A CURVA E OS VENTOS DO BAILE PROTESTANTE
Por
que Marco Feliciano e outros pregoeiros religiosos conseguem apoio da fé
evangélica.
Por
BATTISTA SOAREZ
Baile funk gospel é prova de como anda a mentalidade evangélica brasileira. |
Imagine que a igreja evangélica fosse um cenário de
festas e banquetes, em que o centro das atenções fossem o Marco Feliciano e o
Silas Malafaia. Imagine a iluminação tênue, feita com velas sobre as mesas e
luminárias coloridas, já sinalizada pelo território de um bar evangélico. O
cenário — patrocinado por dízimos e ofertas de fiéis à igreja e ao pastor, mas
infiéis ao Cristo do Evangelho — está absurdamente aconchegante. O ambiente
está pomposo e requintado, onde tudo favorece encontros românticos e conversas
ao pé do ouvido — conversas infrutíferas, mas cheias de detalhes e efeitos
talvez um tanto sociais.
Sem prejuízo
para o clima da espiritualidade intimista, de pouca racionalidade, “clientes”
adeptos do felicianismo e do malafaianismo optam
entre uma mesa no aconchegante jardim do protestantismo brasileiro. Na entrada
do cenário, há um espaçoso conforto. Há lugares de sobra dentro do salão. Nos
fundos da “propriedade” da fé evangélica, os “proprietários” são agressivamente
falantes, embora pouco pensantes. Lá, é fácil ver e ouvir o Marco Feliciano —
vestido de pregador evangélico e tangendo um mandato de deputado — soltar
pérolas nada sensatas bem com como responsabilizando Deus pela morte de John
Lennon e dos integrantes do grupo Mamonas Assassinas.
Nas mesas, rodeadas de adeptos, cegamente adeptos, o papo dos crentes tem a trilha sonora de músicas no estilo de vozes gospel’s, enquanto as tochas do “fogo” pentecostal se acedem. Em alto e bom som, predominam vozes agressivas como a do Silas Malafaia e de outros pregadores do tipo.
Do lado de fora, há expectadores cheios de
necessidades espirituais, com sede de salvação, “doidos” para ouvirem mensagens
que reflitam o Evangelho genuíno. Mas os pregadores ficam cada vez mais
distantes da verdade de Deus e até mesmo do Deus da verdade. Mas não se
importam. Querem mesmo é bradar o ego humano e se sentirem eufóricos num
genuíno orgasmo religioso. O importante é fazer o baile continuar.
Para petiscar, uma das especialidades do bar
evangélico é a batata frita do pastor deputado. No meio da platéia, estão os
expectadores da putada. Gentes que, em nome do ativismo gay, viram antipáticos
de plantão. Fazem arruaças. São provocativos e chatos. A exemplo dos recheios
que levam “angu-de-caroço”, os pratos da mesa estão cheios de abacaxis. Há
“pizzas” por todos os lados, que também fazem parte do cardápio.
Alguém pergunta se JESUS pode entrar para mudar o
cardápio e dar sentido ao que não tem sentido, dar significado ao que não tem
significado, mas os donos do baile não dão nenhuma atenção. Nenhuma chance.
Nenhuma oportunidade de mudança. Continuam rindo, tirando dízimos, ofertas e
chamando a atenção para si. Constroem monumentos igrejeiros e filmam tudo para,
depois, aparecerem na mídia. Uns buscam títulos extravagantes para ostentarem a
síndrome do poder eclesiomaníaco. Outros se ariscam a fumar o cachimbo da
religião entorpecente e, por conta disso, falam asneiras, brigam, xingam e vociferizam
a fé “evangélica”, espalhando medo, pavor e terror apocalípticos. Falam contra
o pecado, mas praticam pecados. Fazem seleção de alguns para condenarem e de
outros para com eles se casarem.
Todo esse cardápio da fé protestante contém
cobertura de mussarela comportamental e polvo espertalhão.
Montada com lagosta refogada no forno da religião
protestantemente evangélica — temperada em manteiga da terra
denominacionalista, mais tomate e azeitona do emocionalismo espiritual — a
mesa, finalmente, chama a atenção pela sua rebeldia inusitada e pitoresca.
No rol de bebidas, há algumas em garrafa de
preguiça intelectual e outras bem originais da fé discriminatória. Há outras
ainda do preconceito religioso e da falta de hermenêutica bíblica. Os drinques
não podem conter álcool, mas há outros ingredientes que embriagam mais do que a
maconha, a cocaína e o craque. Trata-se do espiritualismo emocional, do
fanatismo orgásmico e do fundamentalismo legalista. Estes ingredientes causam
lesão no cérebro da inteligência espiritual, cegam a visão de humanidade e
colocam uma trave nos olhos da consciência reflexiva, levando o indivíduo a uma
profunda incapacidade de aprender as coisas referentes à graça de Deus.
A sobremesa, finalmente, é a completa ignorância teológica e o obscurecimento da história e das culturas humanas. Nesse ambiente, predominam os aperitivos do medo do demônio e das assombrações do pecado. Pecado que, na mentalidade evangélica, a graça de JESUS não basta para resolver.