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quarta-feira, 13 de julho de 2022

POLÍTICA | Deputado Pastor Gil reúne com o presidente Bolsonaro em Brasília

Deputado Pastor Gil reúne com Bolsonaro em Brasília
Na ocasião, foi oficializado convite que confirma participação do presidente em evento de mulheres evangélicas em Vitória do Mearim-MA


Por Battista Soarez
(De São Luís - MA)

Presidente Bolsonaro e Deputado Pastor Gil | FOTO: Divulgação

O DEPUTADO FEDERAL PASTOR GIL (PL-MA) esteve reunido na manhã desta terça-feira, 11/07, com o presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (PL), oficializando o convite que o deputado fez ao chefe do Executivo para estar presente nesta quinta-feira, 14/7, a partir das 10 horas no maior evento de mulheres da Assembleia de Deus no estado do Maranhão.

Trata-se do 38º Congresso Estadual de Missionárias e Dirigentes de Círculo de Oração, promovido pela Convenção Estadual da Assembleia de Deus no Maranhão (CEADEMA). Neste ano, o congresso de mulheres da Assembleia de Deus acontecerá na cidade de Vitória do Mearim, no Maranhão. O evento reúne cerca de cinco mil mulheres.

No encontro com o deputado Pastor Gil, o presidente confirmou sua participação no evento, depois de passar por Imperatriz, também no Maranhão, para participar de outro evento evangélico e, ainda, de uma motociata.

— O presidente Bolsonaro será bem-vindo, e eu convido a todos a se fazerem presentes — disse o deputado.

terça-feira, 12 de julho de 2022

Antônio Norberto reúne com amigos e fala sobre pré-candidatura a vice na chapa de Lahésio Bonfim

 Antônio Norberto reúne com amigos e fala sobre sua pré-candidatura a vice-governador

Da Redação
São Luís - MA

Da esq. p/ Dir.: Mauro Goltzman, Antônio Norberto, Beto Rocha, Ricardo Gama e Battista Soarez. | FOTO: Divulgação.

NESTA SEGUNDA-FEIRA, 11/07, estiveram reunidos no restaurante Lugano, no Calhau, os empresários Mauro Goltzman e Beto Rocha, os escritores Antônio Norberto e Battista Soarez (pré-candidato a deputado estadual) e o futuro candidato a vereador de Guimarães, Ricardo Gama. Antônio Norberto, que também é inspetor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), falou sobre sua pré-candidatura a vice-governador na chapa do médico e ex-prefeito da cidade de São Pedro dos Crentes, no Maranhão, Lahésio Bonfim. Segundo Norberto, o projeto político do grupo de Lahésio cada vez mais está ganhando apoio do eleitorado maranhense, inclusive dos empresários.

— Temos conversado com toda a população, inclusive com a classe empresarial que está muito insatisfeita com o atual governo — disse Norberto.

Norberto se refere às atitudes perseguidoras do ex-governador Flávio Dino com sua política perversa contra empresários, com cobrança de impostos exorbitantes e, literalmente, usando a máquina do estado para quebrar e assaltar empresários, tomando suas empresas e deixando famílias inteiras sofrendo necessidades e impactos emocionais. Exemplo disso, ocorreu com os hospitais Aliança, HCI e outros empreendimentos privados. Mas o caso mais mirabolante e absurdo é o que vem ocorrendo com a empresa Servi Porto, dona dos ferry-boats que operam na travessia entre São Luís e Cujupe. As atitudes de Flávio Dino contra a Servi Porto ocasionaram agravamento no estado de saúde do seu fundador, o qual não aguentou a pressão e faleceu.

Na reunião, os empresários Beto Rocha e Mauro Goltzman reafirmaram apoio à candidatura de Lahésio Bonfim e à reeleição do presidente da República, Jair Bolsonaro. Lahésio vem crescendo cada vez mais nas pesquisas de intenção de voto. Foi um encontro marcante, em que também foram ventilados vários aspectos da literatura maranhense por Battista Soarez e Antônio Norberto.

terça-feira, 5 de julho de 2022

Artigo: QUE ESPÍRITO É ESSE? | Pr. Battista Soarez

ARTIGO

Que espírito é esse?
Principados e potestades estão nos púlpitos das igrejas liderando sobre nós

 

Pr. Battista Soarez
(escritor e jornalista)

Imagem meramente ilustrativa | FOTO: Divulgação/Internet

HÁ ANOS VENHO enfrentando forças contrárias em relação ao meu chamado como homem de Deus. Aprendi que quando somos convertidos em Jesus Cristo passamos a ser seres espirituais e, portanto, alvo de forças espirituais malignas. Daí a necessidade de manter uma vida de constante oração.

O corpo de Cristo é formado por homens e mulheres que — quando santificados e obedientes em conformidade com o evangelho de Jesus — falam e andam cheios do Espírito Santo. Mas quando vacilantes, duros de coração, cheios de ira, porfias, intrigas e imposições da sua própria vontade, tornam-se rancorosos, carnais e não consultam mais ao Senhor quanto aos seus afazeres eclesiásticos.

Passam, então, a administrar a igreja de Deus com ideias próprias. Pior: passam a colocar debaixo dos seus pés jovens, homens e mulheres cheios dos dons de Deus, de maneira que as pessoas ficam impedidas de desenvolverem seus ministérios no corpo de Cristo. Pagarão por isso um dia? Sim, pagarão. Mas até lá já causaram um estrago sem tamanho no reino de Deus.

Quando me converti ao Senhor Jesus, em 1983, tinha 16 anos de idade. Em poucos meses, o Espírito de Deus me capacitou e, então, passei a pregar a palavra do Senhor, ensinando e aconselhando pessoas. Então, ficou logo claro que o meu ministério era o de mestre. Mestre é aquele dom espiritual cuja atividade [de ensino] edifica a igreja do Senhor, coisa que irrita o diabo e, portanto, quem o exerce logo passa a ser retaliado. Satanás não suporta uma igreja instruída na sabedoria da palavra do Criador. Então, ele resolve atacar o príncipe de Deus que ensina. Foi aí que passaram a acontecer coisas na minha vida sobre as quais eu não tinha o menor entendimento.

Inveja, ciúmes, ódio sem causa e calúnias do nada passaram a acontecer. Há pessoas malignamente criativas em fomentar comentários aleivosos sobre os outros. E isso, normalmente, vinha sempre de pessoas que tinham liderança acima de mim. Pastores, líderes ou alguém de influência. Isso me chamou a atenção e, aí, passei a estudar sobre dons, ministérios e batalha espiritual.

Descobri que nós, crentes, temos níveis espirituais no corpo de Cristo. Vivemos, assim, o reino de Deus. E neste reino temos qualificações espirituais. Por exemplo, no reino de Deus eu sou príncipe. Logo, o agente do mal que vem para cima de mim, me atacar e perseguir-me, é sempre um principado ou uma potestade. O apóstolo Paulo falou sobre isto em Efésios, no capítulo 6. É óbvio que um principado ou uma potestade não vai usar qualquer um. Principado usa líderes contra aquele que tem a posição de príncipe no reino de Deus. Já a potestade usa, normalmente, um sistema, uma organização, uma equipe de líderes.

