Alcântara: potência econômica se...
Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, tombado pela UNESCO, o município guarda um potencial produtivo de primeira grandeza. Mas faltava visão de investimento e gestão do poder público. O atual prefeito, Nivaldo Araújo, está trabalhando para mudar tal realidade.
Por Battista Soarez
(De Alcântara – MA)
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Nivaldo Araújo, prefeito de Alcântara. | FOTOS: Battista Soarez. |
CENTRADA NA REGIÃO METROPOLITANA de São Luís, Alcântara já foi, no passado, um grande produtor e exportador de produtos agrícolas para o Brasil e para o mundo. Isto porque as terras do município são potencialmente agricultáveis.
Na avaliação da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), por meio de pesquisa feita pelo laboratório do Departamento de Ciências Agrárias, as terras de Alcântara são capazes de produzir culturas agrícolas de A a Z. Isto significa, na linguagem da agronomia, que tudo o que se plantar prosperará.
Nesta semana, conversei com o prefeito de Alcântara, Nivaldo Araújo. Confesso que, há tempos, não via um gestor público expressar tanta vontade política. Nivaldo está trabalhando em planejamentos e buscando parcerias para investir no crescimento do município.
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Alcântara é Patrimônio Histórico da Humanidade, tombado pela UNESCO. |
— Nós estamos buscando recursos junto ao governo do estado e ao governo federal — disse o prefeito — para executarmos algumas políticas públicas de desenvolvimento que são prioridades. Uma dessas políticas são as estradas. São mais de 800 quilômetros de estrada. Porque, sem estrada para escoar a produção, não adianta falar em investimento no setor agrário.
Nivaldo explica que há cerca de oito anos nunca foi feito nada, basicamente, em nenhum dos setores. Encontrou o município administrativamente desorganizado e, agora, por meio de suas equipes técnicas, está tentando organizar as estruturas administrativas e contábeis para eliminar todos os impedimentos. Os recursos existem. Mas a máquina administrativa precisa estar toda em dia para poder ter acesso a esses recursos. Segundo o chefe do executivo, é muito trabalho. Mas acredita que todos são solucionáveis.
Uma das prioridades, como pontuou, são as estradas vicinais que ligam os povoados à sede do município e à MA que liga a cidade de Alcântara a outras estradas que cortam o estado e o país.
— Todo ano chove, os carros precisam trafegar e, infelizmente, as estradas estão todas estragadas — pondera o prefeito, enfatizando que sua gestão já está viabilizando recursos junto ao governo federal para atenuar o problema e melhorar a trafegabilidade da população alcantarense.
No setor da saúde, explica Nivaldo, já tem melhorado consideravelmente. Antes de ele assumir como prefeito, existiam apenas duas ambulâncias. Hoje são cinco. As cinco ambulâncias têm dado para cobrir todos os polos do município, atendendo a todas as demandas existentes. No que concerne à Secretaria de Saúde, o hospital tem sido abastecido, satisfatoriamente, com remédios e atendimentos emergenciais. Os serviços de ultrassonografia e o de eletrocardiograma já estão funcionando. O serviço de Raio-X e o laboratório de centro cirúrgico já estão sendo providenciados.
— Estamos tentando, em caráter de urgência, melhorar a qualidade de vida do nosso povo — pondera o prefeito. — Não tenho parado de trabalhar um dia sequer. Não tem sido fácil. Mas vamos vencer.
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Ruínas da casa que pertenceu a Manuel de Beckman e, depois, ao escritor maranhense Graça Aranha, um dos organizadores da Semana de Arte Moderna, em 1922, e, posteriormente, principal fundador da Universidade de São Paulo (USP). |
No tocante ao desenvolvimento socioeconômico de Alcântara, eu perguntei ao prefeito sobre o maior potencial econômico do município, que é o setor agrícola. Nivaldo explica que, depois que os problemas das estradas forem corrigidos, será a vez do investimento na produção rural.
— Primeiro temos de criar condições de escoamento da produção. Este é o primeiro gargalo a ser superado. Depois iremos trabalhar a organização dos polos produtivos junto às comunidades rurais — asseverou ele.
