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sábado, 4 de maio de 2024

RELIGIÃO | A igreja do século 21 e suas (des)conexões sociais

COLUNA LEITURA LIVRE
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Por Battista Soarez
(Jornalista e escritor)

A igreja do século 21 e suas (des)conexões sociais
De onde viemos, onde estamos e para onde estamos indo

Além de dividida, a igreja caminha sem instrução num mundo completamente evoluído | Foto: Divulgação 

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O PENSAMENTO SOCIAL DA IGREJA de Jesus é totalmente diferente de todos os demais grupos sociais. Isto é fato. Isto é relevante.

Ao longo dos tempos históricos, no entanto, ela perdeu a verdadeira visão do reino de Deus, principalmente nos tempos atuais. Desde a romanização do cristianismo, a igreja passou a dar passos estonteantes e, historicamente, desviou-se do pensamento que o Senhor Jesus Cristo construiu na cabeça dos discípulos e apóstolos a fim de propagar o evangelho do Reino, conforme o plano de Deus para a humanidade. Viemos de um evangelho genuíno.

P U B L I C I D A D E

Se a gente bem pensar, a visão de Jesus Cristo para a humanidade se contrapõe ao Estado. O verdadeiro evangelho constrói valores mirado na cultura "sectária". Não para imitar o mundo, mas, sim, para reorganizá-lo e projetá-lo na centralidade da cruz e do amor de Deus para estabelecer a conexão com a sabedoria que nos coloca no propósito da salvação.

Cada grupo social tem sua ideologia, que é o seu pensamento social. E o pensamento social da igreja é completamente diferente dos outros grupos sociais. Só que tem um problema: os crentes não lêem. Não gostam de estudar. E aí está o fracasso da igreja enquanto grupo social.

É impossível compreender, de fato, o pensamento social da igreja como algo elementar. Na noção de pensamento social, entra a moral, a ética espiritual, o conhecimento e a sabedoria nas relações sociais e humanas. Pelo menos deveria ser assim. Face a isso, não se pode negar que a moral secular, imposta pelo Estado, tem a sua validade social. Só que os homens que administram o Estado são despossuídos de sabedoria espiritual. Sabedoria espiritual é o elemento que dá equilíbrio às organizações. E daria ao Estado a ética de poder e governabilidade que, de fato, proporcionaria harmonia, paz, justiça e fim da violência. Isso seria possível se houvesse diálogo entre a Igreja e o Estado. Seria o magistério da igreja extremamente importante na construção de uma sociedade justa e socialmente harmônica.

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Neste aspecto, é fácil de provar que o conhecimento instrucional da igreja carrega um claro caráter de classe: as imagens construídas mediante estilo e conteúdo do seu discurso, e a combinação desses mecanismos com as estruturas sociais da humanidade. Tudo isso é bastante diferente no representante secular das ideologias e no representante do pensamento social da igreja. Vale lembrar que esse pensamento social não é a mesma coisa que a teologia social da igreja mas, sim, a sua forma geral de ver o Reino de Deus em relação à sociedade como um todo. Diferentes emoções e sentimentos, na igreja e na sociedade secular, criam diferentes abordagens para o pensamento social. Estamos, então, no deserto da compreensão espiritual.

Relativamente à teologia da igreja (que costumamos chamar epistemologiamente de eclesiologia), a questão é muito mais complexa  quer dizer, não é nada simples de compreender seus fenômenos  se se considerar que ela passa pelo julgamento das ciências sociais modernas por se tratar de um grupo social que tem suas questões a serem debatidas e interpretadas. Neste sentido, as avaliações de fenômenos sociais pela sociedade secular e pelo Estado, que se declara laico (embora seus dirigentes estejam totalmente envolvidos com religiosidades ocultas), são muito diferenciadas. A situação é diferente, inclusive, na ciência teológica, que é uma área do conhecimento humano que merece ser vista por via de uma hermenêutica que repousa na experiência secular da humanidade no campo do domínio das forças da natureza no seu amplo sentido e significado.

Vejo que os dados e fatos dessa ciência são verificados pela experiência da fé, das relações humanas e sociais e, principalmente, do conhecimento bíblico. Cotidianamente, isso se confirma pela prática e dá para a pessoa convertida um enorme poder sobre a natureza da realidade atual em comparação com séculos passados. Jogar fora todas as conquistas da igreja ao longo dos séculos é, no mínimo, engraçado e bárbaro. Claro, agora a teologia da igreja é usada nos interesses da sociedade secular, sendo propriedade de um grupo de especialistas que tenta uma relação de interesse político com o Estado. E, para isso, a igreja aceita ser usada, subjugada e maltratada pelas forças sociais "laicas".

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Enfim a igreja, dominada pela teologia das relações sociais, vai cada vez mais se tornando acessível pelas massas e pelas forças da política dominante, separando o essencial do não-essencial. Nesse processo, serão desenvolvidos novos campos da teologia da igreja, implicando num desenvolvimento em que a sociedade secularizada não está muito interessada. O desenvolvimento que interessa à sociedade secular interessa, também, a toda a humanidade. E a igreja, ao que parece, está longe dessa compreensão. Logo, somente neste sentido pode-se e deve-se falar que o pensamento social da igreja pode levar, em si mesmo, o selo de um grupo social na qualidade de Corpo de Cristo, Corpo Espiritual e luz no mundo. Um mundo, aliás, cheio de deformações que devem ser corrigidas pela ação da igreja na expressão do seu pensamento social.

Todavia, se os crentes não estudarem, não buscarem conhecimento e sabedoria, estaremos, cada vez mais, no deserto da escravidão. Isto porque, sem conhecimento, viveremos na escuridão. E, vivendo na escuridão, seremos completamente conduzidos pelas ciências do mundo laico e suas políticas dominadoras. Por esta lógica, ou a igreja desperta para estudar ou ela sofrerá graves danos num futuro bem próximo. A ignorância instrucional é uma grave fratura social da igreja. Nas Escrituras Sagradas, o Senhor Deus diz: "Meu povo se destrói por falta de conhecimento" (Oséias 4.6).

Na verdade, estamos caminhando para um cenário de incertezas, se não estudarmos os fatos da realidade social, e se não estudarmos a Bíblia como ela merece e como ela deve ser aplicada em nossa vida cotidianamente. Porque é isto que leva a igreja a ser sal da terra e luz do mundo, tendo ela poder espiritual e poder social para combater o pecado e as mazelas sociais.

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