MORROS ESTÁ JOGADA AO CAOS
Depois de uma exaustiva corrida nas eleições para prefeito, Sidrack Feitosa (PV) diz que a principal estratégia para uma boa administração é ser honesto com o dinheiro público.
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Por BATTISTA SOAREZ
Sidrack Feitosa |
Ele nasceu num povoado de Morros. Estudou à luz de lamparina. Ia para a escola a pé, na areia quente e teve uma infância difícil. Este é apenas o começo da história de vida de Sidrack Santos Feitosa, de 37 anos. Filho de militar ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, ele diz que viu a energia elétrica chegar no seu bairro aos 18 anos de idade.
O pai de Sidrack era integrante da FEB (Força Expedicionária Brasileira) e criou os filhos num regime familiar muito rígido. "Filho de meu pai não achava nada na rua e tinha de respeitar os mais velhos", testemunha ele, lembrando que seu genitor foi fundador do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Morros, Axixá, Icatu, Presidente Jucelino e Rosário.
Afirma, ainda, que fez todo o ensino fundamental e médio em Morros e, logo que concluiu o ensino básico, viajou para a Baiha, onde faz faculdade de Teologia, na Faculdade Latino-Americana (Instituto Adventista de Ensino do Nordeste - IAENE). Depois de se formar, foi ordenado pastor, trabalhando quatro anos na função. Formou-se em Direito, no UNICEUMA, e em 2012 decidiu ser candidato a prefeito de Morros pelo Partido Verde (PV). Na sua casa, na Pousada Peixinho, ele concedeu a seguinte entrevista:
Sidrack Feitosa — A experiência foi boa. Principalmente porque conseguimos levar nossa proposta para o povo, mostrar nosso pensamento e, assim, considero ter tido bom resultado.
BS — Como você analisa, hoje, a política de Morros? Qual a real situação?
SF — É muito triste. Eu tenho rodado pelos povoados da área rural de Morros e vejo o povo abandonado, a cidade abandonada, buracos em tudo quanto é lugar, salários atrasados, muita gente demitida. Quer dizer, tem uma situação aí muito ruim. O povo de Morros, hoje, sobrevive apenas da Bolsa Família.
BS — Quer dizer, então, que não há nenhuma política pública de geração de renda, em nenhum setor social do município?
Pousada Peixinho |
SF — Não, não existe. Na verdade, não existe nenhuma política pública em se tratando de geração de emprego e renda. De fato, para se ter emprego, precisa-se ter política séria de geração de renda. E não há nada, na situação atual, que possa melhorar a situação do povo e, efetivamente, da cidade como um todo. Não há nada que possa gerar trabalho e renda, e nenhum incentivo a atividade de produção. As pessoas, aqui, continuam como antes: sem perspectiva de vida. Alguns vivem da lavoura, principalmente da mandioca. Mas, agora, existe uma escassez de farinha muito grande. A Bolsa Família é que tem salvado o povo de uma situação de miséria pior do que está.
BS — Sendo assim, que projeto você tinha em mente — ou tem, caso venha a ser candidato novamente — para mudar a política social do município, tanto do ponto de vista administrativo, quanto do ponto de vista econômico?
Morros tem cachoeiras, lagoas e rios. Potencial turístico. |
SF — Nosso principal projeto para a cidade de Morros é geração de emprego e renda. A maior necessidade do povo, hoje, é geração renda. Noventa por cento da população local não tem emprego. E nenhuma atividade de renda. As pessoas vivem de biscates ou bicos. Ou, como já disse, da Bolsa Família. Você há de convir que, sem trabalho e renda, não haverá dignidade. No entanto, Morros tem um potencial muito grande na área do turismo e na área da agricultura. A grande maioria da população do município é agricultora. Mas, em Morros, nunca teve sequer um trator para ajudar o agricultor em suas atividades de produção. Nada foi investido até hoje em agricultura. Nosso projeto para Morros é trazer indústria para o setor de agronegócio, para o turismo, e também investir em estrada. Mais de duzentos povoados não têm estrada. Logo, não se tem como escoar a produção porque as estradas são intrafegáveis, em razão da grande quantidade de areia nas estradas, onde só se consegue trafegar por meio de caminhões traçados.
BS — É fácil convencer o povo acerca de uma proposta de governo realmente honesta, que era e é o seu caso efetivamente? Ou as pessoas já estão acostumadas com barganhas políticas, compras de votos e outras coisas mais?
