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quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

COLUNA LEITURA LIVRE | por Battista Soarez

COLUNA LEITURA LIVRE

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Por Battista Soarez 
(Jornalista, escritor, psicanalista, teólogo e professor universitário)


E se a igreja tivesse ouvido a voz da ciência e da história?
A “ekklesia”, hoje, é governada por homens despreparados, gananciosos e frios

Deus criou a ciência para instruir a igreja no conhecimento, e criou a igreja para educar a ciência na espiritualidade | Foto: Divulgação.

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PIERRE TEILHARD DE CHARDIN — que foi um padre jesuíta e, talvez, o maior teólogo católico do século XX — desenvolveu uma visão integradora da ciência e da fé cristã. Isso fez dele um cientista, filósofo e teólogo cristão de maior expressividade na sua geração. Quando estudei na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), Campus Betânia, em Sobral, no Ceará, morei na casa do professor Petrus Johannes Van Ool, que foi aluno de Chardin, Carl Jung e Jean-Paul Sartre.

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Tradutor de 11 idiomas para a Editora Vozes, professor Petrus falava comigo sobre a intelectualidade desses homens da história do pensamento universal e informava-me sobre a contribuição deles para com a transformação do mundo. A maior contribuição de Chardin, por exemplo, foi essa visão integradora de ciência empírica e fé cristã, em que  lembrava professor Petrus  ele foi profundamente influenciado pelas ideias do apóstolo São Paulo sobre a atuação do Cristo no universo. Ele, Chardin, viu na evolução a obra do Cristo aperfeiçoando a natureza que criou. Tudo, nesse caso, converge para o ponto Ômega, isto é, a plenitude de toda a criação no Cristo de Deus.

Para Paul Schweitzer, Chardin via, na evolução, o dedo criador de Deus, enquanto alguns cristãos consideravam a teoria da evolução como incompatível com a fé cristã. Como sempre, por ignorância com roupagem de espiritualidade, a igreja tem o pérfido hábito de demonizar as oportunidades no transitar da história. O evolucionismo foi mais uma grande oportunidade, dentre tantas outras, desperdiçada pela igreja, no que concerne à obra da evangelização mundial. E Chardin enxergou isso. A igreja, no entanto, o ignorou, combatendo o seu pensamento. E eu, particularmente, sei bem o que é isso, no que diz respeito ao meu pensamento para a igreja atual e, também, com relação ao meu livro “A Igreja Cidadã”. Muitos fecham os olhos do entendimento intelectual para a evolução da igreja relativa à evolução do mundo e suas estruturas cosmossociais.

A teoria da evolução é perfeita (uma das mais bem elaboradas do mundo), exceto alguns equívocos que, mais tarde, foram corrigidos pelo próprio Charles Darwin, autor da teoria, embora isso tenha sido ignorado pelo mundo acadêmico. A igreja, inclusive, perdeu a oportunidade de evoluir a partir dessa teoria. Preferiu parar no tempo. A igreja, portanto, não evoluiu, estagnando na história.

Para Chardin, no entanto, a evolução foi uma estratégia de Deus, por Ele adotada, na correlação com o argumento teológico da criação do universo, isto é, o criacionismo. A teologia, como ciência de investigação da verdade teológica (absoluta), sabe dizer, no seu argumento, o “quê” e o “Quem”. Mas não sabe dizer o “quando” e o “como”. A ciência, por sua vez, sabe o “quando” e o “como”, mas não sabe nada sobre o “quê” e o “Quem” da criação. Logo, unindo o “quê” e o “Quem” da teologia com o “quando” e o “como” da ciência, está, assim, resolvido o problema entre a Igreja de Jesus e o mundo de Deus.

