G E O P O L Í T I C A
Visita de Macron ao Brasil envolve interesses pela Amazônia
Os assuntos da pauta debatidos entre Lula e o presidente francês incluem questões ambientais e acordos internacionais
Por Battista Soarez
(De Belém - PA)
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O ENCONTRO ENTRE OS PRESIDENTES Lula, do Brasil, e Emmanuel Macron, da França, envolvem interesses internacionais sobre a Amazônia que podem colocar o Brasil em situações muito ruins.
Lula e Macron foram recebidos em Belém, nesta terça-feira (26), pelo governador do Pará, Helder Barbalho. Janja, primeira-dama do Brasil, sempre estava junto ao lado do marido. O esquema de segurança foi bem articulado, inclusive sobre as águas do rio Guamá, por onde os dois presidentes fizeram o trajeto em direção à Ilha do Combu, onde visitaram uma fábrica de cacau para produção de chocolate.
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É a primeira vez que Macron visita o Brasil, iniciando pela capital paraense. A agenda bilateral foi intensa, e os assuntos sempre voltados para a Amazônia, conforme o presidente francês sempre ventilou fortes interesses, desde o governo Bolsonaro.
Os dois chefes de Estado foram recepcionados também pela primeira-dama paraense, Daniela Barbalho, pelo Ministro de Estado do Turismo, Celso Sabino, e pelo Ministro de Estado das Cidades, Jader Filho.
A data de 26 de março de 2024 marca a primeira visita oficial ao Brasil do presidente francês. Na companhia de Lula e Helder, Macron iniciou, na capital paraense, uma extensa agenda bilateral no país ao longo dos próximos dias. A agenda em Belém teve como uma de suas motivações a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que será sediada na capital paraense em novembro de 2025. O governador Helder, na oportunidade, aproveitou para presentear Emmanuel Macron com uma camisa marajoara e camisas dos dois maiores clubes do Estado: Remo e Paysandu.
Os dois presidentes e o governador do Estado do Pará estiveram na Ilha do Combu, na margem sul do Rio Guamá, e acompanharam a produção artesanal e sustentável do cacau na localidade. Fizeram também uma visita à fábrica de chocolates “Filha do Combu”, gerenciada pela empreendedora Dona Nena, exemplo de bionegócio.
Atualmente, o estado do Pará é o único do Brasil a contar com um Plano de Bioeconomia. No trajeto até o Combu, o presidente Lula e o governador Helder Barbalho tiveram a primeira reunião bilateral com o presidente francês. Entre os integrantes da equipe de Macron estão o ministro de Europa e dos Negócios Estrangeiros, Stéphane Séjourné, a secretária de Desenvolvimento e Parceiras Internacionais do Ministério de Europa e dos Negócios Estrangeiros, Chrysoula Zacharopoulou, além do embaixador da República Francesa no Brasil, Emmanuel Lenain.
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Integram a comitiva do Executivo Federal os ministros Mauro Vieira, das Relações Exteriores; Marina Silva, do Meio Ambiente; e Sonia Guajajara, Ministra dos Povos Indígenas; além de Ricardo Neiva Tavares, Embaixador do Brasil na França e a primeira-dama do Brasil, Janja.
Um dos assuntos de grande relevância para Emmanuel Macron --- que, de forma muito clara, está na Agenda 2030 da ONU --- debatidos foi o tema desenvolvimento sustentável. Helder e Lula, juntos, mostraram ao presidente francês a complexidade da questão amazônica e as alternativas de desenvolvimento econômico sustentável, que encontram na bioeconomia o caminho chave para a transição para uma economia de baixo carbono.
No trajeto pela capital paraense, os presidentes e suas comitivas também tiveram um encontro com representantes indígenas. Na ocasião, o líder indígena da etnia Kayapó, Raoni Metuktire, recebeu das mãos de Macron a condecoração Legião de Honra --- maior honraria francesa --- como expoente mundial da causa indígena.
Emmanuel Macron permanece no Brasil até a quinta-feira (28) e ainda deve visitar as cidades de Itaguaí (RJ), São Paulo e Brasília. De Belém, Lula e Macron seguiram para o Rio de Janeiro, onde cumpriram compromissos de interesses entre os dois países.
"A agenda de Macron inclui, ainda, visita às cidades de Itaguaí (RJ), São Paulo e Brasília. "Uma visita de três dias para um chefe de Estado não é usual. Isso é um indicativo da importância da relação entre Brasil e França, do intercâmbio e do interesse profundo em diversas áreas", avaliou a embaixadora Maria Luísa Escorel, secretária de Europa e América do Norte do Ministério das Relações Exteriores, em conversa com jornalistas.
