Convenção
da Assembleia de Deus no Maranhão realiza 82ª AGO
Na
ocasião, lideranças aproveitam para discutir o projeto político da CEADEMA para
as eleições de 2022
Por Battista
Soarez
(De São Luís – MA)
FOTO: Battista Soarez | Reunião 84ª AGO da CEADEMA em São Luís - MA. |
DE 13 A 17 (segunda, terça, quarta, quinta e sexta feiras) de dezembro de 2021, a Convenção Estadual da Assembleia de Deus no Maranhão (CEADEMA) realizou a 82ª AGO, na sede da Igreja Assembleia de Deus, campo do Tirirical, em São Luís, capital do Maranhão, liderada pelo pastor Osiel Gomes. Dirigido pelo pastor Francisco Raposo, presidente da CEADEMA, o evento contou com a participação de pastores e líderes da denominação de todo o estado, além da presença de autoridades políticas, civis, militares e religiosas. Também esteve presente o pastor José Wellington Bezerra da Costa Jr, presidente da CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil).
FOTO: Reprodução/Internet | Pr. Francisco Raposo, presidente da CEADEMA. |
— Estou à disposição da CEADEMA e da nova gestão desta Convenção, na pessoa do pastor Francisco Raposo, seu novo presidente. A CGADB está disponível para apoiar os projetos sociais, missionários e educacionais da nova gestão da CEADEMA. Estamos prontos para apoiar a Assembleia de Deus maranhense em todos os municípios — disse o pastor José Wellington Júnior que também foi um dos preletores do evento.
FOTO: Reprodução/Internet | Pr. José Wellington Jr, presidente da CGADB. |
Durante os cinco dias do evento, ocorreram várias reuniões de trabalho, dentre elas apresentação de relatórios missionários, apresentação e ordenação de novos candidatos ao ministério pastoral, bem como evangelistas e missionários. Ainda na ocasião, a liderança da maior Convenção da Assembleia de Deus no Maranhão aproveitou para discutir sobre o projeto político da denominação para o estado em 2022.
Na sexta-feira (17/12), o vice-governador do estado, Carlos Brandão, esteve presente na reunião convencional e falou aos líderes eclesiásticos acerca do que o governo do estado vem fazendo junto à igreja evangélica.
— Nós, através do programa “Maranhão Solidário”, estamos investindo, todos os meses, 1,5 milhão de reais em entidades sociais que trabalham com igrejas. E agora lançamos o programa “Maranhão Musical” para despertar talentos através do louvor — disse Brandão, explicando que tal “relação vai melhorar ainda mais e nós vamos ampliá-la”, concluiu.
FOTO: Reprodução / Internet | Carlos Brandão, vice-governador do Maranhão |
Ao lado do vice-governador, também esteve presente na AGO o pastor Enos Ferreira, secretário de Estado de Relações Institucionais. O nome de Enos, inclusive, foi aprovado como pré-candidato a deputado estadual apoiado pela CEADEMA, o que contrariou as decisões de uma reunião anterior da Comissão Política que havia definido o nome da deputada Mical Damasceno (PTB) ao legislativo estadual e o do Pastor Gil (PL-MA) à Câmara Federal, como candidatos únicos da Convenção.
FOTO: Reprodução / Internet | Enos Ferreira, pré-candidato a deputado estadual |
A reportagem do Leitura Livre entrou em contato com a deputada Mical, para falar sobre o assunto. O blog quis saber a opinião da deputada sobre o lançamento de mais um nome para concorrer com o dela, uma vez que, em setembro de 2021, a CEADEMA anunciou que ela seria candidata única da Convenção. Mical explicou que segue aquilo que a Convenção decidir, e que respeita o trabalho da Comissão Política.
— A CEADEMA é uma instituição honrada em nosso estado e sua boa reputação se estende ao território brasileiro. Não obstante a isso, ela é perfeitamente idônea em suas decisões e nós, como membros, temos de seguir as suas orientações — disse Mical, destacando que agradece a Deus e à liderança por continuarem acreditando no seu mandato.
Elogiada pelas autoridades como parlamentar atuante, Mical pontua o fato de que ela se mantém à disposição da Convenção para continuar ajudando em todos os seus projetos e socorrer a quem for preciso.
