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sábado, 2 de julho de 2022

ENTREVISTA: PR. BATTISTA SOAREZ | UM AUTOR DE MUITAS IDEIAS (II) | Por Marina Sousa

Um autor de muitas ideias (Parte II)
O escritor, jornalista e pastor maranhense Battista Soarez tem escrito livros e artigos de impacto social. Sua obra A Igreja Cidadã já foi finalista em prêmio nacional de literatura, citada em dissertação de mestrado e até em pesquisas de empresas estrangeiras.

Por Marina Sousa
(Jornalista da Assembleia Legislativa)


Pr. Battista Soarez | Foto: Roney Costa

LEITURA LIVRE Na primeira parte desta entrevista, o senhor estava falando que o livro mais recente de sua autoria, que é o livro “Construído redes de amizade: a metodologia do evangelismo envolvente” (Editora PECC, 2021), é uma abordagem que orienta a igreja brasileira para a prática da visão que foi exposta no livro “A igreja cidadã” (AD Santos Editora, 2018). E o senhor, então, explicou que os dois livros, juntos, são um curso completo de evangelismo aplicado ao desenvolvimento integral de igreja. Como é que funciona tudo isto?

BATTISTA SOAREZ — Sim, verdade. Desde 1991, quando eu ainda estava trabalhando no banco...

L. LIVRE Qual era o banco?

B. SOAREZ — ... Banco América do Sul, que, depois, foi vendido para o Banco Itaú e para o Sudameris (este, por sua vez, vendido, em 2007, para o Santander). Bem, naquela época, em 1992, tive a ideia de criar uma proposta de prática evangelística e missionária que, como você falou, incorporasse ao mesmo tempo espiritualidade e desenvolvimento integral da igreja. Então, comecei a trabalhar um discurso que desse visibilidade à ideia de “Igreja corpo de Cristo” e “igreja corpo social”. A primeira ideia vislumbra o comprometimento espiritual da igreja e a segunda se relaciona com a prática sócio-humanitária da igreja corpo-espiritual. Aí, nós temos duas responsabilidades num só corpo: igreja “corpo-espiritual” e igreja “corpo-social”. Num projeto sério de evangelização e missões, uma coisa não existe sem a outra. Isto implica em desenvolvimento social, educacional, econômico, saúde, assistência, atividades de campo e por aí vai. A obra de Deus não sobrevive só de ler Bíblia, orar, jejuar e pregar. Ela precisa de organização financeira para sua sobrevivência e funcionalidade.

L. LIVREEntendi... Mas, e aí? Quais foram os passos a partir de 1992 que culminaram com a ideia de igreja cidadã e, enfim, de metodologia de evangelismo envolvente?

B. SOAREZ — Em 1992 mesmo comecei a produzir um texto, como falei a você na primeira parte desta entrevista, sobre “igreja planificada”. A proposta era fazer com que a igreja de Cristo começasse a fazer e desenvolver projetos sócio-organizacionais para manutenção do corpo de Cristo enquanto instituição social e comunitária. A vida comunitária é uma vida cheia de necessidades. Tanto espirituais quanto físicas, psicológicas e emocionais. Inquietava-me, também, como os crentes se relacionavam na igreja. Tinha e tem muita falsidade e falta de amor. Vi que a gente prega uma coisa e vive outra bem diferente. Estudamos o evangelho na Escola Bíblica Dominical, mas não conseguimos reproduzir, de fato, aquilo que a gente estuda. Em 1999 publiquei um pequeno livro sobre “igreja planificada” e, logo depois, em 2000, publiquei pela Editora Hosana, de São Paulo, a obra “Crente, mas consciente”, a qual tem uma mensagem voltada para a plenitude da fé e a dignidade humana. E, assim, fui sempre ampliando uma abordagem de relacionamento entre a igreja consigo mesma e com o mundo. Não o mundo de natureza atroz. Mas o mundo-sociedade, o mundo de pessoas. Pessoas que precisam ser resgatadas para o reino de Deus. Em 2005, concluí o livro “A igreja cidadã”, mas só foi publicado em 2007. O livro “Construindo redes de amizade”, embora já tivesse sido trabalhado antes, só veio a ser publicado em 2021.

L. LIVRE O fato de o senhor morar aqui em São Luís, longe do centro de produção editorial e comercial, como São Paulo e Rio de Janeiro, atrapalha sua carreira de pastor e escritor?

