Discurso do escritor e jornalista Battista Soarez por ocasião do recebimento do “Título de Cidadão Ludovicense” em 21/12/2020
Momento em que o escritor e jornalista Battista Soarez discursou na Câmara de Vereadores de São Luís | Foto: SECOM/SL. |
Excelentíssimo Senhor Vereador Osmar Filho, que preside esta Casa Legislativa. Excelentíssimo Senhor Vereador Genival Alves, que teve a iniciativa de, por meio de Decreto Legislativo, conceder-me esta honraria. Excelentíssimo Senhor Vereador Pavão Filho, que muito me alegra por ser da mesma cidade onde eu cresci, Santa Helena, Maranhão, e por ser um homem que representa muito bem nossa região da Baixada Maranhense com sua vida exemplar e caráter. Excelentíssimo Senhor Vereador Marquinhos, a quem tive o privilégio de conhecer ainda muito jovem e ter acompanhado sua luta social e comunitária até chegar aonde chegou.
Em nome destes quatro vereadores ora mencionados, eu saúdo a todos os outros membros deste Parlamento Municipal.
Reverendíssimo Senhor Pastor André Santos Souza, presidente da Convenção de Ministros da Assembleia de Deus no Estado do Maranhão (COMADEMA), em nome de quem estendo o meu respeito e admiração ao Pastor Samuel Câmara, presidente da Convenção da Assembleia de Deus no Brasil (CADB), nossa Convenção Nacional, da qual faço parte. Reverendíssimo Senhor Pastor e Capelão Alex Martins, presidente da UNICAJE (União de Capelães e Juízes de Paz). Minha esposa Maria, filhos João Miguel e Naira, aqui presentes. Meus amigos convidados, Imprensa e Galeria.
Senhoras e senhores,
Acima de tudo, agradeço a Deus em Cristo Jesus nosso Senhor, sem o qual nada somos e nada podemos fazer. A Ele toda Honra, toda Glória e Majestade: Rei dos reis e Senhor dos senhores.
Inicialmente, agradeço a presença de todas as autoridades já nominadas. Agradeço os que compõem a Mesa, e a todos vocês que me honram com a sua presença.
Quero fazer um agradecimento especial ao meu nobre amigo Vereador Genival Alves, responsável direto por este momento tão ímpar na minha vida, em que me honra com o título com que hoje estou sendo agraciado.
Genival Alves é um homem honrado, exemplar, um político sério, um cidadão de luta em prol da comunidade em geral, um parlamentar de muitos projetos e, portanto, um representante do povo que não mede esforços para promover o bem comum sem preconceito, sem exibicionismo e sem discriminação. Sua humildade e honestidade são uns dos principais brilhos da sua identidade de pessoa humana.
Meu muito obrigado, Vereador Genival Alves. Vossa Excelência sabe que quando nós nos conhecemos, logo fluiu uma relação de respeito e de pensamentos em comum em prol do bem humano.
Agradeço igualmente aos demais vereadores desta Casa de Leis, que votaram favoravelmente à aprovação desta honraria.
Quero agradecer profundamente a Felinto Estêvan Soares e Rozete Ribeiro Pestana Soares (in memoriam), meus pais que, com seus exemplos e conselhos, me educaram e fizeram de mim o que hoje sou.
Agradecimentos especiais também à minha querida esposa Maria, amiga e companheira de todos os momentos. Aos meus queridos filhos, aos meus irmãos e demais familiares. Agradeço à minha equipe da SEMADEMA (Secretaria de Missões do Estado do Maranhão), da qual estou secretário: Irmão Marcos, Márcio, Milson, Edson, Salenna, Sabrina, Davi que aqui estão presentes e aos demais que não puderam estar aqui.
Quero dizer a todos os senhores e senhoras que receber o título de “Cidadão de São Luís” é motivo de extrema alegria. Sinto-me imensamente honrado e bastante aprazido. Sou realmente um grande privilegiado.
Sem dúvida alguma, a razão de eu estar aqui, hoje, sendo honrado com este título honorífico deve-se à minha carreira de escritor e jornalista, à qual me dedico desde os meus 15 e 16 anos de idade, quando dei os primeiros passos como compositor e cronista, entrando para o jornalismo ainda muito jovem, apenas com 18 anos.
