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quarta-feira, 30 de junho de 2021

SÃO LUÍS-MA: Associação de pastores cria projeto de cura para liderança

 

AMOEMA cria projeto de clínica psicoterapêutica para tratar pastores e líderes

Com o nome “Curados para curar”, projeto da Associação de Ministros e Obreiros Evangélicos do Maranhão pretende restaurar lideranças e famílias em situação de crises existenciais.

 

Por Battista Soarez
(De São Luís – MA)

 

Foto: Divulgação | Da esq. p/ dir: Pr. Gerson, Pr. Battista, Pr. Zezinho, Janaína, Elizabeth.

Hoje, 28 de junho de 2021, o presidente da Associação de Ministros e Obreiros Evangélicos do Maranhão (AMOEMA), pastor José Benedito de Oliveira (Pr. Zezinho), esteve reunido com uma equipe de profissionais psicoterapeutas na sede da Igreja Pentecostal Kadosh, na Cohama, em São Luís do Maranhão. O objetivo da reunião foi a discussão e criação do projeto psicoterapêutico “Curados para curar”.

Juntamente com o pastor Zezinho, os profissionais pastor Lisboa (sexólogo e coordenador do projeto), pastor Gerson Santos (psicopedagogo e psicanalista), pastor Battista Soarez (psicopedagogo, analista transacional e psicoterapeuta), Elisabeth Dias (psicóloga e psicoterapeuta) e Janaína Brito de Castro (psicanalista e capelã) discutiram vários aspectos da vida cristã que justificam a necessidade de criação do projeto. “Têm muitos pastores doentes, em pecado e com algum tipo de problema, inclusive familiar, à frente de ministério. Por estar adoecido espiritualmente, o pastor que dirige uma obra espiritual nessa situação leva a igreja a estar doente, espiritualmente caída”, disse o pastor Zezinho. “E se o pastor não for tratado e curado, a igreja morrerá espiritualmente junto com ele”, completa.

Foto: Divulgação | Profissionais falam sobre clínica pastoral.

Segundo o coordenador de “Curados para curar”, pastor Lisboa, esse projeto já deveria estar acontecendo porque, na sua avaliação, faz anos que a espiritualidade evangélica vem sofrendo com pastores existencialmente doentes e espiritualmente fracassados, “mas que pousam de heróis, calados, sofridos e machucados porque não têm para quem confidenciar suas derrotas e vulnerabilidades espirituais”, pontua ele.

Na ocasião, cada profissional falou da sua própria experiência e formação acadêmica, se disponibilizando para contribuir com o projeto, atendendo pelo menos uma vez por semana, com agendamento pré-estabelecido. Mas a equipe de profissionais do projeto “Curados para curar” não está limitada a atendimentos individuais. Uma vez por mês, a AMOEMA reunirá pastores e líderes, bem como demais convidados, para uma palestra cujo tema é “Pastor curado, igreja saudável”. A ideia é fomentar a divulgação e o crescimento do projeto não somente na capital, mas em todo o estado.

Foto: Divulgação | Pr. Lisboa fala sobre projeto "Curados para Curar".

O projeto, segundo os profissionais, promete restaurar pastores que estão sofrendo de esgotamento espiritual e envolvidos em sofrimentos sem dizerem nada para ninguém. Fingem que está tudo bem, quando, na verdade, estão atingidos por angústias profundas e, mesmo assim, ainda têm de ouvir lamúrias e resolver problemas de crentes em situação de crises das mais diversas naturezas. Com isso, acabam recebendo uma carga muito grande de energias negativas de problemas alheios e, então, são existencialmente afetados. E, enfim, quando o corpo e a alma do pastor começam a emitir sinais de que algo não vai bem, ele ignora e continua fingindo que nada está acontecendo. Nós últimos anos, principalmente a partir de 2016, o número de pastores que recorrem ao suicídio foi assustador. E foi pensando nisso e em outras situações que o presidente da AMOEMA teve a ideia de criar o projeto de clínica pastoral “Curados para curar”.

Uma das características fundamentais desse projeto psicoterapêutico para pastores é o sigilo absoluto acerca da vida da pessoa, no sentido de preservar sua imagem. Por isso o cuidado de escolher pessoas formadas para atuarem nesse tipo de trabalho, uma vez que há um código de ética que cada profissional deve cumprir na sua atuação. “A pessoa pode ficar tranquila. Tudo o que ela contar para o psicoterapeuta, será preservado em sigilo absoluto”, garante o coordenador do projeto, pastor Lisboa.

 

terça-feira, 22 de junho de 2021

CRÔNICA: A LIÇÃO DOS PÁSSAROS — Pr. Battista Soarez

C R Ô N I C A 

A lição dos pássaros que cantam no meu quintal

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Pr. Battista Soarez
(Escritor e jornalista)

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MARIA E EU, quando nos conhecemos, gostávamos de passear na avenida Litorânea, uma das mais belas praias de São Luís do Maranhão. É que na Litorânea, ao cair da tarde, o som das ondas do mar combina uma sinfonia perfeita com o cantarolar de andorinhas e gaivotas que bailam no ar com um festejar impressionante da natureza, como se tivessem glorificando ao Criador pela dádiva de poder voar livremente, no espaço, respirando o ar puro de um ambiente saudável e infinito.

Na época, eu morava na avenida Atlântica, no bairro do Turú, numa casa de esquina, bem localizada. O quintal era cheio de árvores frondosas. E a frente também. E isto atraía várias espécies de pássaros. Eu chegava do trabalho no começo da noite, tomava um belo banho, jantava no restaurante da dona Francisca, depois assistia a um pouco de TV e, enfim, mergulhava numa bela noite de sono.

No dia seguinte, pela manhã bem cedo, eu acordava com o cantar de passarinhos. Geralmente, às 05:00 horas da manhã. Começava o dia com uma oração. Tomava banho. Tomava café. E ia para o trabalho, entrando numa rotina que, enfim, se repetia todos os dias.

Os pássaros sempre estavam lá, nas árvores da minha casa, pulando de galho em galho. Eles cantavam à beça. Era como se estivessem cuidando de mim, dada a solidão em que eu me encontrava naquele momento.

A casa era alugada. Num certo dia, na minha ausência, o dono do imóvel chegou e cortou uma bananeira do quintal. Desatento, ele não percebeu que, entre as folhas, tinha um ninho de rolinha fogo-apagou — uma espécie de ave columbiforme, da família dos columbídeos, muito comum no Brasil — que estava chocando seus filhotes. Cheguei exatamente naquele momento. Os filhotes de passarinho estavam se batendo, e o homem tentando acomodá-los numa caixa de papelão.

— Por que o senhor fez isso, seu Ricardo? — questionei.

— Foi sem querer. Não vi. Realmente não prestei atenção — respondeu ele, curvando-se para tampar a caixa e evitar que os bichinhos fugissem.

— E o senhor vai fazer o que com esses passarinhos? — eu quis saber.

— Vou criá-los. Depois os devolvo para a natureza.

— Não! — exclamei. — Isso não dará certo. O senhor não vai saber alimentar esses passarinhos.

— Seu Battista, esses bichos comem de tudo. Não se preocupe.

— Está bem. Se o senhor está dizendo, vou confiar. Mas já lhe adianto que, para os animais silvestres, nada melhor que o ambiente natural...