B. SOAREZ — Gostei desta pergunta. Gostei porque ela traz a lume uma discussão necessária e, de fato, importante para nós que moramos aqui no nordeste. A gente, aqui, tem muita dificuldade de ser valorizada. Além disso, as autoridades políticas que administram o nosso sistema de modo geral não estão nem aí para a arte e a cultura do Maranhão. Não há incentivo para publicação, divulgação e distribuição literárias. Todavia, nossas ideias são de alto nível. Mas os nossos governantes não conseguem ver isso. Não conseguem perceber que a comunicação, por meio da literatura e da arte, é que gera o desenvolvimento de um estado ou país. A gente escreve livros e, depois, sai por aí praticamente pedindo esmolas para ver nossas obras publicadas, se quisermos. Quando seria muito fácil resolver esse problema, se tivéssemos criatividade e boa vontade política.

L. LIVREDe que maneira?

B. SOAREZ — No Brasil têm grandes editoras. Só que essas editoras têm receio de investir em autores novos e terem prejuízo.  Porque ninguém conhece um autor novo. E não conhece porque não houve divulgação desse autor em nível nacional. E é aí que entraria a parceria com o estado. Bastaria uma conversa da secretaria de cultura com as grandes editoras, distribuidores e livreiros de todo o país. E ainda com editoras estrangeiras para tradução da obra para outras línguas. O estado e o país teriam um retorno hercúleo em matéria de visibilidade nacional e internacional, o que traria grande desenvolvimento para o turismo, investimento econômico e valorização da nossa cultura em todos os aspectos. Isto colocaria o Brasil no topo do desenvolvimento cultural, comunicacional e outros aspectos. Somos um país rico de tudo. Mas pobre de mentalidade. Não temos criatividade para saber administrar corretamente o que temos. A arte literária, no entanto, é um instrumento de peso na cultura de um país, capaz de influenciar todos os setores da sociedade no âmbito do seu desenvolvimento.

L. LIVREPor falar nisso, no primeiro governo de Flávio Dino, seu nome foi lembrado pelo então secretário de ciência e tecnologia Bira do Pindaré para assumir a FAPEMA (Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão). Por que não deu certo? O que houve?

B. SOAREZ — O que houve eu não sei explicar ao certo. A única coisa de que tomei conhecimento foi que a pessoa encarregada de entregar o meu currículo para Zé Reinaldo Tavares, então responsável pela juntada de documento, não o entregou. Meu currículo nunca chegou às mãos dele. Depois essa mesma pessoa, que é meu amigo, me ligou dizendo que não tinha entregado a minha documentação porque eu iria dirigir um site do jornal dele. No dia da reunião, eu recebi uma ligação 01h00 da manhã. Eu até já estava dormindo. Era uma equipe de pessoas reunidas com Zé Reinaldo e Bira do Pindaré. A pessoa que estava ao telefone me informou de que o Bira havia me indicado pelo fato de ele me conhecer, pois fomos contemporâneos de trabalho em banco, e também por eu ser escritor e conhecido em nível nacional. Bira teria dito que meu nome seria bom porque eu tinha condições de promover o nome do Maranhão nacionalmente. Mas não deu certo.

L. LIVRESe tivesse assumido a FAPEMA, o que o senhor teria feito?

B. SOAREZ — Exatamente o que o Bira disse. As pesquisas científicas seriam publicadas e divulgadas em nível de Brasil, em parcerias com grandes editoras e distribuidoras, porque eu tenho canais lá fora para isso. Faria parcerias estrangeiras e o Maranhão, com isso, teria grande visibilidade internacional. E aí o estado seria conhecido no país inteiro e no exterior como grande celeiro de produção científica, tecnológica e literária. Sem contar as parcerias que eu iria promover com escolas da educação básica e universidades. Sendo promovido nacional e internacionalmente, o Maranhão atrairia um público exponencial para o turismo. Isso geraria ocupação e renda de maneira incomensurável, contribuindo assim para o desenvolvimento social e econômico do estado.