Nasci em Mirinzal, terra da minha mãe, fui registrado em Pinheiro, terra do meu pai, mas me criei em Santa Helena do Maranhão. Aos 16 anos de idade, mudei para São Luís, onde moro até hoje.
Tudo começou no ano de 1985, quando ingressei no Jornal de Hoje, do então Senador João Castelo, iniciando na função de Tituleiro. Tituleiro era o profissional que operava numa máquina industrializada (fabricação japonesa) de fazer títulos e manchetes de Jornal, revistas, livros e outras produções editoriais gráficas da época. Minha função, então, era fazer títulos e manchetes todos os dias. Naquela época, para muitos de vocês que nasceram depois da era mecanizada, a produção jornalística passava por uma grande jornada diária.
Primeiramente, com pautas nas mãos, os repórteres saiam para a rua, logo cedo, em busca de fatos e/ou acontecimentos que pudessem ser catalogados, redacionados e virar notícias. Enquanto isso, na Redação, chegavam notícias do Brasil e do Mundo por meio do antigo Telex.
Na época, não existia Internet, celular e nem computador. Tudo era manualmente produzido por meio de máquinas industrializadas.
As equipes de reportagem chegavam da rua e logo sentavam nas máquinas de datilografia — eu ainda hoje tenho uma — e redigiam suas matérias. Depois, essas matérias passavam por uma revisão de luxo, chamada de Copidesque. No JH, esta função era desempenhada por uma colega chamada Clecina, que fazia o seu trabalho numa velocidade inacreditável.
Do Copidesque, as matérias eram encaminhadas para a Diagramação, que depois as reencaminhava para o setor de Composição, onde era feita a chamada “composição tipográfica” das matérias numa máquina IMB Selectric, conhecida como IBM de bola ou IBM a bochita, comumente chamada de esfera.
Da Composição, as matérias seguiam para o Setor de Revisão. Depois, voltavam para a Composição, para correção das matérias. Em seguida, voltavam para a Revisão, só para verificar se as correções foram feitas corretamente. Caso tivesse alguma coisa errada, era corrigida com estilete e fita durex.
Os títulos e manchetes, por sua vez, eram feitos no Setor de Titulação, onde eu trabalhava. Eram batidos na máquina Tituleira e revelados no Laboratório Fotográfico. Depois, eram levados para a Paginação.
Depois da Revisão, as matérias seguiam para a Paginação, feita com cola de papel conforme o projeto da Diagramação. Da Paginação, seguia para a Fotomecânica. Desta, seguia para a Impressão. Da Impressão, ia para a Encadernação. Daí, ia para o Setor de Distribuição. Depois, para as Bancas de Jornais e Revistas, espalhadas nos mais diversos lugares.
Ufa! Era uma longa e cansativa jornada. Aí as pessoas liam o jornal e jogavam fora no lixo sem saber o trabalho que dava para se produzir um veículo de informação como esse.
E neste particular não poderia deixar de mencionar figuras importantes na minha formação intelectual e jornalística, começando pelo Jornal de Hoje. Ali meu primeiro conto, intitulado Um Olhar Obscuro (de 1985) — ambientado no Centro Histórico de São Luís — foi publicado pela jornalista Sílvia Moscoso, que integrava a equipe de Redação do JH. Depois, passei a escrever regularmente e fui promovido ao Setor de Revisão. No Jornal de Hoje, tive como colegas de trabalho verdadeiros mestres do jornalismo maranhense, como os jornalistas Nonato Reis, Regis Marques (falecido recentemente), Ribamar Cardoso, Marinaldo Gonçalves, Jersan Araújo e outros.
Não deu noutra: me encantei pelo jornalismo e pela literatura. Passei a escrever artigos de Opinião e colaborar com os principais jornais de São Luís: O Estado do Maranhão, O Imparcial e Jornal Pequeno. Em O Imparcial, minha referência foi o jornalista José Gomes (o Gojoba), que publicava minhas crônicas jornalísticas com muita alegria e incentivo.
