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quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

COLUNA LEITURA LIVRE | por Battista Soarez

COLUNA LEITURA LIVRE

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Por Battista Soarez 
(Jornalista, escritor, psicanalista, teólogo e professor universitário)


O estilo Trump de governar

Como o mundo vai se projetar de 2025 a 2030 na mira de uma nova ordem mundial.

Donald Trump manda um recado para o mundo: "Governarei com um lema simples: promessas feitas, promessas cumpridas".

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UM DOS GRAVES PROBLEMAS de gestão de Donald Trump seria nublar as fronteiras entre o público e o privado. Em certo momento do seu primeiro governo, uma cerração se dissipou e ficou claro que Trump governa os EUA como se administrasse seus negócios particulares. Entende-se isso como amor à nação, ou seja, um sentimento nacionalista que é próprio dos americanos. Só que Trump une isso à sua experiência empresarial. Ele é um dos maiores empresários do mundo.

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Seu genro, Jared Kushner, um dos principais estrategistas da administração Trump pois não bastava participar informalmente do círculo íntimo de conselheiros — foi convocado pelo Senado norte-americano para prestar esclarecimentos sobre seu envolvimento no escândalo da espionagem russa. O mesmo Kushner, na época (suspeito de relações perigosas com o Kremlin), manteve um auspicioso jantar no Waldorf Astoria, em NY, com o senhor Wu, casado com a neta do falecido líder comunista chinês Deng Xiao Ping. Dali por diante, muitas decisões foram articuladas e ficou entendido que Trump tem um sentimento de possessividade na hora de usar a caneta na administração pública.

Agora, no seu segundo mandato, Trump voltou a dar indícios de como deverão ser as políticas do seu governo. O republicano iniciou com uma série de medidas em áreas como relações exteriores, comércio, imigração e programas de diversidade de raça e gênero. Durante quatro anos no exílio político, após o primeiro mandato, Trump prometeu remodelar de forma radical a cultura e a política americanas se tivesse outra chance. A primeira semana demonstrou que ele tentará fazer exatamente isso enquanto corre para cumprir as promessas que o levaram de volta ao poder.

Nenhuma questão recebeu mais atenção nos primeiros dias de Trump e o novo governo do que a imigração. A questão está, há muito tempo, no centro do discurso político do presidente, e reforçou, ao longo da campanha presidencial, que faria mudanças significativas na área. Trump emitiu mais de uma dúzia de ordens relacionadas à imigração, defendendo que os Estados Unidos estão sendo invadidos por imigrantes perigosos que cruzam a fronteira com o México. Muitas das mudanças mais agressivas incluem novos poderes para negar a entrada de requerentes de asilo no país.

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Trump, rapidamente, eliminou as políticas que impediam os oficiais de Imigração e Alfândega de invadir igrejas, escolas e hospitais em busca de imigrantes e bloqueou a entrada de milhares de refugiados que já haviam sido liberados para seguir para os EUA. Ele, então, iniciou o processo de expulsão de um milhão de pessoas que o presidente Biden havia permitido a entrada de forma temporária, mas legal, e cumpriu sua promessa de tentar limitar a cidadania americana dada a estrangeiros por nascimento, ordem que foi logo revogada por um juiz federal, que considerou a ação inconstitucional.

O presidente também instruiu as autoridades federais a investigar e potencialmente processar autoridades locais em cidades e estados que interferem nos esforços do governo para deportar pessoas que estão no país ilegalmente. O republicano também emitiu ordens executivas relacionadas a energia para poder expandir o uso de combustíveis fósseis, restringir a utilização de energia renovável e abandonar os esforços do governo federal para lidar com as mudanças climáticas.

Num gesto que chamou a atenção do mundo, Trump retirou os EUA do Acordo Climático de Paris, tratado no qual países se comprometem a limitar a emissão de gases de efeito estufa e o aquecimento global. O presidente declarou uma “emergência energética” e deu início a planos para abrir áreas de perfuração de poços de petróleo maiores no Alasca. Ele também ordenou o congelamento das licenças federais para parques eólicos em todo o país, além de determinar que as agências simplifiquem o licenciamento de gasodutos e mineração e revoguem as regras que incentivam o uso de carros elétricos.

Entretanto, há um processo legal exigido para refazer os regulamentos federais que podem levar anos e ainda precisam passar pelos tribunais. Um dos temas que chamou grande atenção na primeira semana de Trump no cargo foi a retirada de programas de diversidade de gênero e raça no país.

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Com uma ordem executiva para “proteger as mulheres do extremismo da ideologia de gênero”, Trump ordenou que o governo reconhecesse efetivamente apenas dois sexos “imutáveis”: masculino e feminino. O novo governo reverteu os esforços de Biden para a inclusão de pessoas intersexuais ou transgêneras, por exemplo, para que elas se identifiquem desta forma nas instituições federais. A ordem já provocou mudanças administrativas. O Departamento de Estado removeu a categoria “identidade de gênero não especificada ou outra” dos pedidos de passaporte. De forma mais ampla, a medida elimina qualquer menção à identidade de gênero não binária de documentos e memorandos oficiais.

