OPINIÃO
O MUNDO EM ÓRBITA DE DESESPERO
O que fazer para que se tenha esperança, paz e vida no próximo breve futuro?
Por Battista Soarez
(Jornalista, escritor, sociólogo, teólogo e professor universitário)
NO FINAL DE SEMANA PASSADO estive ministrando aula num polo universitário no município de Turilândia, na baixada maranhense. Meus alunos, na sua maioria mulheres, ficaram curiosos com a contextualização que eu trouxe à baila, mediante as exposições de cunho científico.
— O mundo perdeu o sentido de desenvolvimento — disse eu, rabiscando no quadro-branco algumas questões de pesquisa científica. — Não sabemos mais para onde estamos caminhando. Os governos no mundo inteiro perderam a noção de equilíbrio e tudo o que fazem se transforma rapidamente em crises infernais, para desespero da população mundial.
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Eu falei isso porque, diante do cenário atual, não há mais nada que se possa esperar em termos de paz, harmonia social e esperança. O lado negro do uso, cada vez mais crescente, de energia no mundo — ainda mais sombrio do que a trama do Kremlin — é a poluição que está gerando e seu impacto sobre o clima que vem afetando o planeta.
Tais preocupações se tornaram globais pela primeira vez nos anos 1990, quando as Nações Unidas, inicialmente, tentaram mostrar preocupação crescente com os gases-estufa liberados pelos combustíveis fósseis. Os protocolos de Kyoto falharam nas tentativas de exercer um controle sério nas emissões de qualquer país. Mas, nos próximos sete anos (até 2030), provavelmente presenciaremos outro esforço concentrado para gerar novos arranjos internacionais de controle de emissão de dióxido de carbono (o chamado CO2), que é o principal gás estufa.
A proposta, provavelmente, usará uma abordagem diferente da de Kyoto, já que, para ter êxito, terá que ser conduzida pelo principal antagonista aos protocolos de Kyoto (o governo dos Estados Unidos) e incluir a China e outros países em rápido desenvolvimento que prometeram nunca se unir a um programa do tipo do de Kyoto.
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Há algum tempo, nas minhas falas em ambientes universitários e palestras, tenho dito que a ciência básica da mudança climática é, hoje em dia, internacionalmente incontroversa. Segundo especialistas, os gases-estufa — produzidos principalmente por queima de combustível fóssil — se acumulam na atmosfera terrestre (e não se desfazem durante cerca de um século), absorvem radiação infravermelha, que se dirige de volta para o espaço, e irradiam parte dela de volta para a Terra.
Nesse caso, à medida que os níveis de CO2 aumentam na atmosfera, as temperaturas dos oceanos e do ar terrestre também aumentam. Estudos comprovam que, nos últimos 150 anos, os níveis de CO2 subiram de 271 partes por milhão para 370, ou seja, 37%. Entre os efeitos mais visíveis observados pelos estudiosos da atualidade (na última década), e popularmente atribuídos aos aumentos de temperatura, estão o degelo de geleiras e limites de neve, o desaparecimento de lagos, anos sucessíveis de recorde de altas temperaturas na maioria dos continentes, furações e tornados mais frequentes nos Estados Unidos, monções e tufões na Ásia e inundações na Europa, África e em outros lugares da mesma região geográfica.
Os cientistas não concordam sobre quão rapidamente ou quantos desses efeitos irão piorar, ou a que concentrações as mudanças serão irreversíveis. No entanto, conforme explica Robert J. Shapiro, surgiu um consenso aproximado de que 450 a 500 partes por milhão podem ser o ponto-limite para efeitos climáticos graves e permanentes, e que, sem medidas sérias, os níveis de CO2 irão alcançar 600 partes por milhão em 2050. Isso é gravíssimo. E os governos mundiais nada estão fazendo para mudar esse destino apocalíptico da humanidade.
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Finalmente, se os principais governos do mundo pretendem evitar os cenários catastróficos, terão de descobrir, nos próximos anos, como manter as emissões abaixo dos níveis atuais, mesmo quando o uso de energia mundial dobrar nos próximos 20 anos. O desafio é parcialmente tecnológico, já que alcançar o objetivo requer o desenvolvimento e a disseminação de muito mais equipamentos e matérias-primas eficientes em termos energéticos e, provavelmente, novos combustíveis alternativos.
Agora, o desafio também é político e econômico, haja vista que toda resposta plausível envolve preços de energia mais elevados, uma vez que eliminarão parte do crescimento econômico. E, em síntese, a maioria dos políticos está relutante em fazer isso de modo a evitar custos maiores em algum momento futuro. Portanto, resolver o problema da mudança climática será um dos problemas políticos assustadores da próxima década, com muitos governos tentando convencer seu eleitorado a aceitar preços de energia ainda mais elevados juntamente com as outras mudanças em suas vidas.
Logo, parece cada vez mais claro que o maior desafio na mudança climática pode ser mesmo geopolítico, por muitas razões explicáveis somente num espaço muito maior do que neste simples artigo. Que os líderes mundiais pensem mais em vidas humanas e menos em tecnologias destruidoras do planeta Terra. Como escapar dessa cruel realidade? Fica no ar a pergunta.
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