É por isso que, nas convenções de igrejas, pastores formam comissões para derrubar outro pastor que é príncipe e que, normalmente, está fazendo um trabalho importante para devastar as obras de satanás ou ganhar uma comunidade social onde há domínio de espíritos malignos, por exemplo. Portanto, quem está usando esses pastores de convenção para derrubar outros pastores são exatamente principados e potestades. E não o Espírito de Deus. Mostre-me na Bíblia onde fala que uma ovelha ferida, que pecou, que cometeu erros etc., deve ser excluída. Claro que você não acha. Mas você acha o texto que diz “se não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai não vos perdoará” (Mateus 6.15). O evangelho da cruz, portanto, é inclusivo e não excludente. A prática do perdão entre os crentes é uma autodefesa contra o inferno. Já a falta de perdão é uma forma de contribuir com ele.

O diabo sabe, obviamente, que um pastor rancoroso, que não perdoa ou que derruba um colega, está a caminho do inferno. Por isso ele coloca espírito de intriga no meio do povo de Deus. Porque ele, o diabo, sabe que a contenda é uma forma de puxar pastores e líderes para o inferno. E ele quer fazer isso o máximo que ele puder, antes que Jesus volte para buscar sua igreja.

Aqui na minha cidade, por exemplo, tem um pastor que nem me conhece, não sabe da minha história, não sabe do meu sofrimento, nem conhece a minha família. Mas ele vive falando mal de mim, tem inveja de mim, me atrapalha e torce pelo meu insucesso. Já perdi grandes oportunidades por conta desses agentes do mal. E assim há vários pastores e líderes procedendo dessa maneira entre si. Inclusive presidentes de convenção e de igrejas grandes. Quando vou buscar o histórico desses indivíduos, geralmente deparo-me com uma história de pecado não confessado lá atrás. E aí está a brecha para o diabo usar líderes contra outros líderes. O diabo só precisa de um pequeno detalhe pecaminoso para entrar na sua vida e usar você contra o seu próximo.

Quando o diabo identifica que você tem planos para contribuir com o reino de Deus, ele vai para cima. Vai atacar você, para atrapalhar de alguma forma, e impedir que o teu ministério seja desenvolvido. A luta do inimigo não é contra uma pessoa. A luta do inimigo, o diabo, é contra a obra de Deus na vida da pessoa.

Não faz muito tempo, eu fui pregar numa conferência numa cidade no interior do Estado e, lá, Deus me usou com autoridade para falar de espíritos malignos que usam pastores e líderes contra outros também pastores e líderes. Eu não sabia nada do que estava acontecendo ali contra mim.

— Inclusive aqui nesta conferência — disse eu em certo momento da minha pregação — têm pastores sendo usados por espíritos malignos para impedir que eu ministre a palavra de Deus hoje aqui.

No término da pregação, vários pastores vieram até mim, pedir perdão. Eu não entendi nada. Quando voltei para casa, em São Luís onde moro, recebi várias ligações de pastores pedindo mais perdão para mim. E eu continuei sem entender nada. Depois o pastor-presidente da convenção ligou para mim e perguntou-me se, antes de eu pregar, alguém teria me dito alguma coisa. Eu, claro, respondi que não.

— Pois tudo o que o senhor falou na sua pregação estava acontecendo — disse ele.

E, então, disse-me que vários pastores estavam fazendo complô para impedir que eu pregasse naquele evento. Fizeram grande pressão sobre ele. "Não deixa esse cara pregar aí", diziam eles. Alguns até estavam com ódio, sem causa, de mim. Só então eu entendi a artimanha de satanás e o que ele queria fazer usando como agentes dele os próprios homens de Deus.

Muitos pastores estão à frente de obras cheios de influência maligna e nem se dão conta disso. Estão impedindo a obra, ferindo pessoas, tomando decisões unilaterais, falando em línguas espirituais malignas e, portanto, enchendo a igreja de problemas e causando divisão. As dissensões acontecem e eles não conseguem resolvê-las porque eles mesmos são a causa.

Não se engane: no meio do povo de Deus há espíritos da quarta dimensão imitadores da obra de Deus. Há o falso “espírito santo” que cura, opera milagres, batiza, fala em línguas e profetiza. Nós os conhecemos pelas suas práticas e atitudes. Sempre estão maquinando contra o próximo, falando mal do próximo, com inveja do próximo, impedindo o próximo de crescer e/ou desenvolver seus projetos e dons.

As profecias desses agentes estranhos são violentas, em tom de voz arrogante, corriqueiras e nunca se cumprem. Logo, fica fácil saber: estamos sendo liderados por espíritos malignos, principados e potestades. Que estão nos púlpitos, em frente de obras, profanando e tirando proveito financeiro para sustentar sua vida de pompas e megalomania.

Quando você é príncipe de Deus, o povo gosta de você. Mas a liderança te odeia. Por que? Porque o principado que está no líder para te perseguir não suporta os dons de Deus operando em você.


sábado, 2 de julho de 2022

ENTREVISTA: PR. BATTISTA SOAREZ | UM AUTOR DE MUITAS IDEIAS (II) | Por Marina Sousa

Um autor de muitas ideias (Parte II)
O escritor, jornalista e pastor maranhense Battista Soarez tem escrito livros e artigos de impacto social. Sua obra A Igreja Cidadã já foi finalista em prêmio nacional de literatura, citada em dissertação de mestrado e até em pesquisas de empresas estrangeiras.

Por Marina Sousa
(Jornalista da Assembleia Legislativa)


Pr. Battista Soarez | Foto: Roney Costa

LEITURA LIVRE Na primeira parte desta entrevista, o senhor estava falando que o livro mais recente de sua autoria, que é o livro “Construído redes de amizade: a metodologia do evangelismo envolvente” (Editora PECC, 2021), é uma abordagem que orienta a igreja brasileira para a prática da visão que foi exposta no livro “A igreja cidadã” (AD Santos Editora, 2018). E o senhor, então, explicou que os dois livros, juntos, são um curso completo de evangelismo aplicado ao desenvolvimento integral de igreja. Como é que funciona tudo isto?

BATTISTA SOAREZ — Sim, verdade. Desde 1991, quando eu ainda estava trabalhando no banco...

L. LIVRE Qual era o banco?

B. SOAREZ — ... Banco América do Sul, que, depois, foi vendido para o Banco Itaú e para o Sudameris (este, por sua vez, vendido, em 2007, para o Santander). Bem, naquela época, em 1992, tive a ideia de criar uma proposta de prática evangelística e missionária que, como você falou, incorporasse ao mesmo tempo espiritualidade e desenvolvimento integral da igreja. Então, comecei a trabalhar um discurso que desse visibilidade à ideia de “Igreja corpo de Cristo” e “igreja corpo social”. A primeira ideia vislumbra o comprometimento espiritual da igreja e a segunda se relaciona com a prática sócio-humanitária da igreja corpo-espiritual. Aí, nós temos duas responsabilidades num só corpo: igreja “corpo-espiritual” e igreja “corpo-social”. Num projeto sério de evangelização e missões, uma coisa não existe sem a outra. Isto implica em desenvolvimento social, educacional, econômico, saúde, assistência, atividades de campo e por aí vai. A obra de Deus não sobrevive só de ler Bíblia, orar, jejuar e pregar. Ela precisa de organização financeira para sua sobrevivência e funcionalidade.

