em 1815 novas pistas surgiram. A primeira foi um pequeno obelisco descoberto em Philae. Também continha um texto grafado em hieróglifos, demótico e grego, no qual aparecia o nome de outro faraó, Ptolomeu Evergetes II, e o de sua esposa Cleópatra III. Sendo nomes estrangeiros, raciocinou Champollion, não poderiam ser grafados com ideogramas, mas deveriam estar escritos da maneira como eram pronunciados. Comparando os cartuchos de Ptolomeu e Cleópatra, notou que possuíam em comum os sinais que representavam as letras P, T, O e L. A conclusão lógica foi a de que alguns hieróglifos tinham mesmo o valor de letras. Embora a descoberta da grafia de nomes de reis tenha sido fundamental para decifrar os hieróglifos, isso não levaria ao entendimento da língua egípcia sem a ajuda do copta. O conhecimento profundo que Champollion tinha dessa língua permitiu-lhe descobrir, ao estudar a pedra de Roseta, os valores fonéticos de certos sinais hieroglíficos em particular, enquanto que seu entendimento do texto grego ajudou-o a identificar os caracteres ideográficos.
A outra pista foram dois cartuchos que pareciam significar os nomes de Tutmés (Tutmósis) e Ramsés. Neles o segundo elemento era idêntico e poderia corresponder ao som més. Eram os primeiros nomes totalmente egípcios que ele traduzia e isso convenceu-o de que suas descobertas eram válidas para os vários períodos da história egípcia e não apenas para a época greco-romana. Champollion concluiu, então, que ao lado dos sinais que correspondiam a um som simples, havia também sinais que agrupavam duas consoantes e sinais que representavam idéias. Ao chegar a tal conclusão ele se emocionou a tal ponto que desmaiou e permaneceu inconsciente por 60 horas. Quando voltou a si redigiu uma carta ao secretário perpétuo da Académie des Inscriptions et Belles-Lettres, a célebre Lettre à Monsieur Dacier relative à l'alphabet des hiéroglyphes phonétiques. Nesse documento, do qual vemos a foto de uma das páginas ao lado, lido em sessão daquela academia em 27 de setembro de 1822, ele anuncia a descoberta do alfabeto fonético com o qual os egípcios grafavam os nomes dos reis gregos e dos imperadores romanos. Além de Ptolomeu e Cleópatra, ele foi capaz de reproduzir a grafia em hieróglifos e a tradução de 79 nomes de soberanos egípcios, desde Alexandre, o Grande, (332 a 323 a.C.) até Antonino, o Pio (138 a 161 d.C.), dos quais ele reconheceu e tabulou todas as letras, uma a uma. Estava posto abaixo o conceito vigente até então de que a escrita hieroglífica era apenas ideográfica, ou seja, que cada sinal representava uma idéia.
Estava dado o primeiro passo, mas esse era apenas o começo; tornava-se necessário estabelecer um vocabulário e uma gramática e, depois disso e acima de tudo, entender o que se estava lendo e descobrir os fatos narrados por uma língua morta há pelo menos 18 séculos. Champollion sai à cata de textos que não possuia. Obtém cópias de escritos de paredes do túmulo de Seti I e, embora republicano, consegue a simpatia dos reis Luis XVIII e Carlos X. Graças a isso, entre 1824 e 1826, lhe foi possível visitar várias coleções de museus fora da França, tendo sido enviado em missão financiada pelo rei para os museus de Turim, Liorne, Roma, Napoles e Florença, na Itália, onde, em magníficas coleções lá existentes, aprofunda suas pesquisas. Então escreve: Minha ciência hieroglífica acha-se suficientemente avançada para entrever o imenso espaço que ainda lhe falta percorrer antes de poder caminhar sem obstáculos no grande labirinto da escrita sagrada. Vejo o caminho a seguir mas ignoro se o zelo de um só homem e toda a sua existência podem ser suficientes para tão vasto empreendimento. Nessa época consegue que seja adquirida pelo governo francês grande parte de uma importante coleção egípcia, a coleção Salt, para o futuro museu Carlos X. Quando os objetos chegam a Paris é incumbido de catalogá-los, classificá-los e apresentá-los ao público, inaugurando o museu em dezembro de 1827 e publicado a obra Notice descriptive des monuments égyptiens du musée Charles X.
