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quinta-feira, 3 de maio de 2012

CPI DA PISTOLAGEM

Não basta fazer CPI
É preciso criar política pública para conter a cultura da criminalidade
Por BATTISTA SOAREZ
Fonte: O Imparcial
Segundo o Jornal O Imparcial, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar crimes de pistolagem ocorridos recentementes no estado do Maranhão, oficializada nesta quarta-feira (2), pelo deputado Bira do Pindaré (PT), está ganhando corpo. Saiba mais... CPI da pistolagem já tem onze deputados a favor.
 
Na sessão desta quinta-feira (3), dez deputados estaduais já assinaram o pedido de CPI. São eles: o próprio Bira do Pindaré (autor do pedido), Othelino Neto, Marcelo Tavares, Valéria Macedo, Zé Carlos do PT, Gardênia Gonçalves, Luciano Leitoa, Eliziane Gama, Neto Evangelista e Chico Gomes.

Para que o pedido seja encaminhado à Mesa Diretora da Casa Legislativa e se torne uma CPI, o documento precisa contar com, pelo menos, 14 assinaturas.

Bira do Pindaré espera que mais colegas ainda assinem o pedido. Os parlamentares que podem constar na lista são: Eduardo Braide, Cleide Coutinho, Carlinhos Amorim e Graça Paz. Caso eles assinem ainda nesta quinta, o pedido pode ser procotolado e a CPI oficializada.

Mas se não fizerem até o fim da tarde desta quinta, a CPI pode ser instaurada somente na próxima semana.
Não é de hoje que o crime corre solto no Maranhão. Matar pessoas, inclusive inocentes, já até virou cultura no estado. Uns matam, outros morrem. E ninguém é capaz de fazer alguma coisa. Até porque quem poderia fazer algo (os políticos, o judiciário e as instituições defensoras dos direitos) estão parece estar comprometo até o pescoço.

Os jornalistas, que é a única classe que realmente faz justiça neste país, estão morrendo a cada vez que tenta defender a vida e os direitos dos cidadãos. O que tem predominado, de fato, é só o medo, a insegurança e absoluta converdia de matar, matar, matar, matar....

terça-feira, 1 de maio de 2012

GOVERNO

Novo ministro, Brizola Neto diz

que PDT 'tende a marchar unido'

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MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO


Anunciado na segunda-feira (30) como o novo ministro do Trabalho, Brizola Neto (PDT) afirmou nesta terça-feira (1º) que o seu partido "tende a marchar pela unidade".
"A grande questão agora é a unidade partidária. É importante o partido dar sinalização de unidade. Creio que não teremos dificuldade porque existem questões maiores a nos unir do que divergências desse processo de escolha do ministro", afirmou o novo ministro, que participa das comemorações do Primeiro de Maio em São Paulo.
Planalto oficializa indicação de Brizola Neto para pasta do Trabalho

A indicação de Brizola Neto não era unanimidade no partido e foi tratada como "indicação pessoal" da presidente. Sua posse acontece na próxima quinta-feira (3).
Dilma deu ao novo ministro a missão de unificar o PDT. "Este primeiro momento é de buscar reafirmar a unidade do partido em torno do fundamental, que a nossa identidade e o apoio ao governo Dilma", disse Brizola Neto. "[A divergência] é resultado do processo natural da escolha. Com o desfecho dessa questão, o partido tende a marchar no caminho da unidade."

 Leonardo Carvalho - 28.jan.10/Folhapress
Brizola Neto (esq.), cotado para assumir a pasta, ao lado de Carlos Lupi, o ex-ministro
A pasta é comandada interinamente por Paulo Roberto Santos Pinto desde dezembro do ano passado, quando o ex-ministro Carlos Lupi deixou o cargo em meio a denúncias de irregularidades.
Além de Brizola Neto, o PDT apresentou os nomes do deputado Vieira da Cunha (PDT-RS) e do secretário-geral do partido, Manoel Dias. O partido controla o ministério desde o governo Luiz Inácio Lula da Silva.