L. LIVREEntendi... Mas, e aí? Quais foram os passos a partir de 1992 que culminaram com a ideia de igreja cidadã e, enfim, de metodologia de evangelismo envolvente?

B. SOAREZ — Em 1992 mesmo comecei a produzir um texto, como falei a você na primeira parte desta entrevista, sobre “igreja planificada”. A proposta era fazer com que a igreja de Cristo começasse a fazer e desenvolver projetos sócio-organizacionais para manutenção do corpo de Cristo enquanto instituição social e comunitária. A vida comunitária é uma vida cheia de necessidades. Tanto espirituais quanto físicas, psicológicas e emocionais. Inquietava-me, também, como os crentes se relacionavam na igreja. Tinha e tem muita falsidade e falta de amor. Vi que a gente prega uma coisa e vive outra bem diferente. Estudamos o evangelho na Escola Bíblica Dominical, mas não conseguimos reproduzir, de fato, aquilo que a gente estuda. Em 1999 publiquei um pequeno livro sobre “igreja planificada” e, logo depois, em 2000, publiquei pela Editora Hosana, de São Paulo, a obra “Crente, mas consciente”, a qual tem uma mensagem voltada para a plenitude da fé e a dignidade humana. E, assim, fui sempre ampliando uma abordagem de relacionamento entre a igreja consigo mesma e com o mundo. Não o mundo de natureza atroz. Mas o mundo-sociedade, o mundo de pessoas. Pessoas que precisam ser resgatadas para o reino de Deus. Em 2005, concluí o livro “A igreja cidadã”, mas só foi publicado em 2007. O livro “Construindo redes de amizade”, embora já tivesse sido trabalhado antes, só veio a ser publicado em 2021.

L. LIVRE O fato de o senhor morar aqui em São Luís, longe do centro de produção editorial e comercial, como São Paulo e Rio de Janeiro, atrapalha sua carreira de pastor e escritor?

B. SOAREZ — Gostei desta pergunta. Gostei porque ela traz a lume uma discussão necessária e, de fato, importante para nós que moramos aqui no nordeste. A gente, aqui, tem muita dificuldade de ser valorizada. Além disso, as autoridades políticas que administram o nosso sistema de modo geral não estão nem aí para a arte e a cultura do Maranhão. Não há incentivo para publicação, divulgação e distribuição literárias. Todavia, nossas ideias são de alto nível. Mas os nossos governantes não conseguem ver isso. Não conseguem perceber que a comunicação, por meio da literatura e da arte, é que gera o desenvolvimento de um estado ou país. A gente escreve livros e, depois, sai por aí praticamente pedindo esmolas para ver nossas obras publicadas, se quisermos. Quando seria muito fácil resolver esse problema, se tivéssemos criatividade e boa vontade política.

L. LIVREDe que maneira?

B. SOAREZ — No Brasil têm grandes editoras. Só que essas editoras têm receio de investir em autores novos e terem prejuízo.  Porque ninguém conhece um autor novo. E não conhece porque não houve divulgação desse autor em nível nacional. E é aí que entraria a parceria com o estado. Bastaria uma conversa da secretaria de cultura com as grandes editoras, distribuidores e livreiros de todo o país. E ainda com editoras estrangeiras para tradução da obra para outras línguas. O estado e o país teriam um retorno hercúleo em matéria de visibilidade nacional e internacional, o que traria grande desenvolvimento para o turismo, investimento econômico e valorização da nossa cultura em todos os aspectos. Isto colocaria o Brasil no topo do desenvolvimento cultural, comunicacional e outros aspectos. Somos um país rico de tudo. Mas pobre de mentalidade. Não temos criatividade para saber administrar corretamente o que temos. A arte literária, no entanto, é um instrumento de peso na cultura de um país, capaz de influenciar todos os setores da sociedade no âmbito do seu desenvolvimento.

L. LIVREPor falar nisso, no primeiro governo de Flávio Dino, seu nome foi lembrado pelo então secretário de ciência e tecnologia Bira do Pindaré para assumir a FAPEMA (Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão). Por que não deu certo? O que houve?

B. SOAREZ — O que houve eu não sei explicar ao certo. A única coisa de que tomei conhecimento foi que a pessoa encarregada de entregar o meu currículo para Zé Reinaldo Tavares, então responsável pela juntada de documento, não o entregou. Meu currículo nunca chegou às mãos dele. Depois essa mesma pessoa, que é meu amigo, me ligou dizendo que não tinha entregado a minha documentação porque eu iria dirigir um site do jornal dele. No dia da reunião, eu recebi uma ligação 01h00 da manhã. Eu até já estava dormindo. Era uma equipe de pessoas reunidas com Zé Reinaldo e Bira do Pindaré. A pessoa que estava ao telefone me informou de que o Bira havia me indicado pelo fato de ele me conhecer, pois fomos contemporâneos de trabalho em banco, e também por eu ser escritor e conhecido em nível nacional. Bira teria dito que meu nome seria bom porque eu tinha condições de promover o nome do Maranhão nacionalmente. Mas não deu certo.

L. LIVRESe tivesse assumido a FAPEMA, o que o senhor teria feito?

B. SOAREZ — Exatamente o que o Bira disse. As pesquisas científicas seriam publicadas e divulgadas em nível de Brasil, em parcerias com grandes editoras e distribuidoras, porque eu tenho canais lá fora para isso. Faria parcerias estrangeiras e o Maranhão, com isso, teria grande visibilidade internacional. E aí o estado seria conhecido no país inteiro e no exterior como grande celeiro de produção científica, tecnológica e literária. Sem contar as parcerias que eu iria promover com escolas da educação básica e universidades. Sendo promovido nacional e internacionalmente, o Maranhão atrairia um público exponencial para o turismo. Isso geraria ocupação e renda de maneira incomensurável, contribuindo assim para o desenvolvimento social e econômico do estado.

L. LIVREO senhor será candidato em 2022?

B. SOAREZ — Até o momento estou pré-candidato.

L. LIVREPor que “até o momento”? O senhor pretende desistir da pré-candidatura?

B. SOAREZ — Não é que eu pretenda desistir. Esta eleição de 2022 está muito complexa. As configurações não estão muito favoráveis ao alinhamento político para quem, de fato, é de direita. Nem para a esquerda também. Tudo indica que os futuros candidatos deverão ter muito dinheiro para viajar, gastar com combustível e, enfim, ter fôlego financeiro para fazer o necessário. O básico. Tudo está muito caro. Inclusive o combustível. Eu não tenho recursos. Tudo o que tenho é discurso político, amizade, inteligência e vontade política. Isso significa que parcerias serão necessárias. E é isso. Eu dependo de parcerias. Além do mais, eu esperava que a direita se unisse num só projeto. Mas cada um foi paro o seu próprio lado, em busca de seus próprios interesses e de seus aliados, e, agora, tudo ficou meio bagunçado. A igreja evangélica, nessa configuração que aí está, ficou numa situação difícil. E todo mundo sabe que a igreja define qualquer eleição. Qualquer candidato que for para a esquerda perderá os votos da igreja. Tá arriscado a direita perder no Maranhão por falta de organização e unidade política.

