OPINIÃO
Por Battista Soarez
(Jornalista, escritor e professor universitário)
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GEORGE ORWELL E O FIM DOS TEMPOS
Totalitarismo amplificado numa sociedade absurdamente vigiada, controlada e sem liberdade
O ESCRITOR BRITÂNICO GEORGE ORWELL (1903-1950) viveu apenas 46 anos, mas o suficiente para entrar para a história como um dos maiores escritores da era contemporânea. Orwell previu, nas suas obras, um futuro sombrio, envolvendo regimes absolutistas, política e sistemas autoritários, bem como guerras, controle total da população e supressão de direitos. O olhar de Orwell para os dias de hoje coloca às claras questionamentos e pontos de reflexão sobre os rumos da humanidade. São fatos complexos e difíceis de tolerar.
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Quem acompanha a geopolítica, numa perspectiva panorâmica globalista, percebe que, atualmente, está tomando posse do mundo um regime político-econômico totalitário implantado em uma realidade distópica, do jeito que George Orwell previu, e do jeito que, no Brasil, o ministro Alexandre de Moraes está se comportando no Supremo Tribunal Federal (STF). Ou seja, um totalitarismo amplificado, numa sociedade controlada e vigiada, segue os ditames de uma narrativa que expõe os projetos perigosos da sociedade secreta cujas tendências seguem um horizonte escatológico único. É um cenário de complexidade histórica sem dimensionalidade, no qual não haverá espaço para liberdades e tudo, de acordo com a visão de George Orwell, é monitorado e controlado. O Grande Oriente está observando cada habitante da face da terra. "O olho que tudo vê" sempre está em prontidão, instalado no portal da entrada de cada cidade do mundo. Câmeras interligadas por satélites estão instaladas em cada esquina, nas ruas, e nos aparelhos de TV de cada casa em todos os lugares do planeta. Informações são transmitidas em tempo real. Ninguém escapa.
De maneira inteirissa, a população mundial --- reduzida e rigorosamente identificada por meio de códigos e satélites --- será tolhida por um policiamento completamente desmilitarizado, todavia pior do que o sistema militar tradicional. Até porque, no regime da Nova Ordem Mundial, até a polícia (um sistema ferrenho e cruel de segurança sem fronteira) será vigiada.
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No romance 1984, Orwell é o crítico da sua própria obra, relutando entregar os originais para os editores da Secker & Warburg, em Londres, no ano de 1948. Era dezembro e o escritor não estava satisfeito com o resultado da sua obra. "É uma boa ideia, mas completamente arruinada", disse ele a um amigo, considerando a obra uma "barafunda e tanto". Orwell chegou a dizer para Fredric Warburg, um dos sócios da editora, o seguinte: "Olha, não apostaria numa vendagem alta", considerando, ele mesmo, um livro "abominável" e "horroroso". Mesmo assim, os editores arriscaram na publicação da obra e, logo, faturaram milhares de libras na época.
Agora, por que o escritor agiu daquela maneira? O fato é que Orwell não entendeu a visão que o espírito literário lhe concedeu naquele momento. Era cedo demais para ele entender o que iria acontecer no futuro. Os escritores costumam prever o futuro cerca de 50 anos à sua frente. Eles mesmos não têm noção disso. Todavia, Orwell não estava preocupado com a vendagem da obra, mas, sim, com a mensagem que ele queria transmitir para as futuras gerações. E qual era a mensagem?
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A mensagem era que ridículos e perigosos tiranos, como vemos na política governamental do Brasil a partir de 2022, surgem de repente e ameaçam a liberdade com a evidente narrativa de uma falsa democracia, em que paz é guerra, amor é ódio, liberdade é sujeição às vontades impostas pelas forças governamentais, verdade é a narrativa mentirosa da política estatal, justiça é um conjunto interminável de injustiças (inclusive de leis injustas) orquestradas e manobradas pelo sistema judiciário, e assim prossegue o distorcimento de valores e princípios da sociedade tradicional. Mas a principal coisa que passa a dominar o mundo é contar mentiras deliberadas e acreditar nelas, como diria o próprio George Orwell.
O romance 1984, diferente do que muita gente pensa, não é uma crítica ao comunismo, mas, sim, uma crítica ao totalitarismo, conforme explicou o jornalista e escritor Ronaldo Bressane, autor do prefácio da obra na edição da editora Tordesilhas. Nesse caso, totalitarismo pode ser um regime comandado por uma tirania governamental qualquer, que pode ser de direita ou esquerda, desde que seja uma estrutura de poder estatal curvada e rendida ao sistema globalista dominante. Desta maneira, o romance 1984 é o livro que melhor descreve as engrenagens do poder global, uma vez que sua leitura coloca o leitor em sintonia com os abusos e as manipulações da realidade geopolítica e geoeconômica da sociedade global.
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Por fim, na visão de Orwell, a história mundial não é um "joguete" de mocinhos e bandidos, mas um aviso de que todos nós temos potencial para sermos corrompidos pela "democracia" do sistema globalista que, na verdade, é uma rede mundial de corrupção. Nesse sistema --- que está tomando conta do mundo a todo "vapor" e que, em 2022, começou a tomar conta da América do Sul a partir do Brasil --- guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força. Uma falsa narrativa, enfim, passa a ser construída, se apoderando das palavras "paz", "amor" e "fartura". Na verdade, são engodos em que o discurso de "paz" vem para supervisionar a guerra, o discurso de "amor" espiona os cidadãos e a narrativa da "fartura" vem com tudo para controlar a economia mundial.
Finalmente, a crítica internacional, nas palavras do escritor britânico Anthony Burgess, chamou o romance 1984 de "o código apocalíptico dos nossos piores medos". É o fim dos tempos. E, pelo que vemos, George Orwell captou o espírito do pós-guerra e dos primeiros passos da Guerra Fria. Ao mesmo tempo, ele acertou na ideia escatológica de uma sociedade mergulhada na vigilância do indivíduo e na perda de privacidade, na manipulação midiática e pós-verdade, governos autoritários, alienação e imbecilização das sociedades, e muitos outros absurdos que o mundo assistirá sem poder fazer absolutamente nada.
(Leia Apocalipse 13 e aguarde a próxima matéria).
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