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sexta-feira, 22 de março de 2013

Entrevista: SIDRACK SANTOS FEITOSA








MORROS ESTÁ JOGADA AO CAOS



Depois de uma exaustiva corrida nas eleições para prefeito, Sidrack Feitosa (PV) diz que a principal estratégia para uma boa administração é ser honesto com o dinheiro público.

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Por BATTISTA SOAREZ

Sidrack Feitosa
Ele nasceu num povoado de Morros. Estudou à luz de lamparina. Ia para a escola a pé, na areia quente e teve uma infância difícil. Este é apenas o começo da história de vida de Sidrack Santos Feitosa, de 37 anos. Filho de militar ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, ele diz que viu a energia elétrica chegar no seu bairro aos 18 anos de idade.
O pai de Sidrack era integrante da FEB (Força Expedicionária Brasileira) e criou os filhos num regime familiar muito rígido. "Filho de meu pai não achava nada na rua e tinha de respeitar os mais velhos", testemunha ele, lembrando que seu genitor foi fundador do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Morros, Axixá, Icatu, Presidente Jucelino e Rosário.
Afirma, ainda, que fez todo o ensino fundamental e médio em Morros e, logo que concluiu o ensino básico, viajou para a Baiha, onde faz faculdade de Teologia, na Faculdade Latino-Americana (Instituto Adventista de Ensino do Nordeste - IAENE). Depois de se formar, foi ordenado pastor, trabalhando quatro anos na função. Formou-se em Direito, no UNICEUMA, e em 2012 decidiu ser candidato a prefeito de Morros pelo Partido Verde (PV). Na sua casa, na Pousada Peixinho, ele concedeu a seguinte entrevista:

Battista Soarez
As eleições de 2012, em Morros, foram muito confusas. Como foi a experiencia de ser candidato a prefeito pela primeira vez?
 Sidrack Feitosa A experiência foi boa. Principalmente porque conseguimos levar nossa proposta para o povo, mostrar nosso pensamento e, assim, considero ter tido bom resultado.

 BS Como você analisa, hoje, a política de Morros? Qual a real situação?

 SF É muito triste. Eu tenho rodado pelos povoados da área rural de Morros e vejo o povo abandonado, a cidade abandonada, buracos em tudo quanto é lugar, salários atrasados, muita gente demitida. Quer dizer, tem uma situação aí muito ruim. O povo de Morros, hoje, sobrevive apenas da Bolsa Família.

