Artigo
Mães. “Árvores” que geram, criam e protegem
Por Battista Soarez
CERTAMENTE FOI PENSANDO no profundo amor de sua mãe que o famoso escritor Victor Hugo escreveu:
— Os braços de uma mãe são feitos de ternura e os filhos dormem profundamente neles.
Esse pensamento de Hugo me faz lembrar outro que se assemelha a um fato que ocorrera comigo e minha mãe numa certa noite de pescaria. Desta vez, o pensamento é da escritora Agatha Christie, que disse com toda convicção:
— O amor de mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no mundo. Ele não obedece lei ou piedade. Ele ousa todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho.
Era noite. Noite muito turva. Pois era inverno. Daqueles que, no meio das águas, a gente não vê nada. Na época, eu tinha 10 anos de idade. Mamãe e eu estávamos pescando em um dos belos lagos da baixada maranhense, no interior de Santa Helena, no Maranhão.
Fisgada aqui. Fisgada ali. Fisgada acolá... Já tínhamos pescado bastantes peixes das espécies mandis, jandiás, bagrinhos, anojados, e outras espécies da região. Pesquei, também, um caranguejo da água doce. Eu estava vestido com uma camisa manga longa e calça jeans azul. Aliás, foi a primeira calça que vesti na vida. Ganhei da minha mãe.
Apesar da minha tenra idade, estava na popa da canoa remando-a e comandando os rumos da pescaria. Pois eu sabia os pontos certos onde os peixes costumavam ficar à procura de mariscos.
De repente, senti que algo estava se movimentando do lado de dentro da perna da minha calça, mais precisamente na região da coxa, próximo à virilha. Pensando ser uma cobra, segurei o animal com toda força dos dedos, plenamente convicto de que estava segurando a cabeça de um imaginário bicho peçonhento. Nervoso, comecei a gritar, com um medo fora do comum. Meu pensamento percorria numa velocidade incalculável, tentando achar, rapidamente, uma maneira de vencer aquilo e evitar que, em sendo uma víbora, viesse a me picar. Afinal de contas, naquela região tinha muita cobra-d’água.
Com os meus gritos incontroláveis, começou o desespero da minha mãe, que estava do outro lado, na proa da canoa.
— O que foi, meu filho? — gritava ela.
— Mãe, acho que é uma cobra dentro da perna da minha calça — respondia eu aos berros.
Mesmo o fundo da canoa estando com bastante peixes de esporão, mamãe correu com tanta coragem e rapidez, passando por cima deles, e veio ao meu socorro. Por um milagre, ela não se acidentou nos esporões.
— Filho! Meu filho! — bradava mamãe em alta voz. — Cadê a cobra, meu filho?
Segurando com tanta força aquele “bicho”, ouvi estalar entre meus dedos, observando, logo de imediato, que não se tratava de cobra alguma.
— Ah, mãe! É o caranguejo que eu fisguei — balbuciei, completamente aliviado daquele inusitado susto.
Foi então que aquele momento de desespero e agonia se transformou em boas risadas de mãe e filho. Mas o que marcou mesmo foi o fato de ela ter passado, com coragem e determinação, sem se machucar, por cima dos peixes vivos, de esporões à prontidão, para me socorrer. Como disse Agatha Christie, o amor de mãe se transforma em baluarte poderoso quando em ocasião de defender seu filho de qualquer perigo.
Por amor de seu filho, a mãe enfrenta qualquer perigo e destrói qualquer obstáculo que, porventura, se atravessar à sua frente. Foi o que fez uma amiga minha — moradora da Vila Luizão, periferia de São Luís — que vou chamá-la, aqui, apenas pelo nome fictício de “Iris”. Ao tomar conhecimento de que seu único filho estava sendo confundido e ameaçado de morte com um rapaz alvo de um perigoso traficante, ela invadiu a casa do violento criminoso, segurou na sua garganta e protestou com veemência:
— Olha aqui, caboco vagabundo! Não pensas que eu tenho medo de tu. Eu tô sabendo que tu andas querendo matar meu filho, confundindo-o com outro canalha da tua laia. Mas escuta o que vou te dizer agora: se alguma coisa acontecer com meu filho, eu gasto tudo o que tenho e mando te matar, a ti e a tua família. Entendeu? Ou quer que eu repita tudo de novo?
