Atire a primeira pedra
Por que homens e mulheres de Deus estão caindo em
pecado? Por que a igreja ainda não assimilou a justiça do perdão?
Por Battista Soarez
Tenho
acompanhado, com muita tristeza, a publicização [nos blogs e nas redes sociais]
de pecados envolvendo pastores e líderes cristãos que, por alguma razão,
cometeram falhas em sua vida particular. Alguns deles são líderes importantes
como, por exemplo, a bispa Ivonete Sena, pastor Tarquínio e, mais recentemente,
o bispo Mário Porto. Essas pessoas são pastores, mas, também, são pessoas normais,
que cometeram algo próprio da natureza humana.
Tudo
o que essas pessoas fizeram foi fazer sexo quando sua saúde sexual deu sinal de
que era o momento exato de suprir tal necessidade. Um dia elas não terão mais
energia para isso porque vão estar numa idade em que o vigor físico da
juventude já terá se passado (Eclesiastes 12.1). Mas agora elas têm esse vigor
e, então, caíram, caem e sempre vai ter alguém caindo. E isso é normal. É
normal porque cair faz parte do processo de construção-reconstrução espiritual
do homem escolhido por Deus para ser exemplo de vida perante a comunidade-mundo.
O homem é um ser “moral-espiritual” e cai para que ele não se perca no plano da
vida eterna.
O
cair de um líder cristão é normal também pelo fato de que a igreja precisa
praticar o exercício do perdão: na queda de um pastor, é a oportunidade exata
de a igreja exercer este princípio da justiça de Deus e, assim, praticar o
ministério da misericórdia (Tiago 2.13). Se a igreja não perdoa o pastor, ela
está cometendo o pecado da injustiça (Efésios 4.32; Colossenses 3.13). Pois
está quebrando um princípio da justiça divina que é o “princípio do perdão” (Mateus
6.15; 7.2; Lucas 6.37). Uma igreja que não sabe perdoar o seu pastor que caiu
está pecaminosamente perdida no caminho inverso da salvação (Mateus 18.35; Lucas
6.37).
Por
conseguinte, a igreja precisa compreender que a queda de um cristão, embora
sendo líder, faz parte da vida cristã normal. Anormal é a atitude de um outro
ser humano, sujeito aos mesmos erros, pegar o pecado sexual de alguém e sair
espalhando pelos meios de comunicação como se fazer sexo fosse coisa de outro
planeta. Anormal é as pessoas acharem que pastor é Deus e que, portanto, não
pode errar, como se o fato de alguém se tornar pastor significasse deixar de ser
humano. Anormal é os crentes lerem a Bíblia e, apesar disso, ignorarem os ensinamentos
de Jesus que diz em sua palavra afirmativamente: “Se, porém, não perdoardes aos
homens [as vossas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas”
(Mateus 6.15).
Jesus
disse a Pedro que o exercício da capacidade do perdão não é sete vezes, mas
setenta vezes sete (Mateus 18.21-22). Isto quer dizer que o princípio do perdão
deve ser uma prática diária e contínua (Lucas 17.3-4). E que a disciplina para
quem foi afetado, ferido ou imolado pelo pecado não é exclusão, é tratamento (cf.
Gálatas 6.1-2). Ferida se cura é com remédio e não com pancada. Alma ferida se cura é com amor e perdão e não com indiferença e/ou rejeição.
Perdão
é um princípio da justiça divina que, na língua hebraica do Velho Testamento,
significa “defesa”. Ou seja, Deus agindo em defesa do seu povo. Portanto, quem não exercita a capacidade do perdão está fora do plano da justiça de Deus.
Quando um pastor cai, repito, é o momento certo de a igreja exercitar o
aprendizado do perdão como princípio da justiça de Deus.
Por
outro lado, pastores que não ensinam ou não preparam a igreja para saber perdoar,
pagarão caro por essa omissão. Pastores que não perdoam quando alguém peca, um
dia sofrerão a dor da necessidade de serem perdoados. Lembre-se: perdão não é
doutrina, é princípio. E qual é a diferença? A diferença é que “doutrina” é
falível e tem valor apenas denominacional, enquanto que “princípio” é infalível
[é eterno] e tem valor universal.
Todas
as pessoas crentes com quem conversei e notei sintomas de soberba, caíram e
passaram pela dor da vergonha moral, inclusive líderes de igreja. A verdade é
que quedas pecaminosas servem para nos corrigir quando somos soberbos. Muitos
que caem, caem não para sua derrota, mas para sua libertação do inferno da
soberba e para sua graciosa vitória espiritual. Quando caímos, somos jogados no
leito da dor moral e ali refletimos sobre nossa limitada condição humana. E aí
é onde somos tratados e reconstruídos.