BS Quer dizer, então, que não há nenhuma política pública de geração de renda, em nenhum setor social do município?
Pousada Peixinho
SF Não, não existe. Na verdade, não existe nenhuma política pública em se tratando de geração de emprego e renda. De fato, para se ter emprego, precisa-se ter política séria de geração de renda. E não há nada, na situação atual, que possa melhorar a situação do povo e, efetivamente, da cidade como um todo. Não há nada que possa gerar trabalho e renda, e nenhum incentivo a atividade de produção. As pessoas, aqui, continuam como antes: sem perspectiva de vida. Alguns vivem da lavoura, principalmente da mandioca. Mas, agora, existe uma escassez de farinha muito grande. A Bolsa Família é que tem salvado o povo de uma situação de miséria pior do que está.
BS Sendo assim, que projeto você tinha em mente ou tem, caso venha a ser candidato novamente para mudar a política social do município, tanto do ponto de vista administrativo, quanto do ponto de vista econômico?
Morros tem cachoeiras, lagoas e rios. Potencial turístico.
SF Nosso principal projeto para a cidade de Morros é geração de emprego e renda. A maior necessidade do povo, hoje, é geração renda. Noventa por cento da população local não tem emprego. E nenhuma atividade de renda. As pessoas vivem de biscates ou bicos. Ou, como já disse, da Bolsa Família. Você há de convir que, sem trabalho e renda, não haverá dignidade. No entanto, Morros tem um potencial muito grande na área do turismo e na área da agricultura. A grande maioria da população do município é agricultora. Mas, em Morros, nunca teve sequer um trator para ajudar o agricultor em suas atividades de produção. Nada foi investido até hoje em agricultura. Nosso projeto para Morros é trazer indústria para o setor de agronegócio, para o turismo, e também investir em estrada. Mais de duzentos povoados não têm estrada. Logo, não se tem como escoar a produção porque as estradas são intrafegáveis, em razão da grande quantidade de areia nas estradas, onde só se consegue trafegar por meio de caminhões traçados.
BS É fácil convencer o povo acerca de uma proposta de governo realmente honesta, que era e é o seu caso efetivamente? Ou as pessoas já estão acostumadas com barganhas políticas, compras de votos e outras coisas mais?
SF Não diria que é fácil. Digo apenas que o povo de Morros teve uma oportunidade. Não me candidatei para brincar com a boa fé do povo. Me candidatei para governar com absoluta transparência e dedicação. Isto é parte do meu caráter. Tem, dentro de mim, uma visão de futuro melhor para o povo. Agora, tudo isto é muito difícil porque a gente luta contra o poder. Inclusive o poder econômico. Um poder que é desonesto e nefasto. E esse poder econômico utiliza-se do dinheiro do próprio povo, e de todas as armas, para poder virar a cabeça do povo. Logo, é uma briga muito forte. Inclusive, há uma ideologia de projeto de vida quanto ao dinheiro, por parte de quem está no poder. Querem fazer fortuna com o dinheiro público. Não foi fácil. Mas, graças a Deus, foram mais de dois mil votos que acreditaram no meu projeto de desenvolvimento para Morros. Isto mostrou que ainda há muita gente que acredita em coisa séria.
BS A imprensa, em geral, divulgou a ocorrência de crimes políticos em Morros. A atual prefeita, Silvana Malheiros, responde a dois processos: um por crime eleitoral, e o outro por improbidade administrativa. Você acredita que essa é uma prática constante da administração pública na cidade de Morros?
SF Essa administração, que passou quatro anos no poder, e agora tá iniciando a continuidade no governo municipal, cometeu muitas falhas. E sempre se prevalecendo do dinheiro do povo. Quer dizer, o dinheiro não é empregado naquilo que realmente é administração pública para o povo. Nos últimos quatro anos, segundo o Portal da Transparência, mais de 100 milhões de reais foram destinados para o município de Morros. E não se vê nada que tenha sido feito. Saiu dinheiro para água, e não se vê água. Saiu dinheiro para estrada, e não se vê estrada. Saiu dinheiro para casas populares, e não se vê casas populares. Então, o desvio foi muito grande. O que se espera é que tudo seja investigado e os responsáveis sejam punidos.
BS Se tivesse sido eleito, de que forma você resolveria esse problema?
SF Nosso pensamento sempre foi empregar aquilo que é do povo para o povo. Minha visão administrativa não é entrar na prefeitura para me dar bem com o dinheiro público. Não é ganhar dinheiro. Meu projeto é cuidar do povo como se cuida de família. Entendo que o que vem do povo, deve ser empregado para o povo. Esta é a nossa visão administrativa para o município de Morros.
BS Então, nesse caso, que potencial você vê em Morros para geração de renda e emprego?
SF Morros tem um potencial muito grande na área do turismo. Até hoje o poder público municipal não investiu nada no turismo. Nosso município fica bem localizado no eixo que liga São Luís a Barreirinhas. Barreirinhas é o maior polo turístico do Maranhão, visto, aí, pelo mundo inteiro. E o turista passa dentro de Morros. Mas apenas passa dentro do município. Por que não fica nada por aqui. E a cidade tem um grande potencial turístico que se popde explorar. Têm muitos rios, muitas nascentes, cachoeiras, lagoas, trilhas, etc. Mas nada é feito nesse setor. Então, o investimento imediato no turismo já poderia trazer um resultado muito grande em matéria de desenvolvimento local e geração de renda para a população.

BS Você nasceu em Morros. E, portanto, conhece muito bem a realidade do seu município. Fui informado de que você vem trabalhando junto à população mesmo sem ter vida pública, ou seja, mesmo antes de ser candidato. Quais os benefícios que você tem feito?

SF — O nosso principal trabalho sempre foi na área social. Fizemos, a princípio, um trabalho religioso por quatro anos. Mas fizemos muitas atividades sociais junto à comunidade. Na área do meio ambiente já fizemos muito, inclusive para proteger as nascentes. A carência, aqui, é muito grande: falta saúde, falta estrada, falta educação, falta tudo. Morros, ainda hoje, têm escolas que funcionam debaixo de árvores. E isso é vergonhoso. Há escolas cobertas de palha, num total desconforto para a clientela escolar. Enfim, o atraso social de Morros muito grande. Por isso, a gente, mesmo como cidadão comum, já temos feito vários trabalhos nas comunidades mais carentes, por entender que as pessoas não merecem tanto descaso do poder público.


BSÉ verdade que, mesmo sem ser político, você já levou luz a algumas comunidades rurais, distantes da área urbana?
SF — É verdade. Rodando pela zona rural, descobrimos que Morros tinha, ainda, 75 povoados sem energia elétrica. Então, comovidos por tal situação, procuramos a Eletronorte, que mandou uma equipe a ter conosco, e, aí, visitamos todos esses povoados, casa por casa, cada família, povoado por povoado e, assim, a Eletronorte veio colocar energia e ainda está fazendo esse trabalho a nosso pedido. Quer dizer, parte desses povoados já tem energia elétrica. Estive, nesta semana, com o presidente da Eletronorte e ele me garantiu que todos os outros povoados restantes vão ter energia.
BS — Você ainda pretende ser candidato? Ou tem outros projetos?
SF — A questão de ser candidato é uma pergunta interessante. Por que? Porque o nosso objetivo não é ser candidato simplesmente por ser candidato. Nós temos um projeto, uma ideologia para o município de Morros. Queremos mudar a história de Morros, gerar emprego e renda para a população jovem e adulta. Fazer o povo ser feliz e mostrar para a sociedade em geral que é possível, sim, administrar um município com seriedade, dedicação, boa vontade e absoluta transparência. Agora isto não depende só de mim. Depende, também, e principalmente, do povo. Daqui a quatro anos, se o povo achar que precisa mudar e que se pode mudar, nós estamos nos preparando cada dia mais para cuidar deste município como se cuida de família.