— Estou pronta para acolher aqueles que nossa magna Convenção julgar importantes para somar em sua representatividade — conclui a parlamentar.
FOTO: Reprodução/Internet | Mical Damasceno, deputada estadual. |
Sobre os dois nomes para deputados estaduais, Mical não foi específica na sua opinião. Mas, segundo o deputado federal Pastor Gil, o projeto da CEADEMA, desde 2017, é sempre lançar dois candidatos ao legislativo estadual e um federal. Nesse caso, segue o que a Comissão Política da Convenção determinar. E, por fim, todo esse cenário mostra que a deputada Mical, que é presidente do PTB no Maranhão, pode até não ter uma grande história de experiência política, mas tem demonstrado que sabe cavar espaço. Não é atoa que ela acabou de conquistar uma vaga no PTB nacional e, a cada avanço, vem dando sinais de que vai deixar muitos tarimbados para trás.
Na sexta-feira à tarde, último dia do evento, o pastor Pedro Aldi Damasceno, pai da deputada Mical e ex-presidente da CEADEMA, fez uso da palavra e disse que a Convenção da Assembleia de Deus no Maranhão tem mais de 270 mil eleitores e que, portanto, pode eleger mais de um deputado estadual.
— Mical faz o trabalho que ela vem fazendo e entendo que dois pré-candidatos oficializados não são nenhum problema. A CEADEMA tem, sim, condições suficientes de eleger dois deputados estaduais — disse Pedro Aldi.
FOTO: Reprodução/Internet | Pr. Pedro Aldi, presidente de honra da CEADEMA. |
O problema é que parece que a opinião da liderança das Assembleias de Deus no Maranhão é toldada por diferenças e divisões estranhas. Uma parte está do lado do governador Flávio Dino — que é comunista e lulista de corpo, alma e espírito — inclusive ocupando cargos na estrutura do governo do Estado. A outra parte é conservadora do pensamento político de direita, bolsonarista e não quer nenhum acordo com a esquerda. Isso gera uma dissonância na convivência dos poderes eclesiásticos e políticos na denominação assembleiana e reverbera nas eleições, comprometendo literalmente os resultados.
Esse “filme” já foi visto no passado, quando um jogo ignóbil de ganância por poder e dinheiro levou a então deputada Telma Pinheiro a não obedecer às diretrizes da Convenção da igreja. A Comissão Política da CEADEMA tinha orientado que Telma fosse candidata a deputada estadual e Costa Ferreira a deputado federal, ambos membros da Assembleia de Deus. Devido à desobediência desvairada de Telma, os dois saíram para federal. E o resultado final foi que nenhum dos dois foi eleito. Costa Ferreira se aposentou e Telma Pinheiro, movida a ambição desmedida, suicidou-se politicamente.
Na atual conjuntura, tem algo semelhante ao passado. Há uma visão oportunista da política na igreja, orientada mais para a próxima eleição do que para a próxima geração. A falta de unidade e de concordância nas relações de pertinência entre os crentes tem levado a igreja evangélica a patinar na medianidade da sua participação política e social por ausência de flexibilidade. Por isso, muitos políticos experientes, inclusive Flávio Dino e o grupo Sarney, vê a igreja evangélica como uma agremiação importante, mas que se mostra palidamente capenga em matéria de articulação política. Exemplo disso é como Dino vem teleguiando a senadora Eliziane Gama, também da Assembleia de Deus, em cada passo do seu mandato. Dino parece ter encabrestado Eliziane. Cada palavra do discurso político da senadora no Congresso Nacional é pensada deliberadamente por Dino. Ela só diz e faz o que o governador dita. Com isso, a senadora decepcionou as expectativas da igreja evangélica que garante nunca mais apoiá-la politicamente. Mas Eliziane tem ainda cinco anos de mandato pela frente e muita coisa pode rolar. Basta considerar que tudo em política é flexível e, num repente, tudo pode mudar.
Mas essa ardorosa celeuma entre política e igreja evangélica, além de mexer peças importantes na engrenagem das relações institucionais de poder, atravanca os projetos de desenvolvimento das atividades sociais por parte da igreja que, na condição de importante grupo social, depende de relações políticas para poder atuar como corpo-social de Cristo na sua funcionalidade planetária para alcançar pessoas.
