E N T R E V I S T A
“Estamos trabalhando de forma responsável pela saúde do nosso município”
Zulmira Castro, secretária da Saúde do município de Alcântara, fala da organização administrativa do setor e diz que está fazendo o que é certo.
Por Battista Soarez
(Especial para o Leitura Livre)
Zulmira Castro, secretária de Saúde de Alcântara - MA | FOTO: Battista Soarez |
HÁ NOVE MESES À FRENTE da Secretaria Municipal de Saúde de Alcântara, a administradora de empresa Zulmira do Amaral e Castro fala da situação do setor no município, mostra a realidade e revela o que está fazendo na pasta para organizar as coisas de acordo com os parâmetros institucionais e jurídicos. Esposa, mãe e funcionária pública concursada, ela concedeu a seguinte entrevista ao Leitura Livre, esclarecendo os detalhes de como encontrou a saúde do município, as dificuldades enfrentadas, unidades de atendimento, alimentação do sistema, parcerias e ações desenvolvidas junto à comunidade. Segue a entrevista:
LEITURA LIVRE — Algumas pessoas da zona rural e, também, da sede em Alcântara, estão reclamando dos serviços da Secretaria de Saúde que não estão atendendo às necessidades da população. Reclamam, por exemplo, da falta de remédio e de outras demandas não correspondidas. Até que ponto essas pessoas estão dizendo a verdade e qual é a resposta que a senhora tem a dar a elas? Ou isso é apenas uma falácia política da oposição para atingir a imagem da gestão atual?
ZULMIRA CASTRO — O jogo político desleal sempre foi uma realidade em Alcântara. Qualquer prefeito que assume enfrenta esse problema. E isso prejudica, antes de tudo, a própria população. Todo mundo sabe que nada é fácil na administração pública. Tudo depende de um processo burocrático que passa pela relação entre as três esferas de governo: municipal, estadual e federal. O município faz a sua parte, encaminhando as devidas solicitações, mas não pode atropelar o processo administrativo nas esferas superiores. Tem que saber esperar. Todavia, aqui em Alcântara, nunca ficamos sem medicamentos. É bem verdade que, quando assumi a Secretaria de Saúde do município, tinha bastante coisa para organizar administrativamente. Mas, logo que cheguei, tratei imediatamente de organizar a casa. E continuo fazendo isso, justamente para evitar qualquer empecilho. Tenho conversado com a minha equipe sobre a alimentação do sistema que sempre deve estar em dia. Sobre as demandas das medicações, sempre estamos resolvendo. Inclusive as comunidades já estão recebendo seus remédios, conforme as prescrições médicas, de acordo com as demandas. De forma que estamos trabalhando de maneira responsável pela Saúde do nosso município.
L. LIVRE — Desde que a senhora assumiu a SEMUS, o que tem sido feito para organizar o setor?
ZC — Assumi a Secretaria Municipal de Saúde no dia 5 de agosto de 2022, iniciando minhas atividades no dia 8 do mesmo mês. Encontrei uma secretaria inapta, ou seja, sem poder comprar as medicações porque não estava em dia no que diz respeito à alimentação do sistema e outras questões impeditivas. Havia, por exemplo, uma vigência de licitação que venceria no dia 25 de agosto e, ainda, débitos anteriores que impossibilitavam de fazer novas compras. Quero deixar bem claro que não estou, aqui, falando mal da gestão anterior. Cada gestão tem suas dificuldades. Estou apenas prestando um esclarecimento ao público em geral e que nada mais é senão a verdade de fato.
Zulmira Castro mostra dados de atendimento à saúde de Alcântara | FOTO: Battista Soarez |
L. LIVRE — Diante daquela situação, qual foi a sua providência?
ZC — Naquele momento, procurei o Ministério Público, conversei com o promotor e ele nos orientou que fizéssemos as atas de registro de preço e nos deu outras orientações importantes no sentido de que o problema fosse resolvido. Então, fui à busca das atas, fizemos conforme as devidas orientações técnicas e jurídicas e, assim, conseguimos comprar as medicações que vieram para o hospital. Foram medicações de uso hospitalar e medicações de uso da Atenção Básica. Estamos trabalhando para que as medicações cheguem a quem precisa, mas de forma responsável. Estamos trabalhando, também, um novo fluxo de dispensação dessas medicações. Porque, antes, elas não eram feitas com o devido cuidado. Hoje estamos utilizando as duas guias de receituário e também fazendo o levantamento do que a gente tem para não comprar medicação demais e sobrar para um tipo de paciente e faltar para outros tipos de determinadas doenças.
