“Fui
eleito para ‘ver-a-dor’ da comunidade”
Vereador eleito em
Paço do Lumiar diz que o município tem muitos problemas, mas que há caminhos
para resolvê-los.
Por BATTISTA
SOAREZ
Editor/JIB
Miguel Ângelo foi eleito usando estratégia de marketing de rede. |
O
vereador eleito Miguel Ângelo (PRP),
52, do município de Paço do Lumiar, é um técnico administrativo que sempre
participou de movimentos comunitários. Membro da Academia de Letras de Paço do
Lumiar, Miguel é evangélico e ativista social reconhecido nas comunidades onde
tem atuado. Suplente de vereador, fundou o GTC (Grupo de Trabalho e Conquista),
um movimento social que busca discutir as políticas públicas para o
desenvolvimento de Paço do Lumiar. Foi o GTC que o ajudou a desenvolver uma
estratégia de marketing de rede que ele denominou de células. As células
funcionaram interativamente e renderam ao ativista social quase setecentos
votos. “Quebramos alguns paradigmas da política tradicional e decidimos
investir em relacionamento, acreditando no voto livre e nos colocando à
disposição da consciência do eleitorado luminense. Quem votou em mim, votou
porque acreditou no meu projeto de ação parlamentar. Não dei dinheiro a ninguém”,
disse Miguel. Casado, pai de dois filhos e avô de duas netas, o vereador eleito
concedeu ao Jornal Itaqui-Bacanga a seguinte entrevista:
Jornal Itaqui-Bacanga — O senhor foi eleito sem gastar praticamente nada,
contrariando a tendência viciosa da política atual de compra de votos. Dá pra
dizer qual foi a saga?
Miguel Ângelo —
A saga foi planejamento, conhecimento de causa, respeito e aproximação às pessoas
de uma forma que lhes gerasse satisfação e credibilidade na minha pessoa. Reuni
meus pares e decidi fazer uma campanha limpa, saudável e sem risco de, depois,
ter que passar pela vergonha de ser denunciado por compra de votos ou qualquer
outra coisa desse tipo. Eu já tenho, efetivamente, uma história de serviços
comunitários prestados junto à população. Isto me deu condições de dialogar com
a opinião pública, me colocando em certa posição favorável. Então, procurei
investir em relacionamento com essa comunidade, no sentido de conscientizá-la do
voto livre, da democracia plena e da importância de minha candidatura para, numa
possibilidade de ser eleito, efetivar e ampliar ainda mais esse serviço
sócio-comunitário que, há tempos, já faço naturalmente, mesmo sem cargo
público. As pessoas entenderam isso e o resultado está aí.
JIB — Durante a campanha de 2016, você pontuou no seu discurso que o seu
plano de ação parlamentar seguiria um formato pautado exatamente nos quatro
pilares do que um vereador pode fazer na Câmara Municipal, que são as funções
legislativa, fiscalizadora, julgadora e a de assessoramento ao executivo. Na
prática, como vai ser isso?
MIGUEL —
Veja: a maioria das pessoas que se colocam como candidatas ao cargo de vereador
sequer procura saber qual é, de fato, o papel de um vereador. Aí, ficam fazendo
promessas mirabolantes que fogem completamente do universo de sua competência.
Depois de eleitas, não conseguem cumprir o que prometeram e, então, ficam
desacreditadas perante os eleitores. Foi aí que eu tive a ideia de divulgar uma
carta-proposta contendo as funções estabelecidas por lei do que um vereador
pode fazer. Estas funções, como você disse, são: a função legislativa, a função
fiscalizadora, a função julgadora e a função de assessoramento ao executivo. Na
prática, todas as atividades do meu plano de ação parlamentar estarão pautadas
nestas diretrizes. Não fiz nenhuma proposta fantasiosa.
JIB — E então...?
MIGUEL — Não dei dinheiro a ninguém. Os votos que tive foram votos conscientes,
votos livres. Foram votos de pessoas que entenderam que o papel do vereador é de
poder legislativo e, portanto, não pode ser confundido com o papel de poder executivo.
Eu costumo brincar dizendo que o papel de um vereador é “ver-a-dor”. É uma
maneira simples de dizer que o vereador tem a missão e a responsabilidade de
trabalhar a partir das necessidades da comunidade que acreditou nele e o elegeu
para atuar a seu favor. Este vai ser o meu papel: trabalhar para mitigar a dor
da sociedade. Vamos caminhar pelas comunidades, colher informações, estudar
caso a caso, escrever o plano de ação parlamentar e a partir daí construir
projetos e atividades legislativas de acordo com as necessidades do município.
JIB — Mas o seu candidato
a prefeito de Paço do Lumiar, Gilberto Aroso, não foi eleito. Como o senhor
avalia a eleição de Domingos Dutra (PT) para prefeito? O senhor vai ser
oposição ou já há alguma conversa articulada em prol da situação a partir de
janeiro de 2017?
MIGUEL — Domingos Dutra fez o famoso projeto
“formiguinha”. Ou seja, a metodologia da divulgação do seu nome foi ao encontro
dos anseios da população sem ele fazer propostas que jamais pudesse honrar e
cumprir. Como ex-deputado, ele trabalhou exatamente em cima das necessidades
reais das pessoas. Em nosso município de Paço do Lumiar, vivemos uma realidade
bem complicada em termos políticos porque os nomes apresentados para escolha
por parte da população já estavam de certa forma viciados. Falo de pessoas que
foram eleitas, tiveram suas oportunidades, mas que as desperdiçaram sem
avaliação do seu futuro político. Uns fizeram alianças erradas e não tiveram
fôlego para governar com autonomia. Outros pensaram apenas em si mesmos, no seu
patrimônio pessoal e em fazer a vontade do seu grupo político, deixando a
administração pública esfacelada e decadente. Havia um fato ou outro que, de
alguma maneira, prejudicou as suas imagens. Aí a população reagiu, rejeitando
seus nomes nas urnas.