L. LIVREO senhor será candidato em 2022?

B. SOAREZ — Até o momento estou pré-candidato.

L. LIVREPor que “até o momento”? O senhor pretende desistir da pré-candidatura?

B. SOAREZ — Não é que eu pretenda desistir. Esta eleição de 2022 está muito complexa. As configurações não estão muito favoráveis ao alinhamento político para quem, de fato, é de direita. Nem para a esquerda também. Tudo indica que os futuros candidatos deverão ter muito dinheiro para viajar, gastar com combustível e, enfim, ter fôlego financeiro para fazer o necessário. O básico. Tudo está muito caro. Inclusive o combustível. Eu não tenho recursos. Tudo o que tenho é discurso político, amizade, inteligência e vontade política. Isso significa que parcerias serão necessárias. E é isso. Eu dependo de parcerias. Além do mais, eu esperava que a direita se unisse num só projeto. Mas cada um foi paro o seu próprio lado, em busca de seus próprios interesses e de seus aliados, e, agora, tudo ficou meio bagunçado. A igreja evangélica, nessa configuração que aí está, ficou numa situação difícil. E todo mundo sabe que a igreja define qualquer eleição. Qualquer candidato que for para a esquerda perderá os votos da igreja. Tá arriscado a direita perder no Maranhão por falta de organização e unidade política.

L. LIVREO fato de o senhor ser conhecido como escritor, jornalista e pastor ajuda?

B. SOAREZ — Em parte ajuda. E em parte atrapalha.

L. LIVREPor que?

B. SOAREZ — Ajuda porque o público que me conhece como, por exemplo, alunos e leitores, sabe do meu caráter e do meu pensamento ético, social e político. E atrapalha porque o fato de ser conhecido atrai invejosos, aproveitadores e falsos amigos. E também inimigos, inclusive entre lideranças como, por exemplo, pastores. E esses sujeitos falam mal de você só por inveja. Só para não ver o teu sucesso. E pior: eles não falam na tua cara, nem publicamente, para você não ter a chance de se defender. Eles falam mal de você, mancham a tua imagem e ainda pedem segredo. São covardes. Eu acho que sou a única pessoa que não dá crédito para fofoqueiro. Se alguém vem até mim falar mal de alguém, esse indivíduo já perdeu crédito comigo. Porque, normalmente, o fofoqueiro tem algum interesse maléfico. Como sou psicoterapeuta, eu já avalio a saúde mental desse sujeito. Recentemente, descortinei um falso amigo desses, a partir de suas atitudes estranhas para comigo e perfil psicológico incoerente. Fiz uma breve busca, e apurei que seu histórico familiar não é de boa referência. Uma pessoa assim, em algum momento vai te dar problema em termo de relações humanas. E isso atrapalha você, de alguma forma, em qualquer projeto público.

L. LIVREPensando nisso, como o senhor vê a política, uma vez que o senhor é pastor e pregador do evangelho? O senhor não acha que há muitos paradoxos entre os princípios bíblicos que a igreja prega e a prática política?

B. SOAREZ — Sem dúvida. Aliás, você tocou num aspecto crucial que pontua exatamente a relação da ética política com a ética do evangelho de Jesus. Eu, particularmente, vejo a política como instrumento de construção, transformação e reconstrução social. Isso vem desde a “polis” grega. Não há outra maneira de administrar a vida pública senão pela política. Portanto, política é uma ciência. E uma ciência que está presente em todo segmento e em qualquer instituto ou grupo social. Inclusive na igreja. O que ocorre é que não se deve confundir “política” (no sentido da arte de governar, organização, gestão, direção, povo, cultura, civilização, ciência e administração da coisa pública) com “política” (no sentido de partidarismo, interesses espúrios, fanatismo, facciosismo político, vantagens financeiras, corrupção, nepotismo, intrigas, violência, desvio de verbas públicas e outras coisas). A igreja, na arte de fazer política, tem de fazer a diferença. Ela tem de ser participativa, sendo “sal” e “luz” do mundo e no mundo.

L. LIVREMas o senhor acha isso possível no mundo de hoje, com tanta tendência do pensamento humano para a prática da corrupção?

B. SOAREZ — É complicado porque os políticos honestos, aqueles que não participam dos esquemas de corrupção, ficam encurralados e, por fim, excluídos no contexto. Mas eu acho que ainda é possível de se fazer a diferença pelo viés de uma ética que prima pelo compromisso com a justiça, a verdade, a honestidade e os princípios universais da justiça orientada pelas Sagradas Escrituras. Acho que a igreja deve caminhar participativamente nesse sentido. O eleitor também deve contribuir, deixando de votar por dinheiro. Tem que parar de vender voto. O eleitor que vota por dinheiro não quer ver o país mudar de situação. Não tem direito e nem moral para cobrar políticas públicas do seu candidato. E o político que compra voto não tem obrigação com as políticas públicas que beneficiam toda a coletividade. Afinal, ele comprou o voto. Os dois, candidato e eleitor, nesse caso devem ser punidos por crime de prevaricação do direito público. O voto é um direito público porque se trata do sufrágio que determina as decisões sobre a vida da coletividade, da vida pública. Portanto, eu não tenho o direito de vendê-lo porque não é propriedade particular minha. Ele é público, de interesse público.

