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quarta-feira, 13 de março de 2013

WANDA CUNHA


VIAGEM PELAS RUAS DE UMA REALIDADE DESCONSTRUÍDA
Depois de alguns anos de silêncio literário, a escritora Wanda Cristina reaparece para descortinar, com texto teatral, persistente realidade de São Luís

“Ali” está Joãozinho, vez em quando engraxando sapatos de algum transeunte menos insolente. Um pouco mais ao lado, está Mariazinha vendendo chicletes, aqui-acolá, a algum complacente que por acaso não se recuse a comprar.

No doloroso vai-e-vem da necessidade nua e crua, está uma mendiga com a vida cheia de sabedoria formada na escola das mazelas sociais. Perdida nas indefinições do destino sem sentido, está Aquília, uma garotinha fugitiva, perambulante pelas ruas da existência [cruel] e que carrega, na bagagem da inocência, sofrimento e maus tratos.

Ao redor de todos, casarões de azulejos velhos, encardidos pelo tempo, guardam uma história de escravismo violento. No cerne da cidade há uma política nefasta conivente com a pobreza, a miséria e a vida maltrapilha de mendigo e, de quebra, fazeres obscuros e ações pouco eficazes. No âmbito de tudo isso, está São Luís, uma cidade capital composta de ruas esburacadas exalando mau cheiro, insegurança e sujeira... E que, à sombra disso e de outras “coisas” mais, escondem-se lendas e mistérios: assombrações eternizadas de figuras lendárias, como Ana Jansen; misterioso animal ofídico como a serpente encantada e outras inusitadas crendices populares sem “pé” nem “cabeça”.

No meio dessas realidades inquietantes está Wanda Cristina da Cunha, uma curiosa observadora que com sua veia genética literária, sendo, pois, filha de poeta, jornalista e escritor não perde uma cena e se esmera em narrar, efetivamente, tudo no silêncio dos detalhes. Silêncio que só é quebrado, apenas, pelo tec-tec dos dedos beijando as teclas do computador, mas que jamais se deixa levar pelo “vício” da tecnologia ultramoderna típica da redação virtual, que tem visualizado uma intelectualidade pouco criativa.

A autora, pelo contrário, tem originalidade redacional e uma escrita acima de tudo inteligente: isto fica claro nas cantigas inócuas das crianças, nos diálogos sacrossantos e pouco fraternais das igrejas, na fala moderada do soldado solitário, na cordialidade cínica dos políticos, na lábia espertinha do vendedor de pamonha, na aparição fantasmática de Ana Jansen e na parva crendice da lenda da serpente. Serpente? Sim, serpente que abocanha principalmente aquilo que pode tirar as crianças da rua, a mendiga da mendicância e, finalmente, pode deixar o povo feliz.

Face a tudo isso aí, Wanda lança olhar horizontal sobre São Luís e acaba tendo uma visão panorâmica da cidade enfeitada de azulejos e casarões que, por força das más administrações públicas, se perpetua deitada sob o lençol de uma realidade desestruturante e escassa. Isto, sim, em quase todos os aspectos. Para ser mais claro. Obviamente!

Os personagens da autora se cruzam ruas a fora. Entreolham-se e se confraternizam. Todos, finalmente, estão prontos! Prontos para ingressarem numa Viagem às ruas de São Luís e, então, percorrerem um universo de inocência roubada de duas crianças... Crianças que não pediram para nascer, não pediram para virem ao mundo! Nem sabem por que vieram ao mundo! Mas que têm o direito de viverem uma vida digna. O caminho faminto de uma mendiga desorientada na sua sabedoria perambulante, sem teto. O esconderijo ao relento de uma menina perdida no labirinto sem fim de sua própria realidade. Uma realidade que, aliás, ela não construiu. Nem sabe quem a construiu. Mas que se vê obrigada a encara-la.

Pois bem! Vagantes pelo caminho desse universo de mazelas sociais e vácuo mental, Joãozinho, Mariazinha, a mendiga e a garota Aquília seguem em frente. A estrada é longa, para algumas “estações”. E curta para outras. Mas as paradas são sempre as mesmas coisas: fome, mendicância, irritação, melancolia, sujeira e falta de segurança.

Mesmo assim, há um pouco de razão para pensar: “criança que mendiga, quando cresce vira mendigo”, diz a mulher mendicante. Na sua experiência, ela explica: “Na rua, a gente acaba fazendo um monte de coisas, mas sempre volta à estaca zero. Quando não, cai num precipício”. Ao ouvir isto da mendiga, Mariazinha não compreende. E instiga: “como assim?”. Mas Joãozinho, parecendo ser mais safo nas coisas do mundo da rua, explica: “é como uma bicicleta sem corrente que tu pedala ele, pedala ela, mas ela nunca sai do lugar”.

