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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

COLUNA LEITURA LIVRE | por Battista Soarez

COLUNA LEITURA LIVRE

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Por Battista Soarez

(Jornalista e escritor) 


Um olhar sociológico sobre a fé cristã na hodiernidade

O processo mistagógico de transformação da igreja de Jesus em nossos dias e como estamos perdendo a batalha para o Estado e suas instituições

Imagem meramente ilustrativa | Foto: Divulgação

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RARAMENTE USO MEUS CONHECIMENTOS sociológicos para falar da fé cristã. Embora sociologia seja uma das minhas formações, pouco exploro este campo do conhecimento humano. Mas, ultimamente, tenho olhado para a igreja cristã dos nossos dias e, no âmbito de suas relações sociais, vislumbro uma realidade sociológica que se mostra digna de análise e debate.

 P U B L I C I D A D E

Quando se fala de fé cristã, principalmente do ponto de vista sociológico, reporta-se a uma certa mistagogia, isto é, à ação de guiar e conduzir a pessoa alcançada pelo evangelho para dentro do mistério da fé ou da espiritualidade. Então, não podemos compreender a mistagogia sem mergulhar no mistério do Deus vivo, ou seja, uma relação que é o sentido e a razão do nosso existir. A mistagogia sociológica nos remete a uma profunda experiência de relações sociais, no sentido de se deixar conduzir para dentro da natureza e do mistério da fé na relação Deus-homem-Deus. Iniciar-se na vida cristã é ir construindo um itinerário que vai nos formando como discípulos (aprendentes e educadores da fé), evangelistas (alcançadores de pessoas pela prática do evangelho) e missionários (transformadores sociais pelo método da justiça de Deus). Isto nos faz mensageiros de Cristo Jesus, o Senhor.

A mistagogia sociológica, compreendida como experiência de Deus em seu mistério amoroso e libertador social, quando esta mistagogia é levada a sério, pode nos conduzir a um novo estilo de vida assemelhado ao modo de vida de Jesus. Ela nos conduz para dentro do mistério sacrificial de Jesus que é celebrado na nossa prática cristã. Uma celebração espiritual, tecida de sinais e de símbolos.

Pelo olhar da sociologia, usando um tom pedagógico divino da salvação, o significado dos sinais e dos símbolos — que fazem parte da nossa vida de fé — tem raízes na obra da criação e na cultura social humana e, através do cuidado de Deus para sempre presente na história de seu povo, chega até nós através da plena revelação em Jesus Cristo.

Nas relações de comunhão social, nós cristãos celebramos a vida de Cristo. Celebramos sua encarnação no meio de nós ("o verbo se fez carne e habitou entre nós", João 1.14). Celebramos sua vida que nos dedicou para falar de Deus Pai. Celebramos, enfim, sua paixão, morte e ressurreição. E esta é a expressão sociológica da nossa fé. Ao retornar ao Pai, Jesus nos enviou o Espírito Santo e nos convida, sempre, a viver segundo suas obras e ensinamentos.

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Nesse sentido, crer em Jesus Cristo e viver segundo sua obra e seu ensinamento (sua Palavra) é viver a fé cristã. E isto se aplica às relações sociais. Aliás, sem relacionamento não há espiritualidade verdadeira. Isto porque sem relacionamento não há corpo de Cristo, somente por meio do qual podemos vivenciar a experiência da salvação.

Por uma análise sociológica, compreendendo a mistagogia na relevância da fé genuinamente cristã, enxergamos com profundidade as experiências do encontro com Jesus na vida cotidiana como oportunidades transformadoras e salvíficas que devem levar as pessoas às mesmas convicções a que chegou o Apóstolo Paulo, quando ele foi iniciado no discipulado de Jesus. Ele disse: “Para mim o viver é Cristo” (Filipenses 1.21); “Em Cristo todos receberão a vida” (1 Coríntios 15.22); “Já não sou eu que vivo, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2.20); E a vida que vivo agora na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2.20).

Todas essas citações expressam a alegria do Apóstolo Paulo quando ele encontrou Jesus. Quando, enfim, ele foi batizado e passou a ajudar as outras pessoas a também fazerem essa mesma experiência de encontro com o ressuscitado.

E nós? Também podemos, pela perspectiva da espiritualidade cristã, trilhar esse mesmo caminho olhando para nossa realidade?

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Entendo que, para que todos nós possamos trilhar o caminho do Cristo ressuscitado, a exemplo do Apóstolo Paulo e de todos os outros Apóstolos de Jesus, viver essa mistagogia sociológica  que é ir se conduzindo para dentro do mistério da vida do Senhor Jesus Cristo  significa que necessitamos de fazer a nossa adesão pessoal à vida do Cristo, pedindo à Igreja a vivência da fé em coletividade na sacralidade da iniciação cristã, isto é, batismo, busca da santidade, comunhão, relacionamento e evangelização. Desta maneira, podemos entender o Cristo e  à luz das Escrituras na comunhão do Espírito Santo  compreender a celebração espiritual com seus símbolos e sinais enraizados na obra do Criador.

Olhemos, por exemplo, para a celebração do corpo de Cristo. Que símbolos podemos ver que nos revelam a vida desde a criação? Que sinais nos apontam para nos conduzir para a vida em Cristo?