L. LIVREO fato de o senhor ser conhecido como escritor, jornalista e pastor ajuda?

B. SOAREZ — Em parte ajuda. E em parte atrapalha.

L. LIVREPor que?

B. SOAREZ — Ajuda porque o público que me conhece como, por exemplo, alunos e leitores, sabe do meu caráter e do meu pensamento ético, social e político. E atrapalha porque o fato de ser conhecido atrai invejosos, aproveitadores e falsos amigos. E também inimigos, inclusive entre lideranças como, por exemplo, pastores. E esses sujeitos falam mal de você só por inveja. Só para não ver o teu sucesso. E pior: eles não falam na tua cara, nem publicamente, para você não ter a chance de se defender. Eles falam mal de você, mancham a tua imagem e ainda pedem segredo. São covardes. Eu acho que sou a única pessoa que não dá crédito para fofoqueiro. Se alguém vem até mim falar mal de alguém, esse indivíduo já perdeu crédito comigo. Porque, normalmente, o fofoqueiro tem algum interesse maléfico. Como sou psicoterapeuta, eu já avalio a saúde mental desse sujeito. Recentemente, descortinei um falso amigo desses, a partir de suas atitudes estranhas para comigo e perfil psicológico incoerente. Fiz uma breve busca, e apurei que seu histórico familiar não é de boa referência. Uma pessoa assim, em algum momento vai te dar problema em termo de relações humanas. E isso atrapalha você, de alguma forma, em qualquer projeto público.

L. LIVREPensando nisso, como o senhor vê a política, uma vez que o senhor é pastor e pregador do evangelho? O senhor não acha que há muitos paradoxos entre os princípios bíblicos que a igreja prega e a prática política?

B. SOAREZ — Sem dúvida. Aliás, você tocou num aspecto crucial que pontua exatamente a relação da ética política com a ética do evangelho de Jesus. Eu, particularmente, vejo a política como instrumento de construção, transformação e reconstrução social. Isso vem desde a “polis” grega. Não há outra maneira de administrar a vida pública senão pela política. Portanto, política é uma ciência. E uma ciência que está presente em todo segmento e em qualquer instituto ou grupo social. Inclusive na igreja. O que ocorre é que não se deve confundir “política” (no sentido da arte de governar, organização, gestão, direção, povo, cultura, civilização, ciência e administração da coisa pública) com “política” (no sentido de partidarismo, interesses espúrios, fanatismo, facciosismo político, vantagens financeiras, corrupção, nepotismo, intrigas, violência, desvio de verbas públicas e outras coisas). A igreja, na arte de fazer política, tem de fazer a diferença. Ela tem de ser participativa, sendo “sal” e “luz” do mundo e no mundo.

L. LIVREMas o senhor acha isso possível no mundo de hoje, com tanta tendência do pensamento humano para a prática da corrupção?

B. SOAREZ — É complicado porque os políticos honestos, aqueles que não participam dos esquemas de corrupção, ficam encurralados e, por fim, excluídos no contexto. Mas eu acho que ainda é possível de se fazer a diferença pelo viés de uma ética que prima pelo compromisso com a justiça, a verdade, a honestidade e os princípios universais da justiça orientada pelas Sagradas Escrituras. Acho que a igreja deve caminhar participativamente nesse sentido. O eleitor também deve contribuir, deixando de votar por dinheiro. Tem que parar de vender voto. O eleitor que vota por dinheiro não quer ver o país mudar de situação. Não tem direito e nem moral para cobrar políticas públicas do seu candidato. E o político que compra voto não tem obrigação com as políticas públicas que beneficiam toda a coletividade. Afinal, ele comprou o voto. Os dois, candidato e eleitor, nesse caso devem ser punidos por crime de prevaricação do direito público. O voto é um direito público porque se trata do sufrágio que determina as decisões sobre a vida da coletividade, da vida pública. Portanto, eu não tenho o direito de vendê-lo porque não é propriedade particular minha. Ele é público, de interesse público.

L. LIVREEntendi. E isso tem a ver com a vida pública, não é?

B. SOAREZ — Obviamente. Sempre que dou aula de ciência política para os meus alunos na universidade, faço questão de explicar para eles que o sufrágio é a manifestação direta ou indireta da vontade do cidadão. Sendo assim, trata-se de uma forma de participação e demonstração de interesses dos indivíduos na vida pública e na sociedade política. Isto envolve debate, voto e manifestação acerca de interesses coletivos. Logo, o voto não é propriedade particular minha, nem sua, mas da coletividade. Portanto, o voto é um direito público porque é de interesse público, coletivo. Por isso não pode ser vendido, nem comprado. Quem assim o fizer comete crime.

L. LIVRETanto no livro A igreja cidadã como no Construindo redes de amizade, o senhor divide a teologia em três partes. Ou seja, “teologias fundamentais”, “teologias sistemáticas” e “teologias práticas”. Por que escolheu trilhar pelo caminho das teologias práticas?

B. SOAREZ — Eu não sei se com a minha obra estou fazendo teologia. Porque, quando estou escrevendo, estou pensando no reino de Deus. E não em debate teológico. Estou focado é em alcançar vidas para Jesus, em salvação de almas. Em cada linha que redijo, procuro mirar a justiça que deve ser promovida entre os homens. Mas se a teologia está me colocando dentro do seu campo científico, as teologias práticas são a minha escolha porque é exatamente neste campo que consigo ver realmente um discurso de compromisso com a realidade das necessidades humanas. O evangelho de Jesus é um serviço da justiça divina prestado à humanidade.

L. LIVREFoi pensando nisso, então, que o senhor propôs a rede de amigos em Cristo como método de evangelização?

B. SOAREZ — Perfeito! A rede de amigos em Cristo é uma estratégia de ação. Nessa estratégia de ação você alcança almas para Jesus cuidando de pessoas, compreendendo a sua realidade. Amando as pessoas. É um método que nos leva a praticar os mandamentos do Senhor, ensinados por Ele e os apóstolos ao longo do Novo Testamento. Quando Jesus disse “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, conforme está escrito em João (13.34-35), ele estava dando-nos a missão de cuidarmos uns dos outros como seres humanos. Este é um mandamento universal. Em Cristo, devemos amar os seres humanos independente de cor, raça, religião, sexo, rico, pobre, nativo ou estrangeiro. O amor divino é um princípio universal. Sendo assim, é o melhor método de alcance de pessoas para o reino de Deus.

