O
silêncio do fenômeno
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PR. BATTISTA SOAREZ
Escritor, jornalista, teólogo, sociólogo e professor universitário
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A PALAVRA FENÔMENO tem uma explicação em especial. Alguns lexicógrafos a definem como, dentre outros significados, “pessoa que se distingue por algum talento extraordinário”. Quero me ater a este ponto para falar das eleições de 2020, em particular do pastor Fábio Leite.
Mas,
antes de falar diretamente do pastor candidato, quero dizer algo sobre minha
experiência em análise política como jornalista e escritor.
Nunca
fui candidato, embora tenha recebido convite por algumas vezes. Todavia, minha
experiência com política tem a mesma idade da minha vida jornalística: 35 anos.
Comecei em 1985 no jornalismo, e sempre transitando no meio político e, portanto,
escrevendo sobre política. Fui assessor de comunicação em duas casas
legislativas e dei consultoria de gestão em algumas prefeituras no estado. Com isso,
aprendi muita coisa sobre política. Aprendi, inclusive, com as decepções e
mentiras que existem no meio. Não há escola de mentira maior do que na
política.
Em
síntese, meu primeiro contanto com um ensaio sobre política se deu ainda no
final da década de 1980, quando li Wolfgand Leo Maar o qual escreveu o livro O que é política?, publicado pelo antigo Círculo do Livro. No seu texto, Maar
escreve o seguinte: “A política é uma referência permanente em todas as
dimensões do nosso cotidiano na medida em que este se desenvolve como vida em
sociedade”.
Portanto,
uma vez que a política é parte da nossa vida diária, me tornei no mínimo um
observador da política. Aprendi, ao longo da minha carreira jornalística, que
política serve para se atingir o poder. E daí por diante, política é
simplesmente a própria atividade exercida no plano desse poder. Na maioria das
vezes, é um jogo sujo e injusto. Logo fica claro que a lógica das eleições
descortina o sentido de que elas, as eleições, são armas que servem para
confirmar ou para transformar realidades. O grande problema é quem vai
operacionalizar essas armas.
Durante
as entrevistas que fiz com o pastor Fábio Leite, vi um homem visionário. Um
cidadão que nutre respeito pela vida e que tem uma visão acima de tudo planetária:
centrada na “pessoa” e em “pessoas”. Quando recebeu o convite de um grupo para
ser candidato, Leite silenciou, olhou seguidamente para os lados e asseverou:
“me deem um tempo para eu orar”. Alguns dias se passaram, nova reunião. Fábio
Leite, mais uma vez, foi ponderado nas palavras: “Eu só entro na política, se
Deus for junto comigo. Se Ele não for comigo, pois saibam que eu não irei”.
Dias
mais tarde, depois de entender a confirmação de Deus, Leite aceitou o convite.
Renunciou a capelania militar e mais recentemente ficou sem igreja para
pastorear. O pastor José Guimarães Coutinho, presidente da Assembleia de Deus
em São Luís, não aceitou o pastor Fábio ser candidato e pastorar ao mesmo tempo. Teve de entregar a área onde pastoreava. As renúncias do pastor em prol da sua candidatura, portanto, demonstram um ato
de fé e coragem, diante daquilo em que ele acredita.
De
conduta ilibada e pai de família exemplar, pastor Fábio Leite é benquisto no
meio evangélico, nas comunidades e nas instituições por onde trabalhou,
inclusive na Polícia Militar do Maranhão. Seu nome chegou a ser cogitado para ser
candidato a vice-prefeito ao lado de Eduardo Braide. Mas Braide rejeitou nomes
ligados à igreja evangélica, optando por uma escolha de natureza ideológica.
Escolheu a professora e policial militar Esmênia Miranda. Segundo Braide, a
escolha se deu “pela sua história, competência, capacidade, trabalho na
educação e história de vida”. Com isso, subestimou o insubestimável.
Como tudo na vida tem uma lógica, a escolha do candidato Eduardo Braide não parece agregar muita coisa que venha contribuir para sua vitória rumo à prefeitura. A menos que haja um milagre. Ele teria que escolher um nome que pudesse ser peso na sua eleição logo no primeiro turno. Agora, por conta do erro estratégico, vai ter de enfrentar uma coesa união de grupos com muito dinheiro no segundo turno. Braide esqueceu que o peso da soberba só puxa para baixo, levando à queda — já dizia Salomão, o grande sábio da Bíblia. E soberba parece que tem sido o problema do candidato do PODEMOS.
Depois
de uma reunião de grupo favorável a Braide, conversei pessoalmente com o então
pré-candidato informando que iria lhe ligar para uma entrevista. No dia
seguinte, liguei dezenas de vezes, mas fui ignorado por ele. Mandei mensagem
via whatsapp, mas Braide leu e mais uma vez me ignorou, o que prova um certo
tom de soberba e menosprezo. Não sei se pelo jornalista ou pelo pastor
evangélico. De qualquer forma, foi um menosprezo a um eleitor de São Luís. E para ser bem claro, não
costumo votar em político metido a besta.
No
geral, é pura ingenuidade de quem quer que seja ignorar ou subestimar, nos dias
de hoje, a igreja evangélica como grupo social. As igrejas evangélicas, juntas,
somam mais de 30 por cento da população de São Luís. É um grande público capaz
de definir qualquer eleição. Se Braide perder as eleições 2020 para prefeito,
será por conta da sua escolha mal orientada. Caso ocorra, ficarão a lição e o exemplo para futuras situações políticas.
Política
é multiplicidade resultante de estratégias da ciência do marketing e das
relações. As facetas, no bom sentido, não podem ser ignoradas. Existem “política”
e “políticas”. Uma delas, como disse Maar, goza de indiscutível unanimidade.
Então, nesse cenário de “política” e “políticas”, os personagens e/ou atores
precisam estabelecer visão do “todo” e do “mínimo”. Do “mais” e do “menos”. E
isto vai além da referência ao poder político, à esfera da política
institucional.
Um
deputado ou um órgão de administração pública são políticos para a totalidade
das pessoas. “Política” é... relações com pessoas. “Políticas” são... relações
com negócios, com a “coisa” adversante. Há um espaço onde tudo isso se realiza.
Esse espaço é um ambiente formador de visão. Se o candidato ignorar isso ou
cometer erros estratégicos porque não tem visão, como acaba de fazer o candidato Eduardo Braide, haverá
perdas consideráveis e, portanto, redução de possibilidades. Será que Braide tem
noção do que isso significa? Ficou claro que não. O Braide carismático não tem
visão estratégica do espaço “político”. Ignorou o ignorável. E tomou decisões
com base meramente em “políticas” e relações de “negócios” adversantes. E
agora? É esperar pra ver.
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