L. LIVREEntendi. E isso tem a ver com a vida pública, não é?

B. SOAREZ — Obviamente. Sempre que dou aula de ciência política para os meus alunos na universidade, faço questão de explicar para eles que o sufrágio é a manifestação direta ou indireta da vontade do cidadão. Sendo assim, trata-se de uma forma de participação e demonstração de interesses dos indivíduos na vida pública e na sociedade política. Isto envolve debate, voto e manifestação acerca de interesses coletivos. Logo, o voto não é propriedade particular minha, nem sua, mas da coletividade. Portanto, o voto é um direito público porque é de interesse público, coletivo. Por isso não pode ser vendido, nem comprado. Quem assim o fizer comete crime.

L. LIVRETanto no livro A igreja cidadã como no Construindo redes de amizade, o senhor divide a teologia em três partes. Ou seja, “teologias fundamentais”, “teologias sistemáticas” e “teologias práticas”. Por que escolheu trilhar pelo caminho das teologias práticas?

B. SOAREZ — Eu não sei se com a minha obra estou fazendo teologia. Porque, quando estou escrevendo, estou pensando no reino de Deus. E não em debate teológico. Estou focado é em alcançar vidas para Jesus, em salvação de almas. Em cada linha que redijo, procuro mirar a justiça que deve ser promovida entre os homens. Mas se a teologia está me colocando dentro do seu campo científico, as teologias práticas são a minha escolha porque é exatamente neste campo que consigo ver realmente um discurso de compromisso com a realidade das necessidades humanas. O evangelho de Jesus é um serviço da justiça divina prestado à humanidade.

L. LIVREFoi pensando nisso, então, que o senhor propôs a rede de amigos em Cristo como método de evangelização?

B. SOAREZ — Perfeito! A rede de amigos em Cristo é uma estratégia de ação. Nessa estratégia de ação você alcança almas para Jesus cuidando de pessoas, compreendendo a sua realidade. Amando as pessoas. É um método que nos leva a praticar os mandamentos do Senhor, ensinados por Ele e os apóstolos ao longo do Novo Testamento. Quando Jesus disse “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, conforme está escrito em João (13.34-35), ele estava dando-nos a missão de cuidarmos uns dos outros como seres humanos. Este é um mandamento universal. Em Cristo, devemos amar os seres humanos independente de cor, raça, religião, sexo, rico, pobre, nativo ou estrangeiro. O amor divino é um princípio universal. Sendo assim, é o melhor método de alcance de pessoas para o reino de Deus.

L. LIVRENo geral, como o senhor vê a igreja brasileira atualmente?

B. SOAREZ — Temos de alisar vários aspectos. E eu já nem gosto de falar desse assunto. Mas posso explicar algumas coisas para você. Coisas que interessam não só para nós cristãos, mas para todo mundo em geral. A igreja está sendo conduzida por mentes paranóicas. Os grandes líderes cristãos neste país não têm saúde mental coletiva. A gente constata isso pela maneira como eles agem e como eles interpretam a Bíblia. Temos pessoas boas? Sim. Temos pessoas boas, lúcidas e honestas como, por exemplo, Hernandes Dias Lopes, Luciano Subirá, Augusto Nicodemos e outros anônimos por aí a fora. Mas estes poucos, isoladamente, não têm força para mudar uma realidade tão complexa como a que hoje vivenciamos. Mas estão fazendo a sua parte. Eu também estou fazendo a minha parte, escrevendo livros e ensinando a igreja do Senhor Jesus Cristo. Mas, por falta de líderes corretos, a igreja brasileira está sofrendo. Ela se divide a cada dia e, por isso, caminha o tempo todo doente. E aqui cabe uma longa discussão.

L. LIVREEntão vamos deixar este assunto para uma terceira parte desta entrevista?

B. SOAREZ — Fique à vontade.

L. LIVRETudo bem, então. Estamos combinados.


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