Alguns pastores mais esclarecidos entendem que, “sem relações com as estruturas sociais de poder, a igreja avança muito pouco na sua missão social. Ela é um corpo espiritual, mas depende também dessas relações para atuar institucionalmente”. É o que pensam os líderes da COMADEMA, presidida pelo pastor André Souza. A COMADEMA é outra convenção da Assembleia de Deus no Maranhão, que dialoga na mesma linha de pensamento de direita da CEADEMA e de outras convenções de igrejas evangélicas que defendem a reeleição de Bolsonaro à presidência da República.
Antes de ir à reunião da CEADEMA, na sexta-feira, o prefeito de São Pedro dos Crentes e pré-candidato a governador, Lahésio Bonfim, reuniu com o presidente da COMADEMA, pastor André Souza, juntamente com alguns pastores da diretoria da instituição. Depois da reunião, André disse que vai conversar com todos os pastores presidentes de ministérios ligados à sua Convenção e, depois, publicar as decisões tomadas.
FOTO: Battista Soarez | Dr. Lahésio Bonfim, pré-candidato a governador do MA. |
— A tendência é a nossa Convenção apoiar o Dr. Lahésio Bonfim como candidato a governador. Para presidente da República, vamos apoiar Bolsonaro. Para deputado federal, ainda está em aberto. E para o legislativo estadual, vamos lançar nomes da nossa Convenção — disse pastor André.
FOTO: Reprodução/Internet | Pr. André Souza, presidente da COMADEMA. |
No mesmo dia, na sexta-feira (17/12), pela manhã, a oportunidade dada ao vice-governador Carlos Brandão, no plenário da Convenção CEADEMA, não agradou o prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahésio Bonfim, evangélico da Assembleia de Deus, que se retirou do local imediatamente, logo depois da fala de Brandão. À tarde, entretanto, após um telefonema de assessores do presidente da CEADEMA, Lahésio voltou ao plenário da Convenção e fez uso da palavra, ventilando com clareza a sua insatisfação com relação ao que ocorreu pela manhã.
— Eu me senti mal, vendo um comunista falando num ambiente que é meu. E eu ouvindo, sem poder dizer nada. Hoje sou prefeito mas, como evangélico, sei o que é igreja. Pertenço ao ministério há muitos anos. Já comecei congregação do zero e cresceu. Portanto, estou no meio do meu povo, do meu grupo social, da minha família evangélica. Sou médico, político, servo do Deus Altíssimo e, como pré-candidato ao governo do Estado, estou para servir o povo, inclusive a igreja do Senhor — disse Lahésio aos convencionais.
Isso levou a diretoria da CEADEMA a reconsiderar. O pastor Francisco Raposo, presidente da instituição, reconheceu que cometeu um equívoco ao conceder a palavra ao comunista Carlos Brandão e não fazer a mesma coisa com o prefeito evangélico. Raposo chamou, logo em seguida, o prefeito Lahésio e agendou uma reunião com a Comissão Política da Convenção para os próximos dias.
FOTO: Battista Soarez | Dr. Lahésio: "Estou num ambiente meu, da minha família evangélica". |
O Leitura Livre conversou, por telefone, com Lahésio Bonfim. Ele reafirmou que, no primeiro momento, se sentiu mal por estar num ambiente dele — se referindo ao fato de ser evangélico, presbítero, da Assembleia de Deus — e, de repente, ver os pastores darem preferência para Brandão enquanto ele ficou sentado no banco.
— Deram a fala para um comunista e eu fiquei olhando ele falar, sem poder dizer nada. Mas aí eu fui me despedir do presidente e ele, então, sentiu que tinha feito algo errado e pediu pra eu voltar à tarde, que ele me daria a oportunidade. E assim eu fiz. Voltei à tarde e ele me deu a oportunidade. Falei algumas verdades e, depois, o presidente de honra [pastor Pedro Aldi] mandou me chamar de volta, horas depois, quando eu já tinha saído do templo, para uma reunião. E aí falamos sobre o projeto político deles e do meu. Ficou de marcarmos outra reunião para tratarmos dos dois projetos políticos: do deles e do meu — ressaltou Lahésio.
