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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

MULHER DESAPARECIDA EM ALCÂNTARA

Desaparecimento de mulher em
Alcântara continua um mistério

O desaparecimento de Alexandrina Garcia Costa, de 36 anos, continua sendo uma incógnita para a cidade de Alcântara. Alexandrina desapareceu desde a madrugada de domingo para segunda-feira, 20 de novembro. Para parentes, vizinhos e moradores da cidade o mistério pode estar segredado no marido, conhecimento como Cleiton.
Alexandrina, carinhosamente chamada de Lilika, desapareceu na madrugada de domingo, 19 de novembro, após ser vista andando de moto com o marido em vários lugares em Alcântara. A nossa reportagem esteve no Bar do Naildo, depois de receber informação de que, no domingo à noite, Alexandrina e o marido Cleiton estiveram naquele estabelecimento por volta da meia-noite.
Naildo, o dono do bar, é primo de Alexandrina. Ele disse a este jornalista que o casal ficou durante um bom tempo no bar. “Os dois chegaram aqui por volta das 22 horas numa moto. Cleiton pilotando e Alexandrina na garupa. Ele foi mais ali à frente, fez o retorno e estacionou a moto com a frente virada para o centro da cidade. Pediram algumas cervejas. Alexandrina não bebeu. Apenas pediu um saquinho de pipoca e comeu. Cleiton bebeu com outro amigo, que saiu logo depois. Por volta da meia-noite e 30 minutos, eles pediram a conta. O valor deu R$ 37,50. Alexandrina abriu a bolsa, tirou o dinheiro e pagou a conta”, relata Naildo. Foi a última vez que Lilika, como era conhecida, foi vista.
Segundo informação da família, Cleiton só foi à casa da mãe de Alexandrina na quarta-feira, 22, à noite, apesar de ela estar desaparecida desde domingo, 19. “Ele chegou aqui e perguntou se ela havia ligado”, informou Fran, irmã de Alexandrina. Isso foi muito estranho, conta ela.
Alexandrina era funcionária de um hotel da cidade e por não aparecer ao trabalho, o patrão estranhou e foi saber o motivo. A partir daí começou o desespero da família, dos amigos e da população.
Segundo informações, o marido, Cleiton, vinha brigando muito com a esposa ultimamente. E apareceu com arranhões pelo rosto. Um boletim de ocorrência foi registrado na delegacia de Alcântara, mas a polícia não tem demonstrado muito empenho em esclarecer os fatos, segundo reclamação da população e de familiares da mulher desaparecida.
De acordo com familiares, Lilika teria enviado uma mensagem ao filho na quinta-feira (23), por volta das 7h da manhã e de lá prá cá ninguém mais recebeu informações. O celular de Alexandrina está fora de área. As pessoas ligam, mas cai em caixa postal, como se estivesse desligado. Há informações de que o celular foi rastreado e constatado que ele se encontra dentro de Alcântara.
Na suposta mensagem recebida pelo filho, a mãe dizia que iria embora com um outro homem, mas a família acha isso estranho, porque esse não era o perfil da índole de Lilika. “Ela era muito ligada à família. Ela jamais faria uma coisas dessas”, duvida a irmã Fran.
O marido de Alexandrina foi preso no dia 27, após manifestação de familiares e populares. Ele é o principal suspeito do desaparecimento da esposa, principalmente pelos detalhes das investigações jornalísticas que serão publicadas no momento oportuno.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

FALSO MORALISMO

O “ímpeto” da religião interior
O fanatismo religioso é uma epidemia silenciosa que sufoca a abundância da graça; um pecado perigoso disfarçado de santidade.

Por BATTISTA SOAREZ
É pastor, jornalista, escritor, psicopedagogo e mestre em Teologia Pública e Social. É editor e autor de vários livros, entre eles A igreja cidadã e Ser cristão em tempo de crise.


“Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6.14).
“Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros” (Rm 7.22,23).
“Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10.4).
“Jesus é a revelação divina que destrói qualquer religião” (Karl Barth).
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No final de semana passado, estive ministrando aula num polo de uma faculdade de educação no povoado Barro Duro, interior de Tutóia, no Portal do Delta das Américas, litoral maranhense. Pessoas simples, hospitaleiras. Casas com quintais espaçosos e arborizados. O vento que vem do mar sibila o dia inteiro nas folhagens de árvores frondosas, fazendo o ambiente ficar tipicamente agradável. Entre elas, ouve-se o cantarolar de passarinhos festejando a alegria por ainda ter vegetação, para felicidade das espécies silvestres. Algumas em extinção, por causa da agressão humana à natureza. Outras, como a pitangus sulphuratus — ave passeriforme tiranídea popularmente conhecida no Brasil como “bem-te-vi” — procuram se esconder em lugares inusitados, na tentativa de reduzir a possibilidade de sua total extinção. Se bem que a vegetação está perdendo para o processo de urbanização e, portanto, cada vez mais os pássaros perdem seu espaço no meio-ambiente.
A aula estava maravilhosamente divertida. Na sala, a maioria era representada por mulheres. Aliás, temos de reconhecer que elas tomaram o mercado. A vaidade, de salto alto e batom, invadiu mesmo o mundo. Conquistou todos os espaços. Assumiu posição e poder. Só não se sabe o futuro disto. Porque vaidade e poder, juntos, representam perigo. Tanto quanto a arrogância e o machismo dos homens.
No intervalo da aula, não tinha lanche. E, como sou diabético, não podia ficar sem lanchar. Por causa da taxa glicêmica, obviamente. Do outro lado da rua, entretanto, tinha um comércio aberto, apesar de ser domingo. Dirigi-me para lá rapidamente, na intenção de fazer o lanche.
Tem suco sem açúcar? perguntei ao atendente.
Tem não, senhor respondeu um rapaz jovem, de mais ou menos 26 anos.
Tem biscoito integral?
Tem não, senhor. Zero só tem refrigerante finalizou o rapaz, descartando qualquer possibilidade de eu continuar explorando os produtos de seu estabelecimento que eu pudesse degustar.
Aquele moço era o proprietário do estabelecimento. Ao lado dele, uma mocinha loira, jovem, de mais ou menos 18 anos, o ajudava nas atividades de venda. Era a sua esposa.
O senhor é crente? quis saber o rapaz sem pestanejar.
Sim. Sou respondi.
Logo a gente vê. O crente é diferente disse o rapaz, olhando para as minhas vestes, perguntando de qual igreja eu era, com certo ar de altivez religiosa.
Ele explicou que percebeu pelo meu jeito de vestir. Eu estava trajado com calça social, camisa manga longa e sapatos pretos bem engraxados. Típico de uma espiritualidade estereotipada, que normalmente os religiosos fanáticos usam para figurar uma santidade aparente.
Eu e minha esposa somos crentes argumentou ele, apontando para a mocinha loira ao lado, que estava séria, calada, olhar acabrunhado.
Ah, olá! Muito prazer! dirigi-me a ela, que se manteve calada e de cabeça baixa.
De maneira forte, altiva, veemente, o rapaz me perguntou se, em São Luís, as mulheres crentes “usam calça”, se “usam batom”, se “pintam unhas”, se “cortam cabelos”. Eu fiquei meio sem jeito, sem saber o que responder... Isto porque, há tempos, me desliguei desse evangelho da idolatria à indumentária, aos usos e costumes, da religião do naturalismo anti-social. Além disso, tenho pregado quer falando, quer escrevendo o evangelho da justiça de Deus: a misericórdia, o perdão, o amor incondicional, a paz, o respeito à vida, a união do corpo de Cristo, o fazer espiritual no âmbito da justiça social. E, é claro, outros princípios cristocêntricos do Sermão da Montanha., pouco seguido pela maioria dos cristãos
Mas o rapaz me olhava, formulando perguntas e me fazendo concordar com o que eu não queria concordar. Queria que eu confirmasse que “é pecado” aquilo que a Bíblia não diz que é. Mas a religião da idolatria evangélica sempre tem um jeitinho de “postar” nas Escrituras aquilo que Jesus não falou, aquilo que Deus nunca disse, nem os profetas preconizaram. Mas o jovem comerciante insistia em afirmar “coisas”, num ímpeto de religiosidade estranha.
Você sabe, não é, pastor? Mulher usar calça é pecado. Deus não aprova isso acrescentou ele.
Éh. Tem umas mesmo que não combinam. Não fica legal. Uma bela saia ou vestido ficam melhor dizia eu sem querer desapontá-lo.
Pintar unhas é coisa do diabo, né, pastor? insistia o rapaz, ao lado da esposa que apenas me observava, calada, parecendo esconder, no fundo do coração da vaidade feminina, o desejo de discordar do marido.
