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terça-feira, 13 de junho de 2023

A CULTURA DA PARVICE E TEORIAS DO SUBDESENVOLVIMENTO | Por Battista Soarez | Coluna Leitura Livre | Jornal Itaqui-Bacanga

 OPINIÃO

A cultura da parvice e teorias do subdesenvolvimento


Por Battista Soarez
(Escritor, jornalista e professor universitário)




A TOMADA DE CONSCIÊNCIA do fenômeno do subdesenvolvimento que tem as suas primeiras manifestações nos anos imediatamente posteriores à Segunda Guerra Mundial se generaliza nos primeiros anos da década de 1960, quando a maior parte dos territórios colonizados consegue sua independência.


Quem lê a história sabe que a ordem econômica surgida da Segunda Guerra Mundial estava baseada nos princípios mais estritos do livre-cambismo econômico e que, numa primeira etapa, a teoria econômica keynesiana foi a utilizada para compreender os problemas do subdesenvolvimento. Nela, o subdesenvolvimento é considerado como uma situação de depressão crônica. Ou seja, um país subdesenvolvido pode analisar-se como se se tratasse de um país desenvolvido, mas com a particularidade de que sua depressão é crônica, de acordo com especialistas.


Isso, se aplicado em região como a baixada maranhense, por exemplo, se tem em vista a receita decorrente deste tipo de análise. É muito simples e podemos resumi-la em dois tipos fundamentais de medidas. O primeiro tipo diz respeito a grandes investimentos em obras públicas. O segundo é concernente a uma política de dinheiro barato, isto é, créditos com baixa taxa de juro.


Na universidade, tenho dito para meus alunos que a aplicação destes princípios sofre um fracasso relativamente importante, haja vista que esta ação de tipo keynesiano não era adequada à estrutura de países que estavam muito longe de se assemelharem à estrutura que a Grã-Bretanha apresentava nos anos 1930. Esta primeira perspectiva de tipo keynesiano deu lugar a outras que, embora mantendo-se no terreno estreitamente econômico, contribuíam com alguns novos elementos. Entre eles destaca-se como elemento distintivo do subdesenvolvimento a consideração do atraso temporal em alcançar o desenvolvimento.


Por assim dizer, os países subdesenvolvidos eram para ter ficados para trás na corrida do crescimento econômico. Portanto, os temas fundamentais deveriam ser as causas que tinham provocado esse atraso e as possíveis soluções para sair dele.


Nessa linha de pensamento, enfim, as duas teorias mais conhecidas são as de A. Lewis e W. Rostow. Segundo Lewis, o problema básico que atinge os países subdesenvolvidos é uma insuficiência de capital por terem uma oferta "ilimitada" de mão-de-obra.


Desta primeira tese de Lewis destaca-se a necessidade de uma contínua política de expansão dos investimentos do capital, tanto públicos como privados, pois a qualquer volume deste aplicar-se-ia uma mão-de-obra suficiente.


Todavia, ao fim de poucos anos, esta política esbarrou com uma grave dificuldade, já que, se é certo que nos países subdesenvolvidos ou atrasados existe uma grande oferta de mão-de-obra, seu nível de especialização é muito baixo e a parte que pode colaborar com o novo capital é muito reduzido.


Por outro lado, a teoria de Rostow afirma que toda economia passa por um certo período de arranque, no qual se produz uma acumulação de capital muito rápida que produz a um processo de desenvolvimento econômico de tipo autônomo. Em outras palavras, uma vez realizado um determinado investimento de capital, em que será absolutamente necessário que o Estado intervenha, desencadear-se-á um processo autônomo, auto-suficiente e irreversível.


Na região norte e nordeste do Brasil, analisando-se, por exemplo, a cultura mental dos habitantes, a teoria econômica dos neoclássicos vai vislumbrar o fato de que é necessário realizar uma série de investimentos de capital combinados com trabalho que atuem, ao mesmo tempo, em diferentes setores, de modo que determinado investimento de capital num setor provoque uma série de necessidades que outro ou outros setores terão de satisfazer.


Portanto, nesse particular, é importante selecionar os investimentos para que se realizem naqueles setores tecnicamente interligados, a fim de se produzir um crescimento equilibrado e de se poder evitar as situações de excedente ou escassez típicas das economias atrasadas.


Para o Maranhão ou qualquer estado do norte e do nordeste se desenvolver, enfim, será preciso investir em atividades educativas no sentido de corrigir a cultura mental dos habitantes. No dia em que o povo pensar diferente, a política dos auxílios será substituída por investimento, trabalho, produtividade, enriquecimento e qualidade de vida.


Diante da nossa realidade, está claro que a pobreza é uma condição mental que leva os habitantes a desenvolverem uma cultura de parvice e, consequentemente, a viverem no comodismo da pequenez social e da escassez econômica. Casam-se com a pobreza e não conseguem dela se libertar. Afinal de contas, estão presos na cultura mental da parvice e/ou, para ser mais claro, aprisionados na antropologia da tolice e do atraso econômico.



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