Translate

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

ENTREVISTA: MILGUEL ÂNGELO



“Fui eleito para ‘ver-a-dor’ da comunidade”
Vereador eleito em Paço do Lumiar diz que o município tem muitos problemas, mas que há caminhos para resolvê-los.


Por BATTISTA SOAREZ
Editor/JIB

Miguel Ângelo foi eleito usando estratégia de marketing de rede.
O vereador eleito Miguel Ângelo (PRP), 52, do município de Paço do Lumiar, é um técnico administrativo que sempre participou de movimentos comunitários. Membro da Academia de Letras de Paço do Lumiar, Miguel é evangélico e ativista social reconhecido nas comunidades onde tem atuado. Suplente de vereador, fundou o GTC (Grupo de Trabalho e Conquista), um movimento social que busca discutir as políticas públicas para o desenvolvimento de Paço do Lumiar. Foi o GTC que o ajudou a desenvolver uma estratégia de marketing de rede que ele denominou de células. As células funcionaram interativamente e renderam ao ativista social quase setecentos votos. “Quebramos alguns paradigmas da política tradicional e decidimos investir em relacionamento, acreditando no voto livre e nos colocando à disposição da consciência do eleitorado luminense. Quem votou em mim, votou porque acreditou no meu projeto de ação parlamentar. Não dei dinheiro a ninguém”, disse Miguel. Casado, pai de dois filhos e avô de duas netas, o vereador eleito concedeu ao Jornal Itaqui-Bacanga a seguinte entrevista:
Jornal Itaqui-Bacanga O senhor foi eleito sem gastar praticamente nada, contrariando a tendência viciosa da política atual de compra de votos. Dá pra dizer qual foi a saga?
Miguel Ângelo A saga foi planejamento, conhecimento de causa, respeito e aproximação às pessoas de uma forma que lhes gerasse satisfação e credibilidade na minha pessoa. Reuni meus pares e decidi fazer uma campanha limpa, saudável e sem risco de, depois, ter que passar pela vergonha de ser denunciado por compra de votos ou qualquer outra coisa desse tipo. Eu já tenho, efetivamente, uma história de serviços comunitários prestados junto à população. Isto me deu condições de dialogar com a opinião pública, me colocando em certa posição favorável. Então, procurei investir em relacionamento com essa comunidade, no sentido de conscientizá-la do voto livre, da democracia plena e da importância de minha candidatura para, numa possibilidade de ser eleito, efetivar e ampliar ainda mais esse serviço sócio-comunitário que, há tempos, já faço naturalmente, mesmo sem cargo público. As pessoas entenderam isso e o resultado está aí.
JIB Durante a campanha de 2016, você pontuou no seu discurso que o seu plano de ação parlamentar seguiria um formato pautado exatamente nos quatro pilares do que um vereador pode fazer na Câmara Municipal, que são as funções legislativa, fiscalizadora, julgadora e a de assessoramento ao executivo. Na prática, como vai ser isso?
MIGUEL — Veja: a maioria das pessoas que se colocam como candidatas ao cargo de vereador sequer procura saber qual é, de fato, o papel de um vereador. Aí, ficam fazendo promessas mirabolantes que fogem completamente do universo de sua competência. Depois de eleitas, não conseguem cumprir o que prometeram e, então, ficam desacreditadas perante os eleitores. Foi aí que eu tive a ideia de divulgar uma carta-proposta contendo as funções estabelecidas por lei do que um vereador pode fazer. Estas funções, como você disse, são: a função legislativa, a função fiscalizadora, a função julgadora e a função de assessoramento ao executivo. Na prática, todas as atividades do meu plano de ação parlamentar estarão pautadas nestas diretrizes. Não fiz nenhuma proposta fantasiosa.
JIB E então...?
MIGUEL Não dei dinheiro a ninguém. Os votos que tive foram votos conscientes, votos livres. Foram votos de pessoas que entenderam que o papel do vereador é de poder legislativo e, portanto, não pode ser confundido com o papel de poder executivo. Eu costumo brincar dizendo que o papel de um vereador é “ver-a-dor”. É uma maneira simples de dizer que o vereador tem a missão e a responsabilidade de trabalhar a partir das necessidades da comunidade que acreditou nele e o elegeu para atuar a seu favor. Este vai ser o meu papel: trabalhar para mitigar a dor da sociedade. Vamos caminhar pelas comunidades, colher informações, estudar caso a caso, escrever o plano de ação parlamentar e a partir daí construir projetos e atividades legislativas de acordo com as necessidades do município.
JIB Mas o seu candidato a prefeito de Paço do Lumiar, Gilberto Aroso, não foi eleito. Como o senhor avalia a eleição de Domingos Dutra (PT) para prefeito? O senhor vai ser oposição ou já há alguma conversa articulada em prol da situação a partir de janeiro de 2017?
MIGUEL Domingos Dutra fez o famoso projeto “formiguinha”. Ou seja, a metodologia da divulgação do seu nome foi ao encontro dos anseios da população sem ele fazer propostas que jamais pudesse honrar e cumprir. Como ex-deputado, ele trabalhou exatamente em cima das necessidades reais das pessoas. Em nosso município de Paço do Lumiar, vivemos uma realidade bem complicada em termos políticos porque os nomes apresentados para escolha por parte da população já estavam de certa forma viciados. Falo de pessoas que foram eleitas, tiveram suas oportunidades, mas que as desperdiçaram sem avaliação do seu futuro político. Uns fizeram alianças erradas e não tiveram fôlego para governar com autonomia. Outros pensaram apenas em si mesmos, no seu patrimônio pessoal e em fazer a vontade do seu grupo político, deixando a administração pública esfacelada e decadente. Havia um fato ou outro que, de alguma maneira, prejudicou as suas imagens. Aí a população reagiu, rejeitando seus nomes nas urnas.