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Deus não permitiu o surgimento da ciência para confrontar com a igreja, nem instituiu a igreja para confrontar com a ciência. Deus criou a ciência para instruir a igreja. E criou a igreja para educar a ciência no caminho da espiritualidade. Ou seja, a igreja foi criada para construir na ciência a obra espiritual do Cristo Salvador do mundo. A igreja, sem o conhecimento da ciência, é um corpo espiritual imaturo e insciente. E a ciência, sem espiritualidade, é um movimento nefando, heterodoxo e ímpio.

Portanto, um cientista cheio de Deus é um instrumento do Criador na transformação, no aperfeiçoamento e na evolução do mundo. E um teólogo, homem de Deus, cheio de ciência, é um agente e mensageiro de Deus na educação espiritual e evangelização do mundo. Teilhard de Chardin, portanto, passou essa visão para o mundo. Ele foi um enviado de Deus para a igreja. Mas a igreja não entendeu isso e, assim, jogou mais uma oportunidade, pérola de Deus, no lixo.

Muitos homens de Deus, no contexto da cristandade, são pérolas jogadas aos porcos. E não se deve jogar pérolas aos porcos. Por isso, no meu livro “A Igreja Cidadã”, eu digo que o maior inimigo da igreja não é o diabo. O maior inimigo da igreja é ela mesma. Pela visão que ela tem e pela forma como ela se comporta e se autoadministra a si mesma perante o cosmos social. A igreja, então, tem duas naturezas: a divina-invisível (corpo espiritual em Cristo) e a temporal-visível (corpo-religioso sem o Espírito de Cristo e, portanto, vazia de Deus). A primeira natureza se constitui a igreja eleita. A segunda natureza se constitui a igreja mundana e profana, meramente religiosa.

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Por isso, Teilhard de Chardin dizia que a evolução tem um sentido tanto imanente — inerente à consciência individual e que permanece no âmbito da experiência possível, agindo na captação da realidade através dos sentidos — como transcendente — inspiracional, superior e sublime, transcendendo, portanto, a natureza física das coisas e que está na dimensão da metafísica. — Para ele, o homem é a última coroa da obra evolutiva, isto é, a realização suprema da tendência à complexificação da matéria. De modo que a evolução não é guiada pelo acaso, mas tem uma lógica interna e “direções” evolutivas. Por isso, para Chardin, a ciência e a religião são duas faces de um mesmo movimento de conhecimento da realidade.

Em tese, de acordo com Chardin, a vocação da humanidade é se unir para pensar nos problemas que tem que enfrentar. Enquanto isso, a evolução é a obra do Cristo aperfeiçoando a natureza que criou. Desta maneira, a lei de complexidade-consciência é uma lei de recorrência que se impõe à nossa observação. No geral, a presença do Cristo ressuscitado impregna todo o universo com uma força divina. E a conclusão de Teilhard de Chardin, enfim, é de que a perfeição espiritual e a síntese material são dois aspectos correlatos de um mesmo fenômeno.

Estudando a matéria, encontro o espírito”, dizia Chardin. Isso significa que a ciência e a fé cristã são decisivamente contributivas para as possibilidades de um diálogo — embora nos seus respectivos âmbitos — para além de ingênuos concordismos e recorrentes leituras opositivas.

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Quando a gente conversa com pessoas da igreja, percebe-se uma espiritualidade vazia de conhecimento divino no âmbito da sua falta de maturidade. Com a escola dominical vazia, as igrejas (e as neopentecostais sequer sabem o que é isso), de modo geral, denotam uma compreensão negativa de que a espiritualidade é uma síntese de incerteza e confiança. Ou seja, um sentimento de impotência combinado com determinação e responsabilidade. Cada metade destas sínteses  incerteza sem confiança ou sem incerteza, um sentimento de impotência sem determinação e responsabilidade ou de determinação e responsabilidade sem humilde sentimento de impotência  torna a espiritualidade impossível.

