Fim
de uma era? Ou início de novas incertezas?
Holanda
Júnior, prefeito eleito de São Luís, terá que afastar abutres e hienas ou
simplesmente se misturar com eles
Por BATTISTA
SOAREZ
Mestre em Teologia
pública e social, escritor, teólogo e jornalista.
Edivaldo Holanda Jr promete mudança |
A eleição de Edivaldo Holanda Júnior para
prefeito de São Luís pode representar o fim de uma era e
início de outra. O recomeço de um futuro político esperançado ou frustrado. Ou
simplesmente um ponto de interrogação acima de tudo não especificado e, ainda,
cheio de dúvidas políticas e ideologias socialmente forjadas na força de
vontade ainda muito prematura. Pode ser que ele dê início a uma nova história
ou simplesmente a novas incertezas.
Por
outro lado, a despedida de João Castelo da vida pública sinalizou não apenas
uma derrota, mas o sentimento de perda e frustração da velha oligarquia
política cheia de vícios e dona de um discurso característico de dominação e
predomínio das facções populares. Uma oligarquia que pensava nunca chegar ao
fim. Que achava que o dinheiro público era a cuia de farinha da mãe Joana. E
que a boa fé do povo nunca criaria vergonha.
João Castelo se despede da vida pública decepcionado. |
Castelo
representava um grupo de partidários que sabe utilizar manobras conjecturais e
casuísticas como conjunto de processos políticos para captar e utilizar as
paixões populares em benefício de sua carreira e de seu patrimônio pessoal. Uma
espécie de mais-valia política dentro
do conceito moderno de capitalismo político. Utiliza-se da política para
enriquecer ilicitamente, um vício que vem se arrastando desde o período
entreguerras (1918-1939) em que o mundo via-se dividido entre os regimes
nacionais totalitários e as democracias. No Brasil da década de 1930, as
principais correntes antagonistas eram derivadas do comunismo e do fascismo.
O
fascismo era representado pelo movimento integralista — fundado pelo escritor
paulista Plínio Salgado (1895-1975) —, voltado para a classe média. Opositor do
comunismo, este regime condensava parte das forças da direita, dos militares,
da classe média e dos conservadores. Coincidiu, também, com o Estado Novo
(1937-1945), marcado pelo período de governo totalitário do presidente Getúlio
Vargas. O lema integralista era Deus,
pátria e família e sua simbologia seguia o exemplo dos regimes de Hitler e
Mussolini ao abusar de sentimentos e símbolos nacionalistas como a camisa verde
e a saudação indígena anauê.
A
atual democracia, silenciosamente autoritária nos seus vieses governistas, foi
lecionada pelo regime integralista. Portanto, Castelo, José Sarney e boa parte
dos políticos com mais de sessenta anos de idade são safra das democracias que
se fundaram naquele período. O movimento integralista, por exemplo, era contra
o capitalismo internacional, todavia jamais questionava a propriedade privada dos
meios de produção. E, por fim, o Estado Novo foi feito imagem e semelhança do
integralismo. E desse cruzamento surge a democracia atual. Ou seja, a política
é pregada como democrática. Mas o espírito da nossa democracia é autoritário e,
portanto, integralista. Tudo no atual sistema político brasileiro converge para
um domínio totalitário incurável.
Isto
justifica o estranho apoio de Roseana Sarney a João Castelo no segundo turno
das eleições municipais de 2012. Para o leitor entender melhor, vale dizer,
ainda, que os integralistas passaram a dominar setores da direita radical no
Brasil daquela época. E daí surge a democracia que, hoje, nos governa. Ela é a
grande protagonista das burocracias, dos desvios de verbas públicas, das
injustiças sociais, das leis atrapalhadas em si mesmas no judiciário, das CPIs
e das falcatruas políticas. Ou seja, um balaio-de-gatos
familiar.
Edivaldo
Holanda Júnior, por outro lado, ainda é aprendiz do mesmo sistema do qual João Castelo,
agora, está se despedindo depois de 41 anos de vida pública. Apenas com outra
roupagem. E esta é a verdade. Claro! Quando entrou na política, há quatro
décadas, Castelo também era jovem. E entrou no sistema da mesma maneira que
Holanda Júnior está entrando: com promessas e sonhos. Todos entram da mesma
maneira. Percorrem o mesmo caminho. Utilizam singularmente a mesma tática:
promessas, promessas, promessas. Mas o sistema não permite que nenhuma das
promessas feitas seja cumprida. Só é feita, na verdade, aquela parte que serve
para alimentar o próprio sistema.
E
nesse sistema, a briga é partidária. Não por qualidade nas políticas públicas.
A briga é por poder. Nunca por melhorias. A briga é por cargos públicos. Nunca
por uma administração transparente. A briga é por dinheiro. Nunca por
honestidade na aplicação dos recursos.
O
medo dos eleitores se refere ao grupo que apóia o prefeito eleito Edivaldo
Holanda Júnior. E isso procede. São, de fato, os mesmos personagens que
protagonizaram o caos no governo Jackson Lago. Gentes gananciosas pelo dinheiro
público. Que fizeram festa com o dinheiro do povo como abutres sobre carniça.
Eram verdadeiras hienas rindo das necessidades dos desfavorecidos, rindo das
desgraças dos miseráveis.
Júnior
deverá ter pulso para afastar esses abutres e hienas ou simplesmente se
misturar com eles. E, assim, fazer diferença na história política de São Luís ou
repetir as mesmas cenas que ocorreram com Jackson Lago. É esperar pra ver.
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