É de doer. O que hoje vemos na mídia diz algo sobre o qual precisamos refletir: algumas pessoas nascem homossexuais e são xingadas, discriminadas, molestadas e odiadas. A igreja, que deveria ter uma solução salvacional, se coloca como a mais irrefletida inimiga dessa classe de pecadores.
O que dizer, afinal? Qual o procedimento correto para se discutir o orgulho gay, de um lado, e a visão homofóbica dos grupos que não são homossexuais, de outro lado? E sobre a visão religiosa da igreja? O que se pode afirmar?
Para entrar nesta questão sem ferir nem a gregos e nem a troianos, vamos lembrar da mitologia grega. Muitos povos antigos falavam da primitiva androginia ou bissexualidade do ser humano primitivo. (Hoje não se fala mais em androginia como condição de bissexualidade humana; há outras razões discutíveis). Para aqueles povos, o deus supremo era andrógino e, portanto, tinha capacidade de se autogerar.
Nesse sentido, eles também admitiam a idéia de que – à semelhança do deus supremo, em uma infinidade de tradições – o primeiro antepassado humano, o homem primordial ou mítico, era andrógino. E isto passou a fazer parte da sua cultura e modo de pensar. Muitos comentários rabínicos, nas escrituras antigas, entendiam e ainda hoje entendem que Adão foi originalmente andrógino (pois, na verdade, a expressão hebraica para Homem se refere ao homem original, ser completo, reunindo em si os dois sexos), até que finalmente Deus separou a parte feminina e surgiu, então, a mulher Eva. Aliás, as palavras “Adão” e “Eva” aparecem somente depois de Deus ter feito a separação.
Isto significa que tudo do que Deus precisava para formar a mulher já estava no homem que, durante um bom tempo, caminhava sozinho pelo jardim do Éden. Platão e outros filósofos gregos tinham pensamentos semelhantes, bem como os australianos, os chineses, os indianos e outros.
Nessa constituição andrógina é que se concebia o ser humano original como esférico. A esfera, por sua vez, simbolizava a perfeição da totalidade. Em outras culturas, tratava-se de um grande ovo que depois originava o casal. Veja, ainda hoje, o famoso símbolo do Yang-Yin, uma esfera dividida harmonicamente por uma curva interna.
Outra situação simbólica desse conceito de androginismo são os rituais de muitos povos que em certas festas ordenam que os homens usem trajes femininos e as mulheres usem trajes masculinos, significando, assim, um retorno ao estado original perfeito do homem.
Por outro lado, a biologia dá a sua contribuição nesse sentido ensinando que o feto, em suas primeiras semanas, é de alguma forma andrógino, e pouco a pouco vai se definindo por um sexo ou outro.
A palavra androginia vem do grego “aner”, “andrós” – que significa “varão” – e “guiné”, “guinaica” – que quer dizer “varoa, mulher”. E assim se inicia a idéia da homossexualidade e, com ela, os problemas como o preconceito, a discriminação e o milenar sofrimento das pessoas que nascem com essa situação.
Antes de tudo, precisamos entender que:
Bissexualidade é o fato de o indivíduo sentir atração tanto por homens quanto por mulheres. É comum, na prática terapêutica, se ver casos de pessoas que são casadas, têm filhos, mas têm relações afetivas por pessoas do mesmo sexo. As pessoas bissexuais sofrem com essa situação, tanto emocionalmente (drama interior), quanto no contexto familiar.
Homossexualidade é a atração pela pessoa do mesmo sexo. Ela se identifica claramente com a prática do sexo inversa ao que é natural entre homem e mulher.
EVOLUÇÃO E HORMÔNIOS
O conhecido cientista italiano Umberto Veronesi está causando grande polêmica no país depois de ter apresentado uma teoria dizendo que a espécie humana está caminhando para o bissexualismo.
Durante uma conferência, em agosto do ano passado, na região da Toscana, Umberto Veronesi, que é médico e ex-ministro da Saúde, afirmou que a espécie humana deve caminhar para o bissexualismo "como resultado da evolução natural das espécies".
Em entrevista a jornais italianos, Veronesi reafirmou sua teoria, apontando o fator hormonal como indicador da evolução rumo ao bissexualismo.
"Desde o pós-guerra a vitalidade dos espermatozóides diminuiu 50% porque as mudanças das condições de vida estão fazendo com que a hipófise (glândula responsável pela produção dos hormônios) produza cada vez menos hormônios andrógenos (masculinos)", afirma o oncologista, pioneiro no tratamento de câncer de mama na Itália.
"O homem não precisa mais de uma intensa agressividade física para sobreviver", diz ele.
Com as mulheres, que têm papel cada vez mais ativo na sociedade, acontece o mesmo.
Segundo o médico, as mulheres vêm produzindo cada vez menos hormônios femininos ao longo dos anos.
"É o preço que se paga pela evolução natural da espécie, que é positivo porque nasce da busca pela igualdade entre os sexos", afirmou o cientista ao jornal Corriere della Sera.
A menor produção de hormônios acabaria atrofiando os órgãos reprodutivos e criando uma espécie de "preguiça reprodutiva", na avaliação de Veronesi. Para ele, o sexo deixou de ser a única forma para procriar desde que novas técnicas foram criadas, como fecundação artificial e a clonagem.
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