Citação do nome de Cutrim em assassinato
de Décio Sá põe dúvidas nas investigações
Ao ser informado, deputado se indigna e coloca sigi-lo telefônico e bancário à disposição da justiça
O deputado estadual Raimundo Cutrim (PSD) foi citado no depoimento do assassino confesso do jornalista Décio Sá, morto na noite do dia 23 de abril deste ano. Segundo o depoimento — vazado na internet até agora não se sabe por quem — o deputado foi um dos mandantes do crime. De acordo com o do-cumento, Jhonatan de Sousa Silva, ao ser interrogado, afirmou que o parlamentar seria o maior interessado no assassinato do jornalista. A acusação foi feita durante um depoimento que durou cerca de sete horas, prestado no dia 9 de junho.
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Cutrim: "Eu desafio quem quer que seja a provar qualquer participação minha nesse ou em qualquer outro crime". |
Na quarta-feira, 20, a reportagem do Jornal Itaqui-Bacanga esteve no gabinete do deputado Raimundo Cutrim para esclarecimento do fato. Per-guntado a respeito da citação do seu nome pelo assassino confesso, Cutrim ficou surpreso. “Todo crime tem uma cronologia — disse ele. — Tem que ter uma motivação para acontecer. É preciso ter um motivo”. E questionou em seguida. “Eu pergunto: qual a motivação que porventura existiria para eu mandar matar Décio Sá? Ou pelo menos ter interesse na morte dele? Eu não tinha nada contra ele. Nem ele contra mim. Ele nunca me prejudicou em nada. Nem eu a ele. Nunca me envolvi em nenhum tipo de negócio desonesto que pudesse levar um jornalista a citar meu nome em qualquer denúncia. Quem me conhece sabe da minha índole. Minha vida sempre foi e sempre será muito transparente”, ponderou Cutrim.
O deputado esteve presente na Assembleia Legislativa na manhã desta quinta-feira, 21, e concedeu entrevista à imprensa. Ele novamente afirmou estar surpreso com o envolvimento de seu nome no inquérito feito pela Secretaria de Segurança Pública ao longo de dois meses de investigação. "Estou espantado. Eu sou o maior interessado em esclarecer. Minha vida toda foi feita em combate ao crime organizado. Todo crime tem um fato, um início, meio e fim. Tntão tem que ser tudo investigado", disse.
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Roseana Sarney diz não acreditar em participação de Raimundo Cutrim no assassinato de jornalista |
Cutrim tem um extenso currículo de serviços prestados em vários estados da federação. Formado em direito, ingressou na Polícia Federal em 1981. Fez carreira como delegado da PF e desenvolveu suas funções nos estados do Pará, Piauí, Roraima, Rondônia, Maranhão e presidiu inúmeros inquéritos policiais e missões especiais em diversos estados do Brasil. No Maranhão, foi secretário de Segurança Pública por oito anos e desvendou crimes importantes como o crime de roubo de cargas e os fiéis depositários. “Com a experiência e o currículo que tenho, como delegado federal, eu seria muito ingênuo me envolver num crime dessa natureza”, acentuou o deputado. “Jamais me envolvi com pistoleiro ou com qualquer outro tipo de crime”.
Na entrevista de quinta-feira, Raimundo Cutrim não negou que conhece um dos empresários presos durante a investigação, José Raimundo Sales Chaves Júnior, o “Júnior Bolinha”. O empresário teria dito, em depoimento, que já teve negócios com o parlamentar. Cutrim não negou ter tido, sim, negócios com Bolinha. Mas esclareceu que esse negócio não passou do âmbito profissional. "No final do ano passado, eu conheci ele e aluguei umas máquinas dele, assim como aluguei máquinas de muitas outras pessoas. Não passou disso. Ele é um empresário. Eu jamais soube de seu envolvimento com qualquer crime”, afirmou o deputado, garantindo que a relação é somente profissional.
O nome de Raimundo Cutrim surgiu no caso depois do vazamento do relatório enviado pela Secretaria de Segurança com o pedido de prisão. Nele, o sobrenome do deputado foi citado, mas a identidade não foi especificada. Na manhã de quinta-feira, 21, novo vazamento desencadeou a revelação do político com o assassinato de Décio. No depoimento, o suspeito diz: "Esse Cutrim é citado pelo Júnior Bolinha como principal mandante na morte do Décio". Questionado pelo delegado, o acusado especificou que se tratava do deputado. Ao saber da citação do seu nome, o deputado reagiu. “Agora, que citaram meu nome, o principal interessado no esclarecimento desse crime sou eu. Eu desafio quem quer que seja a provar qualquer envolvimento meu com esse ou com qualquer outro crime”, desabafou.