 

Brizola Neto (à esq.), convidado para assumir o Ministério do Trabalho, ao lado do ex-ministro Carlos Lupi

APOIO
Em nota divulgada ontem, a presidente disse que Brizola Neto "prestará grande contribuição ao país" e destacou sua trajetória política como ex-secretário de Trabalho e Renda do Rio de Janeiro, ex-vereador e deputado federal.
Dilma ainda agradeceu ao ministro interino. "A presidenta agradeceu a importante colaboração do ex-ministro Carlos Lupi, que esteve à frente do Ministério no primeiro ano de seu governo, e do ministro interino Paulo Roberto dos Santos Pinto na consolidação das conquistas obtidas pelos trabalhadores brasileiros nos últimos anos", diz a nota.
Apesar da resistência de parte da bancada do PDT, o deputado, de 33 anos, conquistou nos últimos meses o aval da Força Sindical e da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Brizola Neto assumirá o posto de ministro mais novo da Esplanada. Neto de Leonel Brizola, fundador do PDT e ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, o deputado exerce o segundo mandato na Câmara dos Deputados.
Chegou a liderar o PDT em 2009 e teve uma atuação sempre fiel ao governo. Em 2011, se licenciou da Câmara para exercer o cargo de secretário de Trabalho e Renda do Rio de Janeiro.
Em seu site, ele destaca a ligação com o avô. "O nome que carrego é uma bandeira. É um símbolo para milhões de pessoas que sonham com um Brasil diferente, com um Brasil com justiça, com trabalho,com progresso para nosso povo."

segunda-feira, 30 de abril de 2012

TENTATIVA DE ARROMBAMENTO


Suspeito de arrombamento
é espancado no P. dos Rios

Por BATTISTA SOAREZ 

Rômulo Matos Lopes, de 25 anos, morador da Vila Cafeteira, foi pego e espancado por moradores do residencial Parques dos Rios. Ele foi acusado de tentar arrombar uma casa no bairro, na rua Rio.... ao lado do cemitério Jardim da Paz, em São José de Ribamar. O fato aconteceu por volta das 9m30m, desta segunda-feira.

A dona da casa, identificada apenas como Solonge, conta que estava no serviço, no Maiobão, quando recebeu um telefonema da sua filha, Carolina, de 10 anos, informando que tinha um homem arrombando a janela de sua residência com uma pedra. “Minha filha estava quase sem poder falar, nervosa, trêmula e chorando. Ela estava sozinha em casa”, disse Solange. 

Segundo conta, Solange ligou imediatamente para o seu irmão Felipe, 19, que logo se dirigiu para o local. Felipe diz que, ao chegar à residência da irmã, não havia mais ninguém. Contudo, a janela estava quebrada e vizinhos informaram que o homem teria seguido em direção à avenida Coronel Goulart, paralela ao muro do cemitério. Ele correu na direção indicada e encontrou Rômulo, que ia seguindo tranquilamente rumo à Vila Cafeteira, onde mora.
 

Furioso, o rapaz deu uma pedrada em Rômulo, que saiu correndo pela rua Rio Pindaré. “Eu corri para me defender. Vi aquele monte de gente me jogando pedra e pau, sem eu nem saber por que. Acho que fui confundido com alguém”, disse Rômulo que tem problema de surdez.


A rua Rio Pindaré não tem saída. Felipe e outros moradores pegaram o suspeito e o espancaram. Sangrando, Rômulo caiu ao chão pedindo socorro. Um morador que é policial o algemou. A polícia militar foi acionada e o suspeito, juntamente com os seus acusadores, foram conduzidos à delegacia do Maiobão para prestarem os devidos esclarecimentos.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

