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sexta-feira, 19 de junho de 2020

VIDA CRISTÃ PÓS-PANDEMIA - Artigo - PR. ANDRÉ SOUZA


VIDA CRISTÃ PÓS-PANDEMIA





PR. ANDRÉ SOUZA
Presidente da COMADEMA/CADB no estado do Maranhão.




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EM APOCALIPSE 3.11 lemos: “Eis que venho sem demora; guarda o que tens para que ninguém tome a tua coroa”.
Como pastor, me preocupo com as novas formas de vida cristã após um período de pandemia como este. O impacto da pandemia na vida da igreja — com a vinda do coronavírus sobre a humanidade — pode ser visto com outro olhar a partir do afastamento da comunhão dos crentes uns com os outros.
O momento atual é de profunda reflexão, haja vista que todos nós ficamos preocupados. Até aqui parece ser um momento único. Igrejas fecharam suas portas. Polícia na rua controlando a vida e o direito de ir e vir das pessoas. O medo instalado no coração e na mente daqueles de ideias mais fixas. Pastores doentes. E nós, de fato, perdendo muitos amigos e parentes.
Mas, por outro lado, vemos muita gente mais preocupada com a impossibilidade de poder ir ao culto e adorar a Deus do que com a doença da COVID-19. Muitos buscaram alternativas e formas diferentes de fazer viver a fé. Os cultos on-line vieram como uma luva. O distanciamento entre seres humanos imprimiu na mente da humanidade uma nova cultura. Inclusive na mente da igreja.
A fé, de repente, passou a ser transmitida por computador, numa perspectiva diferenciada, suscitando perguntas e respostas sobre a vida cristã atual. Viver a espiritualidade de forma intensa passou ser um desafio para homens e mulheres em busca de sentido para suas vidas. Aliás, é um desafio que nos coloca frente a frente com o sofrimento e a morte em que a situação nos joga.
Todavia, em Mateus 28.20, Jesus disse: “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”. Isto nos garante que, em qualquer situação, nunca estamos sozinhos. Em meio a problemas, desilusões, sofrimentos, crises, pandemias, etc... o Senhor sempre estará conosco. Estamos vivendo em tempos difíceis. Tempos em que, por vezes, temos a sensação de que Deus se distanciou. Parece que, por um momento, o Senhor deixou a humanidade sofrer um pouco as consequências do seu pecado.
No mínimo, as trevas do isolamento social, das ruas vazias, lojas fechadas e funerárias abertas 24 horas por dia mostram um espelho nada animador. O quatro é de incertezas, medo, dúvidas, silêncio mórbido e tristeza. Sempre que nos deparamos com pessoas na rua, seus olhares nos dão a impressão de um vazio desolador, que paralisa tudo no transitar do cotidiano. A verdade é que, nesse prisma sociológico, nos vemos temerosos e perdidos.
Mas a narrativa bíblica dos discípulos a caminho de Emaús nos dá a certeza de que, nas noites escuras da vida e da história, o nosso Senhor Jesus Cristo caminha conosco nos servindo com sombra e proteção. É certo que quando mantemos comunhão com Ele, temos a certeza de sua presença: ou nos livrando do leito da doença ou nos agraciando com o paraíso maravilhoso da vida eterna. Mas a verdade é que nunca estamos sozinhos. Ele só nos tira deste plano terreno quando nossa tarefa, aqui, terminou. Quando não faz mais sentido estarmos aqui neste mundo, Ele nos promove para uma vida superior ao lado dEle na eternidade.
