COLUNA LEITURA LIVRE
(Jornalista e escritor)
Em discurso na ONU, Lula diz que “Pacto pelo Futuro” precisa de “coragem e ousadia”
Presidente brasileiro faz críticas à ONU e tem microfone cortado diante da plateia
COM A PUBLICAÇÃO do nosso livro O mundo em órbita de alerta: desespero ou esperança? (AD Santos Editora, Curitiba-PR, 2024), temos acompanhado os eventos mundiais da geopolítica e da apocalíptica moderna pelo que, na linha do tempo e da história, vem acontecendo evolutivamente. No meu ministério — quer pregando quer escrevendo — tenho instruído a igreja e a sociedade em geral (por meio do jornalismo opinativo na imprensa secular) sobre questões ultramodernas e, consequentemente, o fim dos tempos. No livro citado acima, discorremos (eu e mais 20 autores) sobre questões de alerta que dão sinais das implicações entre geopolítica e apocalíptica. E, nesta semana, estamos acompanhando a Conferência da ONU e suas temáticas que vêm sendo as mesmas desde de 2015, quando foi concluída a Agenda 21 das Nações Unidas, agora conhecida como Agenda 2030 da ONU.
No dia 22 de setembro, na Cúpula do Futuro, o presidente brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva, fez criticas à ONU e, mesmo tendo o microfone cortado, manteve-se falando. Lula disse que 'falta ambição' e pediu reformas. O presidente discursou na Cúpula do Futuro, em Nova York. O evento, que antecede a Assembleia Geral das Nações Unidas, começou nesta terça-feira (24/09/2024).
O petista criticou o ritmo de cumprimento de metas globais, dizendo que caminhamos para um “fracasso coletivo”. Ele afirmou que o pacto aprovado não é suficiente para lidar com as crises estruturais e criticou a falta de ambição da comunidade internacional para reformar as instituições. Lula fez um discurso pujante e agressivo. Disse que, ainda que o acordo sirva de guia para o futuro, faltou “ambição e ousadia”, e que “a crise da governança global requer transformações estruturais”. O tom dessa fala do presidente brasileiro recorre a temas sobre os quais ele tratou com líderes mundiais nas suas viagens à China e à Europa logo que assumiu a presidência em 2023.
O Leitura Livre ouviu os discursos de Lula (do dia 22, na abertura da Cúpula do Futuro, e de hoje, quarta-feira, 24, na abertura da Assembleia Geral da ONU) e observou que o presidente disse que a maioria dos órgãos internacionais “carece de autoridade e meios de implementação para fazer cumprir suas decisões”. Ele fez uma cobrança por “transformações estruturais” para solucionar o que chamou de “crise da governança global”. Sabe o que isso significa? Lembra que ele, quando solto da prisão e candidato, disse ser a favor da Nova Ordem Mundial? Pois é. A “coisa” começa a caminhar exatamente por aí.
Lula apontou que, atualmente, “a maioria dos órgãos carece de autoridade e meios de implementação para fazer cumprir suas decisões”. Disse que “a Assembleia Geral perdeu sua vitalidade e o Conselho Econômico e Social foi esvaziado. A legitimidade do Conselho de Segurança encolhe a cada vez que ele aplica duplos padrões ou se omite diante de atrocidades”, detonou o presidente. Disse, também, que a “pandemia, os conflitos na Europa e no Oriente Médio, a corrida armamentista e a mudança do clima escancaram as limitações das instâncias multilaterais”.
Ele ventilou, ainda, antes de ter o microfone cortado, na sua fala do dia 22, que o Sul Global “não está representado de forma condizente com seu atual peso político”. Dentre as reivindicações de Lula, a reforma do Conselho de Segurança é uma das mais antigas de sua agenda.
Durante seus dois primeiros mandatos, o petista já defendia a reestruturação do órgão e buscava que o Brasil ocupasse um dos assentos permanentes do Conselho. Desde a sua criação, o corpo é formado por dez países que rodam em suas cadeiras e cinco permanentes. São eles Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França. Os chamados P5 possuem poder de veto para as decisões de um dos poucos órgãos diplomáticos que podem tomar decisões de caráter mandatário na comunidade internacional. O que isso quer dizer? E o que tem a ver com a apocalíptica moderna?
A Agenda 2030 e o “Pacto para o Futuro”. Durante o discurso, Lula defendeu que os objetivos da Agenda 2030 foram o “maior empreendimento diplomático dos últimos anos”. Em 2015, os 193 países-membros das Nações Unidas estabeleceram uma agenda comum de 17 objetivos de desenvolvimento sustentável e 169 metas que devem ser atingidas até 2030. (Nosso livro trata dessa questão). Porém, devido à inércia da comunidade internacional em promovê-los com firmeza, o presidente aponta que o acordo caminha no sentido de se tornar “o nosso maior fracasso coletivo”. E disparou: “No ritmo atual de implementação, apenas 17% das metas da Agenda 2030 serão atingidas dentro do prazo”.