MORTE DE DÉCIO SÁ EXIGE REPENSAR O CRIME

REVISTA VEJA FALA SOBRE O CASO DÉCIO SÁ
A Polícia Civil de São Luís prendeu na noite desta quarta-feira dois homens suspeitos de participarem do assassinato do jornalista Décio Sá, executado a tiros em um bar na orla da capital maranhense nesta segunda-feira. Os acusados, que já tinham mandados de prisão decretados por outros crimes, começaram a prestar depoimento por volta das 16h30 desta quinta-feira na Delegacia de Homicídios de São Luís.
De acordo com o delegado Jeffrey Furtado, que participa das investigações, a polícia recebeu mais de uma denúncia, por meio do Disque-Denúncia, de que os acusados estariam envolvidos na morte do jornalista. “Ainda não dá para confirmar o envolvimento deles neste crime”, ponderou Furtado. “Nós estamos no processo inicial das investigações e o depoimento deles acabou de começar. Temos que ser bastante criteriosos para checar as informações que recebemos através do Disque-Denúncia, pois nem tudo é verdadeiro”.
Segundo o delegado, um dos homens foi preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo. O revólver de calibre 38 encontrado com ele, no entanto, não bate com a munição responsável pela morte de Sá, que é de uma pistola calibre 0.40, de uso exclusivo da polícia.
Os dois homens, que foram encontrados no bairro de Araçagi, em São Luís, já tinham passagem pela polícia. Um deles foi condenado por latrocínio (roubo seguido de morte) pela Justiça de Capitão Poço, no Pará. O outro tinha a prisão decretada pela Justiça de São Luís, mas o crime não foi informado.
Assassinato - Décio Sá estava desacompanhado quando dois homens chegaram ao bar em uma moto. Um deles entrou no estabelecimento e foi até o banheiro. Ao retornar, armado, disparou seis tiros - cinco atingiram o jornalista, que morreu no local.
Segundo as investigações, o crime foi planejado e executado por profissionais. Os depoimentos ouvidos até agora apontam que o jornalista estava sendo seguido desde a sede do jornal O Estado do Maranhão. A polícia afirmou ainda que o blogueiro não declarava ter recebido ameaças de morte. O computador e o telefone pessoal dele já estão em poder da polícia, que também usará notícias publicadas no Blog do Décio para investigar a morte.
Blog - Uma das últimas reportagens publicadas em seu blog, horas antes do crime, é sobre o julgamento de pistoleiros da região acusados de matar, em 1997, o líder comunitário e sem-teto Miguel Pereira Araújo, conhecido como Miguelzinho.
Em fevereiro, Décio afirmou que a oposição estava fazendo “um verdadeiro cavalo de batalha” em torno do processo de cassação da governadora Roseana Sarney, que tramita no Tribunal Regional Eleitoral do estado (TRE). “Tudo bobagem”, escreveu. No fim de março, Décio Sá criticou um encontro na Assembleia Legislativa do estado para comemorar os noventa anos do PCdoB. Disse que a reunião não passava de "comunismo de araque".
FONTE: Veja

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

MENTES PERIGOSAS

É de doer. São pessoas ou "pessoas". Ou, talvez, nem são pessoas ou "pessoas". Mas doentes mentais. Veem maldade em tudo. Em qualquer coisa. Coisas simples como, por exemplo, uma mera imagem sem maldade, um insignificante olá amigável, uma amizade. Ou, quem sabe, nem isso! Em alguns casos, as mentes perigosas (ou doentias) conseguem ver maldade até mesmo no nada. Numa pessoa e noutra pessoa. Basta as duas pessoas terem talento ou beleza. Lá está a desgraça da mente perigosa construindo maldade. E que maldade. Mentes doentias são perigosas, assassinas e, no mínimo, criadoras de conflitos. Pessoas assim, de mentes perigosas, são indiferentes. Diabólicas. Suas maneiras de ver as coisas são satânicas. Contaminam o ambiente humano com seu satanismo, com a sua hostilidade. E elas estão aí: no seu trabalho, na sua casa, ao seu lado, nas ruas. Estão em todos os lados. São maçãs podres em meio ao pomar. São verdadeiramente patológicas. E o que é pior: não há cura. Viverão eternamente assim: no inferno da indiferença, da presunção e da maldade. São personalidades tipicamente patológicas.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