Passei a ler de tudo... E virei “rato” de livrarias. Todos os dias, nos intervalos de almoço, eu ia à livraria Literarte, na Rua Grande de São Luís, e também na livraria Baraquel, na rua do Sol, a fim de verificar as novidades do mercado editorial do país. Conheci livros de grandes autores, inclusive maranhenses. Tive a honra de conhecer e ser amigo da família do grande escritor Carlos Cunha. Da sua filha, jornalista e escritora Wanda Cristina da Cunha, tornei-me amigo pessoal, chegando a lecionar no Colégio Nina Rodrigues, empresa da família.
Conheci também autores cristãos internacionais como Josh McDowell, Charles Swindoll, Ted Engstrom e outros escritores que muito me inspiraram na definição da minha identidade intelectual, estilo e discurso literário.
Naquele momento, no início da minha vida jornalística, tive o inesquecível privilégio de conhecer e trabalhar ao lado do grande jornalista e escritor Bernardo Coelho de Almeida, autor do romance O Bequimão. Revisei seus textos com notável admiração e aprendizado. Além de crônicas jornalísticas, tive a honra de revisar seu livro de memórias Éramos Felizes e Não Sabíamos, último trabalho publicado antes da sua morte, salvo o engano.
Também, naquele momento, conheci o incrível escritor gaúcho Caio Fernando Abreu (falecido em 1996), autor de Morangos Mofados e Os Dragões não Conhecem o Paraíso. Um dia, numa reunião de escritores, Caio olhou fixo para mim e disse:
— Cara, eu li teus textos. Você é incrível. Quantos anos você tem?
E eu respondi:
— Tenho 22 anos.
E então ele disse:
— Não pare nunca. Eu tinha a tua idade quando comecei a escrever. Hoje, a editora Companhia das Letras me paga 32 mil reais por mês só pra eu escrever. Continue escrevendo. Com o tempo, tu serás reconhecido.
Eu recebi aquela palavra como uma ordem vinda de Deus. Nunca me esqueci disso. E a partir daquele momento eu acreditei no meu potencial literário mais ainda.
Em 1992, saí do JH e fui trabalhar em O Debate, jornal pertencente ao jornalista Jacir Moraes. Em O Debate, apaixonado pelo jornalismo, entrava às 8 horas da manhã e saía, às vezes, meia-noite e, por vezes, até 1 e 2 horas da madrugada. Não que eu fosse obrigado a fazer aquilo. Mas porque eu via a necessidade do jornal e decidia colaborar para que o processo de produção não atrasasse. Eu sabia que dali eu iria prosseguir.
Em 1993, fui para Belém do Pará, onde trabalhei no Jornal Popular e não muito diferente da experiência daqui de São Luís, repetia a mesma abnegação ao trabalho jornalístico. Aprimorei-me em copidesque, revisão, redação, reportagem e jornalismo investigativo. Mas sempre escrevendo textos livrescos, romanescos, crônicas, ensaios e por vezes poesias.
Isso, mais tarde, me foi muito gratificante. Todo o conhecimento adquirido com esse esforço, me rendeu glória: em 1994, concorri com 330 profissionais de todo o país ao cargo de Revisor de Livros na Editora CPAD, no Rio de Janeiro. Só tinha uma vaga. Quem tirasse em primeiro lugar, iria para o Rio de Janeiro de “mala e cuia”. No final do concurso, quando menos esperava, recebi um telefonema do Rio dizendo que eu deveria mudar para a cidade maravilhosa. A única vaga que tinha, no momento, naquela Casa Editora, graças a Deus e à minha dedicação e aplicabilidade no ofício das letras, foi ocupada por mim.
No Rio de Janeiro, passei a não só copidescar e revisar livros, mas a escrever e publicar matérias em periódicos de circulação nacional e internacional. Meus textos passaram a ser traduzidos e distribuídos para 21 países, por meio da Editorial Patmus, em Miami, nos EUA.
Voltei para o Maranhão, mas continuei publicando matérias na imprensa nacional. Foi aí que os meus livros passaram a ser publicados e distribuídos no país inteiro e, depois, no exterior. Sempre levando o nome do Maranhão que, para mim, é o melhor lugar do mundo.