BS O que você está me dizendo, por exemplo, é que se pudesse fazer tudo isso sem ser político, faria?

SFO nosso lema sempre foi: Deus está no leme, cuidando do povo como se cuida de família. Quando você tem uma visão pública de família, você quer sempre o melhor para o povo. Porque, em família, a gente quer sempre o melhor para a família. E isto, independe de ser político. Logo, você procura trabalhar com muita dedicação para dar o melhor. Porque quando somos movidos pelo sentimento de família, se procura trabalhar dia e noite, dedicadamente, pelo bem-estar da família. Você procura o melhor plano de saúde, o melhor hospital, a melhor educação, o melhor transporte, o melhor de tudo, enfim. Se somos movidos pelo sentimento de família, nossa visão é querer sempre o melhor para a família. E este é o meu projeto: cuidar do povo como se cuida de família. E o povo de Morros está aí, abandonado, enganado e maltratado. E não pode continuar assim.
Belas lagoas e muita beleza ambiental
BS Como você observa o trabalho da governadora Roseana Sarney, principalmente para a região de Morros e do Muni, de modo geral?
SF — A governadora Roseana Sarney tem sido uma mãe para esta região. A nossa região tem dois momentos: antes da governadora, e depois dela. Ela foi quem trouxe esta ponte que liga Morros a outras regiões. Antes, o lugar era isolado. A gente atravessava de barco. Ela construiu a estrada que liga Morros a Barreirinhas, principal polo turístico do Maranhão. Ela também trouxe a UPA para nossa cidade, que hoje é a salvação da saúde do povo de Morros. Então, só posso dizer que ela é uma mãe para o povo da região.

BS Você é pastor adventista licenciado. Que elementos existem na vida eclesiástica que seriam referenciais de apoio na vida pública, e quais elementos da política seriam não recomendáveis para a vida cristã? Ou seja, política e ministério pastoral podem conviver harmoniosamente?

SF — Os principais elementos estão na Lei de Deus. Primeiro, é não roubar. Sabe-se que, hoje, existe uma prática costumeira da corrupção. As pessoas entram na gestão pública para ganhar dinheiro e se dar bem na vida. Ou seja, para desviar o dinheiro do povo. E isso é contra a Bíblia. Ser honesto é um dos fundamentais princípios cristãos. Se os princípios cristãos forem levados em conta na vida pública, o povo será o principal beneciado. A Bíblia diz que "bem aventurado é o povo cujo Deus é o Senhor". E se o administrador segue os princípios blíblicos, ele conseguirá fazer uma boa dministração.

quarta-feira, 20 de março de 2013

RELIGIÃO

Papa Francisco quer assegurar caminho do diálogo religioso

Durante um encontro com líderes religiosos, realizado na manhã desta quarta-feira (20), no Vaticano, o papa Francisco disse que vai assegurar o caminho do diálogo ecumênico a favor da unidade. Isto, sem dúvida, marcará novas perspectivas na sociedade global, e não apenas no mundo religioso.
"Somos testemunhos de quanta violência é provocada pela falta de Deus na humanidade", justificou ele, ao ressaltar a importância de uma convivência saudável entre as mais diversas religiões.
Perante representantes judaicos, o papa afirmou ainda que irá fomentar o diálogo com a religião iniciado com o Concílio Vaticano 2º.
O pontífice recebeu e cumprimentou pessoalmente todos os representantes que vieram ao Vaticano para a missa de inauguração de seu papado, ocorrida na manhã de ontem.

Missa inaugural

Durante a missa inaugural de seu ministério petrino, realizada na manhã desta terça-feira (19), o papa Francisco pediu especialmente aos chefes de Estados presentes, e também aos demais fiéis, que cuidem daqueles que têm "fome e sede".
"Deus quer fidelidade à sua palavra", disse o pontífice. Essa palavra, segundo ele, inclui o respeito a todos e o cuidado por todos e por cada um, "especialmente pelas crianças e pelos idosos" e pelos "mais pobres e mais fracos".
Quem tem fome e sede, segundo ele, está em uma prisão. "E quem serve é capaz de proteger", acrescentou o sucessor de Bento 16. Para o papa, este é o caminho para que os sinais de destruição não acompanhem o caminho "deste mundo".
"Antes de guardarmos os outros, devemos cuidar de nós mesmos. O ódio, a inveja e o orgulho sujam a vida", afirmou o pontífice, que explicou que "guardar" é "vigiar" os sentimentos. "São deles que sai as boas e as más intenções."
No discurso, o papa também pediu maior proteção ao meio ambiente. A vocação de guardião, de acordo com ele, inclui "ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos".

quinta-feira, 14 de março de 2013

PAPADO

Escolha de papa latino-americano já começa com polêmica
Eleição de Jorge Bergoglio ao pontificado não é bem-vinda para argentinos

 
 

A escolha do argentino Jorge Mario Bergoglio, 76, como o novo papa, Francisco 1º, nesta quarta-feira (13), causou controvérsia entre associações de direitos humanos do país. O cardeal é suspeito de ter sido cúmplice em crimes cometidos pela última ditadura militar na Argentina entre 1976e 1983.
Para Francisco 1° é acusado de crimes durante a ditadura argentina
Ele foi chefe da Congregação Jesuíta de 1973 a 1979 e é acusado de ter colaborado com o sequestro de Francisco Jalics e Orlando Yorio, sacerdotes e seus então companheiros na entidade.