Até então Champollion não conhecia o Egito. Finalmente surge-lhe a oportunidade ao integrar uma expedição franco-toscana, constituída por 14 estudiosos. Entre eles encontra-se o futuro fundador da egiptologia na Itália, Ippolito Rosellini (1800-1843), um italiano de Pisa que havia sido aluno dileto de Champollion quando de sua viagem àquele país. A expedição, que chega à terra dos faraós em 18 de agosto de 1828, tem por finalidade fazer o primeiro apanhado sistemático da geografia e da história do Egito, de acordo com o que revelavam os monumentos e suas inscrições. Tais monumentos dialogam com Champollion e cada um deles lhe conta seu nome, idade e finalidade. Frenético, ele percorre o vale do Nilo e pesquisa tudo o que pode até dezembro de 1829; copia textos e verifica que seu método de decifração é exato. A população simples o considera um verdadeiro mágico, a única pessoa no mundo capaz de ler aquela estranha escrita. Numa pilastra do templo de Karnak ele grava o próprio nome num grito de júbilo. Podemos imaginar a emoção sentida por ele ao lermos suas cartas e seu diário. Numa delas afirma: Orgulho-me agora ao ter o direito de lhes comunicar que, tendo seguido o curso do Nilo desde a foz até a segunda catarata, nada existe que deva ser modificado em nossa Carta sobre o alfabeto dos hieróglifos. Nosso alfabeto é bom: pode ser aplicado com igual sucesso, primeiro aos monumentos do tempo dos romanos e dos lágidas e depois às inscrições de todos os templos, palácios e túmulos das épocas faraônicas! E também afirma: leio com maior fluência ainda do que me atrevia a imaginar. Enquanto o francês anota detalhadamente o que vê, o italiano desenha, também detalhadamente. Tal foi o esmero aplicado que esse trabalho conjunto ainda é considerado como um dos melhores feitos até hoje: ele preservou, sem dúvida, incontáveis informações que, caso contrário, teriam sido perdidas.
Percebendo que 14 templos antigos haviam desaparecido por incúria das autoridades, Champollion tentou convencer o sheik Meemet Ali da necessidade de impedir o processo de destruição. Escreveu-lhe enfatizando: Já soou a hora de por termo a essas bárbaras devastações. Para tão louvável objetivo, Sua Alteza poderia ordenar que não se retire, sob pretexto algum, nenhuma pedra ou tijolo dos monumentos antigos ainda existentes.
A viagem ao Egito fora extenuante. Durante muito tempo Champollion ficara dentro de túmulos de atmosfera rarefeita e escassa iluminação, copiando textos em posições incômodas. O reumatismo o atacou. Ao voltar à França, em pleno inverno, Champollion foi obrigado a ficar um mês de quarentena em um navio sem aquecimento. Sua saúde, já precária, se ressentiu do sacrifício. Em 1830 é eleito membro da Académie des Inscriptions et Belles-Lettres e em 12 de março de 1831 é criada especialmente para ele uma cadeira de gramática egípcia no Collège de France. O decreto real que institui a cátedra diz: M. Champollion exporá os princípios da gramática copta-egípcia e explicará todo o sistema dos escritos sagrados, dando a conhecer todas as formas gramaticais utilizadas nos textos hieroglíficos e hieráticos. Iniciou as aulas em 10 de maio daquele ano. Entretanto, proferiu poucas aulas. No final de 1831 foi atacado de apoplexia e paralisia parcial. A caneta caia-lhe das mãos, mas ele mesmo assim conseguiu terminar o manuscrito do seu dicionário e de sua gramática egípcia. Entretanto, enquanto ainda preparava para publicação os resultados da expedição ao Egito, veio a falecer, de enfarte, aos 41 anos de idade, doente e esgotado por excesso de trabalho, em 4 de março de 1832.
Entre suas obras destacam-se: Panthéon égyptien (1823-1831), publicado em partes, sendo que a obra integral deveria formar dois volumes, mas não foi completada; Prècis du système hyéroglyfique des anciens Egyptiens (1824), obra na qual ele dá a interpretação não apenas de uma longa lista de nomes reais, como também de palavras e frases e até mesmo de sentenças completas; Deux lettres a M. Ie duc de Blacas d'Aulps, relatives au musée royal égyptien de Turin (1824-1826); Catalogue des monuments égyptiens du musée du Vatican (1826). Postumamente foram publicados: Monuments de l' Egypte et de la Nubie d'apres les dessins exécutés sur les lieux (1835-1845); Grammaire égyptienne (1836-1841); Dictionnaire égyptien en écriture hieroglyphique (1841-1844); Monuments de l' Egypte et de la Nubie, notices descriptives (1844-1874) e suas cartas, reunidas em livro em 1833.
