COLUNA LEITURA LIVRE
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Por Battista Soarez
(Jornalista e escritor)
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Pedagogia social, política tupiniquim e o futuro do Brasil
O país caminha para um caos social, político e econômico que levará anos para ser recuperado
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UMA DAS MINHAS FORMAÇÕES universitárias é na área da educação. Estudei na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), no Ceará, e morei na casa do professor Petrus Johannes Von Ool, um holandês que veio para o Brasil na década de 1960, após se formar na Universidade de Basileia, na Suíça, onde nasceu o humanismo europeu.
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Professor "Pedro", como era conhecido entre nós, foi aluno de Jean-Paul Sartre e de Karl Jung. Foi com ele que aprendi sobre existencialismo, filosofia e psicanálise junguiana. E foi com ele, também, que aprendi sobre política e suas complexidades no contexto da sociedade em diferentes épocas da história da humanidade. Professor Pedro era, de fato, um intelectual autêntico e sábio.
Professor Pedro debatia, com domínio de conhecimento, sobre o que os socialistas pensam sobre a necessidade de união entre o trabalho produtivo e o desenvolvimento intelectual na atividade da educação pública, por exemplo. Este ponto de vista surgiu numa época em que a grande indústria começou a explorar o trabalho infantil em larga escala.
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Pela primeira vez, vale lembrar, a necessidade de unir a educação com o trabalho produtivo foi discutida no século XVII pelo escritor inglês John Bellers. No século XVIII e início do século XIX, essa ideia encontra seus defensores não apenas na Inglaterra, mas no continente europeu como um todo.
Jean-Jacques Rousseau, por exemplo, defendeu ardentemente a ideia, e seu ponto de vista sobre a questão encontra uma viva repercussão na França, na Suíça e na Alemanha. Na França, a Convenção --- instalada durante a Revolução Francesa --- procura, através de legislação, colocar essa ideia em prática. E, na Suíça, o fervoroso democrata Johann Heinrich Pestalozzi dedica toda a sua vida e fortuna a mostrar como é preciso colocar o trabalho produtivo na prática da educação pública.
A democracia operária surge com Karl Marx e Friedrich Engels na década de 1850 e, posteriormente, eles retomam essa ideia, desenvolvem e a fundamentam cientificamente. Em "O capital", Marx demonstra como o próprio desenvolvimento da tecnologia cria a necessidade de um operário altamente desenvolvido, preparado multilateralmente para o trabalho, formado politecnicamente.
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No entanto, diria o professor Pedro, a ideia de união do desenvolvimento intelectual com o físico, do ensino com o trabalho produtivo, pregada no final do século dezoito pelos ativistas, foi esquecida rapidamente. O capital exigiu apenas, e/ou principalmente, trabalho simples, não qualificado, que não requeria qualquer iniciativa, nem inteligência, conhecimento ou habilidade do operador.
As vozes dos democratas que exigiram uma educação multilateral para o povo, uma educação baseada na ampla combinação do desenvolvimento intelectual com a preparação para o trabalho físico variado, permaneceram mais como a voz de um reclamante no deserto do que qualquer outra coisa.
Na verdade, como dizia o meu professor holandês, o número de escolas públicas cresceu, mas elas eram escolas de ensino, das quais foi excluído qualquer trabalho físico e o ensino era somente de leitura, escrita e aritmética. Eram escolas que visavam, principalmente, formar operários obedientes e cumpridores de deveres.
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Quando chegou o século vinte, com seu poderoso progresso técnico, foi colocado em primeiro lugar, com força descomunal, uma nova tendência da tecnologia moderna, isto é, a "intelectualização" do trabalho da máquina. Cresce, então, a demanda por um operário multilateralmente desenvolvido e habilidoso, que, agora, pode rapidamente se adaptar a mudanças e aperfeiçoamentos constantes nas máquinas e nos processos de produção.
No século XXI, a tecnologia aflorou como um tsunami e tanto a escola do trabalho quanto a escola do ensino mergulharam numa nova tendência, em que a política de esquerda, enfim, declarou-se dominante de tudo. A sociedade ficou atônita com tanta informação sobre novas tecnologias e novos conhecimentos, inclusive na área da medicina, da engenharia digital e, finalmente, da cibernética como um todo.
De maneira clarividente, essa tendência foi detectada principalmente nos países mais desenvolvidos industrialmente, ou seja, nos Estados Unidos e na Alemanha.