MINHA VIDA, MINHA HISTÓRIA. NASCE A VISÃO GLOBAL EDITORA


CAPÍTULO III
1974
Segui com a minha mãe para sua casa no lugarejo Chapadinha. Meu pai voltou sozinho para sua casa do outro lado do lago. Chapadinha era um pequeno povoado. Daqueles cujas casas ficam localizadas cerca de 1 quilômetro uma da outra. Caminhamos, aproximadamente, 50 quilômetros a pé. Minha  mãe conduzia uma sacola de objetos pessoais na cabeça e eu a seguia correndo atrás para que pudesse acompanhá-la. Minha mãe era rápida nas passadas.
-- Mãe, eu não vou mais sair de perto da senhora, não é? -- dizia eu para ela durante a caminhada.
-- Claro, filho. A mamãe nunca mais vai deixar você distante dela.
Mamãe explicava-me muita coisa da sua relação com o papai: brigas, momentos de alegrias, conquistas, perdas. Eu ouvia tudo atentamente. Confesso que tinha saudade de meu pai, claro. Mas a felicidade de poder estar novamente ao lado da minha genitora era tamanha que nem sentia cansaço em razão da caminhada.
Lembro-me de que, durante o percurso, tínhamos de passar por um lamaçal enorme -- a lama alcançava acima do joelho -- e por um matagal imenso onde tinha muitos animais silvestres, inclusive onça tigre. Porém a companhia da minha mãe me passava muita segurança. Eu tinha medo do perigo, claro. Afinal de contas, era comum achar, em meio aos matagais daquela região, bois, vacas e outros animais mortos pelos tigres. Isso poderia acontecer também com seres humanos. Mas mamãe me dizia:
-- Filho, fale baixo para não chamar atenção das feras.
Eu sabia que, em situação de ataque, jamais me separaria da minha mãe. Num outro tempo, por aqueles lugares, meu avó por parte de pai teve muitos confrontos com onças. Então, encontrar com esse tipo de animal não difícil por ali.
Depois de andarmos aproximadamente seis horas de viagem, finalmente chegamos à casa da mamãe.

A casa era de palha, tirada de palmeiras do coco babaçu. As paredes eram de barros e, no lugar da pia, tinha um giral (como é chamado, na baixada maranhense, um engedramento, feito com varas tiradas de pequenas árvores, para lavar louça). Nada era tão humilde. Mas, ao lado da minha mãe, sentia-me no paraíso. E, então, passei a morar juntamente com minha mãe, meu irmão caçula e minha irmã Conceição.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

JESUS NÃO DISSE O QUE DIZEM QUE ELE DISSE

O título deste artigo parece um trocadilho de palavras meio fora de jeito ou simplesmente um jogo de vocábulos sem sentido que mal dá para entender, ou coisa assim. Mas, se ler com devida atenção toda a matéria, o leitor verá a riqueza de cultura bíblica que este assunto expressa e que, em síntese, desperta nossa curiosidade para irmos mais além nas pesquisas em busca de conhecimento a esse respeito.
Para começar, algumas perguntas meio chocantes fazem sentido. Mudaram a palavra de Deus ao longo da história do cristianismo? Por que a Bíblia que usamos contém tanto erro de tradução? Por que os copistas mudaram as Escrituras? Com que interesse? O que realmente Jesus falou e que não chegou até nós porque os homens deturparam tudo, com suas traduções erradas e carregadas de intenções?
Lendo o livro de Bart D. Ehrman (Misquoting Jesus: The Story Behind Who Changed The Bible and Why), tem-se a impressão de que os homens fabricaram uma outra Bíblia para satisfazer às particularidades da sua cultura religiosa de época. Ehrman é considerado a maior autoridade em Bíblia do mundo, devido aos mais de 30 anos de estudos e avançadas pesquisas sobre as traduções das Escrituras. Ele estudou as línguas originais, isto é, grego, hebraico, aramaico e outras para poder mergulhar de cabeça, com segurança, nas pesquisas. Agora, seu livro acaba de ser publicado no Brasil pela Prestígio Editora (SP), sob o título “O que Jesus disse? O que Jesus não disse?”, endossado por um subtítulo que aumenta ainda mais o intrigante tema: “Quem mudou a Bíblia e por quê”.
Bart D. Ehrman afirma que, ao estudar os textos da Bíblia nas suas línguas originais, ficou estarrecido ao descobrir a quantidade de erros e alterações intencionais feitas pelos tradutores antigos, fato que o levou a acreditar que a Bíblia contém a palavra de Deus, mas não em absoluto. Posto que parte do que nela está escrito são simplesmente palavras humanas.
As pesquisas de Ehrman fazem alusão ao fato de que, diante de tantas ideologias e filosofias pessoais da época, só o judaísmo insistia em leis, costumes e tradições ancestrais, defendendo que isso fosse registrado em livros sagrados com o status de “escritura” para o povo judeu. Isso resultou num diferencial descomunal entre os códigos éticos e morais antigos. Quem estava fora das leis judaicas era considerado pagão. Para Ehrman, tudo começa por aí.