Noutra linha, tarifas em grande escala ainda não foram impostas, mas nações ao redor do mundo estão se preparando para as exigências que devem chegar em 1º de fevereiro, segundo Trump. Logo que assumiu o governo, Donald Trump voltou a dizer para jornalistas que iria impor uma tarifa de 25% sobre produtos do Canadá e do México, além de uma tarifa adicional de 10% sobre produtos da China, acusando esses países de não fazerem o suficiente para impedir o fluxo de drogas e migrantes para os Estados Unidos.

Trump se aproximou de grandes nomes do mundo tecnológico, como Elon Musk (dono da SpaceX, da Tesla e do X), Mark Zuckerberg (CEO da Meta), Jeff Bezos (dono da Amazon), Sundar Pichai (CEO do Google), Tim Cook (CEO da Apple) e Sam Altman (CEO da OpenAI). Todos esses multimilionários estavam presentes, com espaço privilegiado, na posse do republicano no dia 20 de janeiro. Isso tem um significado importante na geopolítica e, portanto, nas relações comunicacionais e econômicas no mundo. Trata-se de uma política planetária, em que a inteligência artificial ganhará espaço dominante na tecnologia mundial. A nova ordem mundial será, então, um sistema de governo global unificado em que a política de controle será exatamente por meio da IA.

A política de Donald Trump logo irá exigir que as empresas de inteligência artificial apresentem ao governo americano os resultados dos testes para avaliação de riscos da nova tecnologia à segurança nacional. Aliás, o Blog Leitura Livre vem acompanhando isso desde 2009 (leia meu livro mais recente O mundo em órbita de alerta: desespero ou esperança?, publicado pela AD Santos Editora, de Curitiba) e tem constatado que o mundo será unificado por meio de blocos econômicos de todos os continentes. Trump emitiu uma ordem executiva orientando sua equipe a elaborar um plano para seguir uma política que “sustente e melhore o domínio global da IA nos Estados Unidos”.

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O regresso de Trump à Casa Branca, entrementes, ameaça revolucionar as relações internacionais já estabelecidas pela invasão russa na Ucrânia e, assim, tudo aponta para mudanças profundas nos conflitos, nas alianças, no comércio, na luta contra as alterações climáticas e no futuro da democracia. O ano de 2025, que acaba de começar, parece ser um poderoso acelerador no caminho para uma nova ordem mundial, na qual o multilateralismo está em colapso. As velhas alianças estão se deteriorando e as novas estão se consolidando. A política protecionista está galopando e a democracia enfrenta ameaças sem precedentes. A China vem buscando, há algum tempo, reformular o acordo entre as nações que melhor acomode seus interesses.

A Rússia perturbou os equilíbrios pós-Guerra Fria em 2022, quando Vladimir Putin catapultou o mundo para uma nova fase geopolítica com a invasão em grande escala da Ucrânia, que é o desafio violento da ordem anterior. O papa Francisco, em conjunto com a China, já preparou um estatuto único que unifica todas as religiões do planeta. Em breve, haverá uma só religião. E quem não aceitar as novas regras será considerado rebelde.

A partir de 20 de janeiro, dia em que Trump tomou posse como presidente dos EUA, o mundo assumiu o fato de que a grande potência que construiu a ordem atual também irá querer uma ordem diferente. É a confluência destes fatores que faz com que 2025 tenha o potencial para mudanças extraordinárias. Como observou um relatório recente do grupo de reflexão International Crisis Grouo, “o mundo parece caminhar para uma mudança de paradigma. A questão é se isso acontecerá nas mesas de negociação ou nos campos de batalha”.

Enfim, do multilateralismo ao bilateralismo. O fim do sonho do multilateralismo — a construção de normas e instituições internacionais que regulam as relações globais é, talvez, o prisma central para compreender o futuro do mundo. Ángel Saz-Carranza, diretor do Centro de Geopolítica e Economia Global da ESADE, destaca esta ideia. “Este modelo de governação nunca foi perfeito, mas foi capaz de gerar certeza, cooperação e estabilidade global durante mais de cinco décadas. Hoje resta apenas o esqueleto, funcionando em assuntos menos relevantes e disfuncional quando se trata de questões importantes. Para dar alguns exemplos, os Estados Unidos, gerente e criador do sistema, paralisaram e violaram a Organização Mundial do Comércio (OMC), a China ignorou a Convenção do Direito do Mar e a Rússia demoliu o princípio da integridade territorial. Enquanto isso, o resto dos países é observador indefeso ou cúmplice silencioso”, comenta o especialista.

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O regresso de Trump ao poder promete uma aceleração desta tendência. Já em seu primeiro mandato, ele empreendeu a retirada dos Estados Unidos de importantes acordos e instituições. Hoje ele parece determinado a aprofundar essa linha, determinado a dar prioridade aos quadros de relações bilaterais em que a força tem precedência sobre as normas partilhadas. Trump, ao assumir de volta o poder, mandou um aviso para o mundo: “Governarei com um lema simples: promessas feitas, promessas cumpridas”. Entenda isto pela ótica de uma total regência global e não apenas como um método de governabilidade do país mais poderoso do mundo.

Acompanhe os próximos artigos da Coluna Leitura Livre e esteja por dentro da hermenêutica jornalística acerca do futuro da humanidade, entre 2025 e 2030. O sistema globalista tem pressa.

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