— Sei — balbuciou ele.

— Sua casa é a natureza.

Depois de mais algumas palavras, Ricardo colocou a caixa com os passarinhos no carro e foi embora.

Eu, então, dei alguns passos até o quintal e fiquei olhando para as plantas. Vi alguns pardais saltitando entre as gramas. Outros mantinham-se no pé de acerola, pulando de galho em galho. Olhei, olhei... e vi outros passarinhos shilreando nos galhos das outras árvores. Entre eles, o bem-te-vi, que os indígenas brasileiros chamam de pituã, pitaguá e, ainda, de puintaguá.

Algum tempo depois, olhando cuidadosamente cada árvore, vi as duas rolinhas. Uma ao lado da outra, como se estivessem sofrendo — e certamente o estavam — a tristeza pela perda dos seus filhotes. Estavam em silêncio. Estavam sem motivo para cantar seu “uooh-uooh”. Lembrei-me de que mamãe dizia que os animais, como os humanos, também têm sentimento. E sentimento dói”, dizia ela. Principalmente pela perda de filho. Prestei bem atenção... E observei que os passarinhos estavam em estado de introspecção. Seus pescoços estavam como se interiorizados para dentro do corpo. Suas cabeças estavam coladas rente ao tronco.

— Vocês perderam seus filhinhos, não foi?! — resmunguei em tom de lamento. — Aquele homem malvado os levou. Não foi?!

Lembro do jornalista Richard Louv. Quando ele escreveu “O princípio da natureza”, disse que, em época de rápida transformação ambiental, econômica e social, o futuro pertencerá aos adeptos da natureza. Àquelas pessoas, famílias, atividades comerciais e aos líderes políticos que desenvolvem um entendimento mais profundo da natureza. E que equilibrem o virtual com o real.

De fato. A tristeza daqueles passarinhos denunciava sempre algo a mais que a perda de um casal de filhos. Denunciava, também, a ação humana predatória. A tristeza dos pássaros expandia e expande no ar perguntas sobre nossas relações com nossos semelhantes. Diante de diferentes culturas, tecnologias, ciências e civilizações, o mundo natural, aos poucos, vai perdendo o seu significado no decorrer de uma época em que o déficit do convívio com a natureza assume proporções gigantescas, conforme diz o cineasta James Cameron na mensagem central do filme “Avatar”.

Pus-me a analisar a tristeza daqueles passarinhos e algo veio à minha mente. Há um distúrbio coletivo universal. E esse distúrbio coletivo ameaça planetariamente nossa saúde, ameaça nosso espírito, ameaça nossa economia, ameaça nossa vida e ameaça, finalmente, nosso futuro e o nosso bem-estar no meio-ambiente. Treinamos o mundo para que, num futuro bem próximo, não tenhamos mais domínio sobre ele. Ele nos dominará e nos destruirá por meio de suas catástrofes causadas por nós mesmos, seres humanos. Foi o que pensei naquele momento.

No dia seguinte, acordei com o chororô dos passarinhos. Uooh-uooh!. Eles cantavam tristes. Levantei ponte-pé, dirigindo-me devagarinho ao quintal. Vi os dois bem juntinhos. Bem unidos. Uooh-uooh!. Balançavam as penugens. Bicavam-se mutuamente. Como se estivessem consolando-se um ao outro. Uooh-uooh!. Apareci na calçada do quintal, de repente. Eles aceitaram minha presença, de humano, e não voaram para lá longe como de outras vezes.

Especialistas em ciências ambientais dizem que a maioria das pessoas se sente bem ao passar mais tempo em contato com a natureza, ouvindo os pássaros, ouvindo o barulho das cachoeiras, ouvindo o sibilar do vento nas folhas das árvores... Pareceu-me que aqueles passarinhos compreendiam minha fala de humano e prestavam atenção em cada palavra minha. Uooh-uooh!. O choro daqueles animais mexeu com o meu sentimento. De súbito, senti por eles algo que me levou a ter uma ideia repentina.

— Olhem para mim — disse eu, apontando, com o dedo indicador, para um jarro que estava pendurado na minha janela. — Se vocês fizerem o ninho de vocês naquele jarro ali, óh, pendurado na minha janela, prometo que ninguém vai mexer com vocês.

Eles me olhavam, virando a cabeça de um lado para outro. Balançaram mais uma vez suas penugens. E, em passos miúdos e rápidos, se movimentaram de um lugar para outro. Depois, em pequenos voos, saltaram de um galho para outro. Aconchegaram-se... “Belos companheiros”, expressei no pensamento.

Naquele momento, viajei imaginariamente de volta no tempo e pensei na época de quando eu era criança. Minha mãe, separada do meu pai, tinha de trabalhar duro em serviços rurais para criar eu e mais dois irmãos meus. Conça tinha sete anos. Eu, quatro anos. E Ailton, o caçula, tinha um ano. Às vezes, à medida que eu ia crescendo, mamãe me levava para a roça ou para o mato, aonde ela ia para quebrar coco babaçu. Eu ficava brincando com passarinhos. Outras vezes, por ignorância, por mera falta de instrução, eu pegava um estilingue e atirava pedras em passarinhos, sem que eles tivessem me feito nada.

— Filho, não se atira pedras em passarinhos — dizia minha mãe.

— Por que, mãe? — eu queria saber.

— Porque eles não estão te fazendo nada — respondia ela. — Além disso, você pode machucá-los... E eles, machucados, podem morrer.

Ela, então, me explicava que os passarinhos, como os seres humanos, também têm vida. Sentem dores. Alegria e tristeza. Têm vida, afinal.

— Mãe, eles cuidam dos filhos? — eu perguntava, no meu jeito inocente de criança.

— Sim, filho. Eles cuidam dos seus filhinhos. Os animais também têm amor pelos seus filhos.

Mamãe cantarolava enquanto juntava coco babaçu para quebrá-los e tirar suas amêndoas. Eu continuava... ora brincando, ora ajudando ela a juntar coco. No final da tarde, naquela vida tranquila do interior, voltávamos para casa. Mamãe ia direto para a quitanda. Vendia os quilos de coco e comprava o querosene, a farinha, o açúcar, o café, o sabão, o fósforo, o sal. Meu padrasto, por sua vez, chegava do lago com meio cofo de peixes. Cofo é uma espécie de cesto, feito da palha da palmeira de babaçu, em formato bojudo e de boca larga, usado pelos pescadores do Maranhão — e de outras regiões do Brasil — para recolher peixes, camarões e carregar seus petrechos. Chegando em casa, mamãe cuidava logo de tratar o peixe para a janta, apesar de passar o dia inteiro no mato, quebrando coco ou trabalhando na roça. Muito cansada. Mas mãe é mãe. No seu amor heróico, faz qualquer esforço para não deixar os filhos passar fome. E era assim a nossa vida do interior. Até que um dia mudamos para a capital, e tivemos que nos adaptar à agitada vida urbana, onde tudo passou ser diferente. Inclusive o tipo de trabalho.