Logo após a morte e a ressurreição de Jesus, muitas pessoas que ouviam pregações sobre os acontecimentos a respeito desse fato se converteram ao cristianismo e, então, estavam interessados em saber mais a respeito. Em virtude disso, numerosos evangelhos foram escritos para registrar as tradições associadas à vida de Jesus. Quatro desses evangelhos – Mateus, Marcos, Lucas e João – no Novo Testamento passaram a ser mais usados, todavia muitos outros foram escritos por seguidores de Jesus de Nazaré como, por exemplo, Filipe, Judas, Tomé, Maria Madalena e outros.

Outros escritos, dos mais primitivos, se perderam, conforme diz Lucas que afirma que, para escrever o seu relato, teve de consultar muitos escritos precedentes (lc 1.1). Esses escritos consultados por Lucas não sobreviveram ou, pelo menos, maioria deles desapareceu. Naturalmente, Lucas, como outros escritores, só tiveram o cuidado de escrever alguma coisa sobre o seu Mestre alguns anos depois de sua morte e ressurreição. Isso caracteriza o fato de a Bíblia ser, em seu todo, “cópias de cópias das cópias das cópias”. Além disso, essas cópias foram feitas com base em fragmentos dos manuscritos achados em épocas alternadas. Obviamente, foi um trabalho extremamente demorado e carregado de dificuldades.

Foi aí, então, que as traduções bem como as interpretações foram mal feitas. Para Bart Ehrman, um desses relatos primitivos pode ter sido a fonte que os pesquisadores designaram como “Q”, uma espécie de relato escrito principalmente dos ditos de Jesus, usado por escritores como Lucas e Maria Madalena. O “Q” não existe mais, todavia era um documento real que armazenava informações fidedignas sobre as palavras e atividades de Jesus como, por exemplo, a Oração do Senhor e as Bem-aventuranças. O nome “Q” é uma abreviatura da palavra alemã Quille, que quer dizer “fonte”, referindo-se à fonte para a maior parte do material dos ensinamentos de Jesus presente em Mateus e em Lucas.

Mais tarde, alguns anos depois da ressurreição e ascensão de Jesus, o apóstolo Paulo, convertido ao cristianismo depois de um advento espiritual a caminho de Damasco (ele perseguia os cristãos como aconteceu, por exemplo, com Estevão o qual foi morto apedrejado por comando do próprio Saulo de Tarso, na época um agente da força oficial romana), passou a interpretar a vida de Jesus e, a partir daí, começou a escrever copiosas cartas a cristãos de várias regiões do Mediterrâneo oriental – inclusive centros urbanos – e de Roma. Segundo Ehrman, o apóstolo fazia isto à luz das Escrituras judaicas. Ou seja, a presença da cultura judaica nos escritos e ensinamentos dos primeiros líderes cristãos era muito acentuada e carregada de bravura religiosa.

O problema das alterações nas traduções dos textos bíblicos começa já entre o fim do primeiro e início do segundo séculos com briga declarada entre facções da agora religião cristã. A questão principal na escala dos problemas dizia respeito à variedade de interpretações da “verdade” pregada por Jesus. Aí surgem, então, as primeiras heresias e, com elas, os tratados anti-heréticos. Paulo foi o mais obstinado líder que se levantou contra os que ele mesmo chamou de “falsos mestres”.

Cada grupo ou corrente cristã entendia os escritos bíblicos à sua forma e, então, tinha interpretações diferentes. Para conter esse problema, os líderes cristãos começaram a escrever tratados contrários aos “hereges”. Alguns escritos de Paulo são combatentes ao movimento herético no início da era cristã. Houve, então, um esforço conjunto de todos os cristãos para tentar estabelecer o “ensino verdadeiro”, começando, aí, uma literalidade ortodoxa no contexto histórico do desenvolvimento do cristianismo. Os tratados anti-heréticos tomaram parte fundamental na literatura cristã dos primeiros séculos d.C. e sucessivamente.