Raimundo Cutrim ainda se pôs à disposição da polícia para quaisquer investigações. "Se precisar da quebra do sigilo telefônico nos últimos dez anos, ou da quebra do sigilo bancário, eu coloco tudo à disposição", asseverou ele. “Não tenho nada a temer”.
Em entrevista à rádio Mirante AM, na manhã de quinta-feira, 21, o de-putado refutou a acusação de que seria um dos mandantes do assassinato do jornalista de O Estado do Maranhão, Décio Sá. Ele defende que haja uma in-vestigação mais aprofundada sobre o caso.
Até agora, sete pessoas acusadas de participarem do planejamento e pa-gamento da execução do jornalista foram presas. Foram expedidos oito mandados de prisão, um deles do comparsa de Jhonatan — que seguiu na motocicleta junto com o autor dos disparos — mas ainda não foi encontrado pela polícia. O nome de Raimundo Cutrim não estava entre as prisões pedidas pela Secretaria de Segurança, que até o fechamento desta edição ainda não tinha se manifestado sobre o assunto.
Dúvidas
Com a citação do nome do deputado Cutrim pelo interrogado, pairam no ar algumas dúvidas sobre o processo de investigação do crime contra Décio Sá. Já há até especulação se os presos são realmente os verdadeiros envolvidos no assassinato do jornalista. Ou se há manobras para incriminar o parlamentar. Uma das hipóteses levantadas é se Jhonatan não está sendo orientado, de alguma forma, para assumir um crime que ele não cometeu e que, pelo andar da carruagem, é um crime que está longe de ser esclarecido. Pelo menos já é sabido que Aluísio Mendes, secretário da Segurança Pública do Maranhão, tem divergências com Cutrim.
Segundo fontes que tiveram acesso a um dos suspeitos presos, por trás das investigações existem informações duvidosas e muita pressão sobre os interrogados. Além disso, ainda não foi esclarecido por que Valdênio José da Silva, 38 anos ― um dos suspeitos de participação no assassinato do jornalista Décio Sá ― foi morto. Valdênio foi investigado, revelou nomes que ficaram em sigilo e em nenhum momento citou o nome do deputado Cutrim. Foi solto e, logo depois, assassinado por volta das 23h de uma segunda-feira, 11 de junho, na Vila Pirâmide, em Raposa.
Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP), Valdênio foi atingido por cinco tiros de revólver calibre 38. Policiais da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic) disseram que estavam investigando o caso mais até agora nada foi esclarecido. Valdênio também era acusado de envolvimento em vários crimes no Maranhão e em outros Estados. Ele já tinha sido preso diversas vezes por chefiar uma quadrilha especializada em roubo de cargas e sob a acusação de latrocínio no Pará.
Investigações
A citação do nome do deputado Raimundo Cutrim parece mudar o rumo das investigações, pondo um ponto de interrogação na veracidade dos fatos até agora revelados. "Eu sou a pessoa mais interessada, agora, em esclarecer os fatos. Eu sou um homem público. Tenho o Estado todo para dar satisfações, minha família e meus amigos. Eu sou um homem que tem a vida limpa", afirmou o deputado Raimundo Cutrim. "Júnior Bolinha" é citado no depoimento como quem teria afirmado que Raimundo Cutrim e Gláucio Alencar seriam os principais mandantes do crime.
Todavia, uma fonte que pediu para não se identificar disse que Gláucio Alencar Pontes Carvalho, 34, não tem nada a ver com o assassinato de Décio Sá, apesar de ser agiota e amigo pessoal do jornalista. Gláucio também estaria sendo pressionado para assumir o crime juntamente com seu pai, Jose de A-lencar Miranda Carvalho, 72, que também está preso.
Indignado, Raimundo Cutrim se colocou à disposição da Polícia e do Poder Judiciário, além de abrir mão do sigilo bancário e telefônico. "Quero que o Ministério Público acompanhe. Faça um trabalho sério e a verdade reinará no final", disse ele.
Durante a entrevista, Raimundo Cutrim assumiu ter divergência com o atual secretário Aluisio Mendes e fez elogios à Polícia do Maranhão. "Eu tenho minhas diferenças com o atual secretário. Isso é público e notório. Mas, a polícia do Maranhão tem os melhores delegados do Brasil. Todos formados pela Academia da Polícia Federal", declarou.
Em entrevista à imprensa na quinta-feira, 21, a governadora Roseana Sarney disse não acreditar no envolvimento do deputado Cutrim no crime. “Não acredito que o deputado esteja envolvido nisso. Ele foi o meu secretário, fez um grande trabalho e, inclusive, ajudou a desbaratar o roubo de cargas no Maranhão”, destacou a governadora.