Voltei daquela “viagem” mental ao meu tempo de criança. E, então, me dei conta de que estava em São Luís, mergulhado numa vida totalmente urbana e pós-moderna. Uooh-uooh!. Olhei outra vez para os passarinhos e, então, me recolhi ao interior da casa. Eu estava no ano de 2004. Saí para a faculdade, onde eu cursava uma especialização em psicopedagogia clínica e institucional, no turno da noite. Voltei mais tarde, por volta das 22h:30m. Cansado e afadigado pelo corre-corre do dia, deitei e dormi.

No dia seguinte, às 05:00hs da manhã, acordei com um barulho estranho. Ainda meio sonolento, sem despertar direito, levantei e percebi que o barulho era na direção da janela. Abri a janela bem devagarinho... E logo percebi que os dois passarinhos estavam tecendo seu ninho, exatamente no jarro da minha janela, onde eu havia dito, no dia anterior, que era para eles fazerem o seu ninho.

Achei impressionante a maneira como os bichinhos se ajudavam um ao outro. Fiquei parado na janela, com as suas folhas entreabertas, observando a ação dos animais. Eles saiam e, num pouco espaço de tempo, voltavam. E vi que, sempre que voltavam, traziam no bico pequenos gravetos. E, numa habilidade magistral, teciam o seu ninho, batendo as asas. Com o bico, colocavam os gravetos entranhados de uma maneira inexplicável. Ajeitavam-nos e, com uma perfeição genial, batiam os gravetos com as asas, como um artífice e habilidoso carpinteiro lapida, com seu perfeccionismo profissional, a madeira para construir uma bela casa. Eu, observando tudo aquilo, fiquei imaginando, mais uma vez, a relação dos humanos com a natureza.

Observar os pássaros, cantarolando ou fazendo ninhos, pode ser uma ideia que fazemos de um dia de lazer, de terapia ou de aprendizado. De fato, sempre é algo que nos remete às habilidades sensoriais que estão o tempo todo em conexão com a natureza. À medida que eu observava aquela ação instintiva do casal de passarinhos, pensava que, muitas vezes, nós, humanos, desejamos uma vida mais plena de sentido. Mas, raramente, contribuímos positivamente para isso. Na maioria das vezes, temos uma consciência atrofiada, uma capacidade de pensar corretamente reduzida, no sentido de encontrar sentido na vida para preservar e promover a vida que nos cerca.

Enquanto eu pensava, o casal de passarinhos continuava trabalhando e lapidando seu ninho com absoluta concentração e dedicação.

Outras vezes, imagino, as retrações de nossa vida têm impacto direto em nossa saúde física, mental e social. Mas, se procedêssemos diferente, se pensássemos diferente e agíssemos diferente, nossa vida poderia ser muitíssimo enriquecida mediante nossas relações com a natureza, começando com os nossos sentidos e significados. Num instante, enquanto eu pensava, os passarinhos já estavam concluindo a lapidação do seu ninho.

No outro dia, observei e vi um ovinho naquele ninho que tinha acabado de ser construído e lapidado, com a genial experiência de passarinho. Estava ali, no jarro pendurado na janela da minha casa. No dia seguinte, mais um ovinho. Agora, já não era apenas um, mas dois ovos. Mais alguns dias, já não tinham mais ovos, e sim filhotes de passarinhos. Todos os dias, eu conversava com eles. Fazia carinho neles. Me aproximava deles. “É possível conviver com os animais, sem que a nossa presença represente medo para eles”, pensei várias vezes, sempre que observava a maneira inteligente como aqueles passarinhos cuidavam dos seus filhos, no sentido de preservar e perpetuar a espécie. Por isso, a relação dos animais com a natureza é extremamente diferente da nossa. Os pássaros, assim como todos os animais, têm o cuidado de preservar a natureza como que pensando — melhor que os racionais — no futuro das futuras gerações. Parecem pensar no que elas têm de comer no seu amanhã para continuarem sobrevivendo e vivendo no amanhã. Já os seres humanos, em nome dos seus confortos hiper-civilizacionais, destroem a natureza e constroem, irracionalmente, um mundo de escassez e carestia para as gerações futuras.

Um dia, ao chegar do trabalho, vi um dos passarinhos se movimentando circularmente em volta do ninho, como que chamando a atenção dos filhotes e despertando-os para a vida. O pássaro-mãe fazia carinho em um dos pequeninos. Passeava entre eles, num gesto de ensaio, e voava do ninho para o chão. Depois, voava do chão para o ninho. Depois, do ninho para o chão novamente. E outra vez do chão para o ninho. Observei atentamente que isso se repetiu várias vezes.

Num dado momento, um dos filhotes começou a se movimentar no ninho. Ficou de pé. Levantou as asinhas. Sacudiu-as para o ar. Olhou para baixo como se estivesse pensando: “será que consigo?”. E, então, arriscou voar do ninho para o chão. E o fez de forma desajeitada, batendo as asinhas sem equilíbrio. Mas a mãe se juntou a ele. E os dois, mãe e filho, começaram a caminhar rapidamente entre as gramas, lado a lado um do outro. Eu permaneci observando aquela cena das aves. “A natureza é perfeita”, pensei novamente. A mãe, cuidadosa, parecia ter pressa. Parecia não estar segura ficando com o filho muito tempo no chão. Talvez temendo a ação de predadores.

Aí, de repente, a mãe deu várias voltas ao redor do filho. Sempre com uma voz diferente, como se estivesse lhe dizendo alguma coisa. Talvez instruindo-o sobre o fato de que tinha chegado o momento de ele se emancipar e cuidar da própria vida. Não sei ao certo. Mas imagino que os animais também conversam na sua própria linguagem. De repente, a mãe voou do chão para o muro. Passeou de um lado para outro. Várias vezes. E voltou para o filho, voando de volta para o chão. Deu várias voltas, novamente, ao redor do pequeno pássaro. E voou outra vez para o muro. Fez aquilo repetidamente. Até que, finalmente, o filhote arriscou voar para o muro. Mas, ainda desajeitado, não conseguiu. Foi até meia altura e caiu de volta no chão. Atenta, e incrivelmente cuidadosa, a mãe voltou a ajudar o filho.

Após algumas tentativas, o filhote consegue voar para o muro. A mãe, como que comemorando, passeia ao lado do filho em cima do muro e, numa tônica de cuidado, voa do muro para uma árvore próxima. Depois, o filhote faz a mesma coisa que a mãe, e resolve treinar voando de galho em galho, de árvore em árvore. Várias vezes.

Prestei bem atenção, e vi quando a mãe se pôs bem juntinho do filhote e os dois, então, voaram para o ar, ganhando alturas e sumiram no espaço. Uma coisa me impressionou naquela cena. Enquanto a mãe voou com o primeiro passarinho, o outro pássaro adulto ficou no ninho com o outro filhote. E somente no dia seguinte foi a vez de ele aprender a voar. E se repete tudo de novo com o segundo filhote. Então, lembrei que um ovo foi posto num dia e o outro ovo no outro dia. No reino animal, também tem a contabilidade do tempo e dos dias. O filhote do primeiro ovo, é o primeiro a voar. É princípio da natureza. E ela nos ensina que sempre há o momento certo para cada filho ter a sua própria liberdade.