São 35 anos de carreira e uma paixão literária que me faz cada vez mais consciente de que se eu não fosse escritor e jornalista, seria escritor e jornalista. Ou seja, sem opção para fazer outra coisa na vida, a não ser escrever. Se voltasse ao tempo e se o tempo voltasse, faria tudo de novo. Com uma diferença: aproveitaria melhor as oportunidades. Seria menos tímido e mais ousado. Cometeria menos erros.
Neste momento oportuno, faço um pedido aos membros deste parlamento: pensem numa maneira de incentivar a cultura e a arte literária. Vejo, com tristeza, as pessoas lendo muito pouco ou quase nada, inclusive os jovens, que se debruçam horas a fio em “coisas” que não edificam as suas mentes.
É preciso que o poder público, em todas as instâncias — em parcerias com as instituições sociais e a sociedade em geral — criem projetos, ações e políticas inteligentes para dar vida à literatura. Não deixemos a literatura morrer.
Por que que eu faço este apelo? Por uma razão muito simples:
Os escritores sempre pensam à sua frente. Quando um invento científico, um fato político, um contexto de desenvolvimento acontece na história, os escritores já tinham pensado isso cerca de trinta, quarenta ou cinquenta anos antes.
Além disso, a relação entre a literatura, a sociedade e a política pode ser percebida desde a literatura clássica, nas epopeias e nas tragédias gregas. As mais conhecidas são a “Ilíada” e a “Odisseia de Homero”. A “Ilíada” está carregada de ideias políticas, leis, códigos, tanto quanto de questões míticas e religiosas. Ou seja, Vereador Genival Alves, a literatura é a sabedoria da política e a política é aluna da literatura. As duas coisas têm que andar de mãos dadas. Em toda a história, é a literatura que inspira a política nas suas ações inteligentes e transformadoras.
Na verdade, a literatura inspira até mesmo a história no que concerne aos fatos sociais, inclusive a educação. Porque a política não funciona sem educação. E a educação não funciona sem a literatura. Pois é a literatura que sistematiza o pensamento social das instituições, suas estruturas e suas funcionalidades.
Sob vários aspectos, Vereador Osmar Filho, podemos pensar a literatura como “instrumento” da política. Um instrumento inteligente que utiliza os meios de comunicação para produzir resultados políticos e sociais.
Muitos escritores tiveram suas obras censuradas por terem sido usadas como instrumento de correção política. E, em épocas de proibição da liberdade de expressão, o artífice literário pôde ser usado para propagar certas mensagens e chamar os indivíduos à luta.
Se, contudo, a literatura é uma forma plausível de representação do real, esta se distingue da política pelo seu discurso e pela forma de abordagem e compreensão da realidade social e histórica.
Na literatura, Vereador Pavão Filho, a realidade é criada ou recriada. Inventada ou reinventada, imaginada e fantasiada, através de metáforas, alegorias e linguagem simbólica. Mas nem por isso a literatura, neste caso, deixa de contribuir para desvendar aspectos das relações sociais e de poder.
Por meio da literatura, senhoras e senhores, somos levados a nos relacionar imaginariamente com a realidade histórica.
Entretanto, enquanto a “política” ocupa-se do real, a “literatura” ocupa-se com o possível, com o imaginário, com a utopia e com o conteúdo palpável da ação política.
Por esta razão, como escritor, deixo aqui o meu apelo no sentido de que façamos leis de incentivo à literatura, à política do livro, à leitura e à formação de novos leitores e escritores.
Quero enfatizar que recebo esta homenagem com muita humildade, absolutamente consciente de que a conquista desta honraria não é apenas fruto dos meus esforços. É um conjunto de fatores, principalmente de relações sociais plausíveis.
Por isso é importe cultivarmos relações harmoniosas, inclusive no âmbito da política e da literatura, para que sempre haja uma dialética com sentido de se construir o que é de melhor para todos nós cidadãos e cidadãs de bem.
Muito obrigado a São Luís e a todos vocês.
Tenhamos todos um bom dia na paz de Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor.
BATTISTA SOAREZ
Escritor e jornalista
O escritor Battista Soarez (ao centro) ladeado pelos vereadores Ivaldo Rodrigues e Bárbara Soeiro (à esq.), profª. Maria Elisa (homenageada) e o vereador Genival Alves (à dir.). |
Vereador Genival Alves, autor da indicação. |