L. LIVRENo geral, como o senhor vê a igreja brasileira atualmente?

B. SOAREZ — Temos de alisar vários aspectos. E eu já nem gosto de falar desse assunto. Mas posso explicar algumas coisas para você. Coisas que interessam não só para nós cristãos, mas para todo mundo em geral. A igreja está sendo conduzida por mentes paranóicas. Os grandes líderes cristãos neste país não têm saúde mental coletiva. A gente constata isso pela maneira como eles agem e como eles interpretam a Bíblia. Temos pessoas boas? Sim. Temos pessoas boas, lúcidas e honestas como, por exemplo, Hernandes Dias Lopes, Luciano Subirá, Augusto Nicodemos e outros anônimos por aí a fora. Mas estes poucos, isoladamente, não têm força para mudar uma realidade tão complexa como a que hoje vivenciamos. Mas estão fazendo a sua parte. Eu também estou fazendo a minha parte, escrevendo livros e ensinando a igreja do Senhor Jesus Cristo. Mas, por falta de líderes corretos, a igreja brasileira está sofrendo. Ela se divide a cada dia e, por isso, caminha o tempo todo doente. E aqui cabe uma longa discussão.

L. LIVREEntão vamos deixar este assunto para uma terceira parte desta entrevista?

B. SOAREZ — Fique à vontade.

L. LIVRETudo bem, então. Estamos combinados.


sexta-feira, 10 de junho de 2022

ENTREVISTA: PR. BATTISTA SOAREZ | UM AUTOR DE MUITAS IDEIAS | Por Marina Sousa

Um autor de muitas ideias (parte I)
O escritor, jornalista e pastor maranhense Battista Soarez tem escrito livros e artigos de impacto social. Sua obra A Igreja Cidadã já foi finalista em prêmio nacional de literatura, citada em dissertação de mestrado e até em pesquisas estrangeiras.

 

Por Marina Sousa
(Jornalista da Assembleia Legislativa do MA)

 

Pr. Battista Soarez, escritor e jornalista | Fonto: Roney Costa

AOS 54 ANOS DE IDADE, o escritor, jornalista, teólogo e pastor maranhense Battista Soarez tem contribuído com o desenvolvimento da igreja cristã brasileira através de suas ideias impressas em livros, artigos e ministrações de aulas universitárias e pregações na igreja evangélica, principalmente para pastores e líderes. Nascido em Mirinzal, município da baixada maranhense, o autor tem influenciado pessoas e igrejas na área de missões e evangelismo de impacto. Seu livro A Igreja Cidadã tem percorrido vitrines e prateleiras do Brasil e do mundo. Muitos projetos missionários, evangelísticos, sociais e trabalhos acadêmicos têm sido inspirados na obra de Battista Soarez. Nesta primeira entrevista, ele começa falando da sua carreira e da sua obra mais conhecida. E deixa patente que não escreve pensando em dinheiro. Mas na qualidade da escrita para alcançar pessoas e contribuir com a construção de “um mundo mais justo e melhor”. Vamos à entrevista.

LEITURA LIVRE Todo mundo tem uma ideia de si próprio. O senhor é escritor, jornalista, professor, pastor e dono de uma inteligência admirável. Como o senhor se autodefine?

BATTISTA SOAREZ — Olha, eu me acho um sujeito normal como qualquer outro. Apenas sou um indivíduo inquieto com o mundo e as pessoas que protagonizam os cenários dos caminhos por onde ando. Na igreja, nas empresas por onde trabalhei, entre grupos de amigos... enfim, sempre vejo alguém se comportando ou fazendo algo que me surpreende. Queria viver num mundo mais justo. Conviver com pessoas mais equilibradas e mais existencialmente normais. Mas, a cada dia, me surpreendo com atitudes e comportamentos de indivíduos que deveriam agir diferente e, assim, contribuir para se ter um mundo melhor. Sobre a inteligência, não vejo que sou dono de nada. Por trás de tudo, há um Deus Criador. Se Ele é o Criador, então Ele, sim, é o dono de tudo. Somos apenas veículos dos dons e da vontade dEle.

Livro A Igreja Cidadã, publicado pela AD Santos Editora

L. LIVRE Em 2009, fizemos uma entrevista publicada no Jornal Pequeno, de São Luís, quando da publicação do seu livro A Igreja Cidadã, publicado pela editora Arte Editorial, de São Paulo. Já faz bastante tempo. O que mudou de lá para cá?

B. SOAREZ — É! Faz tempo. Já se foram 13 anos. Mudou muita coisa nesse espaço de lá para cá. Hoje, principalmente com o advento da pandemia da COVD-19, a configuração do mundo mudou. Na política, na educação, na economia. E até na igreja.

L. LIVRE O senhor se dedicou ao jornalismo desde quando era ainda muito jovem. Eu me lembro disso, porque trabalhamos juntos no Jornal de Hoje. Quem nasceu primeiro? O escritor ou o jornalista?

B. SOAREZ — (Risos...). Os dois começaram numa idade muito tenra. Mas acho que o escritor foi mais precoce porque desde os meus 12, 13 anos de idade eu já procurava burilar bem as palavras no rabiscar das primeiras letras nos meus cadernos escolares. Inclusive, as cartas feitas às namoradinhas da época já eram verdadeiras peças literárias. Caprichava nas palavras. Procurava conquistá-las de alguma maneira, assim como hoje faço com meus leitores. Já no jornalismo eu comecei aos 17 anos. Só que jamais imaginava que nalgum dia iria tomar a dimensão que tomei como escritor e jornalista.

L. LIVRE Hoje, aos 54 anos de idade, o senhor se sente realizado como escritor e jornalista?

B. SOAREZ — É o que eu amo fazer. Foi a maneira pela qual Deus me escolheu para alcançar as pessoas que precisam de mudança de mente e transformação de vida. Portanto, se estou sendo útil para as pessoas, estou realizado.

L. LIVRE O senhor ganha muito dinheiro com o ofício de escritor?

B. SOAREZ — Essa é a pergunta que mais eu ouço das pessoas na rua, inclusive dos amigos. Mas, olha, não escrevo pensando em dinheiro. Quando estou escrevendo, me dedico a pensar nos meus personagens, quando a atividade do momento é um romance ou um conto. Concentro-me na realidade do tempo presente, passado e futuro quando, por exemplo, estou escrevendo um ensaio. Penso na combinação harmoniosa de frases e palavras, quando escrevo um poema. Portanto, o dinheiro, para mim, é uma consequência natural daquilo que faço com amor, por prazer, dedicação e com muita responsabilidade. Mas nunca ganhei dinheiro com livros. Se em algum dia tiver que ganhar dinheiro com livro, será consequência natural daquilo que faço por amor e qualidade.

L. LIVRE Além de escritor, jornalista e professor universitário, o senhor tem outras aptidões, profissões e formações acadêmicas como, por exemplo, assistente social, sociólogo, teólogo e pedagogo. Como é administrar essa versatilidade de conhecimento em uma pessoa só?