Joãozinho diz que a mendiga é fedorenta. E, embora sem saber, o garoto acaba se referindo à mentalidade que rege, por manobras políticas, a administração pública. Esta, sim, parece feder mais que qualquer outra coisa. Joãozinho diz isso pelo sentido da razão química que as cheiradas de cola lhe proporcionam.

Wanda dá espaço para a gente fazer uma hermenêutica sociocultural que mostra, claramente, que em São Luís tudo é inusitadamente possível, como na fala da borboleta: “Eu sou uma borboleta diferente. Nunca fui crisálida, nunca fui lagarta, fui princesa. Mas minha coroa caiu e virei serpente”. Como acontece na política do Maranhão, como do Brasil: pessoas boas se transformam em bandidos logo após uma campanha política vitoriosa; pais de família honestos, desempregados, viram homens revoltados, após uma separação traumática e enxertada de perseguição judicial ornada de injustiça; inocentes viram vilões perigosos após passarem pelo túnel da crueldade do sistema social. Bem assim asseverou Leonardo Boff: “Todos vivemos atrás das grades de leis, normas, prescrições, tradições, prêmios e castigos. Assim funcionam as religiões e as sociedades que, com tais instrumentos, enquadram as pessoas, mantêm-nas submissas e criam a ordem estabelecida”. É isto. As sociedades vivem sempre na contramão de tudo o que é certo: negociam o bem pelo mal, o honesto pelo desonesto, a paz pela violência, a justiça pela injustiça, o justo pelo suborno, o amor pelo ódio, a igualdade pela desigualdade, a distribuição pela miséria, a fraternidade pela maldade.

A geração da escritora Wanda Cristina é uma geração de leitores fissurados. Por isso sua criatividade literária cheia de inteligência. Cheia principalmente de vontade. Vontade de mudar a realidade de São Luís. Vontade de ver tudo diferente. De ver São Luís crescer. Vontade de poder viver da criatividade literária, mas que o triunfo do individualismo e da anomia impede.

O verdadeiro escritor brasileiro principalmente o maranhense tem, lamentavelmente, de fazer todas as outras coisas antes de escrever. E quando escreve, o reconhecimento fica adormecido nas sombras da escassez de leitores, na falta de apoio literário, na ausência de política cultural para o livro. Mas mesmo assim Wanda é forte e polivalente, e faz arte literária com o rigor da simplicidade e da sapiência. Manda o seu recado, no tempo e na história, para o mundo da arte. Wanda é um exemplo ideal de quem, realmente, faz arte literária. Seu livro merece ser lido e disseminado nas escolas, na política e no teatro. Sua crítica traz lucidez ante à obscuridade da escassez de consciência. Uma consciência que emana, inteiriça, da cabeça dura dos homens que têm medo da intelectualidade dos poetas e escritores. Isto porque os poetas e escritores sempre pensam muito à frente de sua época.
 
Como disse Arthur Schopenhauer (1788-1860), os ecritores "nunca acreditam que toda mudança é progresso", mas apenas um motivo para se pensar mais adiante. E os homens, principalmente os políticos e governantes, têm pavor disso. Morrem de medo do que se possa pensar no âmbito do novo. Ou da resposta introdutória de uma simples ideologia do pensar com a tinta da pena. A escrita de um pensador assusta. Principalmente quando se trata de uma leitura interessante, capaz de influenciar alguém. Principalmente se esse "alguém" for um sujeito de coragem, que possa levar o que viu, à luz do entendimento, mais adiante, para outros "mundos" no meio do universo.

Nelson Werneck Sodré, por outro lado, destaca: “A vida intelectual é, na realidade, permanente troca de ideias, de influências, de elogios, de pedidos”. Wanda Cristina da Cunha faz a gente crer que seus escritos não são meramente um aprimoramento de tudo o que já foi dito, e escrito, mas um aspecto intrigante da reflexão absolutamente possível. E disto também os homens têm medo. Por isto, Viagem às ruas de São Luís, de Wanda Cunha, promete levar os amantes da educação e da arte a um contínuo refletir.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

CULTURA DO LIVRO



Declínio do espírito criativo,
morte da razão inteligente
Como a inépcia da política municipal está assassinando a cultura e a arte literária de São Luís