SF — Não diria que é fácil. Digo apenas que o povo de Morros teve uma oportunidade. Não me candidatei para brincar com a boa fé do povo. Me candidatei para governar com absoluta transparência e dedicação. Isto é parte do meu caráter. Tem, dentro de mim, uma visão de futuro melhor para o povo. Agora, tudo isto é muito difícil porque a gente luta contra o poder. Inclusive o poder econômico. Um poder que é desonesto e nefasto. E esse poder econômico utiliza-se do dinheiro do próprio povo, e de todas as armas, para poder virar a cabeça do povo. Logo, é uma briga muito forte. Inclusive, há uma ideologia de projeto de vida quanto ao dinheiro, por parte de quem está no poder. Querem fazer fortuna com o dinheiro público. Não foi fácil. Mas, graças a Deus, foram mais de dois mil votos que acreditaram no meu projeto de desenvolvimento para Morros. Isto mostrou que ainda há muita gente que acredita em coisa séria.
BS — A imprensa, em geral, divulgou a ocorrência de crimes políticos em Morros. A atual prefeita, Silvana Malheiros, responde a dois processos: um por crime eleitoral, e o outro por improbidade administrativa. Você acredita que essa é uma prática constante da administração pública na cidade de Morros?
SF — Essa administração, que passou quatro anos no poder, e agora tá iniciando a continuidade no governo municipal, cometeu muitas falhas. E sempre se prevalecendo do dinheiro do povo. Quer dizer, o dinheiro não é empregado naquilo que realmente é administração pública para o povo. Nos últimos quatro anos, segundo o Portal da Transparência, mais de 100 milhões de reais foram destinados para o município de Morros. E não se vê nada que tenha sido feito. Saiu dinheiro para água, e não se vê água. Saiu dinheiro para estrada, e não se vê estrada. Saiu dinheiro para casas populares, e não se vê casas populares. Então, o desvio foi muito grande. O que se espera é que tudo seja investigado e os responsáveis sejam punidos.
SF — Nosso pensamento sempre foi empregar aquilo que é do povo para o povo. Minha visão administrativa não é entrar na prefeitura para me dar bem com o dinheiro público. Não é ganhar dinheiro. Meu projeto é cuidar do povo como se cuida de família. Entendo que o que vem do povo, deve ser empregado para o povo. Esta é a nossa visão administrativa para o município de Morros.
BS — Então, nesse caso, que potencial você vê em Morros para geração de renda e emprego?
SF — Morros tem um potencial muito grande na área do turismo. Até hoje o poder público municipal não investiu nada no turismo. Nosso município fica bem localizado no eixo que liga São Luís a Barreirinhas. Barreirinhas é o maior polo turístico do Maranhão, visto, aí, pelo mundo inteiro. E o turista passa dentro de Morros. Mas apenas passa dentro do município. Por que não fica nada por aqui. E a cidade tem um grande potencial turístico que se popde explorar. Têm muitos rios, muitas nascentes, cachoeiras, lagoas, trilhas, etc. Mas nada é feito nesse setor. Então, o investimento imediato no turismo já poderia trazer um resultado muito grande em matéria de desenvolvimento local e geração de renda para a população.
BS — Você nasceu em Morros. E, portanto, conhece muito bem a realidade do seu município. Fui informado de que você vem trabalhando junto à população mesmo sem ter vida pública, ou seja, mesmo antes de ser candidato. Quais os benefícios que você tem feito?
SF — O nosso principal trabalho sempre foi na área social. Fizemos, a princípio, um trabalho religioso por quatro anos. Mas fizemos muitas atividades sociais junto à comunidade. Na área do meio ambiente já fizemos muito, inclusive para proteger as nascentes. A carência, aqui, é muito grande: falta saúde, falta estrada, falta educação, falta tudo. Morros, ainda hoje, têm escolas que funcionam debaixo de árvores. E isso é vergonhoso. Há escolas cobertas de palha, num total desconforto para a clientela escolar. Enfim, o atraso social de Morros muito grande. Por isso, a gente, mesmo como cidadão comum, já temos feito vários trabalhos nas comunidades mais carentes, por entender que as pessoas não merecem tanto descaso do poder público.