Com isso em mente, em nível de espiritualidade cristã, podemos ver o que está errado com a concepção comum de que confiança é um tipo de conhecimento do qual a igreja visível está vazia. “O meu povo está sendo destruído porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim” (Oséias 4.6). Esta é a palavra de Deus que ecoa mundo afora. Muitos pastores não gostam de estudar e, por conta disso, suas igrejas são mal instruídas. E o Senhor diz que rejeita o sacerdote que não busca o conhecimento. Um pastor vazio do conhecimento de Deus é, portanto, um instrumento fácil de satanás dentro da igreja.

Homens como Chardin, Jung, Sartre, Freud, Darvin e outras figuras do pensamento universal tinham a incerteza da certeza como método de investigação da verdade. Nenhum deles era inimigo do Evangelho de Jesus, mas canais de oportunidades para esclarecer ao mundo a verdade espiritual, que dá sentido ao encontro com a salvação e o crescimento em Jesus Cristo. E a igreja não enxergou isso.

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Robert C. Solomon — professor de filosofia na Universidade do Texas, em Austin — diz que a confiança, como o amor, é, em geral, mal interpretada como uma atitude que tomamos para com outra pessoa. Assim também são as relações. São mal interpretadas no mundo como atitude. Dentro da igreja, confiança e relacionamento são atitudes escassas, e essa condição enfraquece a espiritualidade da igreja. Isto porque, com a ausência delas, as pessoas não se respeitam. O tratamento no ambiente é frio e sem a devida honra entre os irmãos, que não se tratam como tais. Até mesmo entre pastores.

Por conseguinte, tem pastor, por exemplo, que não me chama de pastor. Não que eu queira ser chamado de pastor. Não. Não é isso. Mas essa atitude, para mim, é um choque. É um choque porque, na prática, ele está me dizendo que não me reconhece como pastor. E ao fazer isso, ele está se colocando acima de Deus, que confiou em mim, me chamou, me capacitou e me ungiu para ser pastor, inclusive com domínio de conhecimento. Por isso, mesmo o pastor não me tratando como pastor, eu o trato como pastor com a devida honra. E, assim, faço a minha parte no Corpo de Cristo. Isso está dentro do quesito “relacionamento” espiritual.

Seguindo por essa trilha, vale dizer que a confiança autêntica amadurece o Corpo de Cristo espiritualmente e é algo mais que “confiança básica”, que consiste na noção de segurança física e emocional que muitos de nós, rotineira e afortunadamente, consideramos natural.

Por não ter ouvido a voz de Deus na ciência e na história, portanto, a igreja vive um baixo nível de espiritualidade. Ela não considera, finalmente, que a confiança é função de uma relação elevada de espiritualidade, isto é, uma dimensão da interação interpessoal e social em Cristo, e não uma atitude individual e egótica.


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sábado, 4 de janeiro de 2025

COLUNA LEITURA LIVRE | por Battista Soarez

COLUNA LEITURA LIVRE

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Por Battista Soarez 
(Jornalista, escritor, psicanalista, teólogo e professor universitário)

M E M Ó R I A S

Conto sobre mim mesmo (1)
Sonhos, buscas e lutas a partir da minha aurora

Imagem meramente ilustrativa que retrata o lago de São Francisco dos Campos, entre os municípios de Cururupu e Santa Helena, no MA, onde vivi parte da minha infância | Foto: Reprodução.

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DEVIDO AO MEU ATUAL ESTADO de saúde, vim para a casa da minha irmã mais velha, em Santa Helena, cidade onde me criei até aos 16 anos de idade. Nessa idade, 16 anos, mudei para São Luís, capital do estado do Maranhão, onde busquei oportunidade de estudo e trabalho e, com muita dificuldade, consegui me formar em jornalismo, teologia, pedagogia, sociologia e serviço social. Também estudei Direito. Depois fiz algumas pós-graduações.

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Mas a minha paixão principal mesmo são o jornalismo e o hábito de ler que, honrosamente, me levaram ao ofício de escritor. Meu pai, Felinto Estevan Soares, tinha o sonho de me ver formado em contabilidade. Mas, apesar de eu ter estudado contábeis por um tempo, não me identifiquei com a área. O jornalismo e o ofício de escritor preenchem perfeitamente minhas aptidões. Mas foram uma grande luta e uma longa trajetória.

