Ojeriza política
A valsa do impeachment da presidente Dilma revela a face nefasta da política brasileira, mediante um festival de manobras e traições
Por BATTISTA SOAREZ
A presidente Dilma tenta entender a vingança política contra sua pessoa |
O Brasil perdeu de vez o equilíbrio no
sistema nervoso central da política nacional. De um lado, a situação não
consegue se manter de pé sem cambalear a passo de bêbado em função do veneno da
ganância e da disputa pelo poder orquestrada pela oposição. De outro, a oposição
faz todo tipo de manobra política na tentativa hercúlea e sem precedente de
tomar o poder a qualquer custo para retomar a política neoliberal da
privatização e de uma governabilidade voltada para investidores estrangeiros.
Esses investidores, por sua vez, carregam
toda a riqueza do país para fora, enquanto a economia nacional fica sem poder
de compra, sob crises, porque falta dinheiro no bolso da população brasileira.
O vice Michel Temer se articula com o PSDB, caso assuma a Presidência |
Agora, essa valsa política —
a toque da música do desrespeito e dos ataques à pessoa da chefa do executivo —
implica numa orquestrada de mecanismos de atraso extremamente prejudicial à
administração das políticas públicas brasileiras. O impacto negativo disso tudo
recai totalmente sobre o povo que já não suporta mais tanta falta de lisura e
tantos desmandos de cada grupo político que assume o governo brasileiro com o
objetivo infame e nefasto de praticar uma única política: a política da
corrupção. E tudo isso dá nojo. Ojeriza.
Na quarta-feira próxima passada,
atravessando no ferry-boat no sentido baixada maranhense, disse a um amigo que
a atual situação da política brasileira tem uma conotação a qual o povo não tem
ideia. “O objetivo da oposição — disse eu —
não é o impeachmant da presidente Dilma Roussett mas, sim, manchar e derrubar a
imagem do atual governo perante a opinião pública. A intenção de toda essa
babel política é para que, nas próximas eleições, a vitória do PSDB seja
garantida”. Ele, por sua vez, chamou-me a atenção para um detalhe: a cúpula do
PSDB e dos seus aliados de esquerda pensava que, com a queda da presidente,
Aécio Neves assumisse a presidência da República mediante esquema de
impedimento do vice Michel Temer (PMDB-SP). Aécio foi o segundo mais votado na
corrida para a Presidência. Mas não é assim.
O Supremo Tribunal Federal (STF)
explica que, de acordo com a Lei 1.079/50 — no caso de o processo de impeachment ser julgado e
considerado procedente — quem assume é o vice, Michel
Temer (PMDB-SP), que permanece até o fim do mandato. Mas se o vice também for afastado
ainda durante a primeira metade do mandato, serão convocadas novas eleições, de acordo com a Constituição de 1988, no capítulo 2, artigos 79 a 81.
Se Temer for afastado a partir da
segunda metade do mandato, as eleições são indiretas, no caso, apenas os
membros do Congresso Nacional podem votar nos candidatos. Enquanto as eleições
acontecem, quem assume é o terceiro na linha sucessória, o presidente da Câmara
dos Deputados, atualmente o peemedebista Eduardo Cunha. Só que cunha enfrenta processo por corrupção e provavelmente também seria impedido de assumir.
E
no caso de Eduardo Cunha também ser afastado, quem entra em seu lugar é o
presidente do Senado Federal, Renan Calheiros. Em quinto lugar, no caso de afastamento dos quatro primeiros, quem assume é o presidente do Supremo Tribunal Federal. No caso, Ricardo Lewandowski.
Com isso, o PSDB parece baixar o fogo, recua
e deixa correr o impeachmant, mas agora sem a frenética ansiedade tucana que
seguia numa carreira desesperadora com descontrolada sede ao pote. Fica
evidente que a oposição foi mal orientada.
Agora,
o PSDB já articula o impeachment da presidente Dilma
Rousseff com o vice Michel Temer. Por isso, ele escreveu a carta-desabafo para deixar clara a sua saída do governo e dizer que está livre para uma nova carruagem na outra via do cenário político. As vantagens ainda estão às escuras, mas logo virão às claras.
Uma pergunta [simples] que o povo
brasileiro ainda não se fez é: por que tanta ânsia em querer ser presidente do
país? Por que tantas manobras, desrespeito e artimanhas para derrubar o próximo
que está no comando da nação, ao passo que a oposição deveria estar colaborando
com a situação para fazer o país crescer? Ao que parece, a resposta é simples:
é lá, no Executivo, que está toda a fonte de poder e dinheiro que todo e
qualquer corrupto almeja sedentamente. E tudo isso está bem claro como a luz do
dia. Desde que me entendo como gente, todo grupo político que governou o Brasil
até hoje não teve como principal motivação o desenvolvimento do país, mas, sim,
os desvios desenfreados de verbas públicas, o apadrinhamento político e a ideia
do “se dar bem” na vida pública para garantir o próprio financeiro de si
próprio, da família e dos amigos. É a lei do mais fácil.
Enfim, o país só será uma nação realmente
séria e desenvolvida quando situação e oposição entrarem no mesmo barco e, juntos,
remarem a favor do tão sonhado desenvolvimento do país. Enquanto isso não
acontecer, a sociedade brasileira tem que se contentar com eleições repulsivas
e CPIs conturbadas.