Senhores candidatos!
Por BATTISTA SOAREZ
(Jornal Itaqui-Bacanga)
As
eleições de 2016 estão na reta final. Dia 02 de outubro, em que os eleitores irão às urnas, será no domingo da
próxima semana e a população ainda tem muitas dúvidas no que tange às propostas
políticas apresentadas. Por outro lado, muitos candidatos nem apresentaram
proposta nenhuma até agora e, pelo visto, nem vão apresentar. Por que será?
Candidatos a prefeito de São Luís apresentam propostas de pouca consistência. |
É
que as propostas dos candidatos precisam ser mais consistentes quanto à lógica
política. As propostas dos candidatos a prefeito, por exemplo, estão carregadas
de ansiedade e, por isso, algumas delas estão confusas. Há candidatos que, por
falta de proposta e de inteligência política, ficam batendo no outro candidato
e, com isso, perdem votos porque caem na antipatia do eleitor. Foi o que
ocorreu com alguns candidatos que, em vez de apresentarem seu plano de governo,
ficaram batendo no prefeito Edivaldo Holanda Jr. Caíram na antipatia do povo e,
consequentemente, nas pesquisas de intenção de voto.
Os
candidatos a vereador, na sua maioria, estão sem proposta porque muitos estão
mesmo é interessados apenas no salário que vão receber caso sejam eleitos ao
cargo. A grande maioria nem sabe, de fato, qual é a função de um vereador na
Câmara Municipal. Isto se deve à falta de leitura. Estamos vivendo numa
sociedade em que não se ler mais. Uma sociedade que não tem o hábito de ler e
que, por isso, não tem cultura intelectual. Portanto, não tem proposta.
Diante
de um cenário social em que não se acredita mais em política, quase todos os
candidatos a vereador rezam a mesma frase em tom de mediocridade: “vou lutar
por mais educação e saúde...”. Outros apenas invertem as palavras: “vou lutar
por mais saúde e educação...”. Falam isso para uma sociedade que, há séculos,
sofre com a falta de saúde e educação, apesar de tantas promessas a cada campanha
eleitoral. Não dá para se acreditar mais em promessas aleatórias e sem consistência.
No
parlamento municipal, os candidatos a vereador têm de saber, pelo menos, o que
vão fazer depois de eleitos. Em vez de ficarem prometendo o que não é de sua
competência, precisam entender que suas funções são apenas quatro: função
legislativa, função fiscalizadora, função de assessoramento ao Executivo
municipal e função julgadora.
A
verdade é que candidato sem educação, que não tem leitura, não tem visão de mundo
e nem visão de sociedade. Portanto, não vai saber lutar por educação. Quem não
lê não tem ideologia. E quem não tem ideologia, também não tem proposta
política para melhoria da sociedade e muito menos para mudança da realidade
social.
Pensando
na política em âmbito geral, principalmente no que concerne à conjuntura
administrativa, lembramos que antigamente se pensava na política como um campo
autônomo de atividade e, por este leque, a administração da economia era
considerada uma das tarefas mais importantes do governo, quer fosse ele
federal, regional ou municipal. Atualmente, entretanto, a mobilidade do capital
significa que os governos só podem influenciar a economia doméstica pelo
controle da inflação e pela tentativa de facilitar a competitividade de
empresas sediadas no local através de medidas tomadas do lado da oferta.
Isto
é um fato no qual o futuro prefeito de São Luís tem que pensar. Numa breve
análise política, entende-se que a política tem de fazer as pazes com as
consequências desta mudança, e o resultado é que há grandes divergências de
pontos de vista a respeito do significado dos impactos sociais ocorridos na
esteira da ação política.
Durante
quatro anos, o prefeito Edivaldo Holanda Jr, por exemplo, não teve praticamente
autonomia no comando da administração pública. Todo mundo viu que, por trás do
seu governo, havia a “mão invisível” das articulações políticas às quais ele
era devedor de favores políticos. E, agora, tentam reelegê-lo com um discurso focado nas atividades
de um executivo manobrado feitas nos últimos quatorze meses de mandato, no
transcorrer do ano eleitoral. De fato, as atividades do setor público, como
serviços de saúde e educação, às quais as pessoas estão historicamente ligadas
mais como cidadãos que como consumidores, têm aqui um papel importante por
afetarem a legitimidade do governo. Na política municipal orientada para o mercado,
esses domínios tornam-se, na visão de Colins Leys, pontos de ignição, porque
também são alvos do capital global.
O
município de São Luís tem muitos desafios que não podem ser enfrentados com uma
política viciosa focada no superfaturamento de produtos e serviços públicos, na
licitação manipulada por empresas vinculadas aos gestores públicos por laços de
amizade e no fatiamento da administração pública por grupos de interesses.
Quando acompanhamos a evolução política nessas esferas a partir da década de
1980, com a retomada da democracia, percebe-se que o que vem acontecendo na
política pública brasileira não é possível explicar em termos das iniciativas
deste ou daquele político ou, ainda, empresário, mas nasce de uma nova dinâmica
política que resulta da globalização econômica.
Isto
não quer dizer que o Estado tenha se tornado impotente, mas que é forçado a
usar seu poder para promover o processo de mercadorização por várias razões,
entre essas razões estão a corrupção e a política de interesses partidários e
individuais de grupos e pessoas.
Enfim,
as mudanças prometidas por todos os candidatos das quatro cidades da Grande
Ilha, isto é, São Luís, Raposa, Paço do Lumiar e São José de Ribamar,
vislumbram uma lógica em que os pretensos “modernizadores” políticos necessariamente
têm que ter plena consciência de que a base social da política mudou. A
mentalidade dos eleitores não é mais a mesma de alguns anos atrás. Isso graças
a avanços socioculturais que conquistaram crescimento rápido no âmbito da vida
moderna: renda, poder de consumo, erosão das fronteiras tradicionais entre
classes, “midiatização” intensa da política e a penetração dos valores éticos e
comerciais na vida cotidiana.
Os
eleitores da classe trabalhadora, pelo que parece, estão saindo dos “currais” da
velha política com seus vícios tradicionais. O voto desses eleitores parece
estar mais livre de pressões de cabrestos. Os “estatutos” políticos e
psicológicos foram reescritos na consciência das pessoas. O efeito dessas
mudanças alterou a pressão das forças do mercado sobre a política nacional e,
hoje, está mais excepcionalmente aberta e eficaz. As lideranças comunitárias
estão mais atentas para reagir a qualquer tangência da política coercitiva
travestida de democracia.
Para
avaliar completamente a importância disso, precisamos estudar pontos
específicos da política de mercado, que é um campo fascinante mas que é muito
negligenciado pelos eleitores. Por isso, a pressão da ideologia neoliberal,
como acabou de ocorrer com Dilma Rousseff, é grande e, com suas investidas
antidemocráticas, surte forte efeito no âmbito da sociedade em geral. Por conta disso, os
mercados não são impessoais nem imparciais, mas sim altamente políticos e
inerentemente instáveis.
Finalmente,
senhoras e senhores candidatos, pensem numa coisa: a máquina pública não é
empresa particular para que os gestores a dirijam como mercadorização dos
negócios públicos à obtenção de lucros. Não destruam as esferas da vida pública
que envolvem todos os inocentes eleitores. Pois delas dependem a solidariedade
social e a democracia ativa.