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terça-feira, 18 de abril de 2023

Sem provas, maranhense é presa por atos do dia 8 de janeiro

REPORTAGEM

Sem provas, maranhense é presa por atos do dia 8 de janeiro

Por estar no local colhendo informações para escrever seu primeiro livro, Eliene Amorim de Jesus é acusada de atos terroristas e outros crimes


Por Battista Soarez

(De São Luís – MA)


Nesta foto, Eliene aparece anotando fatos importantes para escrever seu livro. | FOTO: Divulgação.


TRÊS MESES DEPOIS dos atos do dia 8 de janeiro de 2023, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, manda prender manifestantes patriotas no Maranhão. Até uma escritora evangélica foi presa. Buscando colher informações para escrever seu primeiro livro de impacto, Eliene Amorim de Jesus, 28 anos, foi surpreendida por policiais federais e presa no dia 17 de março de 2023. Ela é acusada de atos terroristas, associação criminosa, golpe de Estado, crime de dano e abolição violenta do estado democrático de direito.

O Leitura Livre apurou, no entanto, que Eliene foi a Brasília não para praticar atos terroristas ou golpistas e nem para protestar contra qualquer dos poderes constituídos, mas para conversar com os manifestantes, sentir de perto o clima da luta pela democracia no Brasil, identificar os infiltrados e, enfim, conhecer a força do povo em movimento pela conquista da liberdade do seu direito de escolha.


Eliane foi a Brasília para colher dados e escrever livro de impacto. | FOTO: Divulgação.

Manicure e estudante do curso de psicologia, ela tem o sonho de se tornar reconhecida como escritora e aproveitou a oportunidade para escrever uma obra que chamasse a atenção do público.

— Ela viu aquele momento político como ideal para fundamentar sua obra — disse uma fonte próxima de Eliene que preferiu não se identificar.

De acordo com Haylla Cristina Sipaúba, amiga pessoal de Eliene, a estudante universitária é evangélica da Assembleia de Deus e missionária voluntária na área do bairro do Turú, em São Luís.

— Ela está sendo acusada injustamente de atos terroristas e outros crimes que não têm nada a ver com a pessoa que ela é. Seu perfil é totalmente diferente. Apenas se caracterizou de patriota para colher informações — destacou Haylla.

Segundo Haylla Cristina, a manicure comentou que um homem do Piauí printou uma postagem do seu Instagram pedindo ajuda via PIX e, então, a denúncia que culminou com a sua prisão partiu daí. Ao chegar em São Luís, Eliene confidenciou com Haylla o fato de que alguém a denunciou de maneira injusta. Alguém, intencionalmente, a monitorou e repassou as informações para a polícia federal. 

— Ela estava ali apenas para colher informações e escrever o momento histórico da manifestação política em nosso país — disse Haylla.

Haylla Cristina explica, ainda, que tudo começou na manifestação da praça Duque de Caxias, no bairro do João Paulo, em São Luís do Maranhão. E, em janeiro, Eliene decidiu ir a Brasília com ajuda de amigos do QG do João Paulo, já que ela é pobre e não tinha condições de bancar suas próprias despesas.

— Mas, infelizmente, foi confundida, denunciada e presa injustamente. Mas ela não é terrorista. Ela é apenas uma jovem que ama escrever e tem o sonho de ser escritora. Foi a Brasília com a colaboração de amigos. É uma pessoa sem condições financeiras — reafirma Haylla.

Eliene está presa em Pedrinhas, na Unidade Prisional Feminina (UPFEM). Haylla conta que a amiga chorou muito e que ficou dois dias sem tomar banho e sem trocar até mesmo sua peça íntima, recebendo um tratamento inadequado e injusto. Depois de alguns dias, Eliene recebeu uma bíblia de um policial e passou a pregar e orar pelos colegas de cela.

Segundo um advogado que conversou com o Leitura Livre sobre o caso, foi feito o pedido de relaxamento de Eliene, mas negado pelo ministro Alexandre de Moraes. Ele também explica que a manicure estava acompanhando as manifestações apenas com o objetivo de escrever seu livro.

— Também a acusaram de ter estado na varanda do Congresso Nacional — disse o jurista — mas ela estava lá apenas para carregar a bateria do celular e, fugindo do barulho do movimento, responder a algumas mensagens.

A mesma versão é sustentada por Haylla. Ele também enfatizou sobre o fato de que Eliene é uma pessoa de baixo poder aquisitivo e sobrevive do pouco que ganha como manicure do Salão Ciany Rocha, localizado no bairro do Aririzal, em São Luís, onde foi presa. O Leitura Livre buscou informação sobre a situação financeira de Eliene e confirmou as versões de Haylla e outras fontes.

— Trata-se de uma pessoa hipor-suficiente financeiramente. E não participou de nenhum ato terrorista — afirma o jurista.

Eliene é missionária numa igreja evangélica, mas não recebe nenhuma remuneração por isso.

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