Mas a moça, jovem e bonita, parecia privar as respostas com um meio silêncio tristonho, com um cerrar de lábios pouco feliz e olhar desconfiado e sério.
Éh. Há alguns exageros por aí respondi.
Cortar cabelo é outra coisa satânica. Você sabe, né, pastor?
Ãhãn! assentia eu, ainda sem querer decepcioná-lo. Às vezes, não pega bem, dependendo do perfil físico da mulher.
Sabe, pastor, tem muito crente que vai pro inferno. Né, pastor? Tá na igreja, mas não está salvo. Você concorda, pastor? provocou ele, com seu aspecto sisudo e austero.
É verdade disse eu. Há pessoas que ainda não nasceram de novo. São apenas religiosas. Ainda não conseguem enxergar o evangelho pelo viés da salvação genuína. E parecem que nunca vão conseguir. O espírito da religião causa uma cegueira terrível, irmão, uma confusão infeliz entre graça e legalismo. Os crentes não conseguem ver a autêntica suficiência da salvação pelo aspecto da cruz. A salvação é de graça, mas os crentes religiosos sempre acham que não. Preferem andar pelo caminho obscuro do fanatismo pálido e infeliz. Para alguns, o sacrifício do Cristo não foi suficiente. Muitos crentes acham que precisam fazer um esforço tosco e sem nexo nas Escrituras: procuram, então, colar “remendo de pano novo em vestes velhas” (Mateus 9.16) ou remendos velhos em roupa nova. Parecem querer ensinar Jesus a trabalhar no coração do homem, quando deveriam atentar para o que Ele nos ensina. Querem ajudar o Cristo no processo da redenção. Parecem querer administrar o universo no lugar do Criador. E, com tudo isso, acabam criando um “outro evangelho”.
Mas o que o senhor acha, pastor? insistia o irmão comerciante, mesmo depois da minha resposta.
Acho, sinceramente, irmão, que a liderança cristã precisa estudar para ensinar os crentes a enxergar o Evangelho biblicamente correto. Os crentes precisam estudar. Ler mais a Bíblia. Se aprofundar na cultura bíblica. Buscar profundamente intimidade com Deus para que o Espírito Santo lhes dê sabedoria e conhecimento.
É verdade, pastor! concordou o rapaz, sempre enfatizando as “doutrinas” sufocantes da religião evangélica.
Finalmente, terminou o intervalo, e chegou a hora de eu voltar à sala de aula. E eu dei graças a Deus.
Mais tarde, o motorista que me levou de volta ao hotel, ao passar em frente de uma igreja evangélica, comentou:
Professor, os pastores desta cidade são tudo safados. Tudo corruptos.
Eu fiquei indiferente com aquela súbita informação-afirmativa, e perguntei por quê?
Esse pastor aí disse ele, apontando para a igreja me pediu seis mil reais para fazer os crentes votarem na minha esposa que é candidata a vereadora.
É mesmo? espantei-me.
É! E ele já pegou dinheiro do prefeito para apoiá-lo e fazer a igreja ficar do lado do prefeito, que está tentando se reeleger.
Fiquei estarrecido e me questionando: que igreja é essa que prega para mulheres que é pecado usar calça, batom, aparar cabelos e pintar unhas e, ao mesmo tempo, mete a mão no bolo da corrupção política? Depois de tudo ainda têm a coarem de, no culto, levantar a mão suja para o alto e gritar “amém!, glória a Deus!, aleluia, irmãos!”. Não tem jeito. Precisamos estudar as Escrituras e orar. Do contrário, a igreja estará perdida no labirinto da hipocrisia religiosa. Sem precedentes. Mas o apóstolo Paulo nos alerta:
“O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal, apegando-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honrar uns aos outros. No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor” (Rm 12.9-11).
“Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões... Não nos julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não podes tropeço ou escândalo ao vosso irmão. Eu sei e estou persuadido, no Senhor Jesus, de que nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera; para esse é impura” (Rm 14.1; 13,14).
Refletir sobre estas palavras da Bíblia me faz entender que precisamos rever nosso conceito de conduta cristã e reorganizar a nossa vida com Deus. A ética da vergonha, no âmbito da moral religiosa, é o princípio da busca de santidade em Cristo Jesus, o Senhor. Santidade, na minha opinião, é caráter. Se temos caráter, temos santidade em Deus. Se não o temos, a santidade está longe de nós. Se temos caráter, temos espiritualidade. Se não temos caráter, somos apenas falsidade.
Como escreveu Voltaire, “é assim que se vê, neste vasto quadro de demência humana, os sentimentos dos teólogos, a superstição dos povos e o fanatismo: variados, mas sempre os mesmos ao lançar a terra em brutalidade e calamidade”.

É preciso se divorciar da religião para poder se amar a Deus. A Bíblia ensina que não se pode amar a dois senhores: ou se ama a lei (a religião) ou a graça (a vida abundante em Deus), conforme se pode lê em Romanos 10.4.