Translate

segunda-feira, 5 de julho de 2010

MINHA VIDA, MINHA HISTÓRIA. NASCE A VISÃO GLOBAL EDITORA


CAPÍTULO III
1974
Segui com a minha mãe para sua casa no lugarejo Chapadinha. Meu pai voltou sozinho para sua casa do outro lado do lago. Chapadinha era um pequeno povoado. Daqueles cujas casas ficam localizadas cerca de 1 quilômetro uma da outra. Caminhamos, aproximadamente, 50 quilômetros a pé. Minha  mãe conduzia uma sacola de objetos pessoais na cabeça e eu a seguia correndo atrás para que pudesse acompanhá-la. Minha mãe era rápida nas passadas.
-- Mãe, eu não vou mais sair de perto da senhora, não é? -- dizia eu para ela durante a caminhada.
-- Claro, filho. A mamãe nunca mais vai deixar você distante dela.
Mamãe explicava-me muita coisa da sua relação com o papai: brigas, momentos de alegrias, conquistas, perdas. Eu ouvia tudo atentamente. Confesso que tinha saudade de meu pai, claro. Mas a felicidade de poder estar novamente ao lado da minha genitora era tamanha que nem sentia cansaço em razão da caminhada.
Lembro-me de que, durante o percurso, tínhamos de passar por um lamaçal enorme -- a lama alcançava acima do joelho -- e por um matagal imenso onde tinha muitos animais silvestres, inclusive onça tigre. Porém a companhia da minha mãe me passava muita segurança. Eu tinha medo do perigo, claro. Afinal de contas, era comum achar, em meio aos matagais daquela região, bois, vacas e outros animais mortos pelos tigres. Isso poderia acontecer também com seres humanos. Mas mamãe me dizia:
-- Filho, fale baixo para não chamar atenção das feras.
Eu sabia que, em situação de ataque, jamais me separaria da minha mãe. Num outro tempo, por aqueles lugares, meu avó por parte de pai teve muitos confrontos com onças. Então, encontrar com esse tipo de animal não difícil por ali.
Depois de andarmos aproximadamente seis horas de viagem, finalmente chegamos à casa da mamãe.

A casa era de palha, tirada de palmeiras do coco babaçu. As paredes eram de barros e, no lugar da pia, tinha um giral (como é chamado, na baixada maranhense, um engedramento, feito com varas tiradas de pequenas árvores, para lavar louça). Nada era tão humilde. Mas, ao lado da minha mãe, sentia-me no paraíso. E, então, passei a morar juntamente com minha mãe, meu irmão caçula e minha irmã Conceição.