Pela primeira vez, está sendo criado o plano municipal de desenvolvimento de Alcântara, contemplando o setor agrário. Nesse plano está o projeto de aquisição de sementes para produção de hortaliças, milho, arroz, feijão e outras culturas. Essa busca está sendo feita junto ao governo do estado e ao governo federal. Segundo Nivaldo, o município nunca teve a iniciativa de comprar sementes para distribuir para a população agricultora. A comunidade rural sempre ficou a mercê do governo do estado. Agora, na atual gestão, o município está comprando sementes e não esperando do governo do estado.
— Isso vai complementar o que o governo do estado já fornece e, consequentemente, esta iniciativa vai aumentar a nossa produção no âmbito de todo o município — esclarece Nivaldo.
O prefeito também frisou que está prestes a publicar um edital para chamamento público para aquisição da alimentação escolar.
— Não queremos focar só nos 30%. Se o município tiver condições de chegar a 40% ou a 50% , a nossa intenção é de comprar do nosso produtor e, também, pagar. Porque, antigamente, se comprava tanto mas não se pagava. Isso desestimula o produtor, uma vez que ele vende, mas não recebe. E o produtor, que tanto trabalha, precisa receber seu dinheiro para honrar seus compromissos e sustentar sua família — ressalta ele.
O prefeito explica, ainda, que o plano também contempla a compra de adubos e o auxílio técnico junto a esses produtores para colocar Alcântara no rumo certo, visto que, segundo ele, essa foi uma das propostas de campanha. Pois Alcântara é um grande centro produtivo que está adormecido.
Outra política de fundamental importância, conforme abordamos em nossa conversa, é no que diz respeito à organização dos produtores. Organizando-os de dez em dez, de acordo com a cultura a ser cultivada, fica mais fácil de ser administrada a política de distribuição. Isso porque, conforme lembra o prefeito, a merenda escolar é necessária o ano todo.
— Porque, no período do chamamento público, todo mundo corre ao mesmo tempo. E, aí, a gente tem merenda durante três meses e o resto do ano não. Cada cultura tem o seu período de safra. Se a comunidade produtora for organizada respeitando esses períodos, teremos merenda escolar durante o ano todo — ressalta Nivaldo.
Além disso, tendo grande produção de acordo com a organização comunitária, é possível estender essa distribuição para o mercado fora do município. Por exemplo, destaca o prefeito, a produção pode ser escoada para as redes de supermercados — como o Mateus, por exemplo — e feiras de São Luís e de outras cidades do estado, bem como até mesmo para outros estados.
Durante o tempo em que trabalhei como assistente social em Alcântara, no governo Anderson, percorri cada povoado com minha equipe. O que mais ouvi dos produtores rurais foi:
— Senhores, nós precisamos de apoio do poder público. Temos mão de obra. Temos água com fartura e temos muita terra boa. Só nos faltam equipamentos e apoio técnico.
A organização comunitária de Alcântara é uma das melhores do estado do Maranhão. Estabelecidas de dez em dez, segundo os representantes, as comunidades produtivas precisam apenas de tratores — um para cada grupo de dez — e os implementos para que possam executar suas atividades e, efetivamente, aumentar a produção numa escala satisfatória. Quanto a isso, o prefeito Nivaldo Araújo me disse que já foram efetuados pedidos junto ao governo federal e que, agora, só está dependendo de ser liberados.
São 204 povoados. Uma população de aproximadamente 26 mil habitantes. O clima de Alcântara é extremamente favorável. Se o poder público municipal buscar parceria junto aos governos estadual e federal, e havendo reciprocidade na dinâmica de gestão, é absolutamente possível desenvolver o município produzindo, processando e distribuindo a produção em larga escala para o mercado em geral.
— Está faltando apenas a organização da cadeia produtiva para todo o município de Alcântara. Terra nós temos. Água nós temos. Mão de obra técnica nós temos. E temos um povo trabalhador que quer sair dessa situação financeira caótica em que se encontra. Agora, precisamos de tempo. Porque é muita coisa para arrumar — finaliza o prefeito.