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quinta-feira, 4 de setembro de 2025

COLUNA LEITURA LIVRE | por Battista Soarez

COLUNA LEITURA LIVRE 

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Por Battista Soarez
(Jornalista, escritor, sociólogo, teólogo e professor universitário)

Deus caminha com a humanidade
O significado do mistério do Sagrado na cosmologia social em Cristo Jesus, o Senhor

Imagem meramente ilustrativa | Foto: Divulgação.
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QUANDO O SENHOR JESUS CRISTO ordenou fazer discípulos de todas as nações --- comissionando seus seguidores a saírem mundo a fora para instruírem pessoas de todas as culturas a respeito do reino de Deus --- Ele estava dizendo que a humanidade pertence ao Deus Criador e que ela precisa ser ensinada sobre os valores sagrados, perdidos durante o percurso da história humana. As sociedades criaram suas culturas e, em nome delas, se afastaram do seu Criador. Isso causou um impacto destruidor na cosmologia social e levou Deus a entregar seu Filho em resgate dessa humanidade perdida no universo de ingratidão e incredulidade por parte dos seres humanos.

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Quando eu digo que Deus caminha com a humanidade, quero expressar a ideia teológica de que Deus não é distante, mas sim presente e ativo na história humana. Ele acompanha o povo em sua jornada, especialmente os necessitados, e até mesmo se identifica com os que sofrem, como se vê no Antigo Testamento através da coluna de fogo, ou no Novo Testamento, com a vinda de Jesus. Essa presença é manifestada através de sinais, provisão e alianças, mostrando a fidelidade e o amor de Deus para com a humanidade. É o mistério do Sagrado operacionalizando no ministério espiritual salvífico e magnificente.

Vemos as manifestações da presença de Deus no Antigo Testamento. Ele guiava Seu povo com uma nuvem ou coluna de fogo, o sustentava com maná e água, e manifestava Sua proximidade através da Tenda da Reunião. Prova de que Deus caminha com a humanidade e dela cuida na qualidade de Criador e Pai eternal.

No Novo Testamento, Jesus, como "profeta itinerante" (manifestando o seu Senhorio para toda a humanidade), também caminhou com as pessoas, revelando a verdadeira natureza de Deus e seu amor pela humanidade. 
Com relação aos marginalizados, a teologia cristã ensina que Deus caminha não apenas com Seu povo, mas também "no" seu povo, identificando-se com os pobres e marginalizados.

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A intenção de Deus não é eliminar a humanidade rebelde e perdida, mas estabelecer restauração, comunhão e propósito. Ele criou o ser humano com o propósito de ter comunhão, refletir a imagem divina e cumprir Seus propósitos na Terra.

No quesito redenção e transformação, Deus já iniciou um processo de redenção da humanidade e da criação, com o objetivo de transformá-las ao longo do tempo. Deus, então, revela sua bondade e tolerância para com o homem pecador.

No que concerne às sementes do Reino, a doutrina social da Igreja sugere que, mesmo nas dificuldades e nas fronteiras geográficas, Deus planta sementes do Reino nos corações das pessoas. E, assim, as relações do homem com o Sagrado tornam-se clarividentes. E assim vemos, aqui, a fraternização do mistério sagrado na natureza espiritual do mundo "cosmos" (Jo 3.16). Este é o mistério do grande amor de Deus revelado.

Mas o que essa presença significa para a humanidade? Significa, em primeiro lugar, a consciência da relação. A presença de Deus nos torna conscientes da nossa relação com o Criador e com todas as outras criaturas.

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Significa, também, motivação para o bem. Os cristãos são chamados a "fazer o bem a todos" e a serem mordomos fiéis do mundo que Deus criou. Deus caminha com a humanidade.

Significa, ainda, esperança e consolo. A certeza da presença de Deus traz consolo nos momentos de desânimo e esperança na busca por um futuro melhor. E desta maneira Deus mostra que caminha com a humanidade em busca de que ela compreenda sua necessidade espiritual de se chegar a Ele e receber, enfim, a vida eterna.

Isto passa pela cosmologia bíblica social, um raro estudo da visão de mundo e da estrutura do universo conforme apresentada na Bíblia sobre as relações do Sagrado com a humanidade, incluindo a antiga crença israelita de um cosmos de três níveis (céus, Terra, submundo) criado por Deus. Quando falo de cosmologia bíblica social refiro-me à forma como esta visão de mundo bíblica moldava a compreensão da sociedade, do papel do homem no universo e da sua relação com o divino, ou como as próprias representações bíblicas do cosmos se entrelaçavam com a vida e a estrutura social da época.

A significação da cosmologia bíblica passa por uma visão de mundo singular. A cosmologia bíblica social é uma compreensão da estrutura do universo baseada nos ensinamentos da Bíblia no que concerne as relações da deidade do Deus Mistério com a humanidade.

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Há uma lógica na estrutura cósmica em que as narrativas bíblicas descrevem um universo com uma estrutura organizada, incluindo a criação da Terra, dos céus e dos corpos celestes pelo divino, como um ato central de Deus.

