COLUNA LEITURA LIVRE
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Por Battista Soarez
(Jornalista, escritor, psicanalista e teólogo)
O fenômeno da ingratidão
Quando as pessoas a quem mais ajudamos são as mais indiferentes e as que mais nos desprezam
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AO LONGO DA MINHA CAMINHADA como homem simples, observador e correto, inclusive nas minhas relações, tenho aprendido duas coisas que, honestamente, são a base de quase todos os parâmetros da nossa cotidianidade. Primeira, nunca devemos fazer o bem a uma pessoa pensando que nalgum dia ela irá retornar para manifestar sua gratidão pelo bem que recebeu. Segunda, a ingratidão, normalmente, é um instrumento de autodestruição para o ingrato que se mantém resistente em não reconhecer o que se fez por ele. Cedo ou tarde, um dia a conta chegará.
No decurso da ingratidão, as pessoas ingratas acham que têm direito a coisas e favores por merecimento e até parece que o fato de você ser benevolente para com elas é uma questão de favor em relação ao que elas recebem e ao que você fez em relação a elas.
Antes de mais nada, a gratidão é uma virtude moral. Um aspecto relevante, saudável e positivo do desenvolvimento humano. Comprovada pela ciência, ela é valorizada por todos os povos e em todas as culturas. A gratidão existe quando reconhecemos que alguém prestou um benefício, um auxílio ou um favor ou que provocou alguma situação positiva em relação a nós, sendo também uma forma de reconhecer e valorizar alguém.
A ingratidão, em geral, é um comportamento que afeta relacionamentos, comunidades e sociedades como um todo. Definida como a falta de conhecimento ou apreciação por fatores, ajuda ou benefícios recebidos, essa atitude pode ter consequências profundas.
Tal sentimento passa pelo egoísmo e pelo individualismo. A busca por interesses pessoais pode levar à negligência dos esforços alheios. Neste caso, a falta de empatia se faz presente e entra em cena a dificuldade em entender e valorizar sentimentos e necessidades dos outros.
Nesse cenário, as expectativas não realistas se manifestam. E, de fato, esperar recompensas ou reconhecimento excessivos é uma situação fantasiosa. Traumas e experiências negativas podem estar relacionados a histórias de abuso ou negligência que podem gerar desconfiança e ingratidão. Tenho visto isto ao longo do meu trabalho como psicoterapeuta. Cultura e educação também têm a ver com ambientes que não valorizam gratidão e respeito.
Manifestações da ingratidão destroem relacionamentos afetivos. Geram desrespeito e falta de consideração em casamentos, amizades e famílias. No ambiente de trabalho, a falta de reconhecimento por contribuições e esforços geram demissão e indiferenças graves. Nas comunidades, a ingratidão implica em desinteresse em causas sociais e voluntariado.
Com relação à saúde mental, a ingratidão causa depressão, ansiedade e isolamento. Causa, ainda, conflitos sociais, protestos, violência e desordem.
A ingratidão tem consequências severas como, por exemplo, destruição de relacionamentos, perda de confiança e intimidade.
Estresse e ansiedade são impactos negativos na saúde mental das pessoas e desmotivação, falta de inspiração e propósito são problemas corriqueiros. Sem contar o isolamento social como, por exemplo, distanciamento de amigos, familiares e comunidade. A ingratidão também causa prejuízo à reputação, perda de credibilidade e respeito.
Para superar a ingratidão é necessário praticar a gratidão, é claro. Registre coisas positivas diariamente e desenvolva empatia. Também é necessário ouvir ativamente e entender perspectivas. Cultive humildade e reconheça limitações e sempre agradeça a ajuda recebida.
Estabeleça limites, comunique necessidades e expectativas. Busque apoio, terapia, grupos de apoio ou mentorias.
A ingratidão, finalmente, é um desafio complexo que exige autoconhecimento, empatia e mudança de atitude. Entender suas causas e consequências é essencial para superá-la. Ao cultivar gratidão, respeito e humildade, podemos construir relacionamentos mais saudáveis e fortalecer comunidades, família e ambiente de trabalho.
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Excelente publicação.
ResponderExcluirPor isso o apóstolo Paulo diz para sermos gratos sempre, independente das circunstâncias.