Aproveitando o tempo em que estou na casa da minha irmã, temos conversado muito sobre nossa família, nosso tempo de infância e, enfim, sobre outros temas como, por exemplo, saúde, espiritualidade e até sobre política. De maneira que, neste longo feriado entre Natal e Ano Novo, a gente tem falado bastante sobre coisas edificantes para nossas memórias e existencialidade.

Lembro-me de que, quando criança, nós moramos em vários lugares. Desde o pequeno lugarejo Venturosa, zona rural da cidade de Mirinzal, onde nasci, até o povoado Chapadinha, em Santa Helena, na baixada maranhense, onde vivi os anos da minha infância e pré-adolescência, minhas lembranças dão conta de acontecimentos que contribuíram para minha educação e formação de caráter junto a meus pais e meus irmãos.

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Nossa casa em Chapadinha ficava numa campina bem à beira do caminho onde as pessoas passavam para vários destinos. Pescadores, vaqueiros, trabalhadores rurais e demais transeuntes passavam o dia inteiro na nossa porta. Eu tinha 4 anos de idade e lembro-me de que ficava sentado no batente da porta da rua vendo as pessoas e os movimentos. Às vezes, carros puxados a bois passavam carregados de arroz, milho, mandioca, peixe, madeira e outras coisas. Eu observava os detalhes para, depois, reproduzi-los nos brinquedos.

Filho, tá na hora do lanche — dizia mamãe. — Vem, filho, lanchar.

Isso acontecia, também, na hora do almoço e do jantar. Papai pouco parava em casa. Ele sempre estava viajando. Negociava de lugar em lugar. Meu pai tinha animais de montaria e carga. E lembro dele com os animais carregados de peixe seco, camarão, farinha, açúcar, cachaça, mel, rapadura, carne-de-sol e outras mercadorias. Com a venda desses produtos ele sustentava a família. Minha mãe ficava em casa, cuidando dos filhos e de outros afazeres domésticos.

Normalmente, ao viajar, papai deixava um ou dois paneiros de farinha, arroz, carne e peixe salpreso, carne-de-sol e peixe seco. Ele, por vezes, passava até três meses em viagem. Quando a comida acabava, mamãe chamava as galinhas no quintal, pegava uma e fazia um delicioso cozido de galinha caipira.

Era uma vida muito privilegiada. Simples, saudável. As casas eram afastadas umas das outras. Sempre com quintais espaçosos e arborizados. As pessoas, moradoras do local, eram gente de bem. Cumprimentavam-se sempre gentilmente. Eram conversadoras e respeitosas. Os pequenos comércios, chamados de quitandas, eram os locais onde os moradores faziam suas compras. Farinha, açúcar, café, fósforo, querosene e outras coisas.

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Não tinha luz elétrica. Nas casas, a gente usava lamparina. Na rua, à noite, a gente utilizava lanterna para alumiar os caminhos geralmente estreitos. Em época de lua cheia, não precisava usar lanterna. A claridade da lua era o bastante para alumiar os caminhos de areia ladeados por capins baixos e castigados pelo sol durante o verão.

Nossa casa era simples. Tinha sala, um quarto e uma cozinha. Um jirau servia para a gente lavar as louças e cortar a comida. Um fogão a lenha e um fogareiro eram os únicos meios de cozinhar. Geralmente à tarde, mamãe saía pelo mato à procura de árvores ressecadas para delas fazer lenha. Quando queríamos comer um assado na brasa, mamãe queimava a lenha até virar um braseiro. Assim assávamos o peixe, a carne e o franco caipira. Minha mãe fazia um frango caipira assado de sabor incomparável.