Se você tem convicção da sua fé em Cristo, este tempo grave de pandemia pode até fechar as portas do templo para você assistir ao culto de forma física, mas não poderá fechar a porta do seu coração para orar, buscar a Deus, pregar a palavra e ler a Bíblia. Não poderá privá-lo de assistir aos necessitados com a justiça do evangelho: criando redes de solidariedade e levando pão e água a quem tem fome e sede de justiça. Esta e outras práticas cristãs da igreja invisível, de fato, nos enchem de espiritualidade em Deus.
Mesmo com os desmandos dos governos estaduais e municipais — tirando proveito financeiro da situação de crise e praticando suas injustiças contra a sociedade que já sofre com tantas mazelas da realidade social — a vida cristã segue seu plano de crescimento espiritual naqueles crentes que realmente nasceram de novo em Cristo.
Não se pode prevê até quando esta crise vai durar. Mas podemos intensificar o nosso compromisso com Cristo e nossa responsabilidade de vivermos este momento sem titubeio. Como pastor, tenho a responsabilidade de incentivar a minha igreja a cuidar da sua própria vida e da vida do próximo dentro da lógica do sentido bíblico.
É importante pensar na vida espiritual [e também social] da igreja de Jesus após a pandemia. Certamente nossa inteligência espiritual continuará se esforçando para descobrir uma nova forma de se fazer presente nas casas, nas famílias e na vida das pessoas sem quebrar a comunhão no aspecto físico. O corpo de Cristo é uma comunidade de fé, comunhão e, portanto, relacionamento. Um aperto de mão, um abraço afetuoso, uma conversa olho-no-olho e um sorriso gracioso são coisas que nunca devem ser trocadas por distanciamentos e/ou isolamentos.
Nossas celebrações na Assembleia de Deus Missão (ADM) voltaram e continuarão sendo presenciais. Jesus Cristo está presente em nós e, por isso, somos um corpo de verdade nEle. Por isso nos reunimos para orar, louvar, ouvir a palavra, pregar, celebrar a Santa Ceia e, assim, ter vida abundante em Jesus. Afinal de contas, a igreja reunida fisicamente é sinal da presença real do Cristo ressuscitado (Mt 18.20). É isso que faz os nossos corações se manterem aquecidos no amor do Senhor, de forma ardente e não fingida (1Pe 1.22-25). É este nível de espiritualidade que faz a igreja ser bênção na vida das pessoas no âmbito da comunidade. Há absoluta primazia no culto presencial.
Portanto, em vez de se alimentar o medo de visitar alguém e ficar vendo o que algumas televisões propagam para causar pânico nas pessoas, é momento de a igreja se voltar para a palavra de Deus. Devemos alimentar nossa esperança no Cristo de Deus, crescer nEle porque, pelos sinais que vemos acontecendo, uma nova ordem econômica mundial, no após-pandemia, poderá estar se organizando, em que o anticristo estará pronto para assumir e governar o mundo. Todavia, sabemos que Cristo está perto de voltar para levar a sua igreja para o céu de glória quando, então, estaremos com Ele para sempre.
Afinal, Ele nos garantiu: “Eis que venho sem demora; guarda o que tens para que ninguém tome a tua coroa” (Ap 3.11).