A denúncia partiu do jornalista Horacio Verbitsky, presidente da ONG Cels (Centro de Estudios Legales y Sociales). No livro "O Silêncio", ele se apoia em declarações de Yorio, que foi um dos jesuítas sequestrados e morto em 2000.

Apesar de guardar algumas palavras benevolentes sobre a atuação do novo papa junto aos mais humildes, Lita Boitano, de 81 anos, presidente da Associação de Familiares de Desaparecidos e Presos por Razões Políticas, diz que "sobre os desaparecidos, presos e assassinados, ele chegou tarde demais".

Segundo ela, "Bergoglio nunca fez uma autocrítica da Igreja. Não acho que teve o melhor comportamento sobre isso, portanto".

Lita teve dois filhos desaparecidos durante o período e fundou o primeiro grupo que contestou e lutou contra os militares, apenas seis meses após o golpe de 1976. Ela afirma categoricamente que "a hierarquia eclesiástica nunca esteve comprometida com a nossa causa".

Católica declarada, Lita esteve exilada justamente na Itália entre 1979 e 1983 e, apesar das críticas, à postura da Igreja quanto à repressão no país, afirma que conseguiu manter a fé até hoje.

"Agradeço a Deus por não ter perdido a fé durante os anos em que vivi em Roma, porque se há um lugar que pode acabar com a fé de uma pessoa, este lugar é o Vaticano".

Denúncia

O advogado Marcelo Parrilli foi o primeiro a denunciar penalmente Jorge Bergoglio pelo suposto envolvimento com o sequestro dos dois sacerdotes. A causa, que teve início em 2005, não avançou e ainda está em processo de investigação.

"Agora então acho que não vai avançar nem mais um passo", prevê o advogado, com ironia. Para ele, a lentidão está claramente relacionada ao poder da Igreja Católica. Nas audiências de instrução, Bergoglio sequer depôs como réu, mas como testemunha do caso.

quarta-feira, 13 de março de 2013

WANDA CUNHA


VIAGEM PELAS RUAS DE UMA REALIDADE DESCONSTRUÍDA
Depois de alguns anos de silêncio literário, a escritora Wanda Cristina reaparece para descortinar, com texto teatral, persistente realidade de São Luís

“Ali” está Joãozinho, vez em quando engraxando sapatos de algum transeunte menos insolente. Um pouco mais ao lado, está Mariazinha vendendo chicletes, aqui-acolá, a algum complacente que por acaso não se recuse a comprar.

No doloroso vai-e-vem da necessidade nua e crua, está uma mendiga com a vida cheia de sabedoria formada na escola das mazelas sociais. Perdida nas indefinições do destino sem sentido, está Aquília, uma garotinha fugitiva, perambulante pelas ruas da existência [cruel] e que carrega, na bagagem da inocência, sofrimento e maus tratos.

Ao redor de todos, casarões de azulejos velhos, encardidos pelo tempo, guardam uma história de escravismo violento. No cerne da cidade há uma política nefasta conivente com a pobreza, a miséria e a vida maltrapilha de mendigo e, de quebra, fazeres obscuros e ações pouco eficazes. No âmbito de tudo isso, está São Luís, uma cidade capital composta de ruas esburacadas exalando mau cheiro, insegurança e sujeira... E que, à sombra disso e de outras “coisas” mais, escondem-se lendas e mistérios: assombrações eternizadas de figuras lendárias, como Ana Jansen; misterioso animal ofídico como a serpente encantada e outras inusitadas crendices populares sem “pé” nem “cabeça”.

No meio dessas realidades inquietantes está Wanda Cristina da Cunha, uma curiosa observadora que com sua veia genética literária, sendo, pois, filha de poeta, jornalista e escritor não perde uma cena e se esmera em narrar, efetivamente, tudo no silêncio dos detalhes. Silêncio que só é quebrado, apenas, pelo tec-tec dos dedos beijando as teclas do computador, mas que jamais se deixa levar pelo “vício” da tecnologia ultramoderna típica da redação virtual, que tem visualizado uma intelectualidade pouco criativa.