BATTISTA SOAREZ
Escritor, editor e jornalista

6a. Feira do Livro de São Luís não agradou aos participantes.
No ano em que a capital maranhense completa 400 anos, a 6ª Feira de Livros de São Luís, edição 2012, comemora com um verdadeiro caos. A avaliação vem dos próprios participantes. Livreiros e organizadores reclamam que a prefeitura municipal foi totalmente omissa. “Faltou mais apoio. Este ano, a feira só aconteceu porque é lei. Se não, não teria acontecido”, disse Milton Lira, gerente da Livraria Vozes, em São Luís, e ex-presidente da ALÉM (Associação de Livreiros no Estado do Maranhão). O prefeito João Castelo, derrotado nas últimas eleições, esteve presente no primeiro dia da feira e foi o primeiro a comprar o livro São Luís: memória e tempo, de autoria do escritor maranhense Antônio Guimarães. Castelo, particularmente, não manifestou apoio à feira, mas o secretário municipal de cultura Euclides Moreira Neto e sua equipe mostraram total empenho na realização da feira. Mas as dificuldades foram muitas.

O problema já começa pela mudança de local. Nos anos anteriores, a feira vinha acontecendo na Praça Maria Aragão, local mais apropriado, de acordo com os participantes. “É amplo. Tem estacionamento e o acesso é melhor”, acentuou o escritor Antônio Guimarães, autor de São Luís: memória e tempo. Em 2012, a feira mudou para o CEPRAMA e isso dificultou o acesso das pessoas.

Maior número de pessoas se fez presente no último dia da feira.
Logo na entrada, os participantes eram recepcionados pelo sugestivo cheio de esgoto. Na calçada, um esgoto estourado jorrava abundantemente. As pessoas molhavam os sapatos naquela água fedendo a bosta e ninguém da administração pública aparecia para resolver o problema. Para quem veio de outro estado, uma surpresa estranha e desagradável: “Ai, gente! Patrimônio cultural da humanidade por aqui fede a cocô”, disse a turista Janete Lali Magalhães, de Canoas, Rio Grande do Sul. Sujeira, buracos, esgoto e fedor. Essa é a cultura que a cidade patrimônio histórico oferece para a humanidade.

Aliás, esgoto é, talvez, o destino que o poder público de São Luís quer dar à cultura do livro. Basta fazer uma visita à Rua do Sol e ver o que estão fazendo com a casa de Aluízio de Azevedo, um dos maiores escritores de São Luís de todos os tempos, publicado em mais de 150 países. A casa do autor de Casa de pensão, onde deveria ser um acervo literário pois ali o escritor produziu duas de suas mais importantes obras, O mulato e O cortiço , foi vergonhosamente vendida para um camelô que passa a noite inteira destruindo a parte interna daquele patrimônio cultural e incomodando a vizinhança. Parece que o poder público pouco está ligando para a cultura do livro e produção literária. Agora, São Luís tem uma cultura patrimônio da humanidade, tombada, entretanto, pela contracultura da desumanidade.

Na feira do livro de 2012, a Casa do Escritor, por exemplo, ficou escondida quase que debaixo do piso, como sinal de não-reconhecimento a quem faz arte literária na história terra de escritores e poetas. No auditório Quartocentenário bem localizado até não comparecia quase ninguém para ouvir as palestras.

A venda de livros não foi como o esperado.
“Não ouve muita divulgação. Acho que uma feira desse nível deveria ser divulgada em todo o Maranhão e no Brasil inteiro”, disse o engenheiro civil Irandi Marques Leite. Leitor apaixonado, Irandi sugere que seria indispensável a participação da Academia Maranhense Letras, das universidades públicas e privadas e, ainda, das faculdades. “As empresas acrescentou ele como Vale do Rio Doce, Alumar e outras também deveriam estar ali participando e apresentando seus projetos de sustentabilidade para a área da cultura literária”.

De fato. Não se faz empresa sem livro. Não existe universidade sem livro. Não há cultura sem livro. Nem ciência. Nem arte. Sem livro, nem se fala em literatura. E a literatura, claro, é a vida útil de qualquer civilização. O livro mantém o diálogo entre gerações. É com a existência de livros que se conhece o passado, registra-se o presente e se promove o futuro. No entanto, falta política cultural para o livro. Escritores não recebem nenhum incentivo. Nem se organizam como deveriam.