A celebração da fé comporta sinais e símbolos que se referem à criação (luz, água, fogo, terra e ar). À vida humana (ações e gestos como, por exemplo, lavar, ungir, ajoelhar, orar, abraçar, acolher, partir o pão e partilhar). E à história da salvação (na pessoa do Cristo com todos os eventos em torno do seu Senhorio).

Essas experiências nos transportam para os ritos das relações sociais, para as experiências de Jesus e seus discípulos, nas celebrações do seu tempo. Tudo isso, também, nós experimentamos quando celebramos a fé cristã e cumprimos a ordem de Jesus de ir e anunciar a todas as criaturas as Boas-Novas que Ele nos traz. Esta, por conseguinte, é uma sociologia diferente. Diferente porque ela nos transporta para uma dimensão espiritual superior e profunda, que nos salva e nos cura de todas as mazelas físicas, sociais e espirituais. E este é o mistério que nos enche de Deus e nos esconde nEle. Esta experiência nos faz mergulhar no nome dEle para experimentarmos vida abundante frutífera e cheia do amor divino.

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O que podemos aprender com Jesus hoje, olhando para a nossa realidade? A experiência do batismo foi instituída por Jesus com o objetivo de santificar a vida da humanidade, conforme podemos ler no Novo Testamento, no Evangelho escrito por Mateus, que reproduz as palavras do Senhor: “Toda autoridade me foi dada no Céu e na Terra. Ide, portanto, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho ordenado. E eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mateus 28.18-20).

Para viver esta experiência, a Igreja recebe de Cristo os princípios do Sermão do Monte (Mateus 5, 6 e 7). Ali estão todos os princípios da vida cristã. Todos eles são sociológicos. Quem os observa, portanto, está no caminho certo para a vida eterna.

Nos primórdios da Igreja, as pessoas eram instruídas nestes princípios e, por eles, eram preparadas para viverem a abundância da fé. Mais tarde, com o desenvolvimento da Igreja, passaram a acontecer coisas que poluíram a fé cristã. Perdeu-se a dinâmica da unidade e os problemas foram cada vez mais se agravando. Na verdade, os princípios pregados no Sermão do Monte são reconhecidos como fundamentos indispensáveis na caminhada necessária para se ingressar no mistério da espiritualidade cristã.

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Assim, os princípios sociológicos e coletivizados do Sermão do Monte introduzem a pessoa corretamente na comunidade eclesial. Não vou mencioná-los neste artigo porque eu teria que fazer um longo comentário. Mas o leitor pode estudar os capítulos 5, 6 e 7 de Mateus. Um desses princípios é o princípio da paz ("Bem aventurados os pacificadores"). Você verá que o olhar sociológico de Jesus estende-se sobre uma ética social relevante. Portanto, ali está uma sociologia mistagógica que nos envolve na verdadeira comunidade espiritual. Depois, a ação do Espírito Santo faz a Igreja cumprir sua missão em coletividade, por meio de relacionamentos sociais e organização de grupos sociais. E, assim, a comunidade da fé se fez "corpo de Cristo", isto é, corpo social em Jesus Cristo.

Há, aí, uma relevância participativa que nos chama à realidade matural do corpo de Cristo, permitindo que ela, a igreja do Senhor, receba aquilo que se fez concretude pelo batismo. A celebração do sagrado em nós nos torna, agora, seres espirituais, nascidos de novo. "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito" (João 3.6). Pois a transformação que Deus opera na pessoa, por meio da ação da Igreja, Corpo de Cristo, é de extrema relevância social.

Finalizo este artigo dizendo que, hoje (trazendo para a nossa vivência de fé as experiências dos primeiros discípulos), a Igreja  ao acolher jovens e adultos que ainda não foram batizados mas que desejam receber o Evangelho de Jesus  tem a tarefa de instruir os alcançados a buscarem conhecer profundamente a Cristo e o caminho que se deve trilhar após a experiência do novo nascimento. Isto ocorre por meio do ensino da Palavra de Deus. E, assim, a formação do corpo de Cristo acontece na profundidade do mistério que está fundamentado no Senhor, Criador do Universo e de tudo o que nele há.

Então, finalmente, o olhar sociológico sobre a fé cristã na nossa hodiernidade é uma forma de enxergar o mundo cristão a partir de uma perspectiva crítica e reflexiva, em que se busca compreender as relações sociais da igreja, a relevância de suas estruturas e as suas dinâmicas que permeiam a sua missão no âmbito da sociedade no cumprimento de sua tarefa instrucional  fazer discípulos  a partir do ide de Jesus (Mateus 28.18-20).

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3 comentários:

  1. Este artigo discute, de maneira filosófica, uma sociologia pedagógica cristã e suas particularidades. Como mencionado, embora seja um dos seus campos de estudo, pouco havia abordado e agora começa a escrever de forma muito bem fundamentada. De coração, parabéns!

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  2. A experiência mistagógica é um mergulho profundo no mistério da fé em Deus. Quando somos conduzidos por meio do aprendizado evangelizacional administrado pela igreja mediante sua tarefa de fé e serviço.

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