A autora, pelo contrário, tem originalidade redacional e uma escrita acima de tudo inteligente: isto fica claro nas cantigas inócuas das crianças, nos diálogos sacrossantos e pouco fraternais das igrejas, na fala moderada do soldado solitário, na cordialidade cínica dos políticos, na lábia espertinha do vendedor de pamonha, na aparição fantasmática de Ana Jansen e na parva crendice da lenda da serpente. Serpente? Sim, serpente que abocanha principalmente aquilo que pode tirar as crianças da rua, a mendiga da mendicância e, finalmente, pode deixar o povo feliz.

Face a tudo isso aí, Wanda lança olhar horizontal sobre São Luís e acaba tendo uma visão panorâmica da cidade enfeitada de azulejos e casarões que, por força das más administrações públicas, se perpetua deitada sob o lençol de uma realidade desestruturante e escassa. Isto, sim, em quase todos os aspectos. Para ser mais claro. Obviamente!

Os personagens da autora se cruzam ruas a fora. Entreolham-se e se confraternizam. Todos, finalmente, estão prontos! Prontos para ingressarem numa Viagem às ruas de São Luís e, então, percorrerem um universo de inocência roubada de duas crianças... Crianças que não pediram para nascer, não pediram para virem ao mundo! Nem sabem por que vieram ao mundo! Mas que têm o direito de viverem uma vida digna. O caminho faminto de uma mendiga desorientada na sua sabedoria perambulante, sem teto. O esconderijo ao relento de uma menina perdida no labirinto sem fim de sua própria realidade. Uma realidade que, aliás, ela não construiu. Nem sabe quem a construiu. Mas que se vê obrigada a encara-la.

Pois bem! Vagantes pelo caminho desse universo de mazelas sociais e vácuo mental, Joãozinho, Mariazinha, a mendiga e a garota Aquília seguem em frente. A estrada é longa, para algumas “estações”. E curta para outras. Mas as paradas são sempre as mesmas coisas: fome, mendicância, irritação, melancolia, sujeira e falta de segurança.

Mesmo assim, há um pouco de razão para pensar: “criança que mendiga, quando cresce vira mendigo”, diz a mulher mendicante. Na sua experiência, ela explica: “Na rua, a gente acaba fazendo um monte de coisas, mas sempre volta à estaca zero. Quando não, cai num precipício”. Ao ouvir isto da mendiga, Mariazinha não compreende. E instiga: “como assim?”. Mas Joãozinho, parecendo ser mais safo nas coisas do mundo da rua, explica: “é como uma bicicleta sem corrente que tu pedala ele, pedala ela, mas ela nunca sai do lugar”.

Joãozinho diz que a mendiga é fedorenta. E, embora sem saber, o garoto acaba se referindo à mentalidade que rege, por manobras políticas, a administração pública. Esta, sim, parece feder mais que qualquer outra coisa. Joãozinho diz isso pelo sentido da razão química que as cheiradas de cola lhe proporcionam.

Wanda dá espaço para a gente fazer uma hermenêutica sociocultural que mostra, claramente, que em São Luís tudo é inusitadamente possível, como na fala da borboleta: “Eu sou uma borboleta diferente. Nunca fui crisálida, nunca fui lagarta, fui princesa. Mas minha coroa caiu e virei serpente”. Como acontece na política do Maranhão, como do Brasil: pessoas boas se transformam em bandidos logo após uma campanha política vitoriosa; pais de família honestos, desempregados, viram homens revoltados, após uma separação traumática e enxertada de perseguição judicial ornada de injustiça; inocentes viram vilões perigosos após passarem pelo túnel da crueldade do sistema social. Bem assim asseverou Leonardo Boff: “Todos vivemos atrás das grades de leis, normas, prescrições, tradições, prêmios e castigos. Assim funcionam as religiões e as sociedades que, com tais instrumentos, enquadram as pessoas, mantêm-nas submissas e criam a ordem estabelecida”. É isto. As sociedades vivem sempre na contramão de tudo o que é certo: negociam o bem pelo mal, o honesto pelo desonesto, a paz pela violência, a justiça pela injustiça, o justo pelo suborno, o amor pelo ódio, a igualdade pela desigualdade, a distribuição pela miséria, a fraternidade pela maldade.

A geração da escritora Wanda Cristina é uma geração de leitores fissurados. Por isso sua criatividade literária cheia de inteligência. Cheia principalmente de vontade. Vontade de mudar a realidade de São Luís. Vontade de ver tudo diferente. De ver São Luís crescer. Vontade de poder viver da criatividade literária, mas que o triunfo do individualismo e da anomia impede.

O verdadeiro escritor brasileiro principalmente o maranhense tem, lamentavelmente, de fazer todas as outras coisas antes de escrever. E quando escreve, o reconhecimento fica adormecido nas sombras da escassez de leitores, na falta de apoio literário, na ausência de política cultural para o livro. Mas mesmo assim Wanda é forte e polivalente, e faz arte literária com o rigor da simplicidade e da sapiência. Manda o seu recado, no tempo e na história, para o mundo da arte. Wanda é um exemplo ideal de quem, realmente, faz arte literária. Seu livro merece ser lido e disseminado nas escolas, na política e no teatro. Sua crítica traz lucidez ante à obscuridade da escassez de consciência. Uma consciência que emana, inteiriça, da cabeça dura dos homens que têm medo da intelectualidade dos poetas e escritores. Isto porque os poetas e escritores sempre pensam muito à frente de sua época.
 