A beleza da cultura maltratada

São Luís é bela. Muito bela. Cercada de águas oceânicas por todos os lados, a cidade torna-se uma ilha deslumbrante. Belas praias. Gentes bonitas. Culinária riquíssima. Poetas, escritores e uma história literária fantástica. Há, ainda, uma lenda que, contada, emociona e encanta.

            Com forte influência francesa, a ilha de Upaon-Açú já foi berço da intelectualidade brasileira e guarda, no seu seio, um orgulho histórico-cultural acima de tudo romântico, pela sua poesia, pela sua arte literária e pela sua sensibilidade criativa. Ando pelas praias, por ruas modernas e pelo Centro Histórico e sinto-me impulsionado pela inspiração que o brilho de seus casarões me proporciona. Sinto a emoção que qualquer poeta ou escritor sente olhando sua beleza cultural desenhada na arte de antigos prédios coloniais portugueses. Aliás, maranhenses mesmo.

            O céu de São Luís parece reluzir mais límpido que o céu de outras cidades históricas do Brasil. Os pássaros, aqui, parecem ter, em seus cantos, melodia mais refinada que em outros lugares do mundo, como diria o poeta maranhense Gonçalves Dias: Minha terra tem palmeiras / Onde canta o sabiá / Os pássaros que aqui gorjeiam / Não gorjeiam como lá... E nesta terra de Gonçalves Dias, até os cães parecem mais felizes, haja vista o ar puro e naturalmente saudável que respiram, graças à aragem que vem do Atlântico e ventila seus becos e vielas. Seus poetas são mais poetas. Inspirados. Aqui, tudo cheira arte. Tudo respira poesia e cultura literária.

Declínio da razão literária

Tudo isso, no entanto, parece estar ameaçado pela estúpida falta de interesse e má vontade política, ou melhor, má vontade dos políticos. Políticos que, infelizmente, são os únicos seres que administram tudo, em nome de uma democracia mentirosa. Eles mandam em tudo: na cultura e na arte; na cidade e no campo; na pobreza e na riqueza; nas leis e no judiciário; no legislativo e no executivo; no dinheiro e na falta deste. Mandam até na vida e na morte. Eles decidem quem deve viver, e quem deve morrer.

As autoridades, ao invés de investirem na arte, questionam: que razões levam alguém a tornar-se artista?; o que leva alguém a querer ser escritor? Evidentemente! Se não questionam de forma verbal, questionam na prática com suas atitudes mesquinhas, burocráticas e omissas.

Exemplo disso é o que vem acontecendo com a Feira do Livro de São Luís. Criada com absoluto sucesso em 2007 na gestão do então prefeito Tadeu Palácio pelos livreiros de São Luís, através da Associação dos Livreiros do Estado do Maranhão (ALEM), a feira tornou-se obrigatória por força de uma lei municipal. Vejam isso: precisou de uma lei para forçar se promover a cultura de livros. Em outras palavras, se faz cultura por obrigação. Não por prazer. Como se o desenvolvimento de qualquer civilização não fosse possível somente por meio de livros. Como se a educação não dependesse de livros. Como se a própria literatura não vivesse de livros.

Morte da razão inteligente

Um povo que não gosta de ler, sem amor aos livros, não tem identidade. Talvez isso explique o fato de o brasileiro gostar de “coisa” importada americana: da arte cinematográfica à cultura da violência, tudo é importado de “modelos” americanos. E isso é uma agressão fatal à inteligência da civilização brasileiro.

Lamentavelmente, na literatura não se encontram incentivo e nem vocações transmitidas de pais a filhos, por exemplo. A identidade cultural do maranhense diferente de outros tempos atrás é solta nos labirintos das desculpas sem “pé” nem “cabeça”, nos “vales” e “esgotos” da internet e, finalmente, da preguiça intelectual de precedentes estranhos.

Nos tempos de Aluízio de Azevedo, Graça Aranha, Gonçalves Dias, Dagmar Desterro, Bandeira Tribizzi, José Sarney, Carlos Cunha e tantos outros, os jovens liam por diversão. Eles se reuniam para ler, escrever e trocarem ideias inteligentes. O resultado disso foi que se tornaram grandes homens e mulheres não só na arte e na literatura, mas, também, na política, nos negócios e na liderança social em diferentes níveis.

A csasa de Aluizio de Azevedo, na rua do Sol, em São Luís.


