A R T I G O
A política da mediocridade e a mediocridade dos políticos
Por que o Brasil deixou
de ser colônia de Portugal, mas a sua população permanece subjugada pela
cultura da burguesia
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Por BATTISTA SOAREZ *
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Quando vejo situações
deprimentes como a que vem acontecendo no município de
Apicum-Açu, interior da baixada maranhense, em que o prefeito Zequinha Ribeiro
(PSC), rasgando a Constituição Federal, afasta concursados nomeados para
contratar parentes, amigos e aliados políticos; quando vejo prefeitos e
governadores de todo o país roubando o dinheiro público, liberado pelo governo
federal para combater a pandemia do momento; quando vejo profissionais da Saúde
forjando certidões de óbitos — de pessoas mortas por outras doenças — para
aumentar a estatística da morte por Covid-19 com objetivo de aumentar ainda
mais o valor do repasse; quando vejo o judiciário brasileiro aplicando suas injustiças
em troca de grandes quantias em dinheiro... Tudo isso me enoja. E aí percebo o
quanto o povo brasileiro sofre e o quanto os políticos brasileiros são
verdadeiras hienas e abutres. Verdadeiros medíocres.
Eu conversei com
várias autoridades jurídicas sobre o caso do atual prefeito de Apicum-Açu,
Zequinha Ribeiro, pelo fato de ter me chamado a atenção até que ponto chega o
cinismo dos políticos brasileiros. O Dr. Jomar Câmara, subprocurador-geral do
Estado do Maranhão, disse que, no caso do município de Apicum-Açu, “o prefeito
Zequinha rasgou não somente a Constituição Federal, mas também o código penal, a
lei de responsabilidade fiscal, a lei da ação civil pública, a lei de improbidade
administrativa, a própria lei orgânica municipal, além das normas infraconstitucionais
que garantem o funcionamento dos municípios brasileiros como entes jurídicos de
direito público interno, cujo fato reclama do Ministério Público as ações
competentes”.
Segundo o subprocurador,
o caso em analise é passível de reprimenda. “Os gestores públicos precisam
entender que a administração pública municipal é exercida dentro dos cinco princípios
básicos da administração pública inseridos na Constituição Federal/1988, tais
como a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência”,
destacou ele.
Isso significa
que “se o prefeito de Apicum-Açu não retroceder do seu ato improbo e imoral, ele
certamente será afastado por ordem judicial e poderá responder por improbidade
administrativa, prevaricação e desvio de finalidades”, disse o Dr. Claudio
Guida, especialista em direito público e administrativo e, também, professor da
Escola de Governo do Maranhão (EGMA).
Entrei no
jornalismo em 05 de fevereiro de 1985. Durante todos esses anos, vi de perto
muitas e muitas falcatruas da política e muitas políticas sujas e fraudulentas,
costuradas, nos bastidores dos gabinetes legislativos e executivos, sempre
articulados entre os três poderes que compõem a burguesia dominante: o poder
político, o poder econômico e o poder intelectual. Nisso está a grande
desigualdade entre dominantes e dominados. No Brasil, o poder dominante representa
apenas 1% da sociedade. Os dominados, aqueles que têm apenas a força do voto,
mas que não sabem usá-la, são 99% da população. Coincidentemente, esses mesmos percentuais
sempre se repetem na educação, no cenário econômico, no público que lê e nas
profissões mais bem remuneradas.
Na verdade, essa
foi a herança sociocultural deixada pelos europeus no Brasil. Enquanto mandaram
no país, plantaram na cabeça do povo uma cultura mental de subserviência, de “aceitar
tudo”, de se “conformar com tudo” e de aceitar ser subjugado pelos dominantes,
pela cultura da burguesia. E assim nasceu a política brasileira, em águas
totalmente toldadas e emporcalhadas pela sujeira de uma cultura social
contaminada por violência, escravidão, miséria, marginalidade, ganância, roubalheira
e, enfim, todo tipo de criminalidade. Formou-se, então, uma política de
absoluta mediocridade, que pare, todos os dias, políticos medíocres. E essa é a
política do sistema que nos governa.
Medíocres,
incompetentes e gananciosos por dinheiro — dinheiro esse que os enriquece de
maneira ilícita e fraudulenta — os políticos, na sua maioria, fazem escárnio
com seus eleitores. Um claro exemplo disso é o fato de que eles, somente em
épocas de eleição, aparecem em seus redutos dando tapinhas nas costas dos eleitores
e comprando seus votos por 10, 20, 50 e 100 reais, como uma forma cínica e
maldosa de dizer: “Peguem isto. Isso é o que vocês valem. Agora, votem em mim”.
E o povo, pobre e analfabeto, vota. Depois de eleitos, os políticos ganham
milhões, enriquecem, se escodem em suas tocas legislativas e executivas por quatro
anos e só então aparecem novamente repetindo as mesmas práticas. E esse é o
vício que segue nos labirintos da história política do nosso país.
Corre,
finalmente, muito dinheiro pelo bolso dos políticos brasileiros. Como
contribuintes e injustiçados, trabalhamos duro para pagar, mensalmente, altos
salários para que eles possam bancar seus luxos, vivenciar seus shows de mediocridade
e, assim, desfrutarem de uma vida regalada. Prova disso é que todos os meus
amigos em quem votei, acreditando numa postura ética diferente, estão vergonhosamente
envolvidos no sistema da corrupção. E isso, mais uma vez, me dá nojo. O Brasil
é um país rico, mas — por causa da mediocridade dos políticos que nos governam —
vive na pobreza de tudo, inclusive na pobreza de mentalidade. Ninguém tem,
sequer, o mínimo de ideia de desenvolvimento. Porque desenvolvimento, para a
política da mediocridade, é o fato de os dominantes (1%) ficarem mais ricos e
os dominados (99%) ficarem mais pobres.
Concordo, de
certa forma, com o escritor e professor Eugênio Maria Gomes, quando diz que “não
há lugar para o qual você olhe e consiga encontrar algum político que não seja
metido, até o pescoço, em falcatruas, negociatas, mentiras e enganações”. E aí
parece estar a explicação do por que o país não encontrar, de jeito nenhum, o
caminho do desenvolvimento.
O presidente Jair
Bolsonaro tem boas ideias de desenvolvimento para o país, mas, infelizmente,
tem um judiciário formado por intelectuais medíocres e corruptos (que o
atrabalham), um legislativo cheio de medíocres e gananciosos, governadores e
prefeitos da mesma laia, espalhados pelo país, e, além disso, adotou um método de
governabilidade (o neoliberalismo) que desde que foi criado, no século XVIII, por
si só, nunca deu certo em lugar nenhum. Na faculdade, sempre que dou aula de
política social e econômica, digo para os meus alunos que o atual presidente
governa com o neoliberalismo, mas tem uma cabeça desenvolvimentalista. Com a
honestidade que ele tem, se governar com o método desenvolvimentalista, o país
decola. Para isso, tem que trocar de técnicos: tirar todos os neoliberais, e
colocar na estrutura de governo os desenvolvimentalistas. Se isso acontecer,
aí, sim, pode-se falar em desenvolvimento social e econômico para o Brasil. E o
país poderá assumir os primeiros lugares no ranque mundial.
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* BATTISTA SOAREZ é escritor, jornalista, pedagogo,
sociólogo, assistente social e professor universitário.