Como disse Arthur Schopenhauer (1788-1860), os ecritores "nunca acreditam que toda mudança é progresso", mas apenas um motivo para se pensar mais adiante. E os homens, principalmente os políticos e governantes, têm pavor disso. Morrem de medo do que se possa pensar no âmbito do novo. Ou da resposta introdutória de uma simples ideologia do pensar com a tinta da pena. A escrita de um pensador assusta. Principalmente quando se trata de uma leitura interessante, capaz de influenciar alguém. Principalmente se esse "alguém" for um sujeito de coragem, que possa levar o que viu, à luz do entendimento, mais adiante, para outros "mundos" no meio do universo.

Nelson Werneck Sodré, por outro lado, destaca: “A vida intelectual é, na realidade, permanente troca de ideias, de influências, de elogios, de pedidos”. Wanda Cristina da Cunha faz a gente crer que seus escritos não são meramente um aprimoramento de tudo o que já foi dito, e escrito, mas um aspecto intrigante da reflexão absolutamente possível. E disto também os homens têm medo. Por isto, Viagem às ruas de São Luís, de Wanda Cunha, promete levar os amantes da educação e da arte a um contínuo refletir.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

CULTURA DO LIVRO



Declínio do espírito criativo,
morte da razão inteligente
Como a inépcia da política municipal está assassinando a cultura e a arte literária de São Luís



BATTISTA SOAREZ
Escritor, editor e jornalista

6a. Feira do Livro de São Luís não agradou aos participantes.
No ano em que a capital maranhense completa 400 anos, a 6ª Feira de Livros de São Luís, edição 2012, comemora com um verdadeiro caos. A avaliação vem dos próprios participantes. Livreiros e organizadores reclamam que a prefeitura municipal foi totalmente omissa. “Faltou mais apoio. Este ano, a feira só aconteceu porque é lei. Se não, não teria acontecido”, disse Milton Lira, gerente da Livraria Vozes, em São Luís, e ex-presidente da ALÉM (Associação de Livreiros no Estado do Maranhão). O prefeito João Castelo, derrotado nas últimas eleições, esteve presente no primeiro dia da feira e foi o primeiro a comprar o livro São Luís: memória e tempo, de autoria do escritor maranhense Antônio Guimarães. Castelo, particularmente, não manifestou apoio à feira, mas o secretário municipal de cultura Euclides Moreira Neto e sua equipe mostraram total empenho na realização da feira. Mas as dificuldades foram muitas.

O problema já começa pela mudança de local. Nos anos anteriores, a feira vinha acontecendo na Praça Maria Aragão, local mais apropriado, de acordo com os participantes. “É amplo. Tem estacionamento e o acesso é melhor”, acentuou o escritor Antônio Guimarães, autor de São Luís: memória e tempo. Em 2012, a feira mudou para o CEPRAMA e isso dificultou o acesso das pessoas.

Maior número de pessoas se fez presente no último dia da feira.
Logo na entrada, os participantes eram recepcionados pelo sugestivo cheio de esgoto. Na calçada, um esgoto estourado jorrava abundantemente. As pessoas molhavam os sapatos naquela água fedendo a bosta e ninguém da administração pública aparecia para resolver o problema. Para quem veio de outro estado, uma surpresa estranha e desagradável: “Ai, gente! Patrimônio cultural da humanidade por aqui fede a cocô”, disse a turista Janete Lali Magalhães, de Canoas, Rio Grande do Sul. Sujeira, buracos, esgoto e fedor. Essa é a cultura que a cidade patrimônio histórico oferece para a humanidade.

Aliás, esgoto é, talvez, o destino que o poder público de São Luís quer dar à cultura do livro. Basta fazer uma visita à Rua do Sol e ver o que estão fazendo com a casa de Aluízio de Azevedo, um dos maiores escritores de São Luís de todos os tempos, publicado em mais de 150 países. A casa do autor de Casa de pensão, onde deveria ser um acervo literário pois ali o escritor produziu duas de suas mais importantes obras, O mulato e O cortiço , foi vergonhosamente vendida para um camelô que passa a noite inteira destruindo a parte interna daquele patrimônio cultural e incomodando a vizinhança. Parece que o poder público pouco está ligando para a cultura do livro e produção literária. Agora, São Luís tem uma cultura patrimônio da humanidade, tombada, entretanto, pela contracultura da desumanidade.

Na feira do livro de 2012, a Casa do Escritor, por exemplo, ficou escondida quase que debaixo do piso, como sinal de não-reconhecimento a quem faz arte literária na história terra de escritores e poetas. No auditório Quartocentenário bem localizado até não comparecia quase ninguém para ouvir as palestras.