A avaliação de alguns pastores é de que não é fácil para quem está à frente de uma convenção do porte da CEADEMA. A convenção de igreja é uma instituição cristã que, por princípios bíblicos, não pode discriminar a ninguém (principalmente em se tratando de autoridade). E isso está no estatuto de qualquer instituição cristã, que segue os princípios ensinados por Jesus e os apóstolos em todo o Novo Testamento. E para ficarem em paz com sua consciência entre o que diz a Bíblia e o anseio pelo poder, os candidatos evangélicos precisam ter sapiência acolhedora e tirocínio espiritual na administração da sua participação política, sem rejeitar ou excluir a quem quer que seja.
No embalo da mesma “maré”, o Pastor Bel foi avaliado pela Comissão Política da CEADEMA e saiu oficializado como pré-candidato a Senador com apoio da Convenção. Bel é do grupo de Lahésio e tem andado pelo Maranhão falando do seu projeto político para 2022.
FOTO: Reprdodução/Internet | Pr. Bel, pré-candidato ao Senado Federal. |
— Eu agradeço à Convenção pelo apoio e à Comissão Política pela decisão de aprovar o meu nome a pré-candidato ao Senado Federal. É um apoio muito importante porque, hoje, o povo de Deus no Maranhão representa uma parcela muito grande de eleitores. E é muito importante a igreja colocar os seus representantes no Congresso Nacional — disse Pastor Bel ao Leitura Livre.
Quem também marcou presença no evento foi o prefeito de São Luís, Eduardo Braide. Braide lembrou aos convencionais sobre o fato de ele ter ficado do lado das igrejas, sendo a favor de que os templos se mantivessem abertos na realização de seus cultos durante a pandemia por Covid-19. De acordo com o prefeito, as igrejas são importantes na assistência espiritual, psicológica e social das pessoas, sendo isso um papel contributivo para promoção da saúde da população.
FOTO: Reprodução/Internet | Eduardo Braide, prefeito de São Luís. |
— As igrejas têm um papel fundamental na sociedade. Elas amparam as pessoas nas suas necessidades e, com isso, se colocam como parceiras do poder público. Entendo que as autoridades devem reconhecer o quanto as igrejas são importantes na sua função social e de orientação espiritual — destacou Braide.
Sobre o atual retrato da situação política da CEADEMA, o deputado federal Pastor Gil prefere manter silêncio para não causar desconforto a nenhum dos interesses individuais de cada pré-candidato.
— As decisões da Convenção sempre devem ser acatadas. Para isso temos uma Comissão Política cujo papel é avaliar cada caso e levá-lo perante a assembleia geral para que as decisões sejam tomadas de forma segura, depois de muito bem pensadas — explicou o deputado.
FOTO: Battista Soarez | Pastor Gil, deputado federal. |
Gil asseverou que a Convenção ainda não bateu o martelo sobre candidato a governador. Segundo ele, a Comissão Política ainda vai estudar a questão e somente depois discutirá o assunto com a assembleia geral. Após tudo isso, o que for decidido será divulgado publicamente. O deputado Pastor Gil ainda elogiou o pastor Osiel Gomes, presidente da Assembleia de Deus no Campo do Tirirical, hospedeira da AGO 2021, sobre todos os aspectos.
— Tudo foi muito bem organizado, não deixando nada a desejar. O pastor Osiel está de parabéns — ressaltou o deputado.
FOTO: Reprodução/Internet | Pr. Osiel Gomes, presidente da AD, campo do Tirirical. |
No fim de tudo, a 82ª AGO da CEADEMA, em 2021, deixou patente que, como a maior convenção de igreja evangélica no Estado do Maranhão, é uma instituição importante e fundamental nas relações sociais, quer seja em nível de governo, quer seja em nível da sociedade civil organizada e até da sociedade privada. Se bem administrada, será respeitada, procurada e ouvida por todos os setores e instâncias sociais. A atual diretoria da CEADEMA demonstrou que está preparada para fazer a diferença no âmbito das participações sociais.