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quarta-feira, 14 de outubro de 2020

A FÉ EVANGÉLICA EM RITMO DE BAILE

 A CURVA E OS VENTOS DO BAILE PROTESTANTE

Por que Marco Feliciano e outros pregoeiros religiosos conseguem apoio da fé evangélica.

 Por BATTISTA SOAREZ

Baile funk gospel é prova de como anda a mentalidade evangélica brasileira.



Imagine que a igreja evangélica fosse um cenário de festas e banquetes, em que o centro das atenções fossem o Marco Feliciano e o Silas Malafaia. Imagine a iluminação tênue, feita com velas sobre as mesas e luminárias coloridas, já sinalizada pelo território de um bar evangélico. O cenário — patrocinado por dízimos e ofertas de fiéis à igreja e ao pastor, mas infiéis ao Cristo do Evangelho — está absurdamente aconchegante. O ambiente está pomposo e requintado, onde tudo favorece encontros românticos e conversas ao pé do ouvido — conversas infrutíferas, mas cheias de detalhes e efeitos talvez um tanto sociais.

Sem prejuízo para o clima da espiritualidade intimista, de pouca racionalidade, “clientes” adeptos do felicianismo e do malafaianismo optam entre uma mesa no aconchegante jardim do protestantismo brasileiro. Na entrada do cenário, há um espaçoso conforto. Há lugares de sobra dentro do salão. Nos fundos da “propriedade” da fé evangélica, os “proprietários” são agressivamente falantes, embora pouco pensantes. Lá, é fácil ver e ouvir o Marco Feliciano — vestido de pregador evangélico e tangendo um mandato de deputado — soltar pérolas nada sensatas bem com como responsabilizando Deus pela morte de John Lennon e dos integrantes do grupo Mamonas Assassinas.

Nas mesas, rodeadas de adeptos, cegamente adeptos, o papo dos crentes tem a trilha sonora de músicas no estilo de vozes gospel’s, enquanto as tochas do “fogo” pentecostal se acedem. Em alto e bom som, predominam vozes agressivas como a do Silas Malafaia e de outros pregadores do tipo.

Do lado de fora, há expectadores cheios de necessidades espirituais, com sede de salvação, “doidos” para ouvirem mensagens que reflitam o Evangelho genuíno. Mas os pregadores ficam cada vez mais distantes da verdade de Deus e até mesmo do Deus da verdade. Mas não se importam. Querem mesmo é bradar o ego humano e se sentirem eufóricos num genuíno orgasmo religioso. O importante é fazer o baile continuar.

Para petiscar, uma das especialidades do bar evangélico é a batata frita do pastor deputado. No meio da platéia, estão os expectadores da putada. Gentes que, em nome do ativismo gay, viram antipáticos de plantão. Fazem arruaças. São provocativos e chatos. A exemplo dos recheios que levam “angu-de-caroço”, os pratos da mesa estão cheios de abacaxis. Há “pizzas” por todos os lados, que também fazem parte do cardápio.

Alguém pergunta se JESUS pode entrar para mudar o cardápio e dar sentido ao que não tem sentido, dar significado ao que não tem significado, mas os donos do baile não dão nenhuma atenção. Nenhuma chance. Nenhuma oportunidade de mudança. Continuam rindo, tirando dízimos, ofertas e chamando a atenção para si. Constroem monumentos igrejeiros e filmam tudo para, depois, aparecerem na mídia. Uns buscam títulos extravagantes para ostentarem a síndrome do poder eclesiomaníaco. Outros se ariscam a fumar o cachimbo da religião entorpecente e, por conta disso, falam asneiras, brigam, xingam e vociferizam a fé “evangélica”, espalhando medo, pavor e terror apocalípticos. Falam contra o pecado, mas praticam pecados. Fazem seleção de alguns para condenarem e de outros para com eles se casarem.

Todo esse cardápio da fé protestante contém cobertura de mussarela comportamental e polvo espertalhão.

Montada com lagosta refogada no forno da religião protestantemente evangélica — temperada em manteiga da terra denominacionalista, mais tomate e azeitona do emocionalismo espiritual — a mesa, finalmente, chama a atenção pela sua rebeldia inusitada e pitoresca.

No rol de bebidas, há algumas em garrafa de preguiça intelectual e outras bem originais da fé discriminatória. Há outras ainda do preconceito religioso e da falta de hermenêutica bíblica. Os drinques não podem conter álcool, mas há outros ingredientes que embriagam mais do que a maconha, a cocaína e o craque. Trata-se do espiritualismo emocional, do fanatismo orgásmico e do fundamentalismo legalista. Estes ingredientes causam lesão no cérebro da inteligência espiritual, cegam a visão de humanidade e colocam uma trave nos olhos da consciência reflexiva, levando o indivíduo a uma profunda incapacidade de aprender as coisas referentes à graça de Deus.

A sobremesa, finalmente, é a completa ignorância teológica e o obscurecimento da história e das culturas humanas. Nesse ambiente, predominam os aperitivos do medo do demônio e das assombrações do pecado. Pecado que, na mentalidade evangélica, a graça de JESUS não basta para resolver.