B. SOAREZ — Eu coloco tudo no mesmo bojo. No mesmo pacote, para ser bem claro. Como assistente social, procuro estudar, analisar, interpretar e entender as expressões multifacetadas da questão social para intervir na realidade social que, com suas mazelas, atormenta, oprime e destrói a vida dos indivíduos em situação de vulnerabilidade social. O serviço social me completa porque me leva a dialogar com outras áreas como sociologia, psicologia, história, economia, ciência política, antropologia, filosofia, direito, ética e estatística. Portanto, como assistente social, me sinto um cidadão sociopolítico capaz de criticar e intervir nas muitas retrações desse conjunto de desigualdades existente no antagonismo entre a socialização da produção e o poderio privado nesse injusto universo de capital e trabalho. E, para isso, a minha ferramenta é o instrumento científico multidisciplinar das ciências humanas e sociais. Para mim, tudo isso me realiza e me faz feliz intelectual e profissionalmente.

L. LIVRE E as outras profissões?

B. SOAREZ — Como disse, ponho tudo num bojo só. Como pedagogo, estudo a educação, o processo de ensino e a aprendizagem humana tanto individual como coletivamente. Como sociólogo, procuro compreender a sociedade, seus padrões de relações sociais, a interação social dos grupos e a cultura da vida cotidiana. E também a ordem social e sua evolução. Como psicoterapeuta (pois sou psicopedagogo e psicanalista), percorro os caminhos do processo dialético para ajudar os indivíduos no âmbito dos problemas de saúde mental. Como teólogo, mergulho na existência e na espiritualidade humanas para explicar os atributos de Deus e suas relações com os seres humanos, sempre levando em conta as implicações no âmbito das cinco inteligências humanas que são a inteligência biológica, a inteligência emocional, a inteligência psicológica, a inteligência cognitiva e a inteligência espiritual. E como jornalista, eu investigo os fatos, coleto e analiso as informações, levando em consideração a interação de eventos, fatos, ideias e pessoas que afetam a sociedade em seus mais diversos graus. Então, tudo isso se aplica à ocupação, aos métodos de coleta de dados e à organização de estilos literários a que me dedico. Já como escritor, eu pego tudo isso, nas palavras escritas com inspiração, técnicas e estilos para pensar e comunicar minhas ideias de acordo com a hermenêutica pedagógica, social e literária do tempo presente para contribuir com o desenvolvimento da cultura da sociedade que presenciamos no seu transcorrer cotidiano. Há uma história que acontece todos os dias e precisamos acompanhar e observar os fatos e, assim, registrá-los para as gerações futuras.

L. LIVRE E o senhor ainda cursou direito, não é isso?

B. SOAREZ — Sim. Estudei as ciências jurídicas e ainda estudo. Aliás, eu estudo todos os dias as áreas em que me formei e pratico minha atuação. E acho que ainda não atingi 0,1% da minha capacidade de aprender.

L. LIVRE Sério?

B. SOAREZ — Verdade! O mundo é muito complexo. Eu gostaria de ter nascido numa época em que as editoras, o governo ou alguma instituição me pagassem só para eu estudar, palestrar, ministrar aulas e escrever ideias de desenvolvimento e, assim, contribuir com as mudanças sociais, a justiça e as estruturas da sociedade. Mas vivo em um país de cultura mental medíocre em que a gente não depende só de inteligência e de ter competência para ser valorizado. É preciso sorte, saber se livrar dos falsos amigos, se proteger dos invejosos e ter estômago forte para suportar “puxar saco” de políticos e poderosos. Um dia desses alguém do alto escalão do governo Flávio Dino me perguntou o porquê da injustiça de eu, ao longo da minha carreira, não ter sido chamado por nenhum governo para compor a estrutura político-administrativa do estado, já que minhas ideias têm sido utilizadas. E eu, então, respondi que não depende de mim. Depende daqueles que me conhecem e sabem do que eu sou capaz. Eu não sei “puxar saco”, não sei bajular ninguém e muito menos sair por aí me oferecendo para trabalhar e ajudar o estado a se desenvolver.

L. LIVRE Inclusive, lembro que, em 2008, fiz uma entrevista com o senhor na Rádio Esperança FM e o senhor falou que os presídios, as penitenciárias, deveriam ser utilizados como espaço de reeducação e aprendizagem para, de fato, ressocialização dos detentos. A SECOM do estado estava gravando nossa entrevista. No dia seguinte, a superintendência do governo ligou para a rádio pedindo seu telefone para pegar mais informações sobre suas sugestões. Como foi isso?

B. SOAREZ — Sim. Ligou. E eu lembro perfeitamente. A superintendente da SECOM do estado me ligou dizendo que a minha entrevista tinha sido gravada e se eu concordaria em lhe repassar mais informações sobre as minhas ideias. Perguntou se eu cobrava para isso. Eu disse que não cobrava nada. Ela perguntou se eu, então, concordaria em participar do projeto, remunerado pelo estado. Eu disse que concordaria e que, para mim, seria uma honra. E aí ela perguntou, também, se eu poderia lhe adiantar algumas ideias. Passamos mais de duas horas no telefone. Eu dando ideias e ela anotando tudo. Na verdade, o estado já tinha algumas atividades nesse sentido, mas muito remotas. A partir daquele momento, foi que nasceu a ideia de fazer o Plano de Educação nas Prisões para todo o Estado, concluído em 2015. Como você disse, nossa entrevista e o telefonema do estado foram em 2008.

L. LIVRE E aí? O senhor foi chamado pelo governo do estado para participar do projeto?

B. SOAREZ – Em nenhum momento. Até hoje espero.

L. LIVRE O senhor nasceu na baixada maranhense? É isso?

B. SOAREZ — Sim. Nasci em Mirinzal, num lugarejo chamado Venturosa. Que, aliás, será tema de um romance meu no futuro. Mas me criei em Santa Helena. Porque, quando eu tinha dois anos de idade, meus pais se mudaram para Santa Helena. Na verdade, meu pai era de Pinheiro, terra do meu avô Francisco Soares, que era filho de um jurista português, Antônio Marcolino Soares. Formado em Direito, Antônio Marcolino, meu bisavô, veio de Portugal para ser operador do direito no Brasil colônia. Ele foi o primeiro promotor de justiça da cidade de Pinheiro e, neste município, teve muitos filhos com mulheres diferentes. Meu pai me contou que todos os filhos que ele tinha colocava o sobrenome “Soares”. E, assim, ele povoou a cidade e aquela região com a família Soares. Era um homem namorador, mas muito justo. (Risos...).

L. LIVRE Seu pai ainda é vivo?

B. SOAREZ — Não. Faleceu em 2002, em Santa Helena, devido a problemas de diabetes e AVC.

L. LIVRE Há vários nomes talentosos na literatura e no mundo jurídico que vêm da baixada. O senhor tem orgulho de ser um baixadeiro ilustre, que tem levado a imagem do Maranhão, por meio dos seus livros, ao Brasil e ao mundo?

B. SOAREZ — Particularmente, não gosto muito da palavra “orgulho”. Isto porque não tem muito a ver comigo. Mas tenho a maior satisfação e felicidade de ser originário da baixada maranhense. Minha região é linda. Verdejante. Tem flora e fauna de dar inveja. Tem muita fartura de água, terra boa para se plantar de tudo. Tem muito peixe, animais silvestres, pássaros e, portanto, uma biodiversidade incrível. Se eu pudesse, moraria lá o resto da vida, escrevendo meus livros com muita felicidade. As regiões campestres do Maranhão são inspiradoras. Penso que todo escritor e poeta por vocação gostariam de morar na baixada maranhense, navegando de canoa, barco, andando a cavalo, pescando de anzol e outros instrumentos em mares, lagos, lagoas, rios e igarapés. Isso não tem preço. Muito linda a minha região. Vale lembrar que o escritor e cineasta José Louzeiro, autor do romance Lúcio Flávio, o passageiro da agonia, era de Cururupu, cidade vizinha da minha Mirinzal.