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A visita de Lula e Macron à floresta amazônica e conversa com indigenas indicam sinal de que os interesses não são de pouca significância. E a vinda do presidente francês ao Brasil tem a ver com a progressão das viagens de Lula pela Europa, logo que assumiu o governo em 2023, sob comando secreto da ONU. E a visita de Macron a quatro cidades brasileiras é estratégica. Basta avaliar a natureza dos temas tratados pelos chefes dois de Estado, que são nas áreas de meio ambiente, defesa, reforma dos organismos multilaterais, dentre outros assuntos.
O Palácio do Itamaraty revelou que o interesse de Lula é mostrar ao presidente Macron a complexidade da questão amazônica e as alternativas de desenvolvimento econômico sustentável que existem. Além disso, o presidente brasileiro quer mostrar ao líder francês o fato de a Amazônia não ser apenas uma grande área de floresta, mas um local que abriga imensa população, com cerca de 25 milhões de habitantes, e que depende da própria floresta para a sua sobrevivência.
Nesta quarta-feira (27), Lula e Macron partiram de helicóptero do Forte de Copacabana para o município de Itaguaí (RJ), onde inauguraram o terceiro submarino construído no Complexo Naval da Marinha, a partir de Programa de Submarinos, fruto de um acordo de cooperação entre os governos do Brasil e da França. O programa prevê, ao todo, a construção de cinco submarinos, sendo o último previsto para ser entregue em alguns anos, um equipamento de propulsão nuclear.
Além de discutir a continuidade da parceria, Lula e Macron trataram de um programa para produção de helicópteros militares e energia nuclear de uso civil. Ainda não se sabe o objetivo disso.
Do Rio de Janeiro, o presidente Lula retornou a Brasília, enquanto Macron viajou para São Paulo, onde cumpre outra etapa de sua visita ao Brasil. Na capital paulista, o presidente francês participou do Fórum Econômico Brasil-França, nesta quarta-feira (27), na sede da Federação de Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Cerca de 50 empresários franceses se fizeram presentes. Os dois países registraram fluxo comercial de US$ 8,4 bilhões em 2023, sendo US$ 2,9 bilhões de exportações e US$ 5,5 bilhões de importações.
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Na pauta de exportações brasileiras para a França predominam produtos como farelo de soja, óleos brutos e petróleo, bem como celulose e minério de ferro. Do lado francês, os principais produtos importados pelo Brasil são motores e máquinas, aeronaves e produtos da indústria de transformação.
Dados do Banco Central revelam que a França é o terceiro maior investidor no Brasil, com mais de US$ 38 bilhões. Além disso, há cerca de 860 empresas francesas atuando no Brasil, com geração de 500 mil empregos. O encontro empresarial contou com a presença do vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin.
Após o encontro empresarial, Macron deverá participar de um jantar com artistas e personalidades da cultura brasileira, incluindo o cantor e compositor Chico Buarque. Não está descartada a possibilidade de o presidente francês caminhar a pé pela Avenida Paulista e visitar o Museu de Arte de São Paulo (Masp). A agenda ainda prevê encontro com integrantes da comunidade francesa no Brasil e inauguração de uma unidade do laboratório Pasteur na Universidade de São Paulo (USP).
Macron passa a noite de hoje, quarta-feira (27), na capital paulista e amanhã, quinta-feira (28) embarca para a última etapa da viagem, que é a visita de Estado a Brasília, onde será recebido com honras de chefe de Estado e se reunirá com Lula no Palácio do Planalto. O encontro terá ênfase em temas bilaterais e globais, além de culturais, exatamente como prevê a Agenda 2030 da ONU, já que 2025 marca os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países.
Temas como reforma das instituições multilaterais, incluindo assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas, além das guerras na Ucrânia e em Gaza devem ser abordados por ambos. A situação política na Venezuela e a crise humanitária no Haiti são outros assuntos que fazem parte da pauta entre os dois chefes de Estado.
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Cerca de 30 atos poderão ser assinados por Lula e Macron, em diversas áreas. Após essa etapa da reunião, os dois presidentes farão uma declaração à imprensa. Em seguida, participam de almoço no Itamaraty. Emmanuel Macron ainda deverá ser recebido no Congresso Nacional pelos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Questão Mercosul - União Europeia
Um tema bastante delicado, entre Brasil e França, que deverá ser evitado durante a visita de Macron em Brasília, é o das negociações em torno do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Isso porque o presidente francês declarou, no fim do ano passado, sua oposição ao fechamento do acordo.
"Esse não é o assunto desta visita. Houve uma pausa nas negociações por causa das eleições no Parlamento Europeu. O foco é a relação estratégica bilateral entre esses dois países. O foco são as convergências, não as divergências", observou a embaixadora Maria Luísa Escorel, do Itamaraty.
Enquanto isso, o Leitura Livre segue acompanhando os fatos relacionados a essas grandes questões de interesse global.
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