JIB O senhor fala das recentes histórias de corrupção no município?
MIGUEL A história do município de Paço do Lumiar conta que nunca houve reeleição de prefeito. Por que? Porque ultimamente os prefeitos daqui, realmente, têm deixado muito a desejar. Seu comportamento político é ruim. O Dutra, então, veio percebendo isso e foi trabalhando exatamente encima dessas falhas da administração pública municipal. Aos poucos, com sua experiência de parlamentar de renome, defensor das causas sociais, foi conquistando o espaço que teve e, diante disso, a “coisa” política de fato ficou difícil para os outros candidatos. Acho que sua vitória foi devida à sua insistência, limada encima do anseio e da esperança do povo. Um povo que vem sendo, historicamente, esgotado e decepcionado com os políticos que passaram pela administração municipal. Como ex-deputado federal, detentor de um bom histórico da vida pública, o Dutra tem uma boa relação de amizade política no contexto nacional e acredito que o município de Paço do Lumiar será beneficiado com isso.
JIB Mas, e aí? O senhor será oposição ou pró-situação?
MIGUEL Antes de tudo, lamento o fato de o candidato que a minha coligação apoiou, o Gilberto Aroso, não ter ganhado as eleições para prefeito, haja vista que tínhamos traçado planos. Tínhamos uma meta de trabalho a ser cumprida que, com sua derrota, não vai ser possível. Porém, não vejo nenhuma possibilidade de fazer oposição a Domingos Dutra. Ele será o prefeito a partir de janeiro de 2017 e o bem da comunidade de Paço do Lumiar está acima de qualquer coisa. Isso dependerá de uma boa administração das políticas públicas. E para que essa boa administração pública aconteça, a Câmara Municipal terá que fazer, com ausência de embaraço, o seu papel de assessoramento ao executivo. E mesmo os que forem oposição, têm que pensar na comunidade.
JIB O senhor acha que isso é possível?
MIGUEL Entendo que oposição não pode ser sinônimo de desordem partidária. Em vez disso, tem-se que ter bom senso e pensar no bem da população. Vamos ver e analisar o plano de governo do Dutra e naquilo que for para o bem da população eu darei apoio. Naquilo que, porventura, for prejudicar a comunidade, eu estarei do lado da comunidade. Tenho acompanhado a equipe de transição do futuro prefeito, vejo que ele tem bons planos para desenvolver o município e acredito que podemos fazer um excelente trabalho de assessoramento a ele. Falo isso não só de minha parte, mas falo em nome do grupo de vereadores que vai trabalhar em apoio a ele. Temos conversado bastante e a proposta consensual é de que, de forma alguma, seremos oposição ao Dutra.
JIB O senhor teve uma boa votação no Maiobão e Lima Verde, sendo o segundo mais votado da sua coligação. O que a comunidade que apostou no seu nome pode esperar do vereador Miguel para os próximos quatro anos?
MIGUEL Eu me preparei bastante para ser vereador. Procurei conhecer as necessidades do município e levei minha proposta às comunidades. Quem entendeu esta proposta, votou em mim. E esta é a oportunidade que tenho para fazer o trabalho de intermediação entre a administração pública e a população do meu município. A comunidade que acreditou em mim pode, com certeza, esperar um trabalho voltado para o desenvolvimento do município nas áreas da economia, do social, da saúde, da cultura, do agro-desenvolvimento, do esporte e do lazer. Já para 2017, tenho três projetos de lei que vão beneficiar a cultura e a economia rural. Eu e minha equipe estaremos colhendo informações, ouvindo as pessoas da comunidade luminense para, então, transformar essas informações em atividades do nosso plano de ação.
JIB Por falar em desenvolvimento, Paço do Lumiar é um município muito carente em matéria de crescimento econômico e social. Qual vai ser a sua contribuição na Câmara para mudar essa realidade?
MIGUEL Primeiramente, levantar dados acerca das necessidades e das potencialidades do município. Depois discutir essas necessidades e potencialidades no plenário da Câmara e, também, junto à comunidade, tanto in loco como através dos meios de comunicação. A partir daí, vamos sentar com o executivo para estudar o que pode ser feito, com que recurso e qual o cronograma que deve ser elaborado a partir de uma política efetiva de execução. Creio que o executivo municipal terá maturidade e competência suficientes para, no que não for possível fazer com recursos da prefeitura, buscar parcerias com o governo estadual, governo federal e até com instituições internacionais, se for o caso.
JIB Você acha que vai ser simples assim?
MIGUEL Simples não vai ser. Em matéria de governo, nada é simples. Mas se houver vontade política, transparência e entendimento entre os poderes legislativo, executivo e a população, será possível, sim, emplacar um desenvolvimento que seja satisfatório e equilibrado. Paço do Lumiar tem muitos problemas, mas também têm muitas maneiras e caminhos de resolvê-los. Basta que se tenha vontade política.