SF — O nosso principal trabalho sempre foi na área social. Fizemos, a princípio, um trabalho religioso por quatro anos. Mas fizemos muitas atividades sociais junto à comunidade. Na área do meio ambiente já fizemos muito, inclusive para proteger as nascentes. A carência, aqui, é muito grande: falta saúde, falta estrada, falta educação, falta tudo. Morros, ainda hoje, têm escolas que funcionam debaixo de árvores. E isso é vergonhoso. Há escolas cobertas de palha, num total desconforto para a clientela escolar. Enfim, o atraso social de Morros muito grande. Por isso, a gente, mesmo como cidadão comum, já temos feito vários trabalhos nas comunidades mais carentes, por entender que as pessoas não merecem tanto descaso do poder público.
BS — É verdade que, mesmo sem ser político, você já levou luz a algumas comunidades rurais, distantes da área urbana?
SF — É verdade. Rodando pela zona rural, descobrimos que Morros tinha, ainda, 75 povoados sem energia elétrica. Então, comovidos por tal situação, procuramos a Eletronorte, que mandou uma equipe a ter conosco, e, aí, visitamos todos esses povoados, casa por casa, cada família, povoado por povoado e, assim, a Eletronorte veio colocar energia e ainda está fazendo esse trabalho a nosso pedido. Quer dizer, parte desses povoados já tem energia elétrica. Estive, nesta semana, com o presidente da Eletronorte e ele me garantiu que todos os outros povoados restantes vão ter energia.
BS — Você ainda pretende ser candidato? Ou tem outros projetos?
SF — A questão de ser candidato é uma pergunta interessante. Por que? Porque o nosso objetivo não é ser candidato simplesmente por ser candidato. Nós temos um projeto, uma ideologia para o município de Morros. Queremos mudar a história de Morros, gerar emprego e renda para a população jovem e adulta. Fazer o povo ser feliz e mostrar para a sociedade em geral que é possível, sim, administrar um município com seriedade, dedicação, boa vontade e absoluta transparência. Agora isto não depende só de mim. Depende, também, e principalmente, do povo. Daqui a quatro anos, se o povo achar que precisa mudar e que se pode mudar, nós estamos nos preparando cada dia mais para cuidar deste município como se cuida de família.
BS — O que você está me dizendo, por exemplo, é que se pudesse fazer tudo isso sem ser político, faria?
SF— O nosso lema sempre foi: Deus está no leme, cuidando do povo como se cuida de família. Quando você tem uma visão pública de família, você quer sempre o melhor para o povo. Porque, em família, a gente quer sempre o melhor para a família. E isto, independe de ser político. Logo, você procura trabalhar com muita dedicação para dar o melhor. Porque quando somos movidos pelo sentimento de família, se procura trabalhar dia e noite, dedicadamente, pelo bem-estar da família. Você procura o melhor plano de saúde, o melhor hospital, a melhor educação, o melhor transporte, o melhor de tudo, enfim. Se somos movidos pelo sentimento de família, nossa visão é querer sempre o melhor para a família. E este é o meu projeto: cuidar do povo como se cuida de família. E o povo de Morros está aí, abandonado, enganado e maltratado. E não pode continuar assim.
Belas lagoas e muita beleza ambiental |
BS — Como você observa o trabalho da governadora Roseana Sarney, principalmente para a região de Morros e do Muni, de modo geral?
SF — A governadora Roseana Sarney tem sido uma mãe para esta região. A nossa região tem dois momentos: antes da governadora, e depois dela. Ela foi quem trouxe esta ponte que liga Morros a outras regiões. Antes, o lugar era isolado. A gente atravessava de barco. Ela construiu a estrada que liga Morros a Barreirinhas, principal polo turístico do Maranhão. Ela também trouxe a UPA para nossa cidade, que hoje é a salvação da saúde do povo de Morros. Então, só posso dizer que ela é uma mãe para o povo da região.
BS — Você é pastor adventista licenciado. Que elementos existem na vida eclesiástica que seriam referenciais de apoio na vida pública, e quais elementos da política seriam não recomendáveis para a vida cristã? Ou seja, política e ministério pastoral podem conviver harmoniosamente?
SF — Os principais elementos estão na Lei de Deus. Primeiro, é não roubar. Sabe-se que, hoje, existe uma prática costumeira da corrupção. As pessoas entram na gestão pública para ganhar dinheiro e se dar bem na vida. Ou seja, para desviar o dinheiro do povo. E isso é contra a Bíblia. Ser honesto é um dos fundamentais princípios cristãos. Se os princípios cristãos forem levados em conta na vida pública, o povo será o principal beneciado. A Bíblia diz que "bem aventurado é o povo cujo Deus é o Senhor". E se o administrador segue os princípios blíblicos, ele conseguirá fazer uma boa dministração.
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