Dia seguinte, lá estavam os dois pássaros-pais, juntinhos novamente no ninho. Depois, vi mais dois ovinhos. E tudo se repetia outras vezes. Foram dois anos de convivência, eu e aqueles pássaros. Várias ninhadas, sempre de dois em dois. A amizade entre eu e aquele casal de passarinhos foi tão intensa que chegou ao ponto de eu me aproximar deles, passar a mão neles, conversar com eles, fazer carinho neles. E eles tudo aceitavam, numa tônica impressionante da natureza.

Certa vez, meu filho Nayron, então com 13 anos, me abraçou na frente dos passarinhos e eles ficaram fazendo uma manifestação sonora diferente, numa demonstração de ciúme. E assim nasceu o meu romance “Pássaro na minha janela”.

Anos depois desse maravilhoso episódio, o jornalista Richard Louv escreveria:

— Às vezes, tenho a impressão de que o que aconteceu com meu pai — o desaparecimento da natureza em sua vida e seu mergulho na pobreza — equivale à vida de nossa cultura, em que a liberdade de as crianças vagarem a esmo diminuiu, quando as famílias se fecharam em si mesmas, quando a natureza tornou-se uma abstração. Entendo que essa equação está incompleta. O que veio primeiro? O mal-estar do espírito e do corpo ou o afastamento da natureza? Sinceramente, não tenho resposta para essa pergunta.

E, honestamente, ninguém de nós, por mais sábio que seja, tem resposta para tanta irracionalidade dos seres humanos contra a natureza.

 – Fim –

terça-feira, 1 de junho de 2021

ECONOMIA: MAIO TERMINA COM AUMENTO DE ENERGIA E ALIMENTOS

Maio termina com aumento em preço de energia e alimentos

Governo brasileiro perde as rédeas da economia ante a agressividade da pandemia

 

Por Battista Soarez
(De São Luís – MA)

 

Foto: Battista Soarez

O maranhense chegou ao fim do mês de maio reclamando da alta na conta de energia e na compra de alimentos. O fato causou impacto no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), conhecido como a prévia da inflação. Dados do IBGE, divulgados no dia 25, terça-feira, indicaram que o índice ficou em 0,44% — uma desaceleração em relação aos 0,60% de abril — mas representa o maior resultado para o mês em cinco anos.

De acordo com especialistas, nos últimos doze meses, o indicador acumulou alta de 7,27%, ficando acima dos 6,17% registrados nos doze meses anteriores. As avaliações dão conta de que a meta da inflação para este ano é de 3,75%, com a tolerância chegando a 5,25%.

Os mesmos especialistas fizeram levantamento e afirmam que todos os grupos, a exceção de transporte, tiveram altas. A deflação nos transportes, que caiu 0,27%, pesa no indicador porque o grupo tem o maior peso no IPCA. Essas mesmas fontes dizem que a principal influência é a queda de 28% nas passagens aéreas, que levaram o grupo a registrar deflação.

O IPCA e o IPCA 15 são medidos por uma cesta de itens e refere-se a famílias de um a quarenta salários mínimos (1.100 a 44.000 reais). Em tese, nem todos os consumidores sentem a alta dos preços do mesmo jeito.

O maior impacto foi na energia elétrica, que subiu 2,31%. Neste mês de maio, passou a vigorar a bandeira tarifária vermelha patamar 1, que acrescenta 4,169 reais na conta de luz a cada 100 quilowatts-hora consumidos, depois de quatro meses seguidos da bandeira amarela em vigor, cujo acréscimo é menor (1,343 reais). Houve reajustes nas contas de luz de São Luís. Com a falta de chuvas, o governo chama atenção do risco hidrológico para a inflação.

Foto: Internet

O gás de botijão também subiu de preço (1,45%) no mês de maio, embora com alta menor que no mês de abril (2,49%). Já é o 12º mês consecutivo de aumento. Os alimentos também ficaram mais caros. A subida do custo da alimentação no domicílio foi de 0,19% em abril, contra 0,50% em maio. A carne aumentou 1,77%. Em 12 meses, o acúmulo foi de 35,68% nos últimos 12 meses. O tomate deu um salto de 7,24%, que havia caído 3,48% em abril. Em compensação, o preço das frutas recuou 6,45% no período.

Foto: Internet

O IPCA 15 leva em consideração as duas primeiras semanas do mês vigente e as duas últimas do mês anterior. Por isso, o resultado é conhecido como a prévia do mês. O índice muitas vezes capta fenômenos e alterações de preços ajustados do  mês anterior. O grupo de saúde e cuidados pessoais, por exemplo, subiu 1,23% contra 0,44% do mês de abril.

No início de abril, a principal influência ficou no reajuste de 10,08% nos medicamentos. Houve aumentos nos remédios antialérgicos e broncodilatadores (5,16%), dermatológicos (4,63%), anti-infecciosos e antibióticos (4,43%) e hormonais (4,22%).

O governo Bolsonaro não tem conseguido segurar as rédeas da inflação. O combustível, por exemplo, está galopando para a casa dos R$ 6,00 o litro, que em poucos meses poderá chegar a R$ 10,00. Se continuar nessa disparada, vamos ver aonde vai chegar esse descarrilamento do “trem” da economia brasileira. 

segunda-feira, 31 de maio de 2021

POLÍTICA: LAHÉSIO BONFIM REÚNE LIDERANÇAS EM DOM PEDRO-MA

 

Lahésio Bonfim reúne multidão em Dom Pedro

Pré-candidato a governador, prefeito de São Pedro dos Crentes cresce em todo o estado

 

 

Por Battista Soarez
(De São Luís – MA)

 

Foto: Divulgação / Dr. Lahésio Bonfim com lideranças em Dom Pedro

O médico e prefeito de São Pedro dos Crentes, no Maranhão, Lahésio Bonfim, pré-candidato a governador do estado, tem se destacado como modelo em matéria de gestão municipal. Ontem, domingo, 30 de maio, Lahésio esteve na cidade de Dom Pedro onde participou do lançamento da pré-candidatura do empresário Thiago Palhares a deputado federal. Uma multidão de admiradores do prefeito Lahésio se fez presente no evento.

Muitas lideranças políticas, comunitárias e religiosas se fizeram presentes e, também, vários outros pré-candidatos do grupo. Segundo as manifestações de apoio, cada vez mais cresce o nome de Lahésio Bonfim na corrida ao Palácio dos Leões.

Na ocasião, também foi apresentado o Pastor Bel, da Assembleia de Deus de Santo Antônio dos Lopes, como pré-candidato ao Senado Federal. Pastor Bel foi suplente do senador Edson Lobão e assumiu o cargo por quatro meses, fazendo um excelente trabalho enquanto foi senador. Como atual presidente do conselho de pastores da sua região, Bel acredita no apoio da liderança evangélica no Maranhão e está ajudando a alavancar ainda mais o nome do Dr. Lahésio no cenário político do estado para as eleições de 2022.

Foto: Divulgação / Dr. Lahésio ladeado por pré-candidatos do grupo

As lideranças presentes figuraram comunidades dos municípios de Dom Pedro, de Presidente Dutra, Gonçalves Dias, Governador Archer, Santo Antônio dos Lopes e Região dos Cocais. De acordo com informações vindas de todas as regiões do Maranhão, o Dr. Lahésio está crescendo de maneira inexplicável, depois de ter tirado o município de São Pedro dos Crentes, do qual é prefeito, da 113ª posição no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), e o colocado na 2ª em apenas três anos de mandato.