A venda de livros não foi como o esperado.
“Não ouve muita divulgação. Acho que uma feira desse nível deveria ser divulgada em todo o Maranhão e no Brasil inteiro”, disse o engenheiro civil Irandi Marques Leite. Leitor apaixonado, Irandi sugere que seria indispensável a participação da Academia Maranhense Letras, das universidades públicas e privadas e, ainda, das faculdades. “As empresas acrescentou ele como Vale do Rio Doce, Alumar e outras também deveriam estar ali participando e apresentando seus projetos de sustentabilidade para a área da cultura literária”.

De fato. Não se faz empresa sem livro. Não existe universidade sem livro. Não há cultura sem livro. Nem ciência. Nem arte. Sem livro, nem se fala em literatura. E a literatura, claro, é a vida útil de qualquer civilização. O livro mantém o diálogo entre gerações. É com a existência de livros que se conhece o passado, registra-se o presente e se promove o futuro. No entanto, falta política cultural para o livro. Escritores não recebem nenhum incentivo. Nem se organizam como deveriam.

A beleza da cultura maltratada

São Luís é bela. Muito bela. Cercada de águas oceânicas por todos os lados, a cidade torna-se uma ilha deslumbrante. Belas praias. Gentes bonitas. Culinária riquíssima. Poetas, escritores e uma história literária fantástica. Há, ainda, uma lenda que, contada, emociona e encanta.

            Com forte influência francesa, a ilha de Upaon-Açú já foi berço da intelectualidade brasileira e guarda, no seu seio, um orgulho histórico-cultural acima de tudo romântico, pela sua poesia, pela sua arte literária e pela sua sensibilidade criativa. Ando pelas praias, por ruas modernas e pelo Centro Histórico e sinto-me impulsionado pela inspiração que o brilho de seus casarões me proporciona. Sinto a emoção que qualquer poeta ou escritor sente olhando sua beleza cultural desenhada na arte de antigos prédios coloniais portugueses. Aliás, maranhenses mesmo.

            O céu de São Luís parece reluzir mais límpido que o céu de outras cidades históricas do Brasil. Os pássaros, aqui, parecem ter, em seus cantos, melodia mais refinada que em outros lugares do mundo, como diria o poeta maranhense Gonçalves Dias: Minha terra tem palmeiras / Onde canta o sabiá / Os pássaros que aqui gorjeiam / Não gorjeiam como lá... E nesta terra de Gonçalves Dias, até os cães parecem mais felizes, haja vista o ar puro e naturalmente saudável que respiram, graças à aragem que vem do Atlântico e ventila seus becos e vielas. Seus poetas são mais poetas. Inspirados. Aqui, tudo cheira arte. Tudo respira poesia e cultura literária.

Declínio da razão literária

Tudo isso, no entanto, parece estar ameaçado pela estúpida falta de interesse e má vontade política, ou melhor, má vontade dos políticos. Políticos que, infelizmente, são os únicos seres que administram tudo, em nome de uma democracia mentirosa. Eles mandam em tudo: na cultura e na arte; na cidade e no campo; na pobreza e na riqueza; nas leis e no judiciário; no legislativo e no executivo; no dinheiro e na falta deste. Mandam até na vida e na morte. Eles decidem quem deve viver, e quem deve morrer.

As autoridades, ao invés de investirem na arte, questionam: que razões levam alguém a tornar-se artista?; o que leva alguém a querer ser escritor? Evidentemente! Se não questionam de forma verbal, questionam na prática com suas atitudes mesquinhas, burocráticas e omissas.

Exemplo disso é o que vem acontecendo com a Feira do Livro de São Luís. Criada com absoluto sucesso em 2007 na gestão do então prefeito Tadeu Palácio pelos livreiros de São Luís, através da Associação dos Livreiros do Estado do Maranhão (ALEM), a feira tornou-se obrigatória por força de uma lei municipal. Vejam isso: precisou de uma lei para forçar se promover a cultura de livros. Em outras palavras, se faz cultura por obrigação. Não por prazer. Como se o desenvolvimento de qualquer civilização não fosse possível somente por meio de livros. Como se a educação não dependesse de livros. Como se a própria literatura não vivesse de livros.

Morte da razão inteligente

Um povo que não gosta de ler, sem amor aos livros, não tem identidade. Talvez isso explique o fato de o brasileiro gostar de “coisa” importada americana: da arte cinematográfica à cultura da violência, tudo é importado de “modelos” americanos. E isso é uma agressão fatal à inteligência da civilização brasileiro.

Lamentavelmente, na literatura não se encontram incentivo e nem vocações transmitidas de pais a filhos, por exemplo. A identidade cultural do maranhense diferente de outros tempos atrás é solta nos labirintos das desculpas sem “pé” nem “cabeça”, nos “vales” e “esgotos” da internet e, finalmente, da preguiça intelectual de precedentes estranhos.

Nos tempos de Aluízio de Azevedo, Graça Aranha, Gonçalves Dias, Dagmar Desterro, Bandeira Tribizzi, José Sarney, Carlos Cunha e tantos outros, os jovens liam por diversão. Eles se reuniam para ler, escrever e trocarem ideias inteligentes. O resultado disso foi que se tornaram grandes homens e mulheres não só na arte e na literatura, mas, também, na política, nos negócios e na liderança social em diferentes níveis.