L. LIVRE — Entendi. Então quer dizer que...
ZC — Encontramos, ainda, um TFD (Tratamento Fora de Domicílio) que não estava atendendo a população da forma como deveria. Montamos, ainda, a nossa comissão (que é formada por assistente social, um médico e a secretária) que assina os documentos para que, assim, os pagamentos da ajuda de custo possam ser efetuados às pessoas que necessitam fazer tratamento fora do seu domicílio. Outra coisa que a gente também melhorou no TFD foi colocar um médico exclusivo para os pacientes fora do domicílio. Isso nunca tinha acontecido no município de Alcântara. Esses pacientes que são atendidos por esse programa têm um médico que vem para atender, esclarecer as dúvidas e fazer a devida avaliação. Implantamos, também, o SISREG (Sistema de Regulação) dentro do município que já possibilitou fazer mais de dois mil exames e, além destes, foram feitos também outros procedimentos como consultas e, desta maneira, a gente vem melhorando a cada dia estes e outros serviços à população.
Farmacêutico mostra caixas de remédio que chegaram à SEMUS | FOTO: Divulgação/SEMUS. |
L. LIVRE — No caso dos pacientes que necessitam de intervenção cirúrgica?
ZC — Nós encontramos muita gente na fila de cirurgia. Conseguimos zerar a fila de cirurgias eletivas e, por conseguinte, a demanda que vai chegando a gente vai marcando nos hospitais que são referenciados para determinados tipos de cirurgia.
L. LIVRE — Quais são os serviços que, antes, não vinham funcionando direito e que agora, na atual gestão, estão em pleno andamento?
ZC — Os serviços são o PSF (Programa Saúde na Família), implantamos mais duas UBS’s. Estamos com a equipe multiprofissional, que está funcionando. Nós temos nutricionista, psicólogo, assistente social e trabalhamos de forma coletiva. Fazemos reuniões para se detectar onde estão ocorrendo as falhas e, daí, se inicia um novo processo de trabalhado para que se melhore cada vez mais o nível de assistência à Saúde no nosso município.
L. LIVRE — O que está faltando para que Alcântara tenha o serviço de cirurgia sem que seja necessário o paciente se deslocar para fora do município?
ZC — Estamos trabalhando para que o centro cirúrgico volte a funcionar. Porque ele depende de alguns processos para que a gente atenda o usuário de forma responsável de modo que ele não venha a ter nenhum risco no momento da cirurgia. Então, para isso, estamos trabalhando de uma forma que a gente possa fazer o procedimento sem causar risco ao paciente.
L. LIVRE — E o Raio-X, está funcionando?
ZC — Estava. Mas, no momento, estamos resolvendo um problema técnico, devido a uma descarga elétrica na rede de energia em que queimou uma peça. Foi para São Luís para conserto, mas também apresentou um problema na processadora. Mas isso já está sendo resolvido. Só estamos aguardando fechar o contrato com a empresa que vem fazer a troca das peças e, também, fazer a manutenção dos equipamentos. Não somente do Raio-X, mas, também, dos aparelhos do laboratório e, ainda, dos aparelhos de odontologia. Nós temos no município cinco equipes do PSF que são atendidas pelos odontólogos.
L. LIVRE — Quais são as dificuldades que a senhora ainda tem e que está resolvendo juntamente com o gestor do executivo municipal, Nivaldo Araújo?
ZC — Uma delas é a atualização do sistema, em que nós precisamos dos dados para poder alimentar esse sistema. Mas estamos trabalhando e já estamos atualizando alguns dados e encerrando outros para poder lançar e alimentar da forma correta. Estamos trabalhando, também, a questão do pessoal. Tentando entender as dificuldades das equipes e procurando proceder da melhor forma para que ninguém venha se perder diante da complexidade do processo que a gente está montando. Para tanto, estamos fazendo reuniões para estabelecer as metas que a gente quer alcançar. Outra coisa é com relação à aquisição das medicações. Os recursos que nós temos ainda são poucos, mas estamos buscando esses recursos através de parceria com o governo do estado, conversando com ele, que está nos dando um grande apoio. Estamos trabalhando internamente, enfim, para organizar o sistema, porque dependemos de informação para alimentar esse sistema. Mostrar o que nós estamos produzindo e através dessa produção é que vamos conseguir aumentar o teto no MAC (Média e Alta Complexidade) e conseguir fazer outras adesões, ou seja, a parte do hospital. Lembrando que o hospital de Alcântara é de média complexidade.
L. LIVRE — Eu percebi que, na semana passada, chegaram muitas caixas de remédio. A senhora está tendo alguma dificuldade quanto ao fornecimento de remédio por parte da Secretaria de Estado da Saúde?
ZC — Não. Não estamos tendo dificuldade. Acontece que a demanda é muito alta e nós ficamos muito tempo sem algumas medicações para atender essa demanda. Principalmente com relação aos hipertensos e diabéticos que nós temos. Então, estamos, agora, trabalhando no sentido de fazer o remapeamento da área, fazer a territorialização e a partir dessa territorialização é que a gente vai conseguir identificar a quantidade de pacientes, ou seja, quantos hipertensos, diabéticos e outros que existem no município precisando dessa assistência medicamentosa.