Deus
traz uma variedade enorme de meios para trazer saúde à sua igreja que está
doente. E se um pastor cai, isto quer dizer que sua memória espiritual foi gravemente
ferida e, então, precisa de cura (leia o meu livro “E assim o amor acontece”, Arte Editorial, SP, 2013).
Há
doenças que a medicina, a psiquiatria e a psicologia não curam. A doença do pecado,
por exemplo, não pode ser tratada por psicólogos ou psiquiatras, mas pelo poder
de Jesus através de um conselheiro cristão que saiba ministrar a psicologia do
perdão. Não podemos discriminar e excluir uma pessoa que pecou, mas acolhê-la,
perdoá-la e amá-la. É a única forma de vencer o pecado. Algumas doenças não
podem ser curadas porque a sua causa não está no corpo físico, mas na alma.
Isto é bíblico. Algumas pessoas nos dias de Jesus não puderam ser curadas sem,
antes, suas almas serem tratadas.
Certa
vez, antes de ministrar a cura num homem, Jesus disse-lhe: “Filho, estão perdoados
os teus pecados” (Marcos 2.5). Isto significa que uma cura física não pode
acontecer se a causa da doença está na alma. Só depois de perdoar o pecado
daquele homem, ou seja, de tratar a doença da sua alma, foi que Jesus lhe
disse: “Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa” (Marcos 2.11).
Muitos
pastores que estão pecando e não conseguem parar de pecar é porque suas almas
estão doentes. O fato de eles buscarem saciar seus desejos no prazer sexual é
porque suas almas estão buscando cura dos seus problemas existenciais no lugar
errado. No fundo, estão procurando saciar sua fome de Deus no prazer sexual,
por ser o sexo a necessidade humana mais próxima da espiritualidade. O sexo é,
portanto, uma forma de todos nós humanos resolvermos momentaneamente nossos
problemas de alma, saciando, por um pouco de tempo, nossa sede de Deus. Por um
pouco. Porque, logo depois, volta tudo de novo.
Um
pastor não cai por acaso. Quando se vê um pastor cair, o problema não está no
seu caráter ou no seu nível de santidade, mas na vaidade do seu coração. A
queda de um pastor, portanto, não é um problema moral ou falta de caráter, como
muitos pensam e falam. Mas é um problema de soberba espiritual que afeta sua
vida no plano físico (Jó capítulos 3, 40 e 41). É plenamente possível ter
caráter, ser santo e justo e, mesmo assim, ser soberbo. Foi o caso de Jó e do
jovem rico confrontado por Jesus na passagem de Mateus 19.16-22. Jó era justo,
santo e honesto servo de Deus. O jovem rico era justo, fiel e aplicado na palavra
do Senhor, sem nada que desabonasse sua conduta. Mas essas pessoas tinham um
problema em comum: eram soberbas. E a soberba precede a queda (Provérbios
16.18).
A
vaidade do coração é o pecado da soberba. A soberba acontece quando o líder ou
qualquer crente em Jesus comete a infelicidade de achar que o seu nível de
espiritualidade e santidade está acima do nível dos outros. Quando ele pensa
que a sua moral é mais importante do que a moral dos outros. Foi o que
aconteceu com os líderes mencionados acima e com outros líderes caídos Brasil a
fora. Líderes importantes como o bispo Mário Porto, bispa Ivonete Sena, pastor
Tarquínio, pastor Caio Fábio e muitos outros que caíram e estão caindo pelas
mesmas razões, caíram e caem não para a sua perdição ou derrota, mas para que
Deus os resgate do poço pecaminoso da soberba.
Esses
líderes são extremamente importantes para o reino de Deus porque trabalham com
a libertação da consciência da comunidade-povo. O povo vive numa terrível
escravidão mental. E esses homens e mulheres príncipes de Deus têm a missão de
libertar essa gente-comunidade-mundo dessa escravidão mental. Por isso mesmo
são alvos do ódio estarrecedor do diabo. O diabo os persegue colocando nos seus
corações a soberba, o orgulho, a santarronice, o patamazismo etc. E, então,
chegam a um momento da queda. Deus permite que o diabo os derrube.
Mas
a queda espiritual desses homens e mulheres de Deus é, consequentemente, um
antídoto contra o pecado da soberba que se infiltrou nas suas vidas por meio da
vaidade do coração. Este é o método perfeito do grande amor de Deus por nós para
livrar-nos da porta do inferno. Mário Porto, Ivonete Sena, Tarquínio, Battista
Soarez, líderes de grandes igrejas, presidentes de convenções, o papa e todos
nós que somos crentes em Jesus e destaques na comunidade da fé precisamos entender
que a nossa espiritualidade não está acima da espiritualidade dos outros. Temos
que ter a consciência de praticar o princípio do perdão uns para com os outros
(Efésios 4.32) e, assim, vivenciar profundamente a justiça e o grande amor de
Deus.