Evangélico da Assembleia de Deus, onde exerce a função eclesiástica de presbítero e professor da Escola Bíblica Dominical, Dr. Lahésio vem conquistando a preferência do eleitorado maranhense desde que ficou conhecido no estado como o único gestor público que doa todo o seu salário de prefeito para construção de casas de famílias carentes e outras prioridades essenciais da comunidade do seu município. “Não vivo de prefeitura — disse ele ao Leitura Livre. — Eu vivo do meu salário de médico. Atendo num município aqui, noutro ali... E assim eu vou vivendo. Minha esposa também trabalha”.

Com 42 anos de idade, Lahésio foi reeleito prefeito da sua cidade com mais de 90% dos votos válidos e diz que seu único projeto é levar o Maranhão ao desenvolvimento com absoluta transparência e honestidade.

 

POLÍTICA: DEPUTADO FEDERAL PASTOR GIL (PL-MA) DÁ ASSISTÊNCIA A MUNICÍPIOS NO MA

Deputado federal Pastor Gil presta assistência a vários municípios durante a pandemia

O parlamentar tem se dedicado a cuidar principalmente das pessoas afetadas pela Covid-19

 

Por Battista Soarez
(De São Luís - MA)


Dep. Federal Pastor Gil


 O deputado federal Pastor Gil (PL-MA) tem se dedicado, durante todo o período da pandemia, a viajar pelos municípios maranhenses dando assistência a pessoas e famílias em dificuldade, em razão da Covid-19.

O parlamentar tem levado ajuda a pastores, igrejas, prefeituras e comunidades. Muitas pessoas com Covid-19 têm recebido ajuda do Pastor Gil, não só no sentido financeiro, mas também no sentido de serem conduzidas ao hospital e, ainda, no que se refere a compra de remédios e alimentação.

Dep. Pastor Gil recebendo homenagem na AD em Tuntum-MA

"Nesse momento tão delicado, em que vivemos em meio a uma pandemia, não podemos descansar. Temos de cuidar da nossa gente e fazer de tudo para que essa crise logo passe", ressalta o deputado.

Durante todo este final de semana, sábado, 29, e domingo, 30, Pastor Gil visitou vários municípios juntamente com o também deputado federal Josimar Maranhãosinho (PL-MA) e a deputada estadual Detinha (PL).

Segundo da esquerda para a direita: Dep. Pastor Gil

Em visita à Assembleia de Deus de Tutum-MA, Gil foi homenageado com reconhecimento por parte de lideranças de Tuntum em razão de estar desenvolvimento um mandato efetivamente participativo. O deputado é um dos políticos que defendem a bandeira do presidente Jair Bolsonaro. Recentemente, Gil acompanhou o presidente na sua agenda ao Maranhão.

domingo, 30 de maio de 2021

ENTREVISTA: MAGNO PAGANELLI — A influência da literatura cristã no pensamento intelectual brasileiro


A influência da literatura cristã no pensamento intelectual brasileiro

Com mais de 30 livros publicados, o escritor e editor Magno Paganelli diz que o autor cristão precisa ler o seu tempo e ser imaginativo a ponto de poder dizer a mesma mensagem adequada à cultura e à linguagem do tempo presente.

  

Por Battista Soarez
(Entrevista solicitada originalmente ao jornal literário Tribuna do Escritor, em junho de 2014).

 

Foto: Divulgação / Dr. Magno Paganelli, escritor, editor e jornalista

Em obediência à vocação e ao talento, o paulista Magno Paganelli, 47 anos (época da entrevista), é um escritor que sabe definir, na ponta da pena, por que escolheu a missão de trilhar pelos caminhos das letras. Autor com mais de 30 livros publicados, Magno é criador e editor da Arte Editorial desde o ano de 2003. O autor nasceu em Araçatuba, interior de São Paulo, em 1967. Cresceu sob influência de uma vida jovial libertina, experimentou a dura caminhada solta na efemeridade das drogas e, aos 23 anos, se converteu à igreja evangélica. Num lampejo metafísico, o autor diz acreditar que literatura é tudo aquilo que julgamos “ser” ela mesma a partir de fatos corriqueiros. “Dentro do rótulo ‘literatura’, podemos colocar tudo o que as experiências humanas vislumbram em forma de texto”, pondera ele. Em 1995, publicou seu primeiro livro E então virá o fim e, dez anos depois, criou sua própria editora.

A partir daí, Paganelli decidiu mergulhar, por definitivo, nos estudos cristãos, sua maior fonte de inspiração literária. Graduou-se, inicialmente, em Teologia e Pedagogia, e, logo em seguida, fez mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Mackenzie de São Paulo. Profícuo pesquisador e autodidata, o autor tornou-se membro do GT Oriente Médio e Mundo Muçulmano na USP (Universidade de São Paulo), onde fez doutorado em História Social. É professor de teologia, palestrante, jornalista e pesquisador dedicado. Seus mais de 30 livros publicados incluem E então Virá o Fim (Prêmio ABEC), Islamismo e Apocalipse, Estive Preso mas não Estive Só (romance que recebeu o Prêmio Areté), O Livro dos Diáconos, É Cristã a Igreja Evangélica?, Conflitos na Família, Qual a Sua Função no Corpo de Cristo, dentre outros. Em 2003, criou a Arte Editorial, editora com perfil cristão cuja missão é publicar obras que contribuam com a cultura e com o desenvolvimento de valores cristãos, dando suporte e oportunidade à formação de novos autores nacionais.

Em 2011, quando esteve em São Luís, Maranhão, para uma palestra com escritores, concedeu entrevista à rádio Universidade FM, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). A conversa com o autor focaliza a influência da literatura cristã no pensamento intelectual brasileiro. O jornal Tribuna do Escritor escolheu Magno Paganelli para esta entrevista exatamente por sua versatilidade, no âmbito da literatura e do mundo acadêmico, como escritor, diagramador, capista, editor, jornalista, educador, pedagogo e teólogo. Em matéria de produção literária, o entrevistado é polivalente: edita, faz capa, diagrama e distribui. De São Paulo, onde mora com a esposa Roseli e o pequeno Magninho, filho do casal, Magno Paganelli concedeu a seguinte entrevista.

 BATTISTA SOAREZ — Certa vez, o famoso sociólogo norte-americano Marshall McLuhan, falando para um grupo de escritores, disse que eles, escritores, eram nada mais que os últimos sobreviventes de uma espécie em extinção, pois já não servem para nada escrever e publicar livros. Isto se aplicaria, também, aos escritores cristãos?

MAGNO PAGANELLI — Sim, no sentido em que ele fez referência. Escritores são escritores, independentemente do estilo que adotam ou do tema com o qual trabalhem. O escritor cristão faz abordagens cristãs de todos os temas que toquem a sua vida e a experiência humana. Mas discordo de que escritores não sirvam “para nada mais”. Além disso, as novas tecnologias têm melhorado o produto “livro” e, portanto, a experiência de se ler um livro, além de produzir novos suportes e mecanismo mais democráticos para a existência e manutenção do livro. Escritores e livros, portanto, são uma necessidade eterna na historicidade do mundo e não há vida e evolução civilizatória sem autores e obras.

