Alcântara depois de Arakém
O que a nova administração do
município brasileiro mais cobiçado pelos EUA poderá estar fazendo para explorar o seu
potencial de desenvolvimento perdido na história da economia local
Battista Soarez
Jornalista,
escritor e consultor institucional. Especialista em Marketing de Mercado Globalizado (UCAM/RJ), o autor é coordenador do
curso de pós-graduação em Políticas
Públicas, do Instituto Daniel de La Touche, em São Luís-MA.
Alcântara faz parte da região metropolitana de São Luís. |
Nos
últimos anos, o município de Alcântara, região metropolitana de São Luís,
capital do Maranhão, tem sofrido maus-tratos por parte de gestores
descompromissados que pensam somente no seu próprio conforto econômico e dos
seus aliados políticos. O prefeito anterior da cidade, Domingos Arakém, que
deixou a prefeitura no final de 2016, cometeu atos administrativos
fraudulentos, os quais colocaram a prefeitura num lastro de sucateamento das
políticas públicas. Tanto é que o atual gestor municipal, Anderson Wilker, tem
tido dificuldade em por as coisas em ordem, dado o nível de bagunça em que os
órgãos municipais se encontravam.
Mas,
vale dizer, Alcântara tem potencialidades evidentes que colocam o município em
um posicionamento favorável em relação às leis da economia de mercado. Todavia,
os gestores, míopes administrativamente, não conseguem visualizar essas
potencialidades econômicas do município, o qual já foi um grande centro de
economia rural, modelo para o Brasil e para o mundo.
Uma memória arquitetônica vigiada pelo IPHAN. |
Se,
a partir de agora, o novo governo municipal colocar em debate a participação de
Alcântara no livre-comércio do Maranhão, do Brasil e do mundo, não há dúvida de
que, em pouco tempo, a economia do município estará em alta. Isto porque
Alcântara, em termos de estratégia geográfica, de produção e de distribuição,
tem todas as condições de voltar a ser um dos maiores centros de economia,
inclusive rural, do Maranhão e, consequentemente, uma das economias mais desenvolvidas
e poderosas da América Latina.
É
sintomático, no aspecto positivo, que se houver, e logo, um debate econômico no
Maranhão colocando Alcântara como um dos principais centros econômicos do
Estado, não somente o município terá ganhos surpreendentes, em termos de
desenvolvimento, mas, também, o Maranhão será favorecido com isso e até outras
regiões do Estado ganharão visibilidade.
As ruas da cidade são, ainda, dos séculos XVII e XIII. |
Alcântara,
no entanto, parou no tempo. O município já foi, como dito acima, um grande
centro de produção agrícola, com potencial de exportação para todo o Brasil e
para o mundo. Hoje, a contraponto, a cidade não passa de uma velharia de ruínas
que não trazem nenhuma contribuição para o desenvolvimento e, principalmente com
a política preservacionista do IPHAN, a população ficou condenada a ficar fora
do desenvolvimento urbano de que toda civilização moderna tem direito.
É
importante considerar que as economias desenvolvidas apresentam imensas
vantagens estruturais em relação à economia brasileira. Segundo especialistas
em desenvolvimento, essas vantagens não poderão ser superadas num horizonte
visível. No campo macroeconômico, diversas circunstâncias relativas à chamada
competitividade sistêmica — sistema tributário injusto, escassez de crédito,
custos financeiros elevados, fraquezas dos mercados de capitais domésticos,
deficiências de infraestrutura, etc. — colocam as empresas brasileiras em
desvantagem na disputa por mercados internos e externos.
A igreja do Carmo preserva a história religiosa do lugar. |
Isso,
associado à corrupção [política, econômica, social, jurídica, etc.], afeta
drasticamente os municípios. Em razão dessas assimetrias sistêmicas, a maioria das
empresas brasileiras não pode enfrentar a concorrência das empresas dos países
desenvolvidos, por exemplo. Em razão disso, esses países desenvolvidos se acham
no direito [e têm facilidades] de explorar a riqueza do país, inclusive em
regiões importantes dos estados do Pará e do Maranhão.
Em
face desta problemática, há dificuldades fundamentais no plano microeconômico.
As empresas dos Estados Unidos e de outros países desenvolvidos são muito
superiores às brasileiras em termos de escala de produção, tecnologia,
organização, acesso a crédito e capital, redes de comercialização, marcas e
outros aspectos importantes. Mas isso é um problema de mentalidade dos
governantes brasileiros, e não de falta de recursos.
As ruínas da igreja de São Matias. |
Diante
dessa ineficiência do governo brasileiro, os EUA têm interesses em Alcântara.
Aliás, Alcântara é o único município brasileiro que, no atual momento de nossa
história social, é interessante para os americanos, exatamente por causa das
diversas potencialidades que ele tem, e não apenas pelo fato de ser uma área
estratégica para lançamento de foguetes espaciais. E se o governo brasileiro
não cuidar o mais cedo possível, em breve Alcântara estará sendo o portal de
entrada dos EUA no Brasil, onde eles, os americanos, estarão impondo suas
condições e seus interesses altamente cobiçosos.
Local onde fica o Centro de Lançamento de Alcântara. |
No
lume desse quadro de realidade, o atual prefeito de Alcântara, o jovem Anderson
Wilker, tem demonstrado muita vontade política de colocar o município no portal
do desenvolvimento socioeconômico do país e do mundo, o que não será difícil se
ele e sua equipe técnica buscarem relacionamentos e oportunidades em nível de
estrutura política, social e econômica, contemplando todos os setores da
administração municipal. Uma espécie de inteligência administrativa, portanto,
precisa funcionar continuamente em termos de reengenharia de projetos
estruturantes que possam, por meio de parcerias com instituições financeiras
nacionais e estrangeiras, estar gerando mecanismos de produção e de relações
comerciais potencialmente produtivas e focadas no crescimento da economia do
município de Alcântara.
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