Ela tratava a ave cuidadosamente, temperava com todos os ingredientes de cozinha e, depois de um tempo no tempero, ela botava no fogo para ferver até refugar bem. Só então ela colocava na brasa para assar. Até ficar ao ponto. O arroz, pego na roça e pilado no pilão feito pelo meu pai, era cozido com gordura de porco. Depois éramos servidos.

Crianças, o almoço está pronto — gritava mamãe.

Papai também era avisado de que o almoço estava na mesa. E assim, em família, fazíamos nossas refeições todos os dias, almoço e janta. Éramos felizes, e não sabíamos.

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Um dia, papai e mamãe se desentenderam e decidiram se separarem, jogando fora 25 anos de casamento. Cinco filhos tiveram que engolir uma triste realidade. No dia em que meu pai foi embora, levou-me com ele. Papai e eu fomos morar no povoado Bandeira, terra dos meus avós, descendentes de escravos, quilombolas. Meu bisavô, Felinto Bandeira, recebeu carta de alforria e lhe foi dada aquela terra para que ele pudesse trabalhar e seguir a sua vida como escravo livre. Hoje, Flávio Dino, quando governador, tomou nossas terras e vendeu. Somos 66 famílias herdeiras daquele patrimônio. Nossa história está toda naquele lugar: Terra dos Bandeiras. Minha avó por parte de pai, Firmina Bandeira, morreu na década de 1970 e, por ser analfabeta, não deixou as questões resolvidas.

Mamãe e papai, agora separados, nos contavam casos de nossa família, tanto do lado materno, quanto do paterno. Somos uma mistura, diziam meus pais, de espanhóis, portugueses, escravos e indígenas. As famílias Soares e Pestana são oriundas da nobreza espanhola e portuguesa. Papai me contava histórias do meu bisavô, Antônio Marcolino Soares, que foi o primeiro promotor de justiça da cidade de Pinheiro, no Maranhão.

Meu filho, meu avô era um homem honrado — contava papai. — Eu não o conheci, mas ouvi dizer que ele era muito justo e honesto em tudo o que fazia. Morreu picado por cobra nas Três Marias, povoado que fica entre Pinheiro e São Bento. Ele era dono das terras de Pacas.

Pacas, hoje, é uma cidade. E papai me dizia que meu bisavô gerou muitos filhos em Pinheiro e região.

Toda mulher grávida que dizia que o filho era dele, ele procurava pela criança e a registrava — papai me dizia. — De maneira que a família Soares se tornou numerosa em Pinheiro, pelo Maranhão todo e pelo Brasil. É uma família muito grande e também muito honrada.

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Lembro dos pés de árvores. Eram densos. Enormes. Eu brincava o dia inteiro ouvindo o cantarolar dos pássaros no matagal, ao fundo do nosso quintal, e era maravilhoso ver o vento sibilando nas folhagens das árvores. As galinhas, no quintal, ciscavam à procura de alimento para si e, também, para alimentar seus filhotes, Ao ouvirem o chamado das mães, os pintinhos saíam correndo para junto delas, recebendo o alimento do seu bico. Esse instinto de cuidar dos filhos está presente em todo o reino animal. Assim como nos seres humanos.

Mãe — dizia eu — as galinhas cuidam dos pintinhos igual a senhora cuida da gente.

Claro, filho! Mãe é mãe. Não importa se é gente ou animal.

Lembro das árvores altas que rodeavam quase todo o quintal e, nas noites de tempestades, aqueles gigantes metiam medo, balançando seus galhos enormes. No dia seguinte, porém, lá estavam: firmes, espalhando cheiro bom, gravetos e folhas que caíam e se espalhavam pelo chão ao redor. Minha mãe levantava às 5 horas da manhã para varrer aquelas folhas do quintal e queimá-las. Depois ela ia fazer o café e outros afazeres.

Crianças — dizia ela quase gritando — levantem para tomar café e estudar. Vocês precisam estudar para terem um futuro melhor.