segunda-feira, 8 de junho de 2020

DOR E SOFRIMENTO - Artigo - PR. BATTISTA SOAREZ

ONDE ESTÁ DEUS 
QUANDO A DOR 
NOS ATORMENTA?





PR. BATTISTA SOAREZ
Escritor, jornalista, professor universitário, psicoterapeuta e teólogo. Autor do livro A igreja cidadã (AD Santos Editora).





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MORO NUMA CIDADE cercada de praias por todos os lados. Quem conhece São Luís, capital do Maranhão, sabe que para qualquer direção que a gente caminhe vai se deparar com maravilhosas águas do oceano atlântico. Quando quero pegar um mergulho nas ondas do mar, relaxar e higienizar a mente, não preciso percorrer muitos quilômetros e nem me preocupar com a distância.
A casa onde hoje moro, localizada na parte central da “ilha do amor” — como São Luís é conhecida pelos maranhenses, principalmente escritores, poetas e artistas da terra — é rodeada de algumas árvores frondosas e frutíferas. Isso atrai pássaros de várias espécies que, logo de manhã cedo, por volta das cinco horas, me acordam todos os dias. Então, num cantarolar festivo de passarinhos, me acostumei levantar nessas horas da manhã para fazer meu café, preparar cuscuz de milho e, assim, fazer a primeira refeição do dia. Depois de comer algumas frutas frescas, me debruço nos livros para estudar, orar. preparar aulas ou escrever. E olha que até pouco tempo atrás, eu morava no bairro do Turú, o que me aproximava ainda mais da praia, possibilitando-me descer a pé e, em poucos minutos, estava pegando ondas, depois de um breve exercício físico.
Quem ler este relato de parte da minha vida cotidiana poderá imaginar que, por vezes, a felicidade não se afasta, dando lugar ao sofrimento e à dor. Mas é fato. Nesse período de pandemia, eu fui infectado. Passei quase dois meses na fossa, tentando superar a dor de estar doente e a dor da preocupação com o meu filho, de apenas sete anos, que ainda depende muito de Deus me manter vivo para criá-lo. “Deus, eu não tenho medo de ir para junto te ti, mas ainda tenho algumas missões que tu me deste, e elas ainda não estão concluídas”, era a minha oração diária. Depois de quase dois meses, orando, recuperei com ajuda de remédios e uma alimentação balanceada.
Alguns amigos meus não tiveram a mesma sorte. Partiram para a eternidade após serem infectados pela Covid-19. Um amigo muito chegado morava numa casa de luxo a poucos metros da praia do Calhau, na avenida Litorânea, uma das mais bonitas da capital. Recebendo mensalmente uma generosa quantia como desembargador aposentado, ele praticamente não sabia o que era sofrimento. Sua vida podia ser definida numa palavra: conforto. Mas um dia a dor da doença causada pelo coronavírus chegou. Mesmo sendo internado no melhor hospital particular da cidade — que a sua generosa condição financeira lhe permitia — não resistiu às complicações respiratórias implicadas pelo vírus. Ele foi a óbito. E o pior de tudo é que a família não pôde fazer um velório digno para celebrar o último adeus. Do hospital, o corpo foi direto para o cemitério.
Você de fato sente o peso da dor quando pega uma doença grave, quando é desprezado, jogado à solidão ou quando perde um ente muito amado. É nessa hora que a sua alma grita a Deus com toda força da pressão psicológica e emocional: “Deus, onde tu estás?”. Na dor, o amor e o sofrimento parecem se convergir. No holocausto, Hitler não sentia dor alguma quando estava matando os judeus com toda frieza do ódio etnocêntrico. Ele não tinha amor humano. Por isso não sentia dor, nem remorso. Mas, e os familiares que ficaram vivos sentindo a dor da perda dos seus parentes? E a dor psicológica daqueles que estavam na fila esperando a hora de morrer, sentindo desesperadamente o tic-tac das batidas do relógio de seu coração que contavam até o último segundo? Dizem que, no sofrimento, as sensações de vida e de amor se misturam.