B. SOAREZ — Mas você não acha que, em termos do “pensar literário”,  a época em que se queimavam as pestanas à luz de lamparina não era mais produtiva, já que essas novas tecnologias parecem ter facilitado demais as coisas e, portanto, roubado um pouco ou quase tudo dos esforços do pensar intelectual?

M. PAGANELLI — Penso que não. Ao menos em um sentido. O escritor atento ao seu tempo saberá que não basta “ser mais um”. Para ser lido e ouvido, será preciso trabalhar, refletir, queimar as pestanas a fim de encontrar uma maneira de falar que “fale mais alto”. É a inovação que destaca no meio da massificação. Quem quiser ser mais um, será. Quem trabalhar mais, poderá se destacar.

B. SOAREZ — O que podemos considerar, de fato, literatura?

M. PAGANELLI — Penso que existem dezenas de definições de literatura. Como escritor, eu preciso experimentar estilos diferentes até encontrar o que mais se adeque ao que pretendo dizer ao público que almejo alcançar. Como editor, preciso considerar todo texto que chega até mim para ser avaliado, sem descartar inicialmente nenhum deles. Pois preciso compreender que cada autor que envia seu texto encontrou, em tese, o seu melhor estilo. Mas, acima de tudo, literatura é o meio pelo qual a experiência humana mais íntima toma contato com as mais amplas possibilidades de universalizar uma percepção da vida. Não importa se é poesia, romance, ensaio acadêmico, crônica, enfim...

Foto: Divulgação / Dr. Magno Paganelli

B. SOAREZ — Você falou em estilo e me faz entender que, por via da experiência humana, o escritor aguça sua percepção da vida a partir de um processo em que ele evoca, inicialmente, um princípio de busca “eu-ser-mundo”. E esta é a práxis no modus vivendi do contexto em que ele, como autor, quer construir seu texto. Neste sentido, a literatura depende de atitudes críticas para se fazer mais criativa? Ou ela simplesmente tira proveito de uma diversidade criacional livre, como propuseram os jovens escritores da semana de Arte Moderna, em 1922?

M. PAGANELLI — Não acredito que se consiga “uma diversidade criacional livre” sem, antes, dominar uma experiência pessoal, de vivência “eu-ser-mundo”. Só se consegue ser criativo dominando o seu campo, salvo se você for um iluminado, a exceção. Mas quem é a exceção? Quantos Mark Zuckenberg você conhece por aí? Quem de nós almoça ao lado do Pedro Bandeira todo dia? Ele vende mais que o Paulo Coelho, pelo menos quatro vezes mais! Penso que a literatura cresce à medida que nos dedicamos ao exercício de fazer literatura. Ser escritor de verdade é uma experiência diária e ininterrupta.

B. SOAREZ   Que diríamos, então? A literatura cristã é um jogo? Um passatempo? Um produto de anacronismos? Ou, acima de tudo, uma atividade artística, de modulações pluralistas, que tem exprimido alegria e angústia, certezas e dúvidas, aprendizados e enigmas no homem moderno? Que você acha?

M. PAGANELLI — Acho que dentro do rótulo “literatura” podemos colocar tudo isso e mais alguma coisa, porque, como disse, são experiências humanas em forma de texto. Então podemos catalogar experiências emocionais, intelectuais, científicas (mesmo cristãs ou com abordagem cristã), poesia, romances, história, ficção até. Enfim, não há tantas limitações. E não há anacronismos, pois estamos sempre lendo o passado, as experiências herdadas da própria humanidade e da Bíblia, que é um livro milenar de muitas culturas inspiradoras.

B. SOAREZ — Você acredita que o escritor cristão brasileiro é um produtor de conhecimento ou simplesmente um repassador de ideias e pensamentos já produzidos?

M. PAGANELLI — Não penso que somos simples duplicadores, repetidores de discursos literários, de alguém que já disse alguma coisa no passado. Com criatividade, o escritor cristão precisa ler o seu tempo e ser imaginativo a ponto de poder dizer a mesma mensagem adequada à cultura e à linguagem do tempo presente. Como o homem sempre está produzindo conhecimento, o escritor cristão precisará acompanhar essa dinâmica fazendo ajustes necessários de acordo com as novas demandas. Por exemplo, quando se discute o aborto, que é uma discussão recente, o escritor cristão deverá produzir reflexões a partir da sua abordagem cristã para a vida. Que implicações terá o aborto? Que contribuição ou não trará para a humanidade? A sua fé poderá dar contribuições a essa reflexão ou ela não deverá interferir nas decisões legais e pessoais sobre o tema?

B. SOAREZ — Você está dizendo que o escritor é um “construtor” a partir de verdades catalogadas da realidade social? Como ele pode empreender isso e ainda “burilar” sua originalidade? De que maneira isso ocorre, uma vez que a literatura exige uma intelectualidade que maneje bem as circunlocuções em suas abordagens para obter o resultado que pretende, ao gosto do leitor a quem pensa se dirigir?

M. PAGANELLI — Penso que aqui reside a questão do estilo pessoal. A verdade, como você diz, é “catalogada”. Está posta. O leitor precisa ser tocado pelo autor, mas o leitor também está buscando algo e encontrará o que procura, o que busca, quando ouvir o eco da sua voz. Por que alguns autores são tão queridos por determinados nichos? Porque ele dá eco ao que aquele nicho precisava ouvir. Se for romancista, “fala ao coração”. Algo assim. O autor precisa artificiar uma maneira atrativa de escrever ou narrar a realidade social, unindo verdade e agradabilidade persuasiva para que ele toque na alma do leitor e desperte nesse leitor um interesse incontrolável pela leitura de sua obra. E isso requer trabalho e dedicação.

B. SOAREZ — Qual é a sua maior dificuldade como editor? Ao escolher uma obra, você avalia exatamente o quê? O que você, como editor, procura no espírito literário de um autor?

M. PAGANELLI — No meu caso específico, eu procuro textos que tenham contribuições com a formação de uma reflexão e um pensamento maduro para a Igreja. Primeiro para os líderes, os que atuam diretamente no trabalho cristão em si, e têm isso como ofício. Tenho em mente o fato de que eles precisam de um preparo intelectual. Em consequência, isso deve refletir na formação dos membros. Assim, a dificuldade é encontrar algo inovador, pois a maioria dos textos repete o que já foi dito. Falta o hábito de ler, método e prática de pesquisa, uma cultura mais rica de se ler, refletir e produzir literatura. E penso que isso não é demérito do cristão brasileiro, mas em outro sentido é reflexo da cultura do país.

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"O escritor pré-Internet precisava
de ânimo para ir a uma biblioteca
e hoje ele acessa a biblioteca
deitado em sua cama."

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B. SOAREZ  Seria incorreto dizer, então, que essa procura pela cultura mais “rica” passa pela índole fragmentária do escritor em que, de fato, ele pudesse organizar perífrases realistas em função de uma política de conteúdo? E que isso tivesse padrões mais rígidos de comportamento impostos por via de uma moral essencialmente mais literária?

M. PAGANELLI — Todo escritor amadurece e, com isso, mudará ou aprofundará as compreensões anteriores. Assim, a busca pela cultura mais “rica” permanece, tanto no escritor, quanto no editor. Todos queremos avançar. Um autor não poderá atender as exigências de determinada editora ou linha editorial porque não é o seu público ou porque não amadureceu a tal ponto. Mas, num segundo ou terceiro momento, isso poderá ser possível.