A Cúpula do Futuro foi organizada com o objetivo de coordenar a ação global para lidar com esses desafios de governança. Os líderes da ONU adotaram, no domingo (22), o Pacto para o Futuro com acordos sobre reformas necessárias para o sistema multilateral.
“Nossa responsabilidade comum — diz Lula — é abrir caminhos diante dos novos riscos e oportunidades. O Pacto para o Futuro nos aponta a direção a seguir. O documento trata, de forma inédita, temas importantes como a dívida de países em desenvolvimento e a tributação internacional (um dos assuntos da apocalíptica moderna, de que trata o livro O mundo em órbita de alerta). A criação de uma instância de diálogo entre Chefes de Estado e de Governo, e líderes de instituições financeiras internacionais promete recolocar a ONU no centro do debate econômico mundial”, apontou Lula no seu discurso. “Todos esses avanços serão louváveis e significativos. Mas, ainda assim, nos faltam ambição e ousadia”, reafirmou.
Enfim, no evento, o Pacto para o Futuro foi aprovado. O documento contém compromissos sobre reformas no sistema multilateral. A Cúpula do Futuro precede a Assembleia Geral da ONU e reúne chefes de Estado e governos dos 193 Estados-membros da organização, além de representantes da sociedade civil, pesquisadores, setor privado e juventude. O evento também busca consenso para o Pacto Digital Global e a Declaração sobre Gerações Futuras.
“O Pacto Global Digital é um ponto de partida para uma governança digital inclusiva, que reduza as assimetrias de uma economia baseada em dados e mitigue o impacto de novas tecnologias como a Inteligência Artificial”, afirmou Lula.
Reformas. Embora tenha classificado como significativos os avanços previstos no Pacto para o Futuro, o presidente ponderou que, ainda assim, falta ambição e ousadia aos líderes mundiais para promover maiores mudanças. Na avaliação exposta por Lula, a Assembleia Geral perdeu sua vitalidade e o Conselho Econômico e Social foi esvaziado. Além disso, ele defendeu que o Sul Global seja representado de forma condizente com seu atual peso político, econômico e demográfico. “Precisamos de coragem e vontade política para mudar, criando hoje o amanhã que queremos. O melhor legado que podemos deixar às gerações futuras é uma governança capaz de responder, de forma efetiva, aos desafios que persistem e aos que surgirão”, asseverou Lula.
Sem retrocesso. A importância de não haver retrocesso nos progressos alcançados nas últimas décadas também foi pontuada pelo líder brasileiro. “Não podemos recuar na promoção da igualdade de gêneros, nem na luta contra o racismo e todas as formas de discriminação. Tampouco podemos voltar a conviver com ameaças nucleares. É inaceitável regredir a um mundo dividido em fronteiras ideológicas ou zonas de influência”, disse, acrescentando que naturalizar a fome de 733 milhões de pessoas seria vergonhoso.
Combate à fome. Entre os ODS, estão a erradicação da pobreza e o fim da fome. Nesse contexto, Lula pontuou que, na presidência do G20 — grupo dos países com as maiores economias do mundo — o Brasil lançará uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza para acelerar a superação desses flagelos. A Cúpula de Líderes do G20 está agendada para os dias 18 e 19 de novembro deste ano, no Rio de Janeiro.
Clima.O presidente abordou, ainda, o tema das mudanças climáticas. “Os níveis atuais de redução de emissões de gases do efeito estufa e financiamento climático são insuficientes para manter o planeta seguro”, declarou. Diante desse cenário, Lula destacou que o Brasil vai trabalhar por um balanço ético global, em parceria com o secretário-geral da ONU, António Guterres, reunindo diversos setores da sociedade civil para pensar a ação climática sob o prisma da justiça, da equidade e da solidariedade. A iniciativa é uma preparação para a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em Belém, capital do Pará, em novembro de 2025.
Outros compromissos. Em visita oficial a Nova York até quarta-feira, 25 de setembro, Lula também participará da abertura do Debate Geral da 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), do evento “em defesa da democracia, combatendo os extremismos”, da abertura da segunda reunião de Chanceleres do G20, além de manter diversas reuniões bilaterais.
Na condição de atual presidente do G20, o Brasil contribui também nessa instância para impulsionar a reforma da governança global, por meio do lançamento de um Chamado à Ação, que deverá ser adotado na Reunião desta quarta-feira (25/9). Lula está acompanhado do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Outros ministros de Estado também cumprem agendas nas Nações Unidas. A delegação brasileira participa, igualmente, de reuniões de alto nível sobre temas como o fortalecimento do multilateralismo, a reforma da governança global, a defesa da democracia, consolidação da paz, entre outros.
Nosso livro O mundo em órbita de alerta: desespero ou esperança? trabalha esses eventos mundiais na perspectiva da geopolítica e da apocalíptica moderna, como já foi dito.