L. LIVRE Seu livro mais conhecido é o A Igreja Cidadã? Foi até citado por empresas estrangeiras ligadas à ONU em pesquisas sobre organização de comunidades sustentáveis para produção de biocombustível. Aliás, em 2008, ele foi finalista no Premio Nacional de Literatura Areté, em São Paulo. Lembro que, à época, o senhor ganhou de vários autores de peso nacionais e estrangeiros como, por exemplo, do famoso escritor norte-americano Peter Wagner, autor de Estratégias para o crescimento da Igreja. Como nasceu a ideia de escrever um livro assim, associando o trabalho de evangelização às atividades de desenvolvimento social?

B. SOAREZ — Vamos por parte. Eu costumo dizer que a denominação cristã que não tem, pelo menos, uma rede de ensino (escolas de qualidade) e um hospital de referência em saúde, não é uma igreja missionária. A Igreja Cidadã (agora publicado pela AD Santos Editora, de Curitiba, Paraná) é um livro que escrevi praticamente de joelhos, orando e buscando sabedoria em Deus para gestar uma ideia que viesse dar serviço para a igreja evangélica brasileira que, do meu ponto de vista, estava e está muito inerte, fazendo muito pouco por vidas humanas. Na época eu estava no Ceará, cursando a faculdade na área de educação, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Eu já era bacharel em Teologia e, agora, estava estudando pedagogia, a ciência da educação, justamente para entender melhor a sociedade do meu tempo. Tinha acabado de escrever um projeto publicado sob o título de “Momento de reflexão para uma igreja planificada” (que não tem nada a ver com a ideologia socialista), que foi a ideia que deu origem ao IPER (Instituto de Pesquisa Ensino e Ressociabilização), que criou o Projeto Nova Alcântara (PNA), liderado pelo pastor Edilson de Carvalho Lins. Lá no Ceará, na Universidade Estadual, morei na casa do professor Petrus Johannes Von Ool, um padre holandês, casado, que foi aluno de Jean-Paul Sartre e de Carl Jung.

L. LIVRE Sartre, o filósofo? E Jung, o pai da psicologia analítica?

B. SOAREZ — Sim. Isso mesmo. Morei na casa dele. E ele me dava aula das culturas universais, no jardim da casa dele, até às duas, três horas da manhã... Bem, ali falei para o professor Petrus que eu estava escrevendo um livro e, então, conversei com ele sobre o tema e as características da obra. Ele, rapidamente, disse-me: “vamos aqui”. Subiu comigo para o segundo piso do prédio e mostrou-me um quarto cuja janela ficava de frente para o nascer do sol. E aí ele me disse: “Fique à vontade. A partir de agora este ambiente é seu”. Ele falava 11 idiomas fluentemente, dentre os quais o grego e o hebraico. E era tradutor de livros para a Editora Vozes. Instalei, então, minha máquina de datilografia, meus livros de pesquisa e passei a escrever. Mas, antes, eu dobrei os meus joelhos e orei ao Senhor Deus perguntando a Ele qual o título que eu deveria dar àquela visão que estava sendo implantada em Alcântara. Foi quando eu senti uma sensação de alegria que ligava meu coração à minha mente e, como um sopro suave, senti sussurrar: “A igreja cidadã. Esta é a mensagem, a visão que eu quero que tu escrevas a respeito do que vocês vão desenvolver a partir daquele local. Cuidem das necessidades das pessoas”.

L. LIVRENossa! Incrível isso.

B. SOAREZ — Foi por isso que quando o pastor Edilson Lins, em 2002, perguntou-me como deveríamos começar, o Espírito Santo respondeu imediatamente através da minha boca para ele: “Reúna a comunidade e pergunte qual é a necessidade do povo. Vamos trabalhar a partir das necessidades do povo”. E o pastor Edilson é muito ágil e prático. Diferente de mim que passo mais tempo pensando, elaborando ideias que possam ser úteis à justiça e ao desenvolvimento. Imediatamente ele reuniu o povo e fez a pergunta que o Espírito Santo tinha me orientado e que eu havia passado para ele. Então, uma menina de 11 anos respondeu: “queremos uma escola”. Sem perda de tempo, o pastor Edilson Lins, juntamente com a comunidade local, passou a implantar a visão missionária local por meio da educação. Hoje, o Projeto Nova Alcântara é uma realidade, tem diversos parceiros e uma grande escola com várias atividades de desenvolvimento local sustentável. Com o lançamento do livro A Igreja Cidadã em nível nacional, no ano de 2007, muitas pessoas que o leram implantaram esta visão missionária nas suas comunidades. Empresas cujos proprietários são cristãos passaram a organizar atividades humanísticas, cuidando de pessoas e orientando-as nos princípios do evangelho.

O livro Construindo Redes de Amizade é o manual prático da Igreja Cidadã.

L. LIVRE O senhor ministra cursos sobre estratégias de evangelismo e missões?

B. SOAREZ Sim. Dou consultoria institucional também. Estudo e pesquiso muito sobre estas áreas.

L. LIVREAgora, são dois livros. Não é? A Igreja Cidadã, que fala dos princípios do evangelho da justiça e cidadania, e o Construindo Redes de Amizade, lançado recentemente, que orienta a prática desses princípios. É isso mesmo?

B. SOAREZ — Exatamente. Construindo Redes de Amizade trata efetivamente de como trabalhar a metodologia do evangelismo envolvente, que é a implementação, na prática, da visão exposada no livro A Igreja Cidadã. Na verdade, os dois, juntos, são um curso completo de missões e evangelismo com suas devidas estratégias de alcance para fora...

L. LIVREEspera aí... Então, vamos tratar disto numa próxima entrevista, porque o leitor e eu queremos saber detalhes. O senhor tem muita experiência que não cabe numa única entrevista. Inclusive, na nossa entrevista de segunda-feira, 06/06, na rádio Esperança FM, o senhor falou de vários pontos da sua carreira como jornalista, escritor e pastor que muito nos interessam. Certo?

B. SOAREZ — Tudo bem. Estou à sua disposição.

(Continua na próxima edição do Leitura Livre)

MEMÓRIAS: DISCURSO DE COLAÇÃO DE GRAU (1984) | Dr. Jomar Câmara

Memória jurídica
Do discurso de colação de grau da UFMA em 1984, o que mudou após 36 anos no mundo do Direito?

 

Por Jomar Câmara
(Subprocurador Geral do Estado do Maranhão)

 

Dr. Jomar Câmara, subprocurador geral do Maranhão | Foto: arquivo pessoal.

