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terça-feira, 30 de outubro de 2012

POLÍTICA NO MARANHÃO


 
Fim de uma era? Ou início de novas incertezas?
Holanda Júnior, prefeito eleito de São Luís, terá que afastar abutres e hienas ou simplesmente se misturar com eles
 
Por BATTISTA SOAREZ
Mestre em Teologia pública e social, escritor, teólogo e jornalista.

Edivaldo Holanda Jr promete mudança
A eleição de Edivaldo Holanda Júnior para prefeito de São Luís pode representar o fim de uma era e início de outra. O recomeço de um futuro político esperançado ou frustrado. Ou simplesmente um ponto de interrogação acima de tudo não especificado e, ainda, cheio de dúvidas políticas e ideologias socialmente forjadas na força de vontade ainda muito prematura. Pode ser que ele dê início a uma nova história ou simplesmente a novas incertezas.

Por outro lado, a despedida de João Castelo da vida pública sinalizou não apenas uma derrota, mas o sentimento de perda e frustração da velha oligarquia política cheia de vícios e dona de um discurso característico de dominação e predomínio das facções populares. Uma oligarquia que pensava nunca chegar ao fim. Que achava que o dinheiro público era a cuia de farinha da mãe Joana. E que a boa fé do povo nunca criaria vergonha.

João Castelo se despede da vida pública decepcionado.
Castelo representava um grupo de partidários que sabe utilizar manobras conjecturais e casuísticas como conjunto de processos políticos para captar e utilizar as paixões populares em benefício de sua carreira e de seu patrimônio pessoal. Uma espécie de mais-valia política dentro do conceito moderno de capitalismo político. Utiliza-se da política para enriquecer ilicitamente, um vício que vem se arrastando desde o período entreguerras (1918-1939) em que o mundo via-se dividido entre os regimes nacionais totalitários e as democracias. No Brasil da década de 1930, as principais correntes antagonistas eram derivadas do comunismo e do fascismo.

O fascismo era representado pelo movimento integralista fundado pelo escritor paulista Plínio Salgado (1895-1975) , voltado para a classe média. Opositor do comunismo, este regime condensava parte das forças da direita, dos militares, da classe média e dos conservadores. Coincidiu, também, com o Estado Novo (1937-1945), marcado pelo período de governo totalitário do presidente Getúlio Vargas. O lema integralista era Deus, pátria e família e sua simbologia seguia o exemplo dos regimes de Hitler e Mussolini ao abusar de sentimentos e símbolos nacionalistas como a camisa verde e a saudação indígena anauê.

A atual democracia, silenciosamente autoritária nos seus vieses governistas, foi lecionada pelo regime integralista. Portanto, Castelo, José Sarney e boa parte dos políticos com mais de sessenta anos de idade são safra das democracias que se fundaram naquele período. O movimento integralista, por exemplo, era contra o capitalismo internacional, todavia jamais questionava a propriedade privada dos meios de produção. E, por fim, o Estado Novo foi feito imagem e semelhança do integralismo. E desse cruzamento surge a democracia atual. Ou seja, a política é pregada como democrática. Mas o espírito da nossa democracia é autoritário e, portanto, integralista. Tudo no atual sistema político brasileiro converge para um domínio totalitário incurável.

Isto justifica o estranho apoio de Roseana Sarney a João Castelo no segundo turno das eleições municipais de 2012. Para o leitor entender melhor, vale dizer, ainda, que os integralistas passaram a dominar setores da direita radical no Brasil daquela época. E daí surge a democracia que, hoje, nos governa. Ela é a grande protagonista das burocracias, dos desvios de verbas públicas, das injustiças sociais, das leis atrapalhadas em si mesmas no judiciário, das CPIs e das falcatruas políticas. Ou seja, um balaio-de-gatos familiar.

Edivaldo Holanda Júnior, por outro lado, ainda é aprendiz do mesmo sistema do qual João Castelo, agora, está se despedindo depois de 41 anos de vida pública. Apenas com outra roupagem. E esta é a verdade. Claro! Quando entrou na política, há quatro décadas, Castelo também era jovem. E entrou no sistema da mesma maneira que Holanda Júnior está entrando: com promessas e sonhos. Todos entram da mesma maneira. Percorrem o mesmo caminho. Utilizam singularmente a mesma tática: promessas, promessas, promessas. Mas o sistema não permite que nenhuma das promessas feitas seja cumprida. Só é feita, na verdade, aquela parte que serve para alimentar o próprio sistema.

E nesse sistema, a briga é partidária. Não por qualidade nas políticas públicas. A briga é por poder. Nunca por melhorias. A briga é por cargos públicos. Nunca por uma administração transparente. A briga é por dinheiro. Nunca por honestidade na aplicação dos recursos.

O medo dos eleitores se refere ao grupo que apóia o prefeito eleito Edivaldo Holanda Júnior. E isso procede. São, de fato, os mesmos personagens que protagonizaram o caos no governo Jackson Lago. Gentes gananciosas pelo dinheiro público. Que fizeram festa com o dinheiro do povo como abutres sobre carniça. Eram verdadeiras hienas rindo das necessidades dos desfavorecidos, rindo das desgraças dos miseráveis.

Júnior deverá ter pulso para afastar esses abutres e hienas ou simplesmente se misturar com eles. E, assim, fazer diferença na história política de São Luís ou repetir as mesmas cenas que ocorreram com Jackson Lago. É esperar pra ver.