JIB — O
senhor fala das recentes histórias de corrupção no município?
MIGUEL — A história do município de Paço do
Lumiar conta que nunca houve reeleição de prefeito. Por que? Porque ultimamente
os prefeitos daqui, realmente, têm deixado muito a desejar. Seu comportamento
político é ruim. O Dutra, então, veio percebendo isso e foi trabalhando
exatamente encima dessas falhas da administração pública municipal. Aos poucos,
com sua experiência de parlamentar de renome, defensor das causas sociais, foi
conquistando o espaço que teve e, diante disso, a “coisa” política de fato ficou
difícil para os outros candidatos. Acho que sua vitória foi devida à sua
insistência, limada encima do anseio e da esperança do povo. Um povo que vem
sendo, historicamente, esgotado e decepcionado com os políticos que passaram
pela administração municipal. Como ex-deputado federal, detentor de um bom
histórico da vida pública, o Dutra tem uma boa relação de amizade política no contexto
nacional e acredito que o município de Paço do Lumiar será beneficiado com
isso.
JIB — Mas, e
aí? O senhor será oposição ou pró-situação?
MIGUEL — Antes de tudo, lamento o fato de o candidato
que a minha coligação apoiou, o Gilberto Aroso, não ter ganhado as eleições
para prefeito, haja vista que tínhamos traçado planos. Tínhamos uma meta de
trabalho a ser cumprida que, com sua derrota, não vai ser possível. Porém, não
vejo nenhuma possibilidade de fazer oposição a Domingos Dutra. Ele será o
prefeito a partir de janeiro de 2017 e o bem da comunidade de Paço do Lumiar está
acima de qualquer coisa. Isso dependerá de uma boa administração das políticas
públicas. E para que essa boa administração pública aconteça, a Câmara Municipal
terá que fazer, com ausência de embaraço, o seu papel de assessoramento ao
executivo. E mesmo os que forem oposição, têm que pensar na comunidade.
JIB — O
senhor acha que isso é possível?
MIGUEL — Entendo que oposição não pode ser
sinônimo de desordem partidária. Em vez disso, tem-se que ter bom senso e
pensar no bem da população. Vamos ver e analisar o plano de governo do Dutra e
naquilo que for para o bem da população eu darei apoio. Naquilo que,
porventura, for prejudicar a comunidade, eu estarei do lado da comunidade.
Tenho acompanhado a equipe de transição do futuro prefeito, vejo que ele tem
bons planos para desenvolver o município e acredito que podemos fazer um
excelente trabalho de assessoramento a ele. Falo isso não só de minha parte,
mas falo em nome do grupo de vereadores que vai trabalhar em apoio a ele. Temos
conversado bastante e a proposta consensual é de que, de forma alguma, seremos
oposição ao Dutra.
JIB — O
senhor teve uma boa votação no Maiobão e Lima Verde, sendo o segundo mais
votado da sua coligação. O que a comunidade que apostou no seu nome pode
esperar do vereador Miguel para os próximos quatro anos?
MIGUEL — Eu me preparei bastante para ser vereador.
Procurei conhecer as necessidades do município e levei minha proposta às
comunidades. Quem entendeu esta proposta, votou em mim. E esta é a oportunidade
que tenho para fazer o trabalho de intermediação entre a administração pública
e a população do meu município. A comunidade que acreditou em mim pode, com
certeza, esperar um trabalho voltado para o desenvolvimento do município nas
áreas da economia, do social, da saúde, da cultura, do agro-desenvolvimento, do
esporte e do lazer. Já para 2017, tenho três projetos de lei que vão beneficiar
a cultura e a economia rural. Eu e minha equipe estaremos colhendo informações,
ouvindo as pessoas da comunidade luminense para, então, transformar essas
informações em atividades do nosso plano de ação.
JIB — Por
falar em desenvolvimento, Paço do Lumiar é um município muito carente em
matéria de crescimento econômico e social. Qual vai ser a sua contribuição na
Câmara para mudar essa realidade?
MIGUEL —
Primeiramente, levantar dados acerca das necessidades e das potencialidades do
município. Depois discutir essas necessidades e potencialidades no plenário da
Câmara e, também, junto à comunidade, tanto in
loco como através dos meios de comunicação. A partir daí, vamos sentar com
o executivo para estudar o que pode ser feito, com que recurso e qual o
cronograma que deve ser elaborado a partir de uma política efetiva de execução.
Creio que o executivo municipal terá maturidade e competência suficientes para,
no que não for possível fazer com recursos da prefeitura, buscar parcerias com
o governo estadual, governo federal e até com instituições internacionais, se
for o caso.
JIB — Você acha que vai ser
simples assim?
MIGUEL — Simples não vai ser. Em matéria de governo, nada é simples.
Mas se houver vontade política, transparência e entendimento entre os poderes
legislativo, executivo e a população, será possível, sim, emplacar um
desenvolvimento que seja satisfatório e equilibrado. Paço do Lumiar tem muitos
problemas, mas também têm muitas maneiras e caminhos de resolvê-los. Basta que
se tenha vontade política.