DISCURSO DE COLAÇÃO DE GRAU
Curso de Direito da UFMA. Ano 1984.
Teatro Arthur Azevedo. São Luís/MA.

ERA O MÊS DE JANEIRO DO ANO DE 1984. Como orador oficial da Turma Kléber José Moreira Filho, da UFMA, então concludente do curso de Direito, em cerimônia realizada no Teatro Arthur Azevedo, eu, hoje Subprocurador Geral do Estado do Maranhão, após saudar autoridades presentes, pais, familiares, alunos concludentes e, em especial, o Paraninfo Profº Nivaldo Guimarães Macieira, expressei inquietações com o mundo, caracterizado por uma multiplicidade de fatores, mas sem esquecer a sociedade brasileira.

Falando das carreiras jurídicas aos 33 (trinta e três) jovens, homens e mulheres, para os quais foi dito que teriam o instrumento prático da linguagem como moeda corrente a partir daquele instante, eis que o direito se inflacionaria e se desvalorizaria à medida em que perdêssemos o lastro da ideia. Pensava nos ensinamentos do maior orador e jurista da história, Cícero, que já na Antiguidade transcrevia “que maior e melhor presente podemos dar à República do que ensinar e educar a juventude a descobrir suas potencialidades?


Foi expressado que se a sociedade não pode igualar os que a natureza criou desiguais, cada um nos limites da sua energia moral, no entanto pode reagir sobre as desigualdades nativas, pela educação, atividade e perseverança, tal a missão do trabalho que laboraríamos daquela data em diante como membros do corpo jurídico brasileiro. Logo da análise da conjuntura social brasileira naquela época foi dito que devíamos pensar como Rui Barbosa, em sua obra “Oração aos Moços” no qual adverte: “ides consagrar à lei, num país onde a lei absolutamente não exprime o consentimento da maioria, onde são as minorias, as oligarquias mais acanhadas, mais impopulares e menos respeitáveis, as que põem, e dispõem, as que mandam e desmandam e tudo a saber; num país onde, verdadeiramente, não há lei, não há moral, política ou juridicamente falando”.

Então, falei nas dificuldades a serem enfrentadas. Pois, no Brasil, a lei se deslegitima, anula-se e se torna inexistente, não só pela bastardia da origem, senão ainda pelos horrores da aplicação. Neste contexto, o ordenamento jurídico brasileiro da ocasião era insuficiente para reordenar o Estado, reclamando assim convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, revogando-se a legislação autoritária como a Lei de Segurança Nacional, tendo o novo ordenamento jurídica concepção de uma “Ordem Jurídica” por uma Constituição outorgada, legítima em um Estado Democrático de Direito.

A questão fundiária, tratada com certa dificuldade, naquele momento era controvertida, ensejando Reforma Agrária adaptada às suas exigências sociais, diluindo o conflito direto entre posseiros, de um lado e grileiros e proprietários de outro, na luta pela posse e propriedade da terra, uma vez que a moderna concepção da propriedade como função social vinha sendo desrespeitada e ignorada em diversos episódios referentes à posse da terra.

Os problemas eram tantos em 1984 que a Crise na Economia mundial e consequente Recessão Econômica no Brasil, exigia, como de fato, ainda, exige modernamente, uma reforma tributária, estruturada nos moldes da real vida social no país, objetivando-se a oferecer a todos mais participação no produto da arrecadação da União. Não cabia naquela época, assim como nesta, simples instituição de tributos, tirando-se diretamente ou indiretamente do contribuinte aquilo que é peculiar à sua existência. Os Estados e Municípios precisam de sustentáculos e mais repasses da receita bruta nacional.  Esse argumento, trouxe ao contexto que o Apóstolo Paulo em suas pregações falava que boa é a lei onde se executa legitimamente” BONA EST LEX, SI QUIS EA LEGITIME UTATUR”- querendo transmitir que- Boa é a lei quando executada com retidão, ou seja, boa será, em havendo no executor a virtude, que no legislador não havia.

Então, era vital reforma do judiciário brasileiro inspirando-se nos reais interesses da justiça, trazendo proposta séria e efetiva independência, política, administrativa e financeira. Sempre falando que era inadmissível o controle do Poder Executivo no processo de escolha, promoção e remuneração de magistrados. De igual forma coloquei que a instituição do Ministério Público, guardião da lei, deve ser liberada de tal subordinação, a fim de bem cumprir sua função constitucional. Que exista a independência entre os poderes da União Federal, conforme estabelecia o artigo 6º da Constituição, vigente, naquele período, mas que essa harmonia não era para tirar autonomia, quer do Judiciário, quer do Legislativo, sobrepondo o Executivo como suporte mestre de ambos. Devíamos excluir do executivo a função de legislar, como fazia esse Poder através de Decretos-Leis, como as Medidas Provisórias de hoje, uma vez agredir o homem democrático, sendo necessário nessa esteira que era urgente um efetivo sistema de assistência judiciária, a descentralização dos tribunais, o controle pelo Judiciário e Ministério Público, dos atos praticados na apuração das infrações penais, vez que, como acontecia, prejudicava a Justiça.


A sociedade humana é o meio em que o direito surge e desenvolve-se. Direito é realidade da vida social e não da natureza física ou do psiquismo da vida dos seres humanos, conforme leciona o Profº Hermes de Lima, na obra Introdução à Ciência do Direito. Por isso, trouxe à baila que deveríamos pensar nos moldes do insigne Advogado Sobral Pinto, o qual assegurava que o profissional do direito deve estar sempre dialogando com a democracia em busca da Democracia e do Estado de Direito. Democracia que para o ex-Presidente Médici é a forma de convivência política, não constituindo categoria lógica, imutável no tempo e no espaço, porém conceito histórico, sujeito às revisões impostas pela conveniência social.

Foi, então, concluída a temática, falando que nossa direção profissional diversificava-se em alguns aspectos sobressalentes como;-A questão do ensino jurídico resultante de pretensa perspectiva democrática, e as limitações do mercado de trabalho, real perspectiva de desvalorização da advocacia, com o rebaixamento de seu padrão cultural e técnico-profissional;-A dependência do Poder Judiciário e a crise na administração da justiça, configurando-se pela morosidade, custo elevado e elitismo, reclamando um esforço conjunto das três profissões forenses; magistratura, ministério público e advocacia, dando-lhes autonomia, mas garantindo ao advogado sua condição de “elemento indispensável à administração da justiça”, como está na lei;-Pesquisar objetivamente as condições do mercado de trabalho das atuais alternativas da profissão e as perspectivas de cada um.

Destarte, não nos desvairíamos em nosso inexperiente entrar no mundo jurídico-profissional: cultivando as relações de poucos amigos, inescrupulosamente escolhidos entre homens que nos pareçam mais graves e estudiosos, buscando os nossos livros que são amigos insuspeitos, verdadeiros e úteis, eis que o futuro grandioso nos esperava, na certeza de que Deus iluminaria nossos espíritos para conhecermos o caminho que devíamos trilhar, nos movendo o coração sempre para o bem. Obrigado!

Passados 36 anos, fica uma pergunta: existem diferenças entre a sociedade jurídica do Brasil daquela época e a de hoje?