L. LIVRE — O que é territorialização?
ZC — É uma espécie de diagnóstico que a gente faz junto às comunidades para detectar o perfil epidemiológico da população, afim de que se tenha o conhecimento real, em nível de município, de quantos hipertensos, quantos diabéticos, quantos tuberculosos, quantos acamados, quantos cadeirantes, quantas mulheres em idade fértil e assim sucessivamente. Ou seja, é um estudo criterioso que se faz para se poder trabalhar baseado nestes públicos para se puder melhorar o serviço de assistência à saúde como um todo.
L. LIVRE — Quantos postos de atendimento Alcântara tem atualmente?
ZC — No total são 21 postos. Tem um polo academia de saúde (Centro de Apoio à Saúde da Família). Temos o centro psicossocial, que é o CAPS. Tem uma unidade de vigilância em Saúde. Tem uma unidade Odontomóvel. O hospital geral, que atende a população como um todo. Todos estes na sede. E temos os postos de saúde na zona rural. São 11 postos e mais 11 UBS’s. Dentre essas 11 estão as que foram implantadas já na gestão do prefeito Nivaldo, incluindo mais duas que já foram homologadas, que são a de Iririzal e a de Mocajituba.
L. LIVRE — Quantas ambulâncias?
ZC — Cinco ambulâncias.
L. LIVRE — Todas funcionando?
ZC — Sim. Todas funcionando?
L. LIVRE — Essa quantidade de ambulâncias está dando para atender em todos os povoados? Porque são 204 povoados. Estou certo?
ZC — Isso. São 204 povoados ativos e 2017 conhecidos. Precisamos sempre de mais ambulâncias. Mas as cinco que têm estão dando para suprir a necessidade. Mas nós temos muitas estradas e algumas delas ficam muito distantes da sede. Futuramente isso vai melhorar, inclusive com relação aos rádios de comunicação. Hoje a gente consegue se comunicar pelo WhatsApp, mas precisamos melhorar nossa comunicação. No momento, temos uma ambulância no polo do Raimundo Sú, uma em Oitiua e as outras três ficam na sede. A do Ramundo Sú cobre os povoados até Cujupe e Japeú, e a do Oitiua cobre até à área de Peroba. Só que nossas ambulâncias são básicas. Estamos precisando de uma USA, por exemplo, visto que temos muitos casos de acidentes graves e não temos, ainda, uma sala de estabilização para esses pacientes. Não temos, também, para onde levar os pacientes entubados.
L. LIVRE — Quantos pacientes, aproximadamente, são atendidos em todo o município durante o mês?
ZC — Ao todo chega a um número de cinco mil pessoas. Só na UBS do Pepital, durante o mês de abril, conseguimos atender 984 pessoas.
L. LIVRE — Sobre as ações da secretaria, como funcionam?
ZC — As ações são muito importantes diante da população. Principalmente quando a gente encontra com muitas necessidades de serviços, que foi o que encontrei aqui em Alcântara. Durante esses nove meses que estou à frente da SEMUS fizemos bastantes ações porque é uma forma de a gente levar os serviços mais rápidos para as pessoas que estão necessitando para ontem de um atendimento. Fizemos o mutirão da Saúde, em parceria com a Unicef, no ano passado, e fizemos, também, o mutirão com o SESE, no mês de janeiro. Atendemos mais de quatro mil pessoas, com vários serviços: vacinas, testes rápidos, odontologia, exames de vista, análise clínica. E também fizemos uma ação com a APAE, no mês de março. E atendemos muita gente no povoado Pavão. Então, essas ações são muito importantes e foi uma maneira que encontrei de atender as pessoas com medicação e outros serviços.
L. LIVRE — Agora, a SEMUS também trabalha com parcerias. Qual é a relevância disso?
ZC — Alcântara está sendo muito beneficiada com as parcerias. Temos uma parceria com a FESMA (Força Estadual do Maranhão), que já está no segundo ano em nosso município e tem nos ajudado bastante e está dentro das áreas quilombolas como Samucangaua, Boa Vista, etc. Inclusive, no ano passado, fizemos uma belíssima ação, atendendo aquela população e adjacências com vacinas, registro civil e outros. A mais recente ação que estamos fazendo é com a Defensoria Pública do Estado. Tiramos registros porque o Maranhão, dentre os estados do nordeste, está na frente em casos de sub-registros, pessoas que não têm registro civil. E nós, de Alcântara, abraçamos essa causa com a Defensoria Pública do Estado. A gente encontra pessoas por aí com 15, 20 anos de idade sem registro.
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