B. SOAREZ — Você acha que a safra de escritores nos anos que antecederam o advento da Internet era mais criativa? Sua intelectualidade era bem mais densa do que a de hoje?

M. PAGANELLI — Eu penso que eram mais limitados. Hoje o acesso à informação ampliou-se muito, mas isso não produziu, ainda, um grupo, como você chamou, “mais criativo”. O acesso à Internet favoreceu o contato com novas e mais informações, mas muita gente ainda não tem o critério jornalístico que demanda pesquisa, apuração, cuidado com as fontes e com a verdade. O escritor pré-Internet precisava de ânimo para ir a uma biblioteca e hoje ele acessa a biblioteca deitado em sua cama. Mas ele não desenvolveu, ainda, um pensamento criterioso, salvo aqueles escritores que possuem maior formação acadêmica. Mas mesmo esses, em muitos casos, produzem enquanto estão nos ambientes da produção científica. São poucos os que levam isso à frente.

B. SOAREZ — Mas será que, com as novas tecnologias da informação, a mente das pessoas não ficou bem mais “preguiçosa” em relação ao exercício criacional e produtivo, principalmente no que tange ao quesito originalidade?

M. PAGANELLI — A população mundial aumentou consideravelmente. O Brasil quase dobrou a sua população em quarenta anos. Com isso, certamente, a massificação ocorreu, mas sempre haverá um nerd querendo cortar caminho, abrir caminho, inventar ou criar novos caminhos. Há 10 anos, o self publishing era um projeto promissor. Hoje, é uma realidade. E alguns, naquela época, diziam que as editoras quebrariam com esse modelo. Hoje, os editores procuram autores que se publicaram para lançá-los. Veja, por exemplo, os 50 Tons de Cinza, que “criou” um novo gênero. Vai durar? Enquanto tiver leitores, sim. Penso que passará. Mas mobilizou parte da indústria do livro. No meio cristão, tivemos a onda da batalha espiritual. Cadê os livros do Daniel Mastral? Hoje estão no fundo da livraria. Depois, nem isso. Só serão achados nos sebos.

B. SOAREZ — Quase não se fala em escritores cristãos brasileiros do passado. Os que existiram, produziram pouco. Há alguém que teve alguma influência literária, além de alguns estrangeiros, é claro?

M. PAGANELLI — A produção literária brasileira é relativamente recente. Tudo era muito caro. Até a década de 1980, por exemplo, era preciso imprimir 20 mil, 30 mil exemplares de uma obra para poder vendê-la a um preço justo. Quem poderia sustentar isso? Só poucos. Soma-se a isso o fato de uma tradição igualmente recente. O pensamento teológico cristão, por exemplo, era insipiente. Os missionários que controlavam os rumos da nossa Igreja não apoiavam facilmente o pensamento autóctone. Preferiam trazer os seus autores e traduzi-los. Só de uns anos para cá, os brasileiros passaram a controlar os meios de comunicação. Mas também não tinham, à sua disposição, bons nomes para publicar. O recurso era manter autores estrangeiros. Mas no início dos anos 2000, simultaneamente, algumas editoras começaram a focalizar autores nacionais, desenvolvendo obras com reflexão sobre o caso e os problemas nossos, com a vivência local, para as demandas locais. Mas há mais um detalhe que, penso eu, faz com que os primeiros autores, das décadas passadas, não sejam tão lembrados como poderiam. A produção da informação recente demanda uma linguagem para o homem de hoje. Autores do passado eram mais simples, mais cultos, mais densos. O leitor de hoje não consegue acompanhar aquele pensamento, porque são mais rasos culturalmente — embora tenham acesso a um oceano de informação, são mais imediatistas, querem receitas prontas — ao passo que o escritor do passado escrevia para formação, e não apenas para informação.

B. SOAREZ — Por que que o gênero romance é pouco explorado pelos escritores cristãos?

M. PAGANELLI — Penso que por dois motivos, pelo menos. Um, porque falta cultura de leitura, leitura de literatura geral, dos clássicos. Outro, porque o púlpito das igrejas demanda o conhecimento de um conteúdo que está organizado sistematicamente e, assim, as obras com cunho mais “técnico” têm prevalência sobre a literatura do gênero romance, contos etc.

B. SOAREZ — Você escreveu um romance, o Estive preso, mas não estive só. Que, inclusive, ganhou o Prêmio Areté de Literatura! Em sendo um autor de ensaios cristãos, você teve dificuldade de organizar um romance? Na prática, qual foi o maior óbice para você se manter fiel ao gênero?

M. PAGANELLI — Foi um romance baseado em fatos reais onde o personagem central era eu mesmo. Uma autobiografia na qual todos os nomes dos personagens, inclusive o meu, foram mudados, para preservar a privacidade das pessoas. Isso facilitou sobremodo a composição do texto, porque parte da dificuldade fora superada pelo fato de eu “ter” a história já experimentada em mim. Mas havia a dificuldade da construção de um texto com mais vozes. Como você disse, eu escrevo ensaios. Assim, li alguns autores consagrados à procura de uma referência que pudesse funcionar com o que eu queria. Encontrei, notei que era uma receita simples, mas muito poderosa e o resultado agradou. Já encontrei dezenas de pessoas que disseram ter lido o livro em dois dias, porque a história as prendeu ao livro. O livro foi premiado por um júri experiente. Penso que acertei.

B. SOAREZ — Quem você aponta como um grande escritor cristão brasileiro? Alguém que realmente exerceu influência na literatura cristã nacional?

M. PAGANELLI — Há gente que publicou muitos livros e deu uma importante contribuição com a disseminação do pensamento cristão, que foi o Caio Fabio. Seus sermões eram vertidos para livros e isso espalhou-se como fogo em mato seco. Mas não significa que ele seja um grande escritor. De fato não o é. Há autores mais novos que também venderam muito, mas sua obra é datada. Souberam explorar a curiosidade latente do seu tempo. Mas, passados dez anos, ninguém mais se interessa pelo que escreveram. Então, não posso dizer que sejam grandes escritores. Eu penso que ainda vamos precisar de uns anos para poder dizer este ou aquele, de fato, foram homens à frente do seu tempo.

B. SOAREZ — O Caio Fábio, inclusive, escreveu um romance, o Nephilim. Apesar de a obra ser de boa qualidade, ele não voltou a escrever mais nada no gênero. Você acha que o público cristão brasileiro não aprecia muito ler romances? Ou está faltando uma política de incentivo à leitura mais acentuada?

M. PAGANELLI — Um pouco de ambos. Mais da primeira opção. Uma política de incentivo pode gerar bons resultados. Mas o público cristão demonstra maior interesse por livros de práxis cristã, que sejam as receitas (faça isto, experimente aquilo). Que seja um material mais teológico (não tão acadêmico, no sentido secularizado). Se um autor der uma palestra e comentar sobre um livro de testemunhos, o livro será procurado. Eventualmente, eu menciono a minha experiência no livro Estive Preso, mas Não Estive Só e as pessoas procuram no final da palestra. É um romance. Se eu der uma aula e falar do livro sobre tipologia bíblica, as pessoas irão querer o livro Onde Estava o Cristo. Elas precisam de um tutor experiente que diga o que há nos livros. Então, irão atrás.