Hoje, a cultura da internet e outras tecnologias viciosas estão assassinando a paixão pela leitura, pela arte literária. O espírito criativo está declinando. A razão da cultura inteligente está morrendo bombardeada pelo “arsenal” de lixos eletrônicos, pornográficos e violentos. Os jovens não gostam de ler. Por isso, não sabem escrever. Nem falar. Não saber administrar. Nem amar. Não respeitam limites. Nem o direito do outro. A consequência disso é uma sociedade burocrática ao extremo, burocracia esta que só serve para alimentar a corrupção, a fraude, a ganância, o poder de posse, a violência física, política, jurídica e social.

Que exemplos se podem mencionar de violência nesse sentido em que, aqui, está sendo colocado, na falta do hábito de leitura? O primeiro deles é a violência política: compra de voto, corrupção, burocracia, anseio por poder, CPIs, partidarismo, fraudes orçamentárias, má administração das políticas públicas, superfaturamento, apadrinhamento político e favorecimento econômico.

Depois, a violência educacional: febre de avaliação para tudo o atual sistema de avaliação da educação brasileira está totalmente equivocado , falta de investimento na educação, escolas públicas em péssimo estado de conservação, não investimento em pesquisa científica e acadêmica, desvios de recursos públicos, falta de capacitação profissional, ausência de interação escola-família, despreparo na política de relações humanas nas escolas em geral.

Um pouco mais adiante, depara-se com a violência jurídica: leis direcionadas para beneficiar bandidos, juízes mal preparados, promotores que se vendem, um judiciário que se presta a serviço de grupos políticos, medidas judiciais que favorecem a corrupção.

Com a escassez da cultura de livros, prolifera a cultura da ignorância, da estupidez, da violência física, psicológica e social. No Brasil, ainda se confundem política com corrupção, autoridade com estupidez, justiça com punição e vingança.

Escritores, leitura e política cultural do livro: tempo de recordação

            Chegou-se a uma geração de poucos leitores. A criatividade literária sofre com isso. “São Luís dizem os intelectuais precisa cultivar sua cultura de bons leitores. Precisa rever sua história cultural e preservar o que há de melhor na herança de nossa tradição literária”.

            A equação da filosofia do descaso focado na arte literária é simples: Sem incentivo à produção literária, não haverá livros. Sem livros, não terão leitores. Sem leitores, é possível de se ter escritores. E sem escritores, morrerá a literatura. E sem literatura.... acontecerá tudo o que sua mente for capaz de imaginar do ponto de vista catastrófico.

            Prevalecerão, sem dúvida, a ignorância, a violência, a soberba, a insensatez, a insensibilidade humana. Acho que bem se pode aplicar à literatura maranhense o pensamento de Oscar Niemeyer: “Quando a vida se degrada, e a esperança foge do coração dos homens, só resta recordação”. Usando-se da boa razão que teve o gênio da arquitetura brasileira, o que nos resta é: recordar. Recordar de que um dia, lá pelo meio da história do passado, tivemos bons escritores e poetas. Recordar dos sonhos que um dia aqueles ancestrais da literatura sonharam para o futuro de nossa arte literária.

            Recordar da bela poesia de Humberto de Campos. Da poética lírica de Gonçalves Dias. Do bom teatro de Arthur Azevedo. Da bela prosa de Graça Aranha. Da poesia meio clássica e meio moderna de Bandeira Tribuzzi. Do romancismo naturalista de Aluízio de Azevedo. Da literatura socioeducativa de Dagmar Desterro. Das crônicas cheias de bravura e inconformismo de Carlos Cunha. E, enfim, da mensagem literária que os jovens do passado tentaram escrever para nós do futuro que, agora, sofre.

Em vários estados do Brasil, por exemplo, já está sendo adotado o check-livro: os governos municipal e estadual distribuem vale-livro para estudantes e professores que, ao participarem das feiras, trocam-no por livros. Na primeira e na segunda feiras, ainda na gestão do ex-prefeito Tadeu Palácio, foram distribuídos 600 mil reais para aquisição de livros junto às bibliotecas do município. Fato que na administração de João Castelo não aconteceu. Espera-se que o próximo prefeito Edivaldo Holanda Junior dê o devido apoio à feira, a exemplo de Palácio.

        Não espero, finalmente, que, com a leitura desta matéria, tentam corrigir o que os homens tornaram incorrigível. Seria, de minha parte, pretensão ingênua. Mas que os perversos que pegam o dinheiro público da literatura e usam para “outros” fins tenham consciência de que o que estão fazendo com a arte literária em São Luís é estupidez e maldade. Aliás, estupidez e maldade não são nenhum elemento estranho na política do Maranhão. Em matéria de produção literária e leitura, eles não têm nenhum interesse de investir naquilo que liberta a mente do povo para o esclarecimento da vida pública.