Em 1986 sua cidade natal lhe rendeu homenagem criando um museu de egiptologia na casa onde ele nasceu. O museu apresenta coleções diferenciadas: de um lado, documentos evocando a vida e a obra do pesquisador; de outro, antiguidades egípcias referentes a dois dos assuntos que fascinavam particularmente a Champollion, ou seja, a história da escrita e os deuses e os ritos funerários do Egito antigo.
quinta-feira, 25 de março de 2010
CHUVA AINDA É POUCA EM LAGOS DA BAIXADA MARANHENSE
Nos dias 22, 23 e 24 (segunda, terça e quarta) choveu forte na região, mas não o suficiente para aumentar o nível da água nos lagos que continuam secos. Os peixes ficam presos em poções e igarapés espalhados em meio aos campos, o que facilita a pesca predatória nos municípios. Seu Domingos Viana, de Turilândia, disse que depende da pesca para sobreviver. "Mesmo na ápoca da desova, somos obrigados a pescar. Todos aqui fazem isso. Os ficais do IBAMA trabalham o dia, mas a gente pesca à noite, quando não há fiscalização", disse ele.
PESCAS PREDATÓRIAS
O governo federal criou, em 2003, a Secretaria Especial da Aquicultura e Pesca (SEAP) pela medida provisória 103, que depois se transformou na Lei Nº 10.683. A transformação em o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) se deu somente em 2009, através da Lei Federal nº 11.958, de 26 de junho de 2009. O MPA assessora direta e imediatamente o Presidente da República na formulação de políticas e diretrizes para o desenvolvimento e o fomento da produção pesqueira e aquícola.
Na época do defeso dos peixes, por força dessa lei, os pescadores legalmente inscritos recebem um salário mínimo para não exercerem as suas atividades nessa época do ano. Esse programa foi uma forma encontrada pelos órgãos governamentais para preservarem diversas espécies que estavam em processo de extinção devido à pesca predatória durante a desova. Mesmo recebendo o dinheiro, os pescadores de Santa Helena, Pinheiro, Turilândia e de outras cidades maranhenses, praticam a pesca criminosa.
Durante a piracema, como é conhecido esse período, os peixes sobem os rios à procura de águas rasas para desovarem buscando a sua reprodução. Nisso se tornam presas fáceis para os pescadores. Agora que as águas não cresceram, os peixes encontram abrigo nos igarapés localizados em meio aos campos. Grande quantidade é pega. Peixes pequenos são lançados fora, e os grandes são comercializados normalmente nos mercados e em feiras clandestinas.
Um grupo de pescadores, de Turilândia e Santa Helena, que pescava no Rio Paruá, desconversou ao perceber que a nossa presença se tratava de uma reportagem. “É, siô, a gente tem que comer, né? Não vamos morrer de fome”, justificou um dos integrantes do grupo, sem querer se identificar. E ficou bravo quando tentamos tirar uma foto.
O período de defeso dos peixes, que acontece nessa época, é exatamente do robalo que vai de 15 de maio até 31 de julho. Em São Francisco dos Campos, a 30km de Santa Helena, onde não há fiscalização, a pesca predatória é responsável por grande número de peixes mortos. Os pescadores matam os grandes e tiram volumosa quantidade de ovas quer para consumo, quer para serem lançadas fora, a urubus e cães. “Antigamente, tinha muito peixe por aqui. Agora não se vê mais tanto assim” – disse dona Remédios, que caminhava pelas beiras do rio Turi-Açú catando algumas piabas.
Outro problema encontrado, é algo vergonhoso. Ninguém quis falar sobre o assunto. Pessoas que nunca foram pescadoras se inscrevem na Associação de Pescadores ou no Sindicato de Pesca e recebem dinheiro do governo (que seria somente para os pescadores de fato), dividindo-o com o presidente da entidade. Uma jovem de Santa Helena, mãe de três filhos, disse que recebeu 2.400 reais, ficando, no entanto, apenas com 500 reais, sendo obrigada a dar a outra parte para o presidente do sindicato. “Eu fui procurada, e aceitei”, disse ela.
BATTISTA SOAREZ
Em trânsito pela região da baixada maranhense