O escritor cristão Philip Yancey traz à lembrança o fato de que os estudiosos da medicina falam que, numa ferida profunda, há dois tipos de tecido que precisam de cirurgia. Há o tecido conjuntivo — sob a superfície — e a camada externa que protege a pele. Em situação de rompimento profundo, ambas precisam ser curadas. Num comparativo com a dor do sofrimento, as camadas física e emocional da pessoa precisam ser tratadas. Não adianta só orar ou tratar a dor física. É preciso um processo de cura interior, em que entram em ação as sessões psicológicas nas relações com a pessoa ferida. Nossas feridas emocionais precisam ser cicatrizadas. Recentemente, vi na televisão sobre um caso em que um homem deu vários golpes de faca na própria esposa. Ela foi para o hospital, recebeu tratamento médico e ficou bem. As feridas no seu corpo físico foram cicatrizadas. Mas e as emocionais? As pessoas precisam entender que feridas emocionais são profundas e matam até mesmo o prazer de viver. Matam a alegria da alma.
Como cristãos, almejamos seguir um homem que veio de Deus, enviado por Ele, há dois mil anos. A gente lê os evangelhos e encontra uma única cena em que alguém se dirige a Jesus diretamente como Deus, dizendo: “Senhor meu e Deus meu!”. Quem falou isto foi Tomé. Aquele que todo mundo chama de incrédulo, mas eu o vejo com outro olhar. Tomé estava mergulhado na dor da tristeza de ter perdido recentemente o amigo e Senhor, a quem aprendeu a amar com dedicação e admiração. Jesus, para os discípulos, não só era amável, mas também admirável. Quando Ele morreu na cruz, aos olhos de todos, os discípulos mergulharam em profunda dor e tristeza, haja vista a forma cruel do sofrimento e morte que eles presenciaram. Aquelas imagens pincharam a sua mente e certamente lhes deixaram profundamente perturbados. Imagine! Portanto, Tomé ficou impactado com a surpresa gerada pela notícia da incrível ressurreição. Ele viu Jesus morrer e ser lançado numa tumba. E como é que, de repente, alguém chega e diz “eu sou o Senhor”? Além disso, Jesus havia orientado os discípulos dizendo que se alguém lhes dissesse “eu sou o Cristo”, era pra eles não acreditarem. E parece que Tomé foi o único que guardou essa orientação do Mestre. Por isso duvidou, e exigiu provas de que aquela figura era mesmo o Cristo. Claro, Tomé não queria ser enganado. Qualquer crente cuidadoso e vigilante faria o mesmo. Inclusive eu.
Jesus, então, compreendeu a dúvida de Tomé e fez questão de aparecer ao discípulo tristonho em seu novo corpo transformado para apagar todas as dúvidas. Todavia, o que parece ter motivado aquela explosão de fé em Tomé — que se alegrou dizendo “Senhor meu e Deus meu!” — foi exatamente a presença das cicatrizes. Jesus disse a ele: “Vê as minhas mãos”. “Chega também a mão e põe-na ao meu lado”. Numa revelação surpreendente, depois de verificar as devidas evidências, Tomé viu a maravilha de Deus, o Senhor, sendo condescendente e assumindo nossa dor, completando a união com a raça humana.
Na hora da dor — em que, por vezes, somos levados a perguntar “onde está Deus que não vê o meu sofrimento” — imaginemos que nem mesmo Deus ficou isento dela. E quando perguntamos “onde está Deus agora em que estou sofrendo?”, a resposta da verdade absoluta é: Ele está junto a nós participando plenamente da nossa condição humana. Ele está sentindo conosco a nossa aflição. Naquele momento, Tomé reconheceu a verdade mais fundamental do universo. A verdade de que Deus é amor. Por isso Ele nos ama. E amar significa sentir a dor do outro. Por isso Ele sente a nossa dor. E a dor manifesta a vida. Foi o que Jesus fez. Ele levou sobre si nossas dores e enfermidades, e nos deu vida em Deus.
Agora, tudo o que devemos fazer é seguir Jesus de perto e observar como Ele respondeu às tragédias do seu tempo. É só você olhar para os milagres que Ele fez e logo verá onde está Deus quando estamos em situação de dor. Ele está exatamente no mesmo lugar e situação em que você se encontra em sofrimento. Normalmente, as pessoas que se aproximavam de Jesus clamando por socorro estavam em situação de dor. Como, por exemplo, uma viúva que perdeu seu único filho. Um homem por nome Jairo cuja filha falecera. Ou até mesmo um soldado romano cujo servo contraiu uma enfermidade. Em momento como esses, Jesus nunca fazia sermões de julgamentos. Em vez disso, Ele respondia com compaixão, palavras de conforto e cura. Em latim, a palavra “compaixão” significa “sofrer com...”. Portanto, Deus sempre está ao lado de quem está sofrendo. Você está sofrendo dor e decepção? Lembre-se: Ele está exatamente aí, junto a você.