B. SOAREZ — Certos livros são muito conhecidos. Estão nas vitrines de qualquer livraria e todo mundo [que tem o hábito de ler] sabe dizer o nome de seus autores. Isso se deve a que, exatamente?

M. PAGANELLI — Um motivo é o que apontei: autores que souberam explorar alguma demanda, alguma tendência ou moda. Então fizeram nome rapidamente. Outros alcançam isso porque têm uma máquina por trás, seja a denominação, seja a mídia como a televisão, que pode impulsionar um livro, sem que necessariamente esse livro seja realmente imprescindível. E outros têm a sorte de serem publicados por editoras fortes, ricas, influentes. Fora desse eixo, não vejo como um autor ganhar as vitrines de lojas e livrarias, embora possam ser bem aceitos pelo público que ouve suas palestras, aulas e estejam mais próximos a eles.

B. SOAREZ — Neste caso, o que está faltando? Os movimentos literários são tímidos, orgulhosos e melancólicos a ponto de não poderem se organizar em função de uma política literária mais patente?

M. PAGANELLI — Eu não tenho respostas fáceis para essa questão. Há uma máquina em andamento e essa máquina é movida a dinheiro. Sem dinheiro não há muito o que fazer, salvo um evento sinérgico, que consiga reunir interesse do público por alguma demanda ou por alguma resposta, um grupo de promotores, editores, autores, facilitadores, e os meios que facilitem esse encontro de ambos os lados, o texto e o seu leitor. Precisamos de uma Semana de Arte Pós-moderna Cristã! (Risos).

B. SOAREZ — Numa ocasião, perguntaram ao escritor William Faulkner sobre que técnica empregava para chegar ao seu padrão na redação de um texto. Ele respondeu: “Que o escritor se dedique à cirurgia ou à profissão de pedreiro, se se interessar pela técnica. Não existe meio mecânico algum para se escrever. Nenhum atalho”. E em seguida explicou que o jovem escritor seria um tolo se seguisse uma teoria [literária]. Como Faulkner, você acha que a gente aprende pelos seus próprios erros? Que, como bom artista, possui a suprema vaidade de aprender errando?

M. PAGANELLI — Hoje há cursos com especialistas em literatura que ensinam a produzir bons textos. E há aquele “escritor espermatozoide” que fura o bloqueio e se dá bem depois de passar por um curso desses. Mas não são todos, evidentemente. Acredito que a pessoa que sente vontade de destacar-se como autor deve começar a praticar e estudar os estilos possíveis até encontrar o seu próprio estilo. A prática da escrita leva a um estilo pessoal e isso vem de tentativas, erros e acertos. Penso que Faulkner quis dizer algo nesse sentido: exercite-se até desenvolver a sua própria técnica, até encontrar o seu estilo, ajustado ao seu mundo e aos seus propósitos. A simples organização de um texto, com “começo-meio-e-fim”, já indica uma técnica. Se o autor quiser fazer uma inversão dessa ordem, criará a sua própria técnica.

B. SOAREZ — O que você diria a respeito do discurso literário para o mundo de hoje? Que principais indagações ele faria e, ao mesmo tempo, seria capaz de responder?

M. PAGANELLI — Sim, há o que dizer. Penso realmente que há muito o que dizer. Mas hoje é preciso pensar mais antes de sair “dizendo” o que se pensa. Cristãos, hoje, têm discurso para ser ouvido e lido em qualquer campo do conhecimento humano. E com relevância. Mas é preciso abandonar o simplismo — não a simplicidade. O reducionismo pode ser fatal, mas um discurso consistente e bem elaborado terá ouvidos atentos, ainda que a esse ouvido atento corresponda uma boca discordante. O “ouvido ouvirá” se o discurso for bem articulado, com simplicidade, relevância e coerência persuasiva. Se tocar em questões prementes e se colocar no seu devido lugar.

B. SOAREZ — Como manifestação artística, a literatura procura recriar a realidade. E cada autor tem sua visão fundamentada em seus próprios sentimentos reais, pontos de vista, seu estilo e sua maneira particular de proceder nas narrativas. No seu modo de ver, o que difere a literatura de outras manifestações artísticas?

M. PAGANELLI — A literatura difere no suporte, apenas. Uma pessoa não pode, simplesmente, colorir uma tela para obter uma obra de arte. Ela precisa conhecer sobre composição de cores, luz e sombra, perspectiva, gênero e estilo pessoal. O escritor também precisa ter noções mínimas, ter vocabulário, saber manipular argumentos, construir raciocínios consistentes, contextualizar e, finalmente, persuadir. Todas as manifestações artísticas dependem de ferramentas próprias. E a literatura tem as suas.

Foto: Divulgação / Dr. Magno Paganelli

B. SOAREZ — Como se faria isso? Você está falando de um retorno à biopsicoética, para sermos mais específicos em matéria de literatura?

M. PAGANELLI — Não, não. Não precisamos voltar, mas avançar. Não dá para resgatar movimentos passados. Mas podemos usar um ou outro elemento que possa ser adequado ao movimento presente. Se as ferramentas e os suportes são novos, usemos as ferramentas e os suportes novos. Mas é preciso que se tenham atitudes críticas, criativas e harmônicas para que possamos, enquanto escritores, apreender, vivenciar e repassar o melhor da vida para aqueles que nos leem.

B. SOAREZ — Isso parece algo, digamos, mais genérico. Essa mesma regra e diferença se aplicam, também, à literatura cristã?

M. PAGANELLI — Aplica-se enquanto é literatura. Mas o restringente “cristã” faz com que um ingrediente a mais esteja presente, que é a régua da Bíblia e até da tradição teológica do autor. O seu olhar passará, em algum momento, pelas lentes dadas pela sua abordagem “cristã” do assunto com o qual ele lida.

B. SOAREZ — O que diferiria, então, um texto “literário” de outro texto que não possui essa mesma característica?

M. PAGANELLI — Penso que texto literário é texto literário. Costumo dizer que há gente para ler de tudo o que alguém possa escrever. Basta ter uma bela capa e um bom vendedor. Mas a boa literatura é aquela que permanece na lembrança das pessoas, independente se ela cai ou não no gosto da crítica. Ou se ela segue ou não as regrinhas do jogo. A literatura precisa falar à alma dos seus leitores, sejam eles emotivos ou racionais, cultos ou simples [de senso comum]. Se conseguirmos escrever um texto que acelere o coração do leitor, que ilumine os seus pensamentos, que seja ele instrutivo nalgum ponto de sua vida. Teremos conseguido, então, um bom texto literário.

B. SOAREZ — Que parecer você daria para os jovens escritores e intelectuais que estão surgindo agora? Sobretudo para aqueles que estão nas universidades, como os estudantes do curso de letras, por exemplo?

M. PAGANELLI — Que procurem dominar a técnica, mas não extingam o espírito, nunca. Num mundo técnico e tecnológico, você não terá lugar ao lado de ninguém se não dominar a técnica. Mas se quiser sobressair-se, se quiser ir à frente — e não somente ficar ao lado — mantenha aceso o espírito. É ele que fará de você um pensador criativo. E no encontro da técnica com a criatividade está a receita que todos procuram para se tornarem bons autores.

 – Fim –