— Calma, senhora! — disse o criminoso, arregalando os olhos e perguntando o que estava acontecendo. — Quem é seu filho?
Iris esclareceu ao sujeito todos os fatos e, depois da suntuosa conversa, saiu dali com a garantia, dada pelo homem, de que nada aconteceria com o seu filho.
Estes exemplos explicam por que as mães merecem todo o amor do mundo, todas as homenagens a elas dedicadas, os mais belos presentes, o mais perfeito carinho e distinção honrosa. Elas merecem.
O dia das mães é um dos mais festejados em alguns países como Brasil, Estados Unidos, Japão, Itália e outros. Foi celebrado, pela primeira vez, em 1908, depois de idealizado pela ativista norte-americana Anna Javis (1864-1948), em homenagem à sua mãe, também ativista, Ann Maria Reeves Javis. Anna teve apoio de um amigo comerciante chamado John Wanamaker e, ainda, de outros amigos seus. No dia 12 de maio de 1910, houve uma nova comemoração e mais tarde foi oficializado nos EUA, em 1914, pelo então presidente norte-americano Woodrow Wilson (1856-1924). Daí por diante, a data comemorativa se espalhou pelo mundo e chegou ao Brasil, sendo comemorado, pela primeira vez no país, no ano de 1918, por iniciativa da Associação de Moços de Porto Alegre.
Mas, apesar desse relato envolvendo Anna Javis como criadora do Dia das Mães, outros relatos da história universal dão conta de que a celebração às heroínas vem desde à antiga Grécia, passando pela Roma Antiga e assim por diante.
Conta-se que os cultos às divindades da época representavam as mães e se realizavam nas festas primaveris gregas e romanas. Várias dessas divindades eram as deusas Reia, mãe dos deuses, e Cibele, a deusa mãe romana, também conhecida como Magna Mater.
Depois de algum tempo, a celebração foi crescendo e adquiriu proporções de destaque nas datas comemorativas, sendo festejada em muitas partes do mundo. Diz-se que, por volta do século XVII, surgiu o Mothering Day, na Inglaterra e, desde então, os operários passaram a ter esse dia de folga com o intuito de visitarem suas mães. Logo, a data no Reino Unido é celebrada no quarto domingo da Quaresma.
No início do século XX, portanto, quando a norte-americana Anna Javis, por perder a sua mãe, criou a dada comemorativa, a homenagem às heroínas do mundo já não era mais novidade. Mas a atitude de Javis serviu para dar maior visibilidade à comemoração. Ann Maria Reeves Javis, mãe de Anna Javis, morreu em 1905. Ela ficou conhecida porque valorizava as mulheres que exerciam a maternidade, pois as considerava verdadeiras heroínas. Em razão disso, Ann fundou, em 1858, o Mothers Day Work Clubs, que realizava companhas em prol das mães trabalhadoras e contra a mortalidade infantil.
E foi aí, inspirada na própria mãe, que a filha Anna Javis também se tornou ativista, chegando a criar um dia — o segundo domingo de maio — em homenagem às mães. De fato, com apoio de muitas amigas nos EUA, Anna Javis iniciou uma campanha a fim de demonstrar a importância da figura materna na sociedade como um todo.
Mais tarde, Anna ficou bastante contrariada quando viu que o evento criado por ela se tornou data para proveito capitalista, quando os comerciantes aproveitavam o período comemorativo para aumentar suas vendas e seus lucros. Certa vez, indignada, Anna disse que não tinha criado o dia das mães para proveito de lucratividade. Por causa disso, ela lutou para anular o dia, da mesma forma que lutou para que ele fosse oficializado. Mas sem sucesso. Em alguns países, a data só perde, em matéria de lucratividade, para o período do Natal.
Hoje, embora a data comemorativa tenha se tornado, de fato, motivo de exploração do capitalismo para movimentação comercial e obtenção de lucros (apesar de eu ter uma explicação que considero plausível acerca disso), mães do mundo inteiro recebem merecidas homenagens. Elas merecem. Elas são rainhas do lar e do mundo. Elas são heroínas e árvores do mundo: geram, criam e protegem. Nada, absolutamente nada, nesta vida de humanos, se compara ao amor de mãe. Parabéns para elas. No Maranhão, no Brasil e no mundo. Sempre! Sempre! Sempre!