Aqui têm-se três níveis dessa cosmologia: a cosmologia hebraica, predominante nos textos bíblicos (que concebia um universo com os céus no alto), a Terra no meio e um submundo (Sheol) abaixo.

O aspecto social da cosmologia bíblica, por sua natureza, fala da conexão com a vida humana. As cosmologias religiosas, como a bíblica, descrevem o mundo habitado e outras dimensões, conectando-as a aspetos da experiência humana.

Nesse meio, o papel do homem na criação está relacionado com o que a Bíblia ensina sobre o fato de que os seres humanos foram criados à imagem e semelhança de Deus, conferindo-lhes um lugar especial no cosmos e uma responsabilidade de cuidar da criação e/ou da natureza.

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Isso tem um significado e destino. A cosmologia bíblica social não se limita à estrutura física do universo, mas também aborda o seu significado, a origem do ser humano, suas relações e o destino final do cosmos, o que tem implicações para a vida e a espiritualidade das pessoas.

Nesse sentido, há um confronto com a ciência moderna. Em linguagem figurada, podemos afirmar que a Bíblia usa linguagem cotidiana e figurativa para descrever o universo, não sendo um livro científico, e por isso os seus aspetos cosmológicos entram em conflito com a visão científica atual.

Na perspectiva entre fé e ciência, apesar das diferenças, o estudo da cosmologia bíblica social permite um diálogo com a ciência atual, que pode considerar a ordem racional do universo como um sinal da inteligência do Criador.

Nisto podemos acrescentar que a cosmologia social não é um termo amplamente estabelecido, mas a cosmologia refere-se ao estudo da origem, da estrutura e da evolução do universo, abrangendo tanto o sentido filosófico de entender o mundo com base na razão quanto o científico, focado na origem e no funcionamento de sistemas naturais e sociais através da observação e de leis. O termo poderia ser interpretado como o estudo das cosmovisões sociais, que são as narrativas e crenças de um povo sobre o universo e a relação entre os seres e a natureza, moldando a memória e a compreensão coletiva.

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O próprio conceito de cosmologia passa pela Filosofia, que trata da busca para entender a origem das coisas e a ordem do mundo através da razão (logos), como fizeram os filósofos gregos pré-socráticos. Passa pela Ciência, em que esta estuda o universo como um todo, seu tamanho, idade, origem, estrutura e destino, utilizando métodos científicos e avançados. Passa pela Cosmologia Social, referendando as cosmovisões em que seriam as diferentes maneiras como os grupos sociais interpretam e se relacionam com o universo. Passa pelas narrativas e saberes, em que incluem as histórias, os mitos e saberes acumulados por uma sociedade ao longo do tempo, explicando o papel dos seres na natureza e os significados dos acontecimentos. Passa, enfim, pela memória coletiva (como diria Jung), em que os saberes sociais são guardados nas memórias de um povo, transmitindo a compreensão do mundo e os valores de uma cultura.

Portanto, ao invés de um conceito formal, cosmologia social pode se referir ao estudo das diversas cosmovisões que formam a identidade e a compreensão de diferentes sociedades sobre seu lugar no cosmos.

E mais: a cosmologia e a fé retrata mecanismo do mundo em que, segundo Stephen Hawking, a Cosmologia não deve ser considerada um campo que interesse exclusivamente aos pesquisadores desta área. Ao longo da história, os diversos segmentos sociais se manifestaram sobre este assunto. Os filósofos, religiosos, artistas, escritores, governantes, místicos etc... são atores e protagonistas.

Quando estivermos de posse de uma teoria que explique o Universo, esta deverá ser acessível a todos. Este pensamento nos dá uma medida da importância que a sociedade dá às descobertas cosmológicas. Mesmo aqueles que não têm um treinamento específico para compreender as novidades desta área, manifestam uma enorme curiosidade a respeito das teorias cosmológicas. E esta busca por uma explicação de algo aparentemente incompreensível e misterioso, e muitas vezes é canalizada em interpretações oníricas examinando o sistema solar a partir de uma perspectiva celestial.

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Observando os planetas a partir do céu, na falta de uma explicação mais plausível, acessível a todos, existe em alguns segmentos uma desconfiança de que a Cosmologia tenha uma postura profana ao interferir em um terreno restrito à religião e à fé. Contudo, é preciso ressaltar que, segundo a maioria dos cosmólogos, não existem de fato contradições entre a fé religiosa e as descobertas cosmológicas recentes. Esta é, também, a opinião do Vaticano a respeito das descobertas científicas em geral.

Todo conflito ocorre apenas quando se procura interpretar o texto bíblico literalmente. De uma certa forma, este sentimento de desconfiança, finalmente, tem raízes na história dos conflitos entre a ciência e a religião. E, neste complexo universo de realidades, Deus caminha com a humanidade e a projeta para o seu reino e salvação, haja vista que sua misericórdia não tem limite.

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