E, é claro, a gente obedecia. Para mim, depois do café e da lição, tudo era brinquedo. Ladeando a beira da casa, que era ampla, e não tinha cerca, enfileiravam-se as plantações e o canteiros da mamãe. Havia erva-cidreira, capim-limão, murta, cajá, goiaba, pitanga e outras fruteiras. Um pouco afastado, havia pés de manga. Eu ficava ali o dia inteiro. Só saía para ir à escola, à igreja e para o passeio com a mamãe.

No dia da separação de meus pais, tudo isso ficou para trás. Novos capítulos da minha vida iriam protagonizar senas que mudaram os rumos da minha vida. Mas sobre isto falarei nos próximos contos.

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sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

COLUNA LEITURA LIVRE | por Battista Soarez

COLUNA LEITURA LIVRE

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Por Battista Soarez 
(Jornalista, escritor, psicanalista e teólogo)


Voo ao céu das prioridades
Estabelecimento de metas e tomada de decisões para ser bem sucedido a partir de 2025

Imagem meramente ilustrativa | Foto: Divulgação
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DIA DESSES PASSEI UMA TARDE TODA conversando com o pastor Alex Martins, fundador e presidente da UNICAJE (União de Capelães e Juízes de Paz) e pastor da Assembleia de Deus em São Luís, localizada no Barra Mar. Determinado e temente a Deus, pastor Alex é um homem de sucesso porque, com ousadia e muitas ideias, sabe administrar as prioridades e gerenciar o tempo necessário para colocá-las em prática.

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Conversando com esse homem de Deus, aprendi que a gente pode ter uma vida melhor se decidirmos conhecer princípios que regem a ordenação das prioridades. Percebi que as condições em que, por vezes, a gente se encontra e o alvo a que nos dirigimos são coisas que dependem das metas que estabelecemos ou venhamos a estabelecer, bem como das nossas prioridades. Pastor Alex passou-me a ideia de que, para que acertemos nossas prioridades, precisamos observar certos princípios que orientam a determinação de metas.

Pr. Alex Martins (UNICAJE) | Foto: Divulgação

Na prática, isso significa que a gente vê que o segredo do sucesso é fixar as metas e prioridades certas, e jamais desviar delas os olhos. Pensando nisto, lembrei do que Jesus disse em certa ocasião:

Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás, é apto para o reino de Deus (Lucas 9.62).

Isto quer dizer que a política administrativa no reino de Deus é não olhar para o que ficou para trás. Jesus está nos dizendo, com isto, que o segredo da eficácia na ação produtiva é foco. Se a gente não coloca foco nas atividades que queremos executar, ou que estamos executando, os resultados serão minúsculos. Pastor Alex Martins, no dia a dia das coisas que ele administra, fez-me ver que cada pessoa, como ele, recebe de Deus a capacidade e a liberdade de escolher o tipo de vida que quer levar, seja nos negócios, na família, no ministério cristão ou mesmo na vida pessoal. O que se quer realizar e o que se quer conseguir. Tudo começa com a organização em ordem de suas prioridades e com a identificação de metas.

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O pastor Edilson Lins, líder na nossa Missão no Projeto Nova Alcântara (PNA), disse-me certa vez:

Quando estou construindo, eu não vejo o projeto em construção. Eu vejo ele pronto.

Ele é o maior construtor de casas que já vi na minha vida. Com ou sem dinheiro, ele constrói com a mesma habilidade. É um dom natural com o qual Deus o capacitou.

Vários pastores com quem converso me questionam:

Pastor Battista, esse negócio de escrever e publicar livros dá dinheiro? Você não quer parar com isso?

Normalmente, respondo a eles com outra pergunta:

Você ganha dinheiro sendo pastor de igreja? Você é pastor é para ganhar dinheiro? Porventura, você é pastor não é para ganhar almas e influenciar pessoas para Jesus Cristo? Você quer parar de ser pastor?