O mais curioso é que mesmo os considerados “falsos mestres” também escreveram tratados contra “falsos mestres”. Todos em defesa do cristianismo, como se fossem advogados da religião cristã. Aliás, esse era exatamente o seu papel. Bem aí acontece algo interessante: às vezes o grupo que estabelecia, contundentemente, aquilo em que os cristãos deveriam acreditar – como os responsáveis pelos credos que chegaram até nós – era desautorizado por cristãos que defendiam posições consideradas falsas.

Vejamos: isso é o que foi constatado em recentes descobertas na literatura herética em que os chamados hereges, ao escreverem, defendem que sua visão é a correta e acusam que a visão dos líderes eclesiásticos ortodoxos era falsa. Nesse ínterim, tem-se, por exemplo, os tratados conhecidos como Apocalipse de Pedro e o Segundo Tratado do Grande Seth, ambos descobertos em 1945 num escondirijo de documentos gnósticos próximo à aldeia de Nag Hammadi, no Egito. Entre tantos outros, o Apocalipse de Pedro e um segundo Apocalipse de S. João, o Apóstolo, foram considerados apócrifos.

Parte considerável do debate sobre a reta e a falsa crenças implica a interpretação dos textos cristãos, inclusive do Antigo Testamento. Os cristãos reivindicavam que esses textos fizessem parte de sua própria Bíblia. Nesse sentindo, os textos selecionados foram centralizados para a vida das primeiras comunidades cristãs. Tempos posteriores, os escritores cristãos começaram a escrever interpretações desses textos na intenção de estabelecer certa relevância para a prática da vida cristã.

Muitas vezes, essas interpretações objetivavam disciplinar a orientação da comunidade cristã no sentido de que houvesse um conservadorismo não do que Jesus dissera mas, sim, do que os líderes cristãos pensavam (em evidência a sua interpretação) a respeito do que Ele disse. Historicamente, outro fato curioso traz à tona a figura de Heraclião, um líder cristão gnóstico, considerado herético, que viveu no II século. Ironicamente, foi ele quem escreveu o primeiro comentário cristão sobre cada texto das Escrituras. Por conseguinte, cada autor cristão escrevia ou traduzia os textos sagrados segundo a sua própria visão cristã. Esses fatos ocorreram, principalmente,  durante os séculos III e IV d.C. Isso explica por que a Bíblia tem partes que parecem contradizer outras.

Nesse caso, o que temos em mãos, hoje, são apenas sucessivas cópias de cópias de comentários de fragmentos dos textos sagrados de homens que tinham visões diferentes e consequentemente interpretações diferentes das escrituras. Não temos nada original tal qual Jesus e os apóstolos falaram. O gnosticismo, por exemplo, vem da palavra grega gnosis que quer dizer “conhecimento”. O termo se aplica a um grupo de religiões surgidas do século II em diante que enfatizavam a importância de receber o conhecimento secreto para salvar-se do mal, isto é, do mundo material.

O gnosticismo, portanto, vê o mundo material como “o mal”, o que é muito parecido com o nosso pensamento cristão hoje. E, consequentemente, muitos textos da Bíblia que temos em mãos dão margem a essa forma de pensamento. Talvez deve-se isso ao fato de cristãos gnósticos terem tido forte participação nos comentários e traduções dos textos bíblicos durante os séculos II, III e IV.

A verdade é que temos de ter maturidade suficiente para entender que a Palavra de Deus não é simplesmente o conteúdo integral da Bíblia que temos, mas, sim, aquilo que foi dito sobre a pessoa do Verbo encarnado, o testemunho e a ação do Espírito Santo a respeito do Cristo (Salvador Eterno) em todos os tempos. A bibliolatria e o fundamentalismo bíblico me parece desconcentrar a pessoa do Verbo como fundamento absoluto da vida eterna. Portanto, a Bíblia contém a Palavra de Deus, isto é, o testemunho do Verbo divino que orienta o homem para a vida eterna.