Logo, os países capitalistas mais avançados estão começando a prestar mais atenção à produção de trabalhadores preparados multilateralmente para o trabalho, isto é, eles organizam escolas profissionais de todos os tipos, cursos noturnos e outros. Na proporção em que cresce a demanda por trabalhadores qualificados, tende-se transformar o ensino técnico em educação geral e, aí, começam a uni-lo com o ensino básico, com a clara finalidade de reformar a escola pública.
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Neste ponto, uma das coisas que o professor Pedro e eu debatíamos era o fato de que os jovens da década de 1960 em diante --- dentre eles, no Brasil, destacam-se Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e outros --- começaram a se intelectualizar com afinco. Quem não entrava para a universidade, procurava ler com dedicação. Quem não virava mestre e doutor por meio de títulos universitários, tornava-se pós-doutor e livre-docente por meio de dedicada leitura autodidata. Aqueles jovens liam muito. E esse movimento de jovens leitores espalhou-se por todo o mundo, inclusive pela América Latina toda.
Tinha, no entanto, uma questão para a qual pouco atentou-se: eram jovens de pensamento esquerdista que, no futuro, chegariam ao poder. Enquanto muitos de direita buscavam o mercado de trabalho para obterem poder aquisitivo e construir família, os de pensamento de esquerda se intelectualizavam para subirem ao poder político e dominarem o mundo. E conseguiram. Agora estão aí, governando e impondo suas ideologias socialistas e de destruição de valores e princípios que estabelecem o bem social como instrumento de justiça e paz.
A esquerda intelectual normalmente bebe na fonte do Iluminismo e, em tese, alimenta um pensamento ateísta que coloca o materialismo científico acima de tudo. E é isso que, há tempos, vem dominando o mundo e suas complexidades sociais.
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Com a esquerda no poder, seremos uma sociedade que enfrentará tempos difíceis. E nessa caminhada, todo o nosso sistema pedagógico e institucional é utilizado como aparelho ideológico do Estado na construção socialista. As instituições democráticas, infelizmente, serão outras e terão finalidades assustadoras do ponto de vista dos princípios que buscam construir a harmonia social. A sociedade no regime de esquerda é uma sociedade subjugada e sofredora. Não há esperança.
A democracia de esquerda é uma democracia egótica e, por isso mesmo, distorcida, violenta e corrupta. Ela não pode se basear nos mesmos princípios nos quais se baseia a democracia de justiça e paz da sociedade tradicional. A escola de uma não é a mesma escola da outra. A escola do trabalho é diferente da escola do ensino.
Uma requer o desenvolvimento de uma independência dos estudantes, exigindo o desenvolvimento da personalidade do estudante. A repressão da personalidade do estudante e o disciplinamento externo dificilmente são compatíveis com as tarefas em que a escola do trabalho se coloca. Os novos métodos exigem um corpo docente completamente diferente. Sua política pedagógica é outra. O professor que se habituou com a rotina e que espera por orientações relativas a cada passo, não é adequado para tal escola. A escola do trabalho exige uma relação viva e esficífica com ela. Velhas formas de controle social são impatricáveis. Há necessidade de controle mútuo dos estudantes, de controle da população, para ser mais claro e abrangente.
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Mas não somente isto, ou seja, não somente é necessário o controle de parte da população, mas também é necessária a ampla colaboração da população com a escola. A escola do trabalho, enfim, supõe uma estreita ligação do ensino com a produção, e isso não é viável sem o envolvimento da população trabalhadora nesta tarefa representada pelas suas organizações.
Pensando por este prisma, o desenvolvimento econômico requer, insistentemente, a transformação da escola de ensino em escola do trabalho. Mas essa conversão não é possível sem uma reestruturação de toda a organização da atividade da educação pública. Porque é a educação pública que vai reproduzir a ideologia que o governo quer usar como instrumento de dominação e controle da sociedade. Porque a escola, como agente de reprodução ideológica, é que vai atingir toda a sociedade.
É exatamente nesse prisma que o Brasil está caminhando. A esquerda sabe fazer isso muito bem. As escolas brasileiras vão estar sempre recebendo livros didáticos, bem como paradidáticos, para poder formar a sociedade que o Estado --- comandado pela esquerda --- quer formar. Esse será o futuro do Brasil, enquanto nação, no poder da esquerda intelectualizada. Com Lula na presidência da República, Alexandre de Moraes e Flávio Dino no STF, o Brasil estará por muitos anos sob controle social de um regime democrático concentrado, absolutista e desordenado. A população será cada vez mais empobrecida porque a pobreza é um meio absoluto e estratégico de controle econômico e social.
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