A csasa de Aluizio de Azevedo, na rua do Sol, em São Luís.


Hoje, a cultura da internet e outras tecnologias viciosas estão assassinando a paixão pela leitura, pela arte literária. O espírito criativo está declinando. A razão da cultura inteligente está morrendo bombardeada pelo “arsenal” de lixos eletrônicos, pornográficos e violentos. Os jovens não gostam de ler. Por isso, não sabem escrever. Nem falar. Não saber administrar. Nem amar. Não respeitam limites. Nem o direito do outro. A consequência disso é uma sociedade burocrática ao extremo, burocracia esta que só serve para alimentar a corrupção, a fraude, a ganância, o poder de posse, a violência física, política, jurídica e social.

Que exemplos se podem mencionar de violência nesse sentido em que, aqui, está sendo colocado, na falta do hábito de leitura? O primeiro deles é a violência política: compra de voto, corrupção, burocracia, anseio por poder, CPIs, partidarismo, fraudes orçamentárias, má administração das políticas públicas, superfaturamento, apadrinhamento político e favorecimento econômico.

Depois, a violência educacional: febre de avaliação para tudo o atual sistema de avaliação da educação brasileira está totalmente equivocado , falta de investimento na educação, escolas públicas em péssimo estado de conservação, não investimento em pesquisa científica e acadêmica, desvios de recursos públicos, falta de capacitação profissional, ausência de interação escola-família, despreparo na política de relações humanas nas escolas em geral.

Um pouco mais adiante, depara-se com a violência jurídica: leis direcionadas para beneficiar bandidos, juízes mal preparados, promotores que se vendem, um judiciário que se presta a serviço de grupos políticos, medidas judiciais que favorecem a corrupção.

Com a escassez da cultura de livros, prolifera a cultura da ignorância, da estupidez, da violência física, psicológica e social. No Brasil, ainda se confundem política com corrupção, autoridade com estupidez, justiça com punição e vingança.

Escritores, leitura e política cultural do livro: tempo de recordação

            Chegou-se a uma geração de poucos leitores. A criatividade literária sofre com isso. “São Luís dizem os intelectuais precisa cultivar sua cultura de bons leitores. Precisa rever sua história cultural e preservar o que há de melhor na herança de nossa tradição literária”.

            A equação da filosofia do descaso focado na arte literária é simples: Sem incentivo à produção literária, não haverá livros. Sem livros, não terão leitores. Sem leitores, é possível de se ter escritores. E sem escritores, morrerá a literatura. E sem literatura.... acontecerá tudo o que sua mente for capaz de imaginar do ponto de vista catastrófico.

            Prevalecerão, sem dúvida, a ignorância, a violência, a soberba, a insensatez, a insensibilidade humana. Acho que bem se pode aplicar à literatura maranhense o pensamento de Oscar Niemeyer: “Quando a vida se degrada, e a esperança foge do coração dos homens, só resta recordação”. Usando-se da boa razão que teve o gênio da arquitetura brasileira, o que nos resta é: recordar. Recordar de que um dia, lá pelo meio da história do passado, tivemos bons escritores e poetas. Recordar dos sonhos que um dia aqueles ancestrais da literatura sonharam para o futuro de nossa arte literária.

            Recordar da bela poesia de Humberto de Campos. Da poética lírica de Gonçalves Dias. Do bom teatro de Arthur Azevedo. Da bela prosa de Graça Aranha. Da poesia meio clássica e meio moderna de Bandeira Tribuzzi. Do romancismo naturalista de Aluízio de Azevedo. Da literatura socioeducativa de Dagmar Desterro. Das crônicas cheias de bravura e inconformismo de Carlos Cunha. E, enfim, da mensagem literária que os jovens do passado tentaram escrever para nós do futuro que, agora, sofre.

Em vários estados do Brasil, por exemplo, já está sendo adotado o check-livro: os governos municipal e estadual distribuem vale-livro para estudantes e professores que, ao participarem das feiras, trocam-no por livros. Na primeira e na segunda feiras, ainda na gestão do ex-prefeito Tadeu Palácio, foram distribuídos 600 mil reais para aquisição de livros junto às bibliotecas do município. Fato que na administração de João Castelo não aconteceu. Espera-se que o próximo prefeito Edivaldo Holanda Junior dê o devido apoio à feira, a exemplo de Palácio.

        Não espero, finalmente, que, com a leitura desta matéria, tentam corrigir o que os homens tornaram incorrigível. Seria, de minha parte, pretensão ingênua. Mas que os perversos que pegam o dinheiro público da literatura e usam para “outros” fins tenham consciência de que o que estão fazendo com a arte literária em São Luís é estupidez e maldade. Aliás, estupidez e maldade não são nenhum elemento estranho na política do Maranhão. Em matéria de produção literária e leitura, eles não têm nenhum interesse de investir naquilo que liberta a mente do povo para o esclarecimento da vida pública.