A inveja nos arraiais evangélicos (1)
Pr. Battista Soarez
(Escritor, jornalista, psicoterapeuta e teólogo)
FOTO: Divulgação/Internet | Imagem ilustrativa. |
NO DIA 23 DE JUNHO de 2022 completarei 55 anos de idade. E a conta é simples: nasci no dia 23 de junho de 1967. Logo, qualquer pessoa, independente do nível de escolaridade, fará o cálculo com facilidade.
Em toda essa trajetória de minha vida, acumulei muitas perdas, muitas derrotas, muitos fracassos. Tudo isso tem um explicação: inveja. Sempre fui alvo de indivíduos invejosos.
A inveja é o mais presente e o mais nocivo de todos os sentimentos. Tanto que, certa vez — quando da minha ida para o Rio de Janeiro, para trabalhar na Editora CPAD — o saudoso e sábio pastor Estêvam Ângelo de Souza me disse:
— Irmão, não conte para ninguém que você está indo trabalhar na CPAD no Rio de Janeiro. É um salto muito alto. E inveja é o único feitiço que pega em crente. Deixa que, com o tempo, e aos poucos, as pessoas irão saber que você está lá. Mas, aí, você já criou raízes.
Por que que o experiente homem de Deus deu-me o referido conselho? Exatamente pelo nível de desvalimento que a inveja representa. É o mais inconfessável de todos os pecados.
De fato, a inveja é uma emoção intrinsecamente egoísta e perversa que não é desejada pelo invejoso que, frequentemente, dela não tem consciência. É um modo de ver a vida e as coisas alheias egoisticamente, carregado de amargura, que só produz resultados negativos.
A inveja, geralmente, é dirigida contra pessoas e implica antipatia e o propósito de ofender a quem possua algo que o invejoso deseja ou ambiciona, mas percebe que não pode tê-lo.
Ao longo da minha vida, mesmo dentro da igreja evangélica (que prega contra todo tipo de pecado), tenho aprendido que a inveja é um irritante, persistente e doloroso sentimento de inferioridade, em relação à pessoa invejada. O complexo de inferioridade, portanto, é subjacente à inveja, que traz em seu bojo uma autopunição imanente.
Desde que passei a ter visibilidade no cenário social — como leitor, jornalista, escritor, pregador e palestrante — sempre Deus tem falado comigo sobre inveja. O Senhor Deus tem me dito que eu sou cercado de inveja. E que isso, de alguma maneira, tem afetado o meu desenvolvimento pessoal.
Então percebo que a inveja é uma "intervenção emocional" desastrada, que visa reduzir ou eliminar a desigualdade produzida pelas diferenças. É um sentimento maligno que alterna sensações de dor e prazer. Daí se diz que é de natureza sadomasoquista, não sendo localizável. Mas é um ponto de dor no corpo e no espírito.
Os maiores ataques de inveja que sofri na vida foi dentro da igreja evangélica. Pastores, líderes e pessoas comuns colocaram "lama" e "barreiras" no meu caminho e, portanto, no meu desenvolvimento pessoal e profissional. Passei por isso, também, em empresas por onde trabalhei como, por exemplo, no Instituto Efraim, no Banco América do Sul e na Editora CPAD, no Rio de Janeiro. Isso afetou gravemente minha vida financeira, familiar, profissional, ministerial e até minha saúde.
A inveja tem caráter dissimulado e secreto e isso dificulta sua percepção pela maioria das pessoas. Junto a ela vem a falsidade. Além disso, é um modo de autoflagelação, irracional e estúpido. Queima como fogo lento.
Considerada o mais racional dos sentimentos, a inveja pode assumir condutas tão distintas como: dissimulação, silêncio, indiferença, ironia, desdém, maledicência, calúnia, infâmia, indignação, autoridade, obediência, moralismo, deboche, ódio, desespero e outros artifícios, de conformidade com o coração ulcerado de dor e com as condições do meio social.
No livro A Inveja Nossa de Cada Dia, Joaci Góes diz que a assunção pública dos demais pecados capitais — preguiça, gula, ira, luxúria, soberba e avareza — não condena, necessariamente, o pecador confesso. Existem situações em que as pessoas podem até extrair vantagens do pecado confesso.
Esopo, na obra O cão e sua sombra, conta que, certa vez, um cachorro atravessava um rio a nado, com um naco de carne na boca. De repente viu, debaixo de si, outro cachorro nadando no mesmo ritmo, com um pedaço de carne ainda maior que o seu.
Não lhe passou pela cabeça que o cão subaquático fosse apenas a projeção de sua própria imagem. Possuído pelo desejo de abocanhar o pedaço maior, mergulhou na direção da sombra, perdendo ambos os bocados. Um porque simplesmente não existia, era apenas sombra. O outro porque foi levado pela correnteza.
Esse é o problema da inveja. Ganância, confusão e perda por não valorizar o que tem, e por não se contentar com o que tem. Deixa de olhar para o que é seu e para si, e lança o olhar de cobiça sobre o outro, e fixa no que é alheio.
Até o próximo comentário !!!