Discorremos sobre questões de alerta que dão sinais das implicações entre geopolítica e apocalíptica. E, nesta semana, estamos acompanhando a Conferência da ONU e suas temáticas.
O presidente brasileiro sempre defendeu a reestruturação da ONU e sempre buscou que o Brasil ocupasse um dos assentos permanentes do Conselho. Desde a sua criação, o corpo é formado por dez países que rodam em suas cadeiras e cinco permanentes. São eles Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França. Os chamados P5 possuem poder de veto para as decisões de um dos poucos órgãos diplomáticos que podem tomar decisões de caráter mandatário na comunidade internacional. O que isso quer dizer? E o que tem a ver com a apocalíptica moderna?
A Cúpula do Futuro foi organizada com o objetivo de coordenar a ação global para lidar com esses desafios de governança. Os líderes da ONU adotaram, neste domingo (22), o Pacto para o Futuro com acordos sobre reformas necessárias para o sistema multilateral.
“Nossa responsabilidade comum — diz Lula — é abrir caminhos diante dos novos riscos e oportunidades. O Pacto para o Futuro nos aponta a direção a seguir. O documento trata, de forma inédita, temas importantes como a dívida de países em desenvolvimento e a tributação internacional (um dos temas da apocalíptica moderna, de que trata o livro O mundo em órbita de alerta). A criação de uma instância de diálogo entre Chefes de Estado e de Governo, e líderes de instituições financeiras internacionais promete recolocar a ONU no centro do debate econômico mundial”, apontou Lula no seu discurso. “Todos esses avanços serão louváveis e significativos. Mas, ainda assim, nos faltam ambição e ousadia”, reafirmou.
Enfim, no evento, o Pacto para o Futuro foi aprovado. O documento contém compromissos sobre reformas no sistema multilateral. A Cúpula do Futuro precede a Assembleia Geral da ONU e reúne chefes de Estado e governos dos 193 Estados-membros da organização, além de representantes da sociedade civil, pesquisadores, setor privado e juventude. O evento também busca consenso para o Pacto Digital Global e a Declaração sobre Gerações Futuras.
“O Pacto Global Digital é um ponto de partida para uma governança digital inclusiva, que reduza as assimetrias de uma economia baseada em dados e mitigue o impacto de novas tecnologias como a Inteligência Artificial”, afirmou Lula.
Na avaliação exposta por Lula, a Assembleia Geral perdeu sua vitalidade e o Conselho Econômico e Social foi esvaziado. Além disso, ele defendeu que o Sul Global seja representado de forma condizente com seu atual peso político, econômico e demográfico. “Precisamos de coragem e vontade política para mudar, criando hoje o amanhã que queremos. O melhor legado que podemos deixar às gerações futuras é uma governança capaz de responder de forma efetiva aos desafios que persistem e aos que surgirão”, asseverou Lula.
No seu discurso desta terça-feira (24), Lula utilisou 18 minutos e 51 segundos. Eledestacou conflitos internacionais, mudanças climáticas e a necessidade de reformas nas instituições globais. O presidente brasileiro iniciou homenageando a delegação da Palestina, que, pela primeira vez, participava como membro da Assembleia Geral da ONU.
O discurso do petista, como sempre, foi carregado de expressões esquerdistas e parece atender orientações do sistema universalista que avança cada vez mais no projeto de "governança global". Governança global é exatamente o que a hermenêutica apocalíptica chama de controle total, na perspectiva da escatologia bíblica. Fala-se muito em governança por meio da inteligência artificial e a fala de Lula sobre isso propõe passos rápidos e ações concretas que possam acelerar o processo de governança global.
Lula novamente fez críticas ao Conselho de Segurança da ONU e destacou apelo por soluções diplomáticas. Na sua crítica diretamente ao Conselho, ele afirmou que “o uso da força sem amparo das leis internacionais virou uma regra”. E pontuou sobre o conflito na Ucrânia, defendendo que uma solução militar é cada vez mais improvável, ressaltando a necessidade de uma saída diplomática.
O chefe de Estado brasileiro também abordou questões ambientais, mencionando as recentes enchentes no sul do Brasil e a estiagem na Amazônia. Lula reafirmou o compromisso do Brasil com a preservação ambiental, mas cobrou dos países mais ricos o cumprimento das promessas de financiamento para o combate às mudanças climáticas.
Ao final, Lula concentrou-se na defesa de reformas amplas no sistema internacional. Propôs mudanças no Conselho de Segurança, na Assembleia Geral da ONU e nas instituições financeiras globais. Uma sugestão concreta foi a transformação do Conselho Econômico e Social da ONU no principal fórum para controlar e auxiliar no desenvolvimento e no combate às mudanças climáticas.
O discurso de Lula na ONU, enfim, reflete a postura do Brasil de buscar um papel mais ativo na arena internacional, defendendo mudanças estruturais na governança global e abordando temas cruciais para o futuro do planeta e da humanidade.
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