Em seguida digo a eles que não escrevo pensando em ganhar dinheiro. Ao escrever, meu foco é alcançar pessoas para o reino de Deus por meio daquilo que procuro fazer com excelência, que é escrever e publicar livros. Deus me chamou e me capacitou para pastorear por meio da literatura, do ensino e treinamento de pastores, obreiros e líderes. Esses pastores, obreiros e líderes, para os quais dou treinamento, vão alcançar vidas para Deus, aplicando o conhecimento que obtiveram de mim. Missionários que foram meus alunos nas décadas de 1990 e 2000, hoje estão ganhando almas em Portugal, África, Brasil e outros países. Há projetos sociais e missionários sendo executados no Brasil e fora do Brasil inspirados nos meus livros, inclusive no livro “A igreja cidadã”. Isto é a multiforme sabedoria de Deus agindo no mundo em forma de ministérios específicos.

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A igreja do pastor Alex Martins está começando a crescer e tem, diante de si, a perspectiva de grande sucesso.

Pastor Battista, eu trabalho com metas, planejamento e prioridades para não correr o risco de me comprometer com aquilo que eu não possa cumprir — disse-me pastor Alex, enquanto saboreávamos um delicioso caldo de cana com pastel recheado.

De fato, nossa atitude mental determinará as metas que iremos estabelecer. E as metas que estabelecemos, mais do que qualquer outra coisa, determinarão nossas prioridades e o ponto a que poderemos chegar. Isto se aplica a qualquer meta, seja ela espiritual, pessoal, profissional ou familiar. Não há diferença.

Sigmund Freud costumava dizer que estabelecer metas é uma coisa perigosa. Perigosa porque, quem as estabelece mas não as atinge, experimentará o fracasso. Isso aniquila seu respeito próprio e ele se transforma numa pessoa doentia e neurótica. Basicamente, Freud era contrário ao estabelecimento de metas. E isto por razões psicanalíticas que não interessam discuti-las neste artigo.

Mas o Dr. Viktor Frankl, de Viena, Áustria, disse que ter uma meta é muito importante. Na verdade, se uma pessoa estabelece uma meta e não a alcança, isso pode ser muito desastroso, se assumir uma atitude negativa em relação a ela. Mas não alcançar o alvo é menos perigoso do que não ter um alvo. Quando não temos um alvo que nos motiva a caminhar numa determinada direção, nos tornamos vazios e basicamente inúteis ou, no mínimo, perdidos no cotidiano da vida.

Frankl gostava de mencionar um fato bíblico do Antigo Testamento que narra a respeito de que Deus sempre mantinha uma coluna de fogo diante do povo durante a noite e uma nuvem durante o dia para puxar o povo para frente. E é isso que as metas representam para nós. Nunca conseguimos alcançar as nuvens. Nunca conseguimos alcançar o fogo. Mas essas narrativas nos provam que, quando estamos em Deus e Deus está em nós, nunca estamos sozinhos e nossas atividades sempre têm sentido, direção e proteção nEle.

Se estabelecermos um alvo e o atingirmos, mas não conseguimos expandi-lo, então começaremos a morrer.

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O Dr. Robert H. Schuller, que, enquanto viveu, foi pastor da igreja Catedral de Cristal nos Estados Unidos, aponta os seguintes alvos que devemos estabelecer em relação às nossas prioridades, conforme os apontamentos a seguir.

Comece com o pensamento da possibilidade. O pensamento da possibilidade é a admissão de que, se a ideia é boa, se é importante para Deus, se ajudaria pessoas que estão sofrendo, então deve haver um meio de se realizá-la. As metas, então, sempre devem surgir como solução de problemas, e não como “fantasias egocêntricas”. Em Mateus 19.26, Jesus diz: “Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível”. Ao fixarmos nossas metas, devemos admitir que é possível atingi-las, ainda que isso pareça impossível.

Oriente-se pelo seu sistema de valores. Suas metas deverão ser compatíveis, caso contrário serão combatíveis. Isso acontecendo, você sofrerá tensão, culpa e ansiedade interiores, e não poderá ser bem sucedido. Estabeleça valores que estejam em sintonia com Deus e sua Palavra, de modo que você fique certo de que, se for bem sucedido, ficará feliz com isso. E, se fracassar, sentir-se-á, também, feliz pelo fracasso, porque pelo menos constará que tentou realizar algo de belo para Deus.

Tenha o objetivo de crescer em qualidade e quantidade. Quem realmente cresce em qualidade, também cresce em quantidade, a menos que o mercado esteja saturado de seu produto. Isso significa, então, que, quando temos em vista o estabelecimento de metas, devemos procurar as áreas que restringem o crescimento. Um bom líder procura os obstáculos ao crescimento e estabelece metas de acordo com isso. Um bom líder cria métodos pelos quais seja possível corrigir os obstáculos que restringem o desenvolvimento, de modo que o indivíduo ou a instituição possam crescer até à sua capacidade máxima.

Observe e estude cuidadosamente seus preconceitos, suas “paixões” e seus interesses. Dr. Schuller diz que é bem provável que seja nessas áreas que venhamos a descobrir os pontos fracos. Porque o estabelecimento de metas deve objetivar a eliminação dos nossos pontos fracos, uma vez que todos nós os temos. Procure descobrir um setor de sua personalidade onde precisa crescer e amadurecer mais. Logo, identifique uma carreira livre em que você tenha pensado com frequência. Agora, escolha uma maneira de começá-la na forma de um pequeno projeto. O objetivo é produzir algo com base numa ideia atraente para você. Se sua ideia atraente é ser um pastor de sucesso, comece com um grupo de duas ou três pessoas. Essa experiência inicial não lhe será enfadonha e gradativamente o levará a uma grande igreja, conforme o tamanho de sua visão e sua capacidade para estabelecer metas. Pelo que percebi na nossa conversa naquela tarde toda, pastor Alex Martins trabalha nessa dimensão.

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Avalie o potencial de sucesso antes de estabelecer suas metas. Schuller pondera que, quase sempre, é possível fazer a avaliação de uma ideia, se ela poderá vir a ser um fracasso ou um sucesso, antes mesmo de começar, bastando perguntar: ela é prática?; atende a uma necessidade vital humana?; pode atingir altos níveis?; pode inspirar outros?; sua ideia pode determinar um marco na sociedade?; pode ser inspirativa?; é possível condicioná-la de tal maneira que as pessoas a desejem?; ela irá tocá-las emocionalmente? Se você é o primeiro a oferecer o máximo, diz Dr. Schuller, não poderá fracassar, a não ser que não tenha coragem para tocar para a frente.

Ao estabelecer metas, não permita que a liderança seja dominada por problemas. Devemos manter uma atitude positiva em relação aos problemas. Nunca transporte a fase da solução dos problemas para a fase de tomada de decisões. Não permita que os problemas sejam o fator orientador. As possibilidades, sim, é que o devem ser. A fase de tomada de decisões deve estar sempre separada da fase de solução dos problemas. Primeiro, tome as decisões. Depois, resolva os problemas.

Deixe que o tamanho do seu Deus determine o tamanho do seu sonho. Devemos elaborar metas bem amplas para que Deus possa “caber” dentro delas. Não esqueça que você jamais poderá fazer alguma coisa sem ajuda. Se você é alguém que já obteve sucesso na vida, isso só aconteceu porque outros o tornaram bem sucedido. A responsabilidade de estabelecer metas é sua. Mas para que elas sejam atingidas é necessário o trabalho de uma equipe. Cerque-se de pessoas resolutas e tementes a Deus. E afaste-se das egocêntricas e narcisistas. Tendo esses cuidados, enfim, estabeleça metas na área de trabalho em que você sinta prazer em executar. A excelência nos resultados está exatamente aí. Afinal de contas, quais são as suas